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segunda-feira, março 16, 2015

ARETHA FRANKLIN E CLIVE DAVIS SE REÚNEM EM MAIS UM DISCO COMERCIALMENTE CERTEIRO E ARTISTICAMENTE DUVIDOSO


Sempre que Clive Davis e Aretha Franklin se encontram, é tiro e queda: a carreira dela imediatamente volta a ser rentável financeiramente.

Claro que o custo artístico desse resgate é sempre bastante alto, mas isso faz parte do jogo -- e é sempre o reflexo de um primeiro momento, pois logo mais adiante qualidade artística e orientação mercadológica acabam se encontrando e chegando a um acordo.

A primeira vez que Clive e Aretha se encontraram foi no início dos anos 1980.

Aretha estava em baixa. 

Vinha de uma série de LPs com vendagem muito baixa na Atlantic, que, por sua vez, se negou a renovar seu contrato. 

A gota d'água havia sido um disco chamado "La Diva" (1979), produzido por Van McCoy, que tentava situá-la, sem sucesso, na cena disco.


Na ocasião, Clive Davis era proprietário da Arista Records. 

Pois ele a contratou em 1982 na bacia das almas -- ela estava há quase dois anos sem contrato -- e passou a supervisionar sua carreira bem de perto.

Chamou Luther Vandross para assumir como produtor de um disco novo para Aretha, com a missão de deixar tirá-la da década de 1970 e fazer com que sua música encontrasse o tom dos Anos 1980. 

Injetou uma verba considerável na produção, e dessa brincadeira nasceu "Jump To It", um disco mais eficaz do que propriamente bom, que emplacou forte nas paradas da época.

Deu no que deu: a carreira de Aretha renasceu nos Anos 80.

E ela voltou a faturar milhões, ainda que em discos de qualidade meio duvidosa, com repertório sempre irregular e produção quase sempre inadequada -- culpa do escandaloso Narada Michael Walden --, um milhão de milhas distante dos grandes discos que ela gravou na Atlantic sob a batuta de Jerry Wexler, Arif Mardin, Tom Dowd e Quincy Jones nos Anos 1960 e 1970.

Mas ao menos essa virada serviu para sintonizar Aretha com o que acontecia de mais moderno na cena rhythm and blues.

O ápice dessa série de discos foi, sem dúvida, "A Rose Is Still A Rose", de 1997, um trabalho moderno e ousado onde ela se afirmou em definitivo como a Diva Absoluta da cena R&B do Fim de Século, com o repertório e os produtores certos pela primeira vez em muitos anos.


Só que de lá para cá, muita coisa desandou em sua carreira.

Aretha se envolveu em processos judiciais complicados.

Depois teve problemas de saúde bastante complicados.

Por último, sua carreira entrou num declive perigoso e ela acabou ficando à deriva do mercado. 

Quando voltou, tentou virar artista independente, e quebrou a cara em dois discos que só seus fãs mais ferrenhos sabem que existem.

Daí, o jeito foi recorrer novamente a Clive Davis para resgatar sua carreira.



"Aretha Franklin Sings The Great Diva Classics" é seu 38 LP de estúdio, e marca sua volta triunfal à Arista Records.

É uma superprodução concebida como uma homenagem a outras Divas, veteranas ou não, que sejam dignas de uma reverência prestada pela Primeira Dama da Soul Music.

Entre as Divas homenageadas, temos tanto as veteranas Barbra Streisand, Etta James, Dinah Washington, Chaka Khan e Gladys Knight quanto novas Divas que ela considera relevantes, como Alicia Keys, Adele e Sinead O'Connor.

Não é um disco à altura do que Aretha já produziu de melhor.

Na verdade, é mais um daqueles discos criados a partir de uma reunião no Departamento de Projetos Especiais da gravadora, empacotados na medida certa para faturar e à prova de riscos.

Apesar da voz de Aretha já não ter mais o mesmo alcance de antes -- convenhamos, ninguém chega aos 70 anos impunemente --, ela tira o repertório de letra.

Infelizmente, suas releituras de clássicos como "Midnight Train To Georgia", de Gladys Knight, ou "I'm Every Woman", de Chaka Khan, soam redundantes e desnecessárias.

Em baladas lentas como "At Last", de Etta James, ou "People", de Barbra Streisand, os resultados são um pouco melhores, mas, mesmo assim, essas releituras estão longe de ser relevantes".

Para ser franco, existem apenas duas releituras relevantes em 
"Aretha Franklin Sings The Great Diva Classics".

A primeira é de "At Night", de Alicia Keys, que virou um reggae perigosíssimo, onde Aretha mostra toda a exuberância de sua voz e todo o perigo que ainda existe por trás de suas investidas vocais.

E a segunda é "Nothing Compares 2U", de Sinead O'Connor, que virou um tema jazz em uptempo irreconhecível. mas intenso, cativante e brilhante...

Se você achar que duas grandes gravações justificam a compra desse novo disco de Aretha Franklin, vá em frente.



"Aretha Franklin Sings The Great Diva Classics" é seu primeiro álbum em 15 anos a ser produzido por Clive Davis, que o considera "pura e simplesmente sensacional", insistindo que Aretha "está pegando fogo e no topo de seus poderes como cantora".

Clive disse ainda que "é emocionante ver uma artista como ela ainda mostrando o caminho, ainda provocando arrepios na espinha, ainda demonstrando que o que a música contemporânea precisa agora ainda é a voz... e que voz!

Exageros à parte, dá para se divertir com "Aretha Franklin Sings The Great Diva Classics"

Não é o canto do cisne de Lady Soul -- que provavelmente tenha sido "A Rose Is Still A Rose" -- mas é um trabalho simpático.

Eu, que evitei ouvir o disco nos 4 ou 5 meses que separam esse comentário do seu lançamento -- com medo de me decepcionar, pois gosto muito de Aretha Franklin --, confesso que estou aliviado.








AMOSTRAS GRÁTIS

quarta-feira, abril 17, 2013

BETTYE LAVETTE COMEMORA 50 ANOS DE CARREIRA E BRILHA ABSOLUTA, FINALMENTE.


A cena do Northern Soul -- a soul music produzida em Detroit, Philadelphia e Nova York -- sempre foi particularmente cruel com seus cantores e cantoras.

A maioria desses artistas surgia em compactos sob a tutela de algum produtor linha dura, também compositor, ou ligado a alguma editora musical que provia seus associados com canções de encomenda providenciadas por compositores de aluguel.

Não era fácil conseguir crescer neste meio selvagem.

Nenhum produtor fazia apostas de médio e longo prazo.

Um único compacto que não emplacasse nas paradas já dava motivo para que devolvessem ao anonimato um cantor ou cantora recém-anunciado como "the next best thing in showbiz".

Capitalismo selvagem, mesmo.

Uma situação diametralmente diferente da que acontecia com a soul music produzida no Sul dos Estados Unidos, em Memphis e New Orleans, onde artistas não eram tratados de forma descartável, não eram tão subjulgados a produtores quanto no Norte, e até podiam eventualmente participar do processo criativo de seus próprios discos -- o que sempre resultava num produto final mais autêntico e menos empacotado de acordo com as regras das Paradas de Sucesso.



Pois bem: Bettye LaVette surgiu com sua voz ríspida e encorpada na área de Detroit no início dos anos 60.

Curiosamente, foi descartada logo de cara por Berry Gordy, da Motown, que era praticamente dono da cena musical soul da cidade.

Mas -- ora, ora, vejam só! -- chamou a atenção dos irmãos Nesuhi e Ahmet Ertegun, da Atlantic Records em Nova York, que viram nela uma possível sucessora para Ruth Gordon e um futuro promissor.

Só que Bettye, no entanto, não se entusiasmou muito com a possibilidade de se perder em meio ao extenso elenco de rhythm and blues da Atlantic, e achou por bem não ficar muito tempo por lá, seguindo em frente e testando outras possibilidades em selos independentes como Scepter, Calla, Roulette e Silver Fox -- que, infelizmente, só proporcionaram a ela sucessos efêmeros com compactos de sucesso regional.

Assim, ela viu os anos 60 passarem, e nada de muito substancial acontecer em sua carreira, enquanto Aretha Franklin, Tina Turner e Dionne Warwick reinavam quase absolutas na cena soul nacional.

Saiu atrás do prejuízo nos início dos anos 70, e aceitou um convite de Arif Mardin para retornar à Atlantic Records. Era uma empreitada que tinha tudo para dar certo: contaria com o apoio de um produtor brilhante, condições de trabalho perfeitas, e alguma liberdade na escolha de repertório. Mas depois de dois compactos mal sucedidos comercialmente, que deveriam servir de escada para um LP que já estava pronto para ser lançado, a Atlantic declinou, não lançou o Lp e a dispensou de seu contrato.

Para Bettye foi o inferno. Ela ficou tão decepcionada com esse malogro que praticamente desistiu de sua carreira fonográfica. mudou de mala e cuia para a Broadway, e tratou de ficar quietinha por lá, trabalhando como cantora em musicais e tocando a vida em frente, sem decepções, durante quase 30 anos.

Perto da virada do século, Bettye decidiu retomar sua carreira de cantora, e conseguiu algumas datas pela Europa. Uma gravadora alemã se interessou em lançar um disco dela gravado ao vivo por lá, "Let Me Down Easy", que acabou sendo lançado também nos Estados Unidos por um selo independente.

Foi aí que os americanos finalmente a "descobriram".

Não eram poucos seus predicados artísticos seus predicados. Ela lembrava Mavis Staples na escolha de repertório, se aproximava de Etta James e Tina Turner no timbre vocal, e tinha um domínio de cena que lembrava Marlena Shaw e Cissy Houston. Só faltava cair nas mãos do produtor certo.

Foi quando conheceu Joe Henry, iniciando uma parceria que começou brilhantemente em "I've Got My Own Hell To Raise", presença em praticamente todas as listas de melhores discos do ano de 2005.

De lá para cá, ela não parou mais de gravar, surgindo a cada dois anos com mais uma pequena obra-prima, sempre mais marcante que a anterior.



'Thankful n'Thoughtful" é seu mais recente trabalho.

Saiu no finalzinho do ano passado, foi incluído na minha lista de Melhores de 2012 para o Jornal da Orla, mas não chegou a ser comentado aqui, por escrito. Uma falha imperdoável da minha parte, da qual tento me redimir agora, por conta das comemorações de 50 anos de carreira desta cantora magnífica.

'Thankful n'Thoughtful" é um disco bem mais orgânico e menos temático que seus trabalhos anteriores. Aqui não há mais nenhuma preocupação em criar um projeto de alto gabarito para servir de veículo para o talento de Bettye. O talento e o bom senso artístico de Bettye é que comandam o show. E tudo funciona às mil maravilhas.

Não há muito mais o que dizer sobre ela e o disco a título de apresentação -- e não vou ficar comentando canção por canção, até porque todas as escolhas que ela fez são perfeitas, e os arranjos providenciados por Joe Henry e os músicos envolvidos no projeto estão impecáveis, sempre privilegiando um toque de country-soul sulista que é deliciosamente atemporal.

Ainda assim, não vou resistir à tentação de destacar a releitura soul que ela fez para "Everybody Knows This Is Nowhere", de Neil Young.

É uma pequena obra-prima.

E dá a dimensão exata da grandeza artística de Bettye Lavette.

Vai entender porque deixaram que uma artista do porte dela sumisse do mapa por tanto tempo.

Por sorte, de agora em diante, isso não vai mais acontecer.




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terça-feira, julho 12, 2011

CINCO VOZES E O SENTIMENTO DO MUNDO (por Chico Marques)

É curioso como todas as grandes transformações musicais da música negra americana aconteceram sempre que algum gaiato transportou os spirituals e gospels cantados nas Igrejas Batistas para ambientes pouco ou nada abençoados pelo Senhor.

Isso aconteceu tanto com o jazz – que surgiu do encontro da música dos negros com os instrumentos vindos da Europa na velha New Orleans --, quanto com o blues – que saiu das plantações que cercavam os Vales do Mississipi e ganhou ares cosmopolitas em cidades como Chicago, Memphis, Saint Louis e Kansas City --, e também com a soul music -- que não difere em praticamente nada dos gospels, a não ser pelas temáticas bem mundanas das canções, que jamais caberiam no ambiente “de elevação” das Igrejas.

Para os artistas de todos esses gêneros musicais, cantar e comunicar andavam sempre lado a lado. Até porque as melhores referências que tinham tanto do ato de cantar quanto do ato de comunicar não vinham do rádio, e sim da Igreja mais próxima. Certos pastores eram verdadeiras estrelas pop nos anos 1950 e 1960. James Franklin – pai de Aretha – era um desses que atraíam verdadeiras multidões por onde passava.

Mas então surgiu Ray Charles, com seus gospels incendiários que falavam de sexo e de relações amorosas turbulentas com uma franqueza assustadora para quem não estava habituado a ouvir aquilo. Foi a partir daí que muitos cantores dos coros das Igrejas constataram que existia vida artística fora dalí, e então largavam tudo e seguiam para Memphis, Tennessee -- o epicentro dessa nova tendência musical.

Foi assim com o ex-Reverendo Solomon Burke -- a primeira estrela soul a surgir depois de Ray Charles --. com o showman absoluto James Brown -- que explodiu nas paradas quase ao mesmo tempo que Burke – e com diversos outros artistas tão seminais quanto eles -- Sam Cooke, Otis Redding, Wilson Pickett, Don Covay, Joe Tex, Arthur Alexander, Bobby Womack, etc. Todos brilharam intensamente na primeira metade dos anos 1960, correndo lado a lado com a explosão do Movimento pelos Direitos Civis na América.

Sintomaticamente, não haviam pastoras nas igrejas freqüentadas por negros. Por conta disso, também não havia uma única mulher de destaque na cena da soul music.

Foi quando Jerry Wexler trouxe para a Atlantic Records uma grande cantora negra que estava perdida no elenco da Columbia há anos, gravando repertório inadequado e indo rápido a lugar algum.

Bastou Aretha Franklin chegar à cena da soul music em 1966 já soltando a voz, e o tradicionalíssimo machismo dos negros foi colocado em xeque. Manifestos musicais como “Think” e “Respect” acabaram se revelando mais contundentes e eficazes para as mulheres da Comunidade Negra do que a obra completa de feministas como Betty Friedan e Gloria Steinem.

Aretha chegou chutando a porta e gritando "Qual é o problema".

Ninguém se atreveu a peitá-la.

Mas, com a morte de Martin Luther King, tudo isso foi meio que deixado de lado de uma hora para outra. E a soul music, de luto, deixou os temas mundanos um pouco de lado para buscar uma espécie de elevação, se aproximando novamente dos gospels -- e, de certa forma, encerrando um ciclo.

Nos anos 1970, o panorama soul ficou disperso, mais voltado para o pop e mais integrado às platéias brancas. E, consequentemente, menos comprometido com mudanças sociais.

Os artistas clássicos do gênero que sobreviveram na cena mantiveram, da meneira que foi possível, a da soul music acesa. Ganharam o reforço dos artistas de blues, que, ao longo dos anos, se deixaram contaminar pela musicalidade e pelas vocalizações soul. Todos eles, de certa forma, passaram a compor uma mesma cena de quarenta anos para cá.

Conheçam agora um pouco dos novos trabalhos de veteranos como Aretha Franklin e Aaron Neville, quase veteranos como Ruthie Foster e Eric Bibb, e também de uma cantora e guitarrista branca, ruiva e surpreendente chamada E G Kight.

Todos os cinco -- cada um à sua maneira -- abraçam o mundo com suas vozes e definem bem a palavra SOUL.




















ARETHA FRANKLIN
A WOMAN FALLING OUT OF LOVE
Às vésperas de completar 70 anos, a Primeiríssima Dama da Soul Music está de volta com um disco que é excepcional pelo simples fato de existir. Explico melhor. Aretha esteve muito mal de saúde nos últimos anos – ela aparenta estar melhor agora. Esteve também numa batalha judicial bastante desgastante com sua ex-gravadora Arista Records -- assunto encerrado de uns meses para cá, desde que ganhou na justiça o direito de lançar este disco, que já está pronto há quase dois anos, por seu selo próprio, Aretha Records. Se por um lado “A Woman Falling Out Of Love” está distante do altíssimo gabarito de seus melhores LPs gravados nos anos 1960 e 1970, por outro lado funciona como uma seqüência bastante digna para seus últimos trabalhos “A Rose Is Still A Rose” (1997) e “So Damn Happy” (2002). É um disco bastante envolvente, onde Aretha solta a voz em duetos com expoentes de várias fronts musicais, mesclando números de r&b bem modernosos com gospels, blues e standards do cancioneiro americano. Aretha tem uma peculiaridade que sempre deixou as outras cantoras profundamente irritadas: quanto mais solta a voz, mais facilmente acerta o ponto. Economia de recursos vocais, definitivamente, nunca foi seu forte. A maneira como descontrói e reinventa números batidos como “A Summer Place” e “The Way We Were” – essa última em dueto com o fabuloso Ron Isley, dos Isley Brothers -- é prova clara disso, e é o que faz de Aretha única e absoluta. Confesso que só não gostei da gravação que ela fez para “My Country Tis Of Thee” -- apoteótica demais para um gospel, mas justificável como hino da Era Obama, de quem Aretha é fiel apoiadora. Agora, é torcer para que Aretha Franklin, com seu selo próprio, consiga administrar melhor sua carreira e manter uma regularidade de lançamentos para os próximos anos. Nós, seus súditos, merecemos.




















AARON NEVILLE

I KNOW I´VE BEEN CHANGED
Aaron Neville é outro que está batendo às portas dos 70 anos de idade com uma vitalidade artística assombrosa. Voz principal dos Neville Brothers e um dos patrimônios mais valiosos da música de New Orleans, Aaron resgatou em 1990 uma carreira solo que estava adormecida desde a segunda metade dos anos 1960, quando, ao lado de Allen Toussaint, emplacou compactos clássicos como “Tell Me Like It Is”. Só que ele exagerou um pouco no direcionamento crossover desses discos de retorno, e, em vez de ampliar seu público, acabou virando prisioneiro de um padrão de produção muito meloso e pouco arrojado – bem na contramão de seu trabalho que desenvolve com seus irmãos. Mas aqui, em “I Know I´ve Been Changed” -- só de gospels tradicionais, com arranjos eloquentes de Allen Toussaint e a sonoridade moderníssima do produtor Joe Henry -- ele finalmente vira o jogo a seu favor . Além de ser um triunfo artístico retumbante, funciona também como um apelo para que alguma coisa seja feita em prol do povo pobre de New Orleans, que teve a vida devastada pelo Furacão Katrina, e até hoje ainda briga para conseguir retomar seu padrão de vida anterior. A delicadeza com que os gospels de “I Know I´ve Been Changed” se encadeiam, receitando fé como remédio para suportar as adversidades, deixam claro que – nas palavras de um crítico americano – “está mais do que na hora de Deus voltar a morar em New Orleans”. Com uma trilha sonora magnífica como essa proporcionada pelo triunvirato Aaron Neville, Allen Toussaint e Joe Henry, duvido muito que Ele não se sinta em casa logo de cara.




















RUTHIE FOSTER

LIVE AT ANTONE´S
Mesmo quem não acompanha a cena musical texana, já deve ter ouvido falar de Ruthie Foster a essa altura do campeonato. Excelente compositora, ela é dona de um tremendo vozeirão que lhe permite passear com muita desenvoltura por gêneros tão diversos quanto blues, jazz, rock and roll e country music, Sempre criticada por não conseguir imprimir em seus (até agora) 7 LPs de estúdio o mesmo vigor e a mesma pegada fulminante de suas performances ao vivo, Ruthie decidiu que estava mais do que na hora de dar um cala-boca nesse pessoal. E acaba de lançar esse cd e dvd “Live At Antone's, gravado no inferninho número um de Austin, Texas. É uma dose cavalar de rhythm & blues e americana, onde abre espaço para apenas 3 canções suas, desfilando covers magníficos de canções de compositores amigos, como Patti Griffin ("When It Don't Come Easy"), Lucinda Williams ("Fruits of My Labor") e Sista Rosetta Tharpe ("Up Above My Head [I Hear Music in the Air]). É uma jovem artista excepcional, aqui num momento precioso de sua carreira. Quem ainda não conhece Ruthie Foster, pode começar a se iniciar por aqui. Não há contra indicações.


















ERIC BIBB WITH STAFFAN ASTNER

TROUBADOUR LIVE!
Quando surgiu com seus primeiros discos no início dos anos 1980, Eric Bibb foi rapidamente aclamado como o príncipe herdeiro do folk-blues e a grande esperança branca para a renovação do gênero numa cena onde havia cada vez menos espaço para ele. As razões disso não eram poucas. Eric vem de uma família musical até demais. Seu pai é o grande cantor e guitarrista Leon Bibb. Seu tio, o notável pianista John Lewis, do Modern Jazz Quartet. E seu padrinho musical, nada menos que o lendário cantor negro da Broadway, Paul Robeson, Depois de se escolar musicalmente na casa de seu pai, por onde circulavam os músicos mais influentes da cena novaiorquina, Eric seguiu para Paris, onde estudou música e permaneceu mais de 15 anos trabalhando como músico profissional. Voltou para a América só quando sentiu que havia finalmente mercado para seu trabalho. De lá para cá, já gravou mais de 20 discos – alguns na tradição do folk-blues, outros musicalmente mais variados e com instrumentação eletrificada. Nesse mais recente, gravado ao vivo num nightclub na Suécia, ele trabalha com um combo básico, toca guitarra acústica e divide a cena com o ótimo guitarrista elétrico Staffan Astner e com o trio vocal gospel Psalm4, num repertório que trafega por diversos gêneros, e que culmina com uma releitura muito original para “People Get Ready”, de Curtis Mayfield. Quem prefere Eric Bibb tocando apenas blues talvez torça o nariz para o ecletismo musical desse LP. Mas todos os que não acreditam em fronteiras nos terrenos musicais com certeza vão ficar extasiados com mais essa aventura musical desse artista notável.


















E G KIGHT

LIP SERVICE
Eugenia Gail Kight nasceu há 45 anos em Dublin, Georgia. É uma ótima guitarrista, uma compositora extremamente simpática e uma cantora com um frescor vocal que lembra tanto Bonnie Bramlett quanto Rita Coolidge em seus inícios de carreira. Trabalhou como sidewoman para muitos artistas de blues e country music até conhecer Koko Taylor em 1995, quando decidiu que seu lugar era na cena do blues e do rhythm & blues. De lá para cá já gravou 6 discos solo e ganhou uma penca de prêmios, mas infelizmente continua uma ilustre desconhecida para o grande público. Quem sabe esse novo “Lip Service” consiga reverter esse status. Com o suporte luxuoso de grandes músicos da cena de Atlanta, como Randall Bramlett, Paul Hornsby e Tommy Talton, ela voa alto numa seqüência impecável de faixas, onde as mais lentas – como “That´s How A Woman Loves”, “Somewhere Down Deep” e “It´s Gonna Rain All Night” – se sobressaem aos números rápidos. Assim como Bonnie Raitt e Susan Tedeschi, E G Kight é mais uma guitarrista ruiva com alma negra e um futuro brilhante pela frente que -- a julgar pela excelência deste “Lip Service” -- não deve tardar a chegar.

DISCOGRAFIA

LPs ARETHA FRANKLIN
Take A Look: Complete Aretha on Columbia (1962-1966)
I Never Loved A Man (1967)
Aretha Arrives (1967)
Aretha In Paris (1967)
Lady Soul (1968)
Aretha Now (1968)
I Say A Little Prayer (1969)
Soul 69 (1969)
Don´t Play That Song (1970)
Spirit In The Dark (1970)
This Girl´s In Love With You (1970)
Live At Fillmore West (1971)
Young, Gifted & Black (1971)
Amazing Grace (1972)
Hey Now Hey (1973)
Let Me In Your Life (1974)
With Everything I Feel In Me (1974)
You (1975)
Sparkle (1976)
Sweet Passion (1977)
Almighty Fire (1978)
La Diva (1979)
Aretha (1980)
Love All The Hurt Away (1981)
Jump To It (1982)
Get It Right (1983)
Who´s Zoomin´ Who (1985)
Aretha (1986)
One Lord, One Faith, One Baptism (1987)
Through The Storm (1989)
What You See Is What You Sweat (1991)
A Rose Is Still A Rose (1998)
Duets (2001)
So Damn Happy (2003)
This Christmas (2008)
A Woman falling Out Of Love (2011)
http://www.aretha-franklin.com/

LPs AARON NEVILLE
Tell It Like Is It (1967)
Mickey Mouse March (1986)
Warm Your Heart (1991)
The Grand Tour (1993)
Soulful Christmas (1993)
The Tattoed Heart (1995)
To Make Me Who I Am (1997)
Devotion (2000)
Believe (2003)
Nature Boy: The Standards Album (2003)
Christmas Prayer (2005)
Bring It On Home (2006)
I Know I´ve Been Changed (2010)
http://aaronneville.com/


LPs RUTHIE FOSTER
Crossover (1999)
Full Circle (2001)
Runaway Soul (2002)
Stages (2004)
The Phenomenal Rothie Foster (2007)
The Truth According To Ruthie Foster (2009)
Live At Antone's (2011)
http://www.ruthiefoster.com/

LPs ERIC BIBB
Rainbow People (1977)
River Road (1980)
Good Stuff (1997)
Me To You (1998)
Home To Me (1999)
Spirit & The Blues (1999)
Painting Signs (2001)
Just Like Love (2002)
Natural Light (2003)
Roadworks (2004)
Sisters And Brothers (2004)
Friends (2004)
A Ship Called Love (2005)
Diamond Days (2006)
Praising Peache: A Tribute To Paul Robeson (2006)
An Evening With Eric Bibb (2007)
Spirit That I Am (2008)
Get On Board (2008)
Rainbow People (2009)
Booker´s Guitar (2010)
Troubadour Live (2011)
http://www.ericbibb.com/

LPs E G KIGHT
Come Into The Blues (1997)
Trouble (2002)http://www.blogger.com/img/blank.gif
Southern Comfort (2003)
Takin’ It Easy (2004)
EG Live & Naked (2007)
It´s Not In Here (2008)
Lip Service (2011)
http://www.egkight.com/

PORTA RETRATOS

“Fui operada de câncer no pâncreas ano passado e achei que não iria sobreviver. Mas então, ao acordar da anestesia, vi ninguém menos que Stevie Wonder ao lado da cama, junto com minha família. Foi quando tive certeza de que iria conseguir dar a volta por cima.” (Aretha Franklin)

“Trabalhava no Porto de New Orleans quando meu compacto Tell It Like It Is explodiu nacionalmente em 1967. Logo imaginei: Estou Rico! Quando fui tentar receber meus royalties, a gravadora tinha acabado de pedir falência. Ou seja: alguém ficou rico no meu lugar. Não há nada mais frustrante que isso.” (Aaron Neville)

“Meu estilo musical é basicamente gospel, apesar de não cantar música religiosa, mas a música que eu toco trafega entre blues, soul, reggae e rock and roll. Espero que isso sirva como definição do meu trabalho. Se não, que sirva como uma carta de intenções.” (Ruthie Foster)

“Acho que os ingleses tem um papel vital nessa ressurreição do blues. Eles mantiveram a coisa viva quando ninguém se importava mais nos Estados Unidos. Então, de repente, tudo voltou. E muito forte. Hoje, blues é quase mainstream.” (Eric Bibb)

“Quando Koko Taylor escolheu uma das minhas canções para gravar em seu disco Royal Blue, eu quase enlouqueci de tanta felicidade” (E G Kight)

“Mesmo sem conseguir encarar uma tournée, confesso que estou muito feliz em voltar a cantar em Festivais como o de Montreal e o de New Orleans. Se der, quero poder voltar a trabalhar a todo vapor. Se não der, quero poder fazer um show aqui, outro acolá, de tempos em tempos. O que não quero é ficar parada.” (Aretha Franklin)

“As pessoas até hoje estranham o contraste entre a delicadeza da minha voz e esse meu jeitão de ex-estivador. Meu jeito de cantar é uma tentativa de trazer para a música negra o yodel que Roy Rogers e Gene Autry faziam em suas canções nos filmes que eu via quando era menino. Acabou saindo meio estranho, e deu no que deu.” (Aaron Neville)

“Sempre combino um set list com a banda, que é para não ser seguido. Serve apenas um porto seguro, caso não consigamos sentir a platéia da maneira certa. Mas felizmente nunca aconteceu da platéia não responder bem, ou de não conseguirmos estabelecer comunicação com ela.” (Ruthie Foster)

“Gosto de trabalhar com músicos estrangeiros. Tenho um guitarrista sueco e cantores sulafricanos em minha banda. Acho que, se saí de Nova York e ganhei o mundo apresentando minha música, nada mais coerente de que receber influências do mundo afora através de músicos. Tem uma comunidade fantástica deles em qualquer canto do mundo onde você vá.” (Eric Bibb)

“Eu não faço como muitos artistas amigos meus, que evitam ler críticas a seus trabalhos. Eu leio tudo. Acho importante. Tenho confiança na qualidade do meu trabalho, mas não posso abrir mão do feedback da crítica.” (E G Kight)

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