Assim como Elvis Presley, Tony Joe White tem sangue cherokee e sempre foi inquieto por natureza.
Poderia ter-se contentado em ser um dos compositores mais disputados do eixo Nashville-Memphis dos anos 60, autor de "Willie and Laura Mae Jones" (gravada por Dusty Springfield), "Rainy Night In Georgia" (gravada por Brook Benton) e "Polk Salad Annie" (gravada por Elvis), entre muitas outras grandes canções.
Mas não.
Ele queria mais.
E aproveitou a onda de singer-songwriters que estava nascendo -- além de sua semelhança física e vocal com Elvis -- para lançar-se como artista solo.
Indicado pelo amigo Kris Kristofferson, conseguiu em 1969 um contrato para gravar dois discos para a Monument Records.
Em pouco tempo, seu registro de tenor e seu jeito de cantar intenso e acolhedor ao mesmo tempo revelou o que muita gente já sabia: sua voz era o veículo perfeito para suas canções.
O sucesso inicial na Monument o levou naturalmente a um contrato bastante vantajoso para 3 LPs com a Warner Bros, que o queria a qualquer custo no seu time de compositores.
Mas, estranhamente, seus discos na Warner, apesar de ótimos, não tiveram a mesma recepção de público, e então, em 1974, Tony Joe White estava sem gravadora, e com sua carreira completamente à deriva numa cena musical que já não queria mais saber de artistas com o perfil dele -- daí, o jeito foi seguir em frente trabalhando como compositor de aluguel em Nashville.
Só 15 anos mais tarde, em 1989, Tony Joe White ressurgiu -- graças à velha amiga Tina Turner, que o chamou para compor 4 canções e tocar guitarra em seu LP "Foreign Affair".
De 1990 para cá, Tony Joe White foi aos poucos reassumindo com todas as honras seu lugar de direito na cena do "swamp-boogie", uma modalidade musical que mescla blues com todo aquele molho musical da sua Louisiana natal.
Calejado, passou a medir melhor seus passos e a querer menos -- até porque descobriu a duras penas que, muitas vezes, menos é mais.
Vem gravando discos para selos independentes, ganhando prêmios com bastante frequência e fazendo tournées low-profile pela América, Europa e Japão.
"Hoodoo", seu mais recente trabalho, é o primeiro para o selo Yep Roc, e é o mais blueseiro de seus discos recentes.
O caso é que Tony Joe White sempre teve um respeito muito grande pelo grande bluesman Louisiana Red, falecido ano passado, e nunca teve chance de expressar isso tão plenamente como faz aqui.
Quem espera encontrar em "Hoodoo" baladas climáticas como as que Tony Joe compunha nos anos 70, vai perder a viagem.
O mesmo vale para quem cultuava seu vozeirão grave, que, com o passar dos anos, foi ficando cada vez mais áspero e perigoso.
"Hoodoo" é um LP que segue numa mesma toada da primeira á última faixa, e é "swamp-boogie" para ninguém boar defeito.
Tony Joe White vem acompanhado por quatro músicos encarregados de dar ritmo e cor às suas canções, e que seguem à risca a clássica orientação que John Lee Hooker sempre passava para suas bandas: nunca deixar a música deixar de ser pedestre e levantar vôo.
As canções de "Hoodoo" seguem num suingue quase monocórdico, mas extremamente envolvente, e funcionam como veículos para as histórias sobre a vida no Sul que Tony Joe White quer contar -- e conta como ninguém, aos 70 anos de idade.
Ao final das 9 faixas que compoem "Hoodoo", fica a sensação de que o tempo não passou. Ou passou rápido demais. Ou as duas coisas ao mesmo tempo.
E, acreditem: é uma sensação extremamente satisfatória.
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