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domingo, março 08, 2020

CHICO MARQUES E ALTO&CLARO SAÚDAM 13 ANIVERSARIANTES ILUSTRES DA SEMANA DE 1 A 7 DE FEVEREIRO COM UMA PLAYLIST ESPECIALÍSSIMA NO SPOTIFY



Chico Marques é um iconoclasta
desde a mais tenra idade.
Nascido em Santos em 1960,
estudou Literatura Inglesa
na Universidade de Brasília,
atuou como publicitário
e foi produtor musical
em emissoras de rádio e TV.
Vive na Polinésia Francesa,
onde trabalha como editor
de THE BORA BORA REVIEW
e ALTO&CLARO.

quinta-feira, junho 15, 2017

PACOTEIRA MUSICAL DE FIM DE SEMANA: COCO MONTOYA, JOHN PRIMER & BOB CORRITORE, KENNY NEAL, LURRIE BELL, ROBERT CRAY, MONSTER MIKE WELCH & MIKE LEDBETTER

por Chico Marques


Na primeira metade do Século 20, sempre que se falava em blues urbano, logo se imaginava um pianista comandando um grupo de músicos.

Em consequência dessa configuração, as maiores expressões do gênero em cidades como New Orleans, Memphis, Saint Louis, Kansas City e mesmo em Chicago sempre tendiam a aproximar o blues do jazz.

Mas então, no Texas, surgiu por volta de 1940 um cidadão chamado T-Bone Walker comandando uma orquestra com uma guitarra nas mãos e forjando uma sonoridade sofisticadíssima.

Cinco anos mais tarde, em Chicago, um músico de blues rural conhecido como Muddy Waters ousa montar uma banda e amplificar sua guitarra rústica, criando uma sonoridade que acabaria por definir os padrões estéticos do Chicago Blues, um dos gêneros musicais mais influentes de toda a história da música americana, que serviria como pedra fundamental para a invenção do rock and roll no início dos Anos 50.

Desde então, a guitarra passou a ser o instrumento principal da imensa maioria das formações de grupos de blues -- e os guitarristas proliferaram pelos quatro cantos do mundo, levando o instrumento para quase todas as formações de quase todos os gêneros musicais.

 Os seis guitarristas cujos discos comentamos hoje vem de vários backgrounds musicais diferentes.

Em comum entre eles, apenas o amor pelo blues e -- no caso específico de Robert Cray -- pela soul music.

Vamos a eles:

COCO MONTOYA
Hard Truth
(Alligator US)

Coco Montoya é, de todos os guitarristas de blues da cena atual, um dos que passaram pelas melhores escolas de blues: cumpriu 5 anos na banda de Albert Collins e puxou 10 anos nos Bluesbreakers de John Mayall. Consequentemente, quando deu início a sua carreira solo, já sabia exatamente onde queria chegar. "Hard Truth" é seu nono trabalho solo, e, apesar de não trazer nenhuma grande novidade em relação a seus discos anteriores e de seguir fielmente o padrão de produção Alligator para agradar aos programadores das rádios de blues-rock, mostra nitidamente em 3 ou 4 números a altíssima estirpe artística de Mr. Montoya. Se você ainda não o conhece, prepare-se para uma grata surpresa. Se você já conhece o trabalho desse guitarrista fino e poderoso, pode repetir o prato sem medo de fazer feio. Bom apetite.


JOHN PRIMER & BOB CORRITORE
Ain't Nothing You Can Do
(Delta Groove US)

John Primer, todos vocês devem conhecer. Veterano das bandas de Muddy Waters e Magic Slim, vem seguindo uma carreira solo brilhante nos últimos 25 anos, alternando discos de blues moderno com discos com uma levada mais tradicionalista. Já Bob Corritore pende mais para o blues tradicional, e surgiu com força nos últimos 10 anos, ganhando prestígio depois de vencer um Blues Award em 2011. Em 2013 a duplas gravou um disco juntos chamado "Knockin' Around These Blues" que fez muitos amigos por aí e recebeu críticas bastante entusiasmadas. Agora eles voltam com mais uma sessão juntos, passeando de forma descontraída por um repertório de clássicos do gênero. Detalhe: o disco conta com participações especialíssimas dos pianistas Barrelhouse Chuck e Henry Gary e do guitarrista Big Jon Atkinson, com quem Corritore lançou um disco no ano passado. Há momentos em que a voz de John Primer parece bastante com a de seu mentor Muddy Waters, o que torna o clima do disco bem familiar para amantes do Chicago Blues clássico. Destaque para o genial tema instrumental "Harmonica Boogaloo" e também para "When I Leave Home", que encerra o disco, com sete deliciosos minutos de duração que deixam um gostinho de "quero mais". Que venha logo um terceiro disco dessa dupla impecável.


 KENNY NEAL
Blood Line
(Cleopatra US)

Kenny Neal, para quem não sabe, é filho do lendário gaitista e band-leader Kenny Neal, que iniciou toda a família no meio musical, tornando-se uma espécie de Ellis Marsalis do blues. Herdou do pai o colorido musical, a versatilidade temática e a facilidade com que trafega em suas composições por diversos gêneros correlatos ao blues, como gospel, cajun, zydeco e outros que compõem o caldeirão musical de New Orleans. Kenny teria vários motivos para fazer música triste a essa altura de sua vida. Sua família perdeu suas casas, pois a região pantanosa da Louisiana onde moravam foi completamente alagada recentemente. Seu litígio com a Blind Pig Records, onde estava preso por contrato, praticamente obrigou sua carreira fonográfica a ficar em stand-by pelos últimos sete anos. Mesmo assim, ele resolveu enfrentar todas essas adversidades e estreou na Cleopatra Records gravando um dos discos mais positivos, alegres e inspirados de sua longa carreira. O destaque vai para a encantadora "I'm So Happy" e também para a explendida "Ain't Gon Let The Blues Die", uma espécie de hino de resistência do gênero. Um disco obrigatório.


LURRIE BELL
Can't Shake This Feeling
(Delmark US)

Lurrie Bell é uma figura muito curiosa na cena do blues. Filho de lendário gaitista Carey Bell, trabalhou em dobradinha com seu pai por muitos e muitos anos, até ser dignosticado com esquizofrenia. Ao contrário de esconder isso, Lurrie expôs sua situação nas canções de um de seus primeiros discos solo: "Mercurial Blues" (1995). Desde então, com a situação sob controle, vem gravando discos com frequência, sempre transitando entre o Chicago Blues, o blues rural e outras vertentes menos tradicionais e mais modernosas do gênero. "Can't Shake This Feeling" é seu nono álbum solo, e mais uma vez mergulha fundo em suas raízes musicais, na influência herdada de seu pai e na sua paixão pelo blues. O destaque vai para "Blues Is Trying To Keep Up With Me", excelente número de abertura, e também para "This Worrisome Feeling In My Heart" -- dois dos cinco ótimos números originais do disco. Se bem que a releitura que ele fez para a clássica "Hidden Charms" de Willie Dixon consegue ser nada menos que primorosa. Discão.


MONSTER MIKE WELCH AND MIKE LEDBETTER
Right Place Right Time
(Delta Groove US)

Já se vão quase 25 anos desde que Mike Welch surgiu como um menino prodígio da guitarra com apenas 13 anos de idade. Cresceu, aprendeu tudo o que podia com seus mentores Duke Robillard e Ronnie Earl, e ajuda o grande cantor e gaitista Sugar Ray Norcia a manter em pé sua banda The Bluetones, da qual faz parte desde o primeiro disco. Aos 37 anos, com 6 discos solo lançados e um número considerável de aventuras musicais ousadas pelas costas, ele agora une forças com o cantor lírico Mike Ledbetter cantando blues. O resultado soa um pouco estranho nas primeiras audições, mas de uma hora para outra começa a fazer sentido, na medida em que Ledbetter identificou em números clássicos de Chicago Blues elementos semelhantes aos do repertório operístico. É um disco surpreendente, que, com certeza, vai irritar basrante os fãs mais ortodoxos de blues. Mas é uma ousadia musical absolutamente original e extremamente bem-vinda, que merece ser ouvida e apreciada com carinho e atenção, em nome da renovação necessária ao gênero. Torço para que este seja o primeiro de uma série de discos em colaboração entre os dois.


ROBERT CRAY & HI RHYTHM
Robert Cray & Hi Rhythm
(Jay Vee US)

Lá se vão 30 anos desde que Robert Cray e o baterista Steve Jordan se conheceram durante os ensaios do show que celebrou os 60 anos de Chuck Berry em Saint Louis, celebrizado no filme "Hail Hail Rock & Roll". Ficaram amigos, começaram a trabalhar juntos com frequência e nunca mais desgrudaram um do outro. Agora, por sugestão de Jordan, os dois decidiram resgatar as raízes musicais soul de Cray em Memphis gravando nos Royal Studios da lendária Hi Records ao lado de músicos veteraníssimos do time original da casa -- que ajudaram a imortalizar os discos clássicos de Syl Johnson, Ann Pebbles, Otis Clay e Al Green nos Anos 60 e 70. O resultado é de tirar o fôlego. Apenas 3 canções do disco são de autoria de Cray. Todas as demais são números pouco conhecidos de autores clássicos como Tony Joe White, Bill Withers, O V Wright e Sir Mack Rice, entre outros compositores. Graças à produção carinhosa de Steve Jordan, a deliciosa musicalidade pedestre dos discos da Hi Records, de Willie Mitchell, está resgatada por inteiro nas 11 faixas do disco -- o vigésimo, e talvez o melhor de toda a carreira de Robert Cray. Um disco vital e indispensável.



CHICO MARQUES
é comentarista,
produtor musical
e radialista
há mais de 30 anos,
e edita a revista cultural
LEVA UM CASAQUINHO
e o blog musical
ALTO & CLARO 



terça-feira, setembro 04, 2012

MAGIC SLIM FAZ 75 ANOS EM GRANDE FORMA À FRENTE DOS TEARDROPS EM "BAD BOY"



Talvez Magic Slim seja a essa altura da vida a última lenda viva do blues cru, elétrico e sem rebuscamentos que subiu do Mississipi para Chicago -- o Chicago Blues, em seu formato mais clássico.

Aos 75 anos de idade, vive tranqüilo em Lincoln, Nebraska, mas vive pelo mundo. É um dos representantes da velha guarda que nunca abandonou a estrada, e jamais pretende fazê-lo.

Em 1989, Magic Slim veio ao Brasil pela primeira vez, para o 1.º Festival Internacional de Blues, realizado em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo.

Fez tanto sucesso que, de lá pra cá, voltou para tocar no Brasil quase todo ano, quase sempre acompanhado de sua fabulosa banda, The Teardrops, considerada pela crítica americana o arquétipo da banda de Chicago Blues Moderno.


A lenda de Magic Slim começou em meados da década de 40, no pequeno vilarejo de Torrence, no Mississippi, entre muitas plantações e poucas ruas, onde Morris Holt, um garoto negro nascido em agosto de 1937, dividia seu tempo entre o árduo trabalho na lavoura e a música no coral da igreja e à frente do piano.

Um dia, quando manuseava um descaroçador de algodão, Holt teve o quinto dedo da mão direita prensado e decepado por uma das moendas de sua ferramenta. Depois do acidente, não poderia mais continuar no piano. Aos poucos, se conformou de que precisaria desenvolver suas habilidades em outro instrumento. E então, aos 10 anos de idade, colocou cerdas de uma vassoura de sua casa e improvisou o que viria a ser sua “primeira guitarra”.

Já adolescente, morando na cidade de Grenada, Mississipi, ele ficou muito amigo de um jovem músico que conheceu por lá: Samuel Gene Maghett, ou Magic Sam, que ensinou a ele uma série de truques preciosos na guitarra, mas sempre insistindo que ele deveria criar um jeito próprio de tocar.

Foi o que ele fez, cadenciando cuidadosamente cada nota de sua guitarra entre um verso e outro, embalados pela jeito de cantar à moda do Mississippi.

Magic Sam e Magic Slim chegaram juntos a Chicago em 1955, e comeram o pão que o diabo amassou até Magic Sam conseguir montar sua banda e sair tocando profissionalmente, chamando seu parceiro para atuar como baixista.

Demorou um pouco até adquirir confiança e montar sua própria banda, The Teardrops, com dois de seus irmãos, que também vieram tentar a sorte na cidade grande.

Aos poucos, de tanto tocar em bares e inferninhos da Zona Sul e na Zona Oeste, Magic Slim & The Teardrops viraram afinal figurinhas carimbadas na noite da Windy City.


Magic Slim & The Teardrops possue mais de trinta discos gravados, alguns deles verdadeiros clássicos do gênero, Nos anos 70 e 80, gravaram constantemente para a Wolf Records. Mas de 1990 para cá, sua casa é a conceituada Blind Pig Records, que o trata a pão-de-ló desde sempre, para não perdê-lo.

O mais novo LP deles, “Bad Boy”, acaba de ser lançado, e segue mais ou menos o mesmo formato dos discos dos anos anteriores.

Por mais que Magic Slim tenha gostado das experiências musicais que desenvolveu no disco “Snakebite”, produzido pelo bluesman novaiorquino Papa Chubby, parece claro que daqui por diante seus discos devam seguir um formato mais rotineiro e sem maiores surpresas.

“Bad Boy” alterna composições novas bem marcantes, como “Sunrise Blues” e “Classic Joyride”, com clássicos do blues como a faixa título, de seu amigo Eddie Taylor, e “Champagne and Reefer”, de Muddy Waters – e, de quebra, ainda resgata algumas pérolas meio esquecidas como “Someone Else Is Steppin´ In”, da grande cantora Denise LaSalle, e “How Much More Long” do notável J B Lenoir.



Em "Bad Boy", The Teardrops continuam mais vigorosos do que nunca, e seguem em frente com sua fama de banda-escola, por onde passaram craques em início de carreira como os guitarristas John Primer e Left Dizz.

Atualmente, John McDonald é o segundo guitarrista da banda. O baixo fica a cargo de André Howard e a bateria com B J Jones.

"Bad Boy" está longe de ser um disco surpreendente. Nem pretende ser um grande disco.

Mas é um item bem bacana e extremamente honesto na longa discografia desse grande mestre do Modern Chicago Blues, que segue seu caminho em perfil baixo numa das carreiras mais constantes e prolificas da história deste gênero tradicionalmente perdulário.

Divirtam-se com o mestre.


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