por Chico Marques
Era uma vez, 30 anos atrás, numa galáxia distante e gelada chamada Minnesota, um grupo de bandas pós-punk de altíssimo gabarito, absolutamente desconectadas umas das outras, que brigavam por um lugar ao sol em meio a todo aquele frio e todo aquele gelo de Minneapolis e Saint Paul -- conhecidas por "the twin cities".
Rolava de tudo na cena musical das Cidades Gêmeas. Tinha desde o punk melódico descabelado dos Replacements e do Husker Du até o rock and roll rasgado do Soul Asylum, passando pela soul music roqueira moderníssima de Prince e várias outras manifestações no mínimo curiosas.
Em meio a tanta pluralidade musical, não podia faltar uma banda country-rock clássica, à moda do Poco e dos Flying Burrito Brothers, que viria a se tornar um dos tesouros mais preciosos da música americana dos últimos 30 anos.
The Jayhawks começou em 1985 com uma proposta musical que combinava uma postura revisionista com uma atitude extremamente moderna.
Seus dois primeiros discos, gravado para selos locais de Minneapolis, são pequenos clássicos, e trazem excelentes composições, mostrando logo de cara como o time de compositores composto por Mark Olson e Gary Louris podia render maravilhas, se bem orientado.
A partir do terceiro disco, "Hollywood Town Hall", produzido por George Drakoulias para a American Recordings, The Jayhawks já começa a deixar de lado o revisionismo country-rock para flertar abertamente com saídas musicais inusitadas, com resultados aplaudidíssimos.
E então, no quinto disco, "Smile", produzido por Bob Ezrin, The Jayhawks assume de vez sua porção roqueira e chuta para o alto seu passado country -- mas alguma coisa sai errado, os membros da banda se desentendem, e cada um vai para um lado diferente, em trabalhos solos bons, bem focados, mas independentes, e com pouca projeção.
Daí em diante, por uma questão de sobrevivência, o jeito foi alternar essas carreiras solo com retornos eventuais de The Jayhawks, para apresentar suas novas canções, mescladas com seus grandes sucessos, aos fãs da banda que não acompanhavam suas carreiras solo.
Podiam ficar apenas nas tournées, mas não. De tempos em tempos, tomavam coragem e gravavam discos novos como banda -- caso do delicioso "Rainy Day Music", de 2003, e do elogiadíssimo "Mockingbird Time", de 2011.
Pois bem: The Jayhawks está comemorando 30 anos de carreira, com pompa e circunstância, neste ano.
Todos os seus discos estão sendo reeditados em edições especiais, com faixas adicionais, aquela coisa toda...
Daí, decidiram reunir todas os músicos das fomações clássicas da banda para uma tournée comemorativa.
E um show dessa tournée, no dia 16 de Janeiro deste ano, no Belly Up Club em Solana Beach, California, acabou virando um disco ao vivo.
E que disco!
"Live at the Belly Up" é um souvenir precioso dessa tournée, e o disco ao vivo que faltava na discografia da banda, já que o anterior "Live From The Women's Club" era totalmente acústico e fora dos padrões sonoros habituais da banda.
Aqui, temos a alma de The Jayhawks por inteiro, em 20 números escolhidos a dedo nos 8 LPs de estúdio da banda, cobrindo por completo os 80 minutos regulamentares permitidos pelo CD.
Não há o que destacar. Quase todas as canções são velhas conhecidas dos fãs da banda, e as versões ao vivo são inspiradíssimas.
Esses velhos rapazes podem brigar o quanto quiserem, mas jamais conseguirão disfarçar que tem um prazer enorme em tocar juntos.
Até por isso um disco ao vivo de The Jayhawks fazia tanta falta -- e agora não faz mais.
AMOSTRAS GRÁTIS