por Chico Marques
Quem acompanhou de perto a cena pós-punk no final dos Anos 70, com certeza lembra com muito carinho de Graham Parker e seus comparsas do grupo The Rumour.
Quem acompanhou de perto a cena pós-punk no final dos Anos 70, com certeza lembra com muito carinho de Graham Parker e seus comparsas do grupo The Rumour.
Assim como Elvis Costello, que buscou abrigo em seu início de carreira numa persona que combinava visualmente Woody Allen com Buddy Holly para defender suas canções irônicas e, às vezes, raivosas, Graham Parker criou uma persona bastante curiosa: um soulman punk que vomitava canções irônicas, irreverentes, e eventualmente debochadas, sempre urgentes e contundentes, que de tão consistente terminou por convencer a si mesmo.
Entre 1975 e 1982, enquanto esteve à frente do grupo The Rumour -- uma banda que reunia a nata do pub-rock londrino, com ex-membros dos grupos Brinsley Schwartz, Ducks DeLuxe e Bontemps Roulez --, setores da crítica muito atentos com a cena pós-punk logo perceberam que Parker era absolutamente original: uma figura dylaniana, mais ou menos nos mesmos moldes de Ian Hunter, com vocação para o estrelato e com o vigor criativo de um "angry young man" como Pete Townshend ou de um Van Morrison.
Resultado: trataram de empurrá-lo para a frente, para ver se vingava.
E, de certa forma, vingou: seus 4 primeiros discos para a Mercury Records são doses cavalares de rock and roll clássico mesclado com soul music pedestre de Memphis, onde o Rumour providenciava uma moldura sonora atemporal para canções sensacionais, despertando o interesse dos "ingleses moderninhos" da época na música de grandes mestres americanos como Al Green, Solomon Burke e Wilson Pickett.
Resultado: trataram de empurrá-lo para a frente, para ver se vingava.
E, de certa forma, vingou: seus 4 primeiros discos para a Mercury Records são doses cavalares de rock and roll clássico mesclado com soul music pedestre de Memphis, onde o Rumour providenciava uma moldura sonora atemporal para canções sensacionais, despertando o interesse dos "ingleses moderninhos" da época na música de grandes mestres americanos como Al Green, Solomon Burke e Wilson Pickett.
Estranhamente, quando Graham Parker & The Rumour mudou de mala e cuia para a Arista Records e gravou "Squeezing Out Sparks" (1979), um pouco da velha magia soul se perdeu, pois confiaram nos executivos da Arista Records e no produtor Jack Nitsche, que prometeram mundos e fundos e um lugar ao sol na cena americana, mas, no final das contas, conseguiram entregar um grande disco -- o melhor que eles já gravaram, segundo a Rolling Stone -- que chegando bufando ao 40° posto da Billboard, mas não foi além disso.
Foi quando alguns executivos espertalhões da Arista concluíram que o problema estava na produção, e então chamaram o competente (e totalmente inadequado) Jimmy Iovine para tentar fazer um disco de Graham Parker & The Rumour que soasse parecido com os discos que Iovine produzia para Bruce Springsteen e Tom Petty.
Quando esse disco, "The Up Escalator" (1980), não só falhou em emplacar nas paradas americanas, como ainda foi recebido friamente pela crítica, acendeu o sinal vermelho na gravadora e na banda para o próximo projeto.
Incapazes de admitir seus erros, por mais evidentes que pudessem ser, os executivos da Arista concluíram que o Rumour não era a banda adequada para Parker emplacar na Década de 80, e que a saída para ele seria passar a gravar com músicos americanos. Encaminharam Parker para o produtor Jack Douglas, que vinha de experiências bem sucedidas com Aerosmith e John Lennon, para forjar uma espécie de estreia solo para ele. E então, gravaram um belo disco chamado "Another Grey Area", perfeito em todos os sentidos, menos em um: não conseguiu chegar ao Top 40 da Billboard.
A partir daí, Parker decidiu não mais dar ouvidos a executivos de gravadoras, e desistiu de tentar fórmulas mágicas para emplacar nas paradas americanas. Sentiu antes de muitos outros artistas que a Indústria Fonográfica americana começava a sofrer os primeiros efeitos da "Era Thriller", e que todo artista desalinhado iria acabar descartado do big business de uma hora para outra. Calejado de tombos anteriores, tratou de se recompor para poder se posicionar melhor nos tempos estranhos que estavam por vir.
De meados dos 80 para cá, Parker vem gravado discos excepcionais longe das grande gravadoras, transitando entre a Inglaterra e os Estados Unidos com seu inabalável status de cult-artist e casas sempre cheias, mantendo por perto velhos admiradores que nunca deixaram de aplaudir suas composições e seu timbre vocal cada vez mais rouco e mais parecido com o de Bob Dylan, só que afinado.
E então, em 2012, sem fazer alarde, Parker promoveu uma reunião descompromissada com os integrantes originais do The Rumour -- os guitarristas Brinsley Schartz e Martin Belmont, o tecladista Bob Andrews, o baixista Andrew Bodnar e o baterista Steve Goulding -- para propor gravarem um disco novo e uma tournée que serviria, em princípio, para reforçar o caixa dos envolvidos no projeto.
Todos deixaram os velhos ressentimentos de lado e embarcaram de coração aberto na empreitada -- que, no final das contas, acabou indo muito além do que eles próprios poderiam esperar.
"Three Chords Good", o disco de retorno de Graham Parker & The Rumour, foi uma surpresa muito bem-vinda, com uma sonoridade mais tranquila e bem menos urgente, mas com o mesmo suingue perigoso de 40 anos atrás, soando como uma consequência natural do trabalho solo de Parker nas últimas décadas.
A experiência deu tão certo que de lá pra cá eles não desgrudaram mais, e em 2015 gravaram um segundo disco de retorno: "Mystery Glue", mais pedestre, mais casual, e de certa forma mais urgente que o anterior, mostrando que The Rumour atingiu um padrão de afinidade musical que só se alcança depois de muitas tournées juntos e muita camaradagem e respeito mútuo entre os integrantes da banda.
Na essência, nada mudou aos longo desses 40 anos de associação de Graham Parker com The Rumour. A persona musical de Parker forjada 40 anos atrás é a mesma, e agora está devidamente maturada. E a identidade musical do Rumour sempre foi elástica o suficiente para conseguir se adequar a novas épocas e novas situações do mercado musical, sem jamais se descaracterizar musicalmente.
Sendo assim, não dá para imaginar um momento melhor para lançar no mercado uma retrospectiva de carreira como esta caixa com 3 cds e 3 dvs "These Dreams Will Never Sleep - The Best Of Graham Parker" que a Universal acaba de colocar no mercado, e que promove um passeio cronológico por sua longa carreira.
Os dois primeiros cds cobrem quase a íntegra das gravações de estúdio de Graham Parker & The Rumour feitas para a Mercury e para a Arista entre 1976 e 1991, e são impecáveis. O terceiro cd faz uma panorâmica ligeira demais nos 30 anos de carreira solo de Parker, subestimando a qualidade do que ele produziu ao longo deste período, o que, na minha maneira de ver, é um enorme equívoco de quem organizou esta antologia.
Já o primeiro dvd traz as melhores gravações dele com o Rumour para a BBC, e o segundo e o terceiro dvds apresentam a íntegra do que talvez tenha sido o show derradeiro da banda, no Forum em Londres, encerrando a tournée de 2015.
Graham Parker é um artista de primeira grandeza no rock anglo-americano, mas que teve um quase-estrelato que passou rápido demais -- mas que ele, por sorte, soube absorver bem nunca entregando os pontos, se reinventando de tempos em tempos em gravações às vezes meio domésticas, outras vezes muito sofisticadas, às vezes solo, outras vezes à frente de bandas espetaculares, mas sempre apostando numa relevância musical que ele nunca deixou de perseguir nesses 40 anos de carreira.
Todos deixaram os velhos ressentimentos de lado e embarcaram de coração aberto na empreitada -- que, no final das contas, acabou indo muito além do que eles próprios poderiam esperar.
"Three Chords Good", o disco de retorno de Graham Parker & The Rumour, foi uma surpresa muito bem-vinda, com uma sonoridade mais tranquila e bem menos urgente, mas com o mesmo suingue perigoso de 40 anos atrás, soando como uma consequência natural do trabalho solo de Parker nas últimas décadas.
A experiência deu tão certo que de lá pra cá eles não desgrudaram mais, e em 2015 gravaram um segundo disco de retorno: "Mystery Glue", mais pedestre, mais casual, e de certa forma mais urgente que o anterior, mostrando que The Rumour atingiu um padrão de afinidade musical que só se alcança depois de muitas tournées juntos e muita camaradagem e respeito mútuo entre os integrantes da banda.
Na essência, nada mudou aos longo desses 40 anos de associação de Graham Parker com The Rumour. A persona musical de Parker forjada 40 anos atrás é a mesma, e agora está devidamente maturada. E a identidade musical do Rumour sempre foi elástica o suficiente para conseguir se adequar a novas épocas e novas situações do mercado musical, sem jamais se descaracterizar musicalmente.
Sendo assim, não dá para imaginar um momento melhor para lançar no mercado uma retrospectiva de carreira como esta caixa com 3 cds e 3 dvs "These Dreams Will Never Sleep - The Best Of Graham Parker" que a Universal acaba de colocar no mercado, e que promove um passeio cronológico por sua longa carreira.
Os dois primeiros cds cobrem quase a íntegra das gravações de estúdio de Graham Parker & The Rumour feitas para a Mercury e para a Arista entre 1976 e 1991, e são impecáveis. O terceiro cd faz uma panorâmica ligeira demais nos 30 anos de carreira solo de Parker, subestimando a qualidade do que ele produziu ao longo deste período, o que, na minha maneira de ver, é um enorme equívoco de quem organizou esta antologia.
Já o primeiro dvd traz as melhores gravações dele com o Rumour para a BBC, e o segundo e o terceiro dvds apresentam a íntegra do que talvez tenha sido o show derradeiro da banda, no Forum em Londres, encerrando a tournée de 2015.
Graham Parker é um artista de primeira grandeza no rock anglo-americano, mas que teve um quase-estrelato que passou rápido demais -- mas que ele, por sorte, soube absorver bem nunca entregando os pontos, se reinventando de tempos em tempos em gravações às vezes meio domésticas, outras vezes muito sofisticadas, às vezes solo, outras vezes à frente de bandas espetaculares, mas sempre apostando numa relevância musical que ele nunca deixou de perseguir nesses 40 anos de carreira.
AMOSTRAS GRÁTIS
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