por Chico Marques
Existia nos Anos 60 uma "lei não escrita" no Reino Unido que obrigava as emissoras de rádio de toda a Grã-Bretanha a produzir e fazer broadcasts de apresentações ao vivo de artistas ingleses ou não. É que os Sindicatos pressionavam a BBC para que suas emissoras de rádio não tocassem simplesmente discos industriais, e produzissem gravações de estúdio prestigiando os músicos, que recebiam um cachê padrão por essas apresentações e tinham que ceder a propriedade desses tapes para a emissora estatal que os gravou -- no caso, a BBC.
O que se percebe ao ouvir o legado de toda uma geração de artistas nessas apresentações ao vivo é que dificilmente algum músico inglês tocou de má vontade nesses programas, até porque estar na BBC -- Rádio ou TV -- era sempre motivo de muito orgulho para qualquer artista britânico.
O que se percebe ao ouvir o legado de toda uma geração de artistas nessas apresentações ao vivo é que dificilmente algum músico inglês tocou de má vontade nesses programas, até porque estar na BBC -- Rádio ou TV -- era sempre motivo de muito orgulho para qualquer artista britânico.
(Se bem que, de acordo com o amigo pesquisador e produtor musical Rene Ferri, Chuck Berry -- que nunca primou pela simpatia -- tocou com extrema má vontade certa vez num programa da BBC por conta de um cachê que exigiu que fosse pago adiantado, gerando um contratempo, pois era fim de semana e o caixa da BBC estava fechado. Alguns funcionários correram e fizeram uma vaquinha para conseguir pagar o cachê de Berry, o que atrasou a gravação por uma hora. Mesmo assim, assim que recebeu o cachê pedido para tocar 60 minutos seguidos, Berry tocou com os olhos grudados num relógio na parede do estúdio, e assim que completou os 60 minutos combinados ele simplesmente desplugou sua guitarra no meio de uma música e foi embora.)
Consta que essa "lei não escrita" foi "revogada" no inicio dos Anos 70, quando os programas de TV da BBC como o "Old Grey Whistle Test" passaram a ser muito visados pelos artistas, que passaram a se apresentar de graça em troca de promoção e prestígio. Mesmo assim, DJs como John Peel trataram de manter viva e ativa a velha tradição dos radio broadcasts ao vivo nas emissoras inglesas, só que agora focalizando prioritariamente jovens artistas ingleses e até artistas americanos que eventualmente estivessem de passagem pela Inglaterra.
Por conta disso, todos os grupos que fizeram parte da British Invasion lanççaram nos últimos 20 ou 30 anos seus BBC Tapes em disco. Alguns vieram em edições extensas e muito luxuosas. Outros, em edições compactas. Mas estava faltando dar a luz de sua graça uma caixinha reunindo os BBC Tapes de um determinado grupo que permanece na ativa há mais de 50 anos.
Pois agora não falta mais. Acaba de chegar às lojas "The Rolling Stones On Air", com dois cds que abrigam praticamente todas as gravações dos Rolling Stones para a BBC realizadas entre 1963 e 1966 para programas como Saturday Club, Top Gear, Rhythm & Blues e The Joe Loss Pop Show. Que, diga-se de passagem, só pararam de acontecer com frequência porque em 1967 eles foram banidos da BBC após Mick Jagger e Keith Richards serem presos por porte de drogas.
Todas as 32 faixas de "On Air" foram submetidas a um processo novo de rematrização intitulado Audio Source Separation, que consegue restaurar gravações realizadas originalmente sem maiores cuidados técnicos com resultados simplesmente espetaculares. Só ouvindo e comparando com edições piratas dos tapes da BBC que existem no mercado para sentir a enorme diferença na definição de audio.
Mais da metade do repertório de "On Air" é composto por covers, já que os Stones só foram começar a gravar suas composições a partir de 1965, em LPs como "Out Of Our Heads" e "Aftermath". Assim, preparem-se para versões deliciosas para "It's All Over Now" de Bobby Womack, "Fannie Mae" de Buster Brown", e "I Wanna Be Your Man" de Lennon & McCartney, além de vários números de Chuck Berry como "Memphis Tennessee" e "Beautiful Delilah". É uma seleção de covers simplesmente deliciosa.
Mas o que "On Air" tem de mais curioso é que finalmente podemos ouvir com nitidez os Stones tocando ao vivo neste período, já que o único registro ao vivo que existia até então era o irritante "Got Live If You Want It", mixado com aquela gritaria intermitente que praticamente impedia que ouvíssemos a banda tocando com clareza.
Agora é tudo diferente. Finalmente podemos sentir a bateria de Charlie Watts e as linhas de contrabaixo de Bill Wyman, as intervenções sempre brilhantes de Brian Jones na guitarra e na harmônica e a base segura proporcionada por Keith Richards. Quanto a Mick Jagger, sua voz está sensacional. Jovial e Soulful até não dar mais.
O belo booklet que acompanha a edição traz informações detalhadas (algumas bastante preciosas) sobre cada sessão de gravação -- um trabalho tão primoroso quando o recebido anos atrás pelos Beatles e pelos Kinks ao lançarem suas BBC Tapes.
Francamente, não consigo imaginar melhor presente de Natal a um fã dos Stones do que "On Air".
Mas, antes de presentar, cheque se a pessoa que você vai presentear não correu para comprar essa pequena maravilha assim que saiu.
Mas, antes de presentar, cheque se a pessoa que você vai presentear não correu para comprar essa pequena maravilha assim que saiu.
PS: Logo abaixo, uma foto dos Stones remanescentes na festa em que anunciaram o lançamento de "On Air".
AMOSTRAS GRÁTIS
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