Tanto as bandas grunge dos Anos 1990 quanto o pessoal do power pop eram unânimes em afirmar em entrevistas as muitas virtudes artísticas no Teenage Fanclub.
Kurt Cobain, por exemplo, não deixava por menos: se referia a eles como "a melhor banda do mundo".
Infelizmente, nada disso serviu para levar esse quinteto talentosíssimo de Bellshil -- que acabou brilhando na cena musical de Glasgow, Escócia -- ao merecido estrelato.
Vinte e sete anos depois de estrearem, eles continuam pautando os caminhos de sua carreira pela cena musical independente, que sempre os acolheu muito bem, apesar de seu repertório ter um apelo que poderia, ao menos em princípio, levá-los muito além disso e atingir um público muito mais amplo do que atnge.
A banda surgiu em 1989 a partir da combinação de três cantores e compositores muito talentosos: os guitarristas Norman Blake e Raymond McGinley e o baixista Gerard Love, que nunca esconderam o fato de que o Teenage Fanclub era, antes de mais nada, uma espécie de veículo para a divulgação de seus trabalhos autorais.
E provável que se o Teenage Fanclub tivesse provado o "sweet smell of success" no início dos Anos 90, talvez não tivesse emplacado uma carreira tão longeva e tão criativa.
O segredo da longevidade deles talvez esteja num acerto extremamente democrático que eles honram desde o início da carreira da banda: tanto os discos quanto os shows da banda intercalam canções e participações vocais dos três exatamente na mesma proporção.
E na medida em que isso sempre foi respeitado, nunca aconteceu de qualquer um dos "três líderes da banda" entrar numas de "sair em carreira solo".
Na verdade, isso nunca foi necessário.
Here é o 13°disco de carreira do Teenage Fanclub, está chegando às lojas inglesas por esses dias através pelo própio selo da banda, PeMA, e será distribuído internacionalmente pela Republic Of Music a partir de Setembro.
É o primeiro desde Four Thousand Seven Hundred and Sixty-Six Seconds – A Short Cut to Teenage Fanclub, uma bela panorâmica de carreira acrescida de 3 novas canções -- uma de Norman Blake, outra de Raymond McGinley e outra de Gerard Love, como de hábito -- lançada em 2013 e anunciada como uma possível despedida do Teenage Fanclub, que felizmente não se concretizou.
Para tentar permancer relevante, o Teenage Fanclub voltou repaginado e com uma atitude adequada tanto ao público cativo da banda quanto às características da cena powerpop atual.
Desnecessário dizer que o senso de melodicidade herdado de bandas clássicas como Big Star e Badfinger e artistas como Dwight Twilley, Phil Seymour e Matthew Sweet segue intacto nas canções que compoem este novo trabalho.
I'm In Love, a faixa de abertura (ouça em AMOSTRAS GRÁTIS abaixo), não só é lindíssima, como evoca em tom menor os Byrds da fase Chestnut Mare de uma maneira muito aconchegante.
Logo a seguir, Thin Air resgata a influência -- sempre bem-vinda, diga-se de passagem -- de Alex Chilton e do Big Star, com uma levada pop bem straight-forward que coloca um pouco de velocidade na suavidade habitual da banda.
E essas diferenças musicais seguem ao longo das 12 faixas do disco, intercaladas de forma sempre harmoniosa, e com a brevidade necessária para que, ao final da audição, dê vontade de colocar o disco para tocar novamente.
Here revela -- e faz isso de forma flagrante -- que o Teenage Fanclub não só amadureceu musicalmente como também se transformou numa banda extremamente refinada em termos musicais.
Tudo é muito delicado e cuidadosamente medido neste Here, e é provável que eles possam soar um pouco conservadores para alguns ouvidos mais modernosos.
Minha recomendação?
Não liguem para o mimimi dos chatinhos modernosos.
Ouçam Here e tirem bom proveito do fato dessa grande banda insistir em permanecer ativa e relevante musicalmente.
Assim como acontece com veteranos de gerações anteriores como o Squeeze e os Turtles, que permanecem em cena com um trabalho de alto gabarito, tudo indica que o Teenage Fanclub ainda tenha muita lenha para queimar.
Então, let it burn!
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