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domingo, fevereiro 01, 2015

O NEO-CINQUENTÃO CHUCK PROPHET CONTINUA UM ICONOCLASTA DEPOIS DE TODOS ESSES ANOS


Chuck Prophet é um velho conhecido. 

Como líder do Green On Red, uma das bandas mais importantes da cena "paisley underground" dos anos 80, Chuck foi responsável por forjar a partir de um mix curioso de influências sonoras -- Doors, John Cale, Warren Zevon, Ian Hunter, etc. -- uma das identidades musicais mais marcantes daqueles tempos. 

Sempre ao lado do cantor Dan Stewart, do tecladista Chris Cacavas e do baixista Jack Waterson, seus companheiros no Green On Red, Chuck Prophet estabeleceu uma ponte entre o Sunshine Pop californiano e uma levada roqueira mais sombria. 

Mas depois de 10 anos com a banda, Prophet sentiu necessidade de correr novos riscos e embarcou numa carreira solo brilhante e idiossincrática, revelando em suas canções um desconforto existencial que oscila entre o cômico e o trágico que vai muito além do que a extensa legião de fãs do Green On Red estava habituada a suportar dele.

Mas para Chuck Prophet, os velhos fãs que conseguissem suportar as inquietações de suas canções bastariam para viabilizar os primeiros passos de sua carreira solo.

Que, diga-se de passagem, está completamento 25 anos de idade este ano, e já gerou 13 discos interessantíssimos.


"Night Surfer" (um lançamento Yep Roc Records) é o mais recente deles, lançado no final de 2014.

Dá sequência a seu LP anterior, "Temple Beautiful", dedicado à cidade de San Francisco, Califórnia, -- que o acolheu muito bem há cinco anos, e onde vive desde então --, e é tão imprevisível quanto ele. 

A faixa de abertura, "Countrified Inner City Technological Man", já dá o tom do que vem pela frente, com Prophet saudando a "start-up city" número um da América com o olhar meio cínico, meio deslumbrado de um cinquentão sonhador.

E daí em diante, Chuck e sua banda começam a desfilar road songs deliciosas -- "Lonely Desolation", "Ford Econoline" --, baladas desconcertantes sobre as indefinições do amor -- "Guilty As A Saint", "Truth Will Out" -- e rocks melódicos às vezes debochados -- "Love Is The Only Thing" --, outras vezes desconcertantes -- "Laughing On The Inside".

Chuck Prophet talvez seja o único artista de rock no momento que consiga reunir em seus discos músicos completamente díspares como Peter Buck, do REM, Prairie Prince, dos Tubes, e Bill Reiflin, do Ministry -- e isso faz dele um iconoclasta incorrigível, comprometido apenas com seus ideais artísticos e seu público cativo.



O surfista noturno que Chuck Prophet incorpora na maioria das canções desse seu novo LP funciona como uma de metáfora para todos os que estão chegando à meia idade ainda movidos pelas inquietações da juventude, mas que sabem que, mais cedo ou mais tarde, serão descartados nesse admirável mundo novo canibalístico em que vivemos.

É no mínimo engraçado constatar que, não muitos anos atrás, ser um artista de rock and roll na meia idade parecia algo impraticável. Hoje, não é mais assim. Hoje, rock and roll na meia idade virou um mergulho no escuro, uma aposta desesperada no incerto, uma prova de fogo constante em nome de uma relevância artística que nem sempre é reconhecida.

"Night Surfer" chegou tarde demais para entrar nas listas de Melhores de 2014.

Mas é uma trilha sonora extremamente oportuna para iniciar este ano com o bom humor, as ironias e o espírito sonhador em dia.  







WEBSITES OFICIAL
http://chuckprophet.com/

DISCOGRAFIA
http://www.allmusic.com/artist/chuck-prophet-mn0000125088/discography

AMOSTRAS GRÁTIS

terça-feira, setembro 09, 2014

AS AVENTURAS MUSICAIS PELA ESPANHA DO INCANSÁVEL CALIFORNIANO STEVE WYNN


Steve Wynn é um losangeleño da gema, que sempre foi fascinado pelos novaiorquinos do Velvet Underground.

Tanto que, na hora de batizar o que viria a ser a banda de sua vida, ele escolheu o nome de um projeto musical bem antigo do velvet John Cale: The Dream Syndicate.

O nome trouxe sorte, e o Dream Syndicate brilhou forte na cena Paisley Underground -- um pouco mais intensamente que outras bandas contemporâneas em Los Angeles como as Bangles, os Long Ryders, o Rain Parade e o Green On Red.

Entre 1982 e 1989, The Dream Syndicate gravou uma série de discos muito densos e muito festejados na cena alternativa.

Seu disco de estréia, "The Days Of Wine And Roses", já é tido como um clássico, e fez deles uma das bandas influentes dos Anos 80, deixando suas marcas em grupos tão díspares quanto The Black Crowes e The Killers.

Verdade seja dita: desde The Doors uma banda não mergulhava tão fundo no imaginário psicodélico sombrio da cidade.



Mas então, depois de sete LPs muito bons, The Dream Syndicate começou a passar por turbulências internas e dar sinais claros de esgotamento criativo.

E o sempre inquieto e desgarrado Steve Wynn ao invés de esperar pelo pior, dissolveu a banda e partiu logo para uma carreira solo.

Uma carreira solo tão aventuresca em termos musicais quanto bem sucedida comercialmente, diga-se de passagem.

Desde 1990, Steve vem alternando discos solo bem elétricos, à moda de Neil Young, como "Kerosene Man" (1990) e "Dazzling Display" (1992), com trabalhos mais acústicos e reflexivos como "Fluorescent" (1994), sempre surpreendendo e contrariando as expectativas de seu público.

Mas o caso é que Steve Wynn adora fazer parte de bandas e, depois da dissolução do Dream Syndicate, nunca negou fogo sempre foi convidado a participar de alguma.

Tanto que, nesses últimos 25 anos, sempre nas férias de sua carreira solo, já embarcou em 3 bandas diferentes: Gutterball, Miracle 3 e Baseball Project.


Em 2000, durante uma excursão pela Europa ao lado do amigo Paco Loco e da banda Australian Crawl,  Steve acabou indo parar num estúdio de gravação em Andaluzia e gravou um disco ao lado dessa gente toda, chamado "Memento".

Esse disco, curiosamente, permaneceu inédito nos Estados Unidos, assim como um segundo chamado "Smack Dab", que ele e Paco gravaram em 2006 para uma gravadora espanhola.

Pois agora, agora a Omnivorous Records americana decidiu lançar os dois juntos num álbum só, chamado "Sketches Of Spain", e o resultado final é muito interessante.

Talvez por estar longe de casa, e liberto dos compromissos habituais de sua carreira solo, Steve Wynn ficou mais à vontade para fazer experiências musicais bem pouco ortodoxas, colocando sua voz encorpada sobre harmonias pop bem delicadas, só para ver se elas se sustentam em pé com tanto peso em cima delas.

O resultado é extremamente bem resolvido, ousado e divertido.

O caso é que "Sketches Of Spain" não é um disco fácil, e nem é endereçado a qualquer público.

É um trabalho extremamente honesto, concebido na estrada e gravado rapidamente, para que a essência dele não se perdesse numa gravação minuciosa e prolongada demais.

Corre à boca pequena que Steve e Paco acabam de gravar um terceiro disco juntos nos intervalos de sua recente Tournée de Verão pela Europa -- e quem ouviu as gravações afirma que a dobradinha dos dois nunca foi tão bem resolvida quanto agora.



2014 tem sido um ano está bem movimentado para Steve Wynn.

Começou com o lançamento de um belo disco ao vivo, bem folk, com releituras de suas canções favoritas de Bob Dylan.

Agora, chega este ótimos "Sketches Of Spain", e ainda este ano teremos o terceiro disco de Steve ao lado de seus comparsas do Baseball Project.

Como se tudo isso não bastasse, ele está saindo em tournée agora em Setembro com seus velhos comparsas do Dream Syndicate, para a alegria de seus velhos fãs -- e isso deve render, no mínimo, um DVD ao vivo.

Vida de artista independente é assim mesmo, bastante corrida.

Não existe na cena indie aquela manha de artista mainstream que grava um disco a cada três anos, alegando dificuldades para compor, trabalhando pouco.

Artista independente nunca para de fazer tournées, tem que ter disco novo todo ano para estar sempre em voga e ter sempre as portas abertas dos meios de divulgação sem ter que gastar fortunas em assessoria de imprensa e promoção.

Não é uma vida fácil.

Mas para gente inquieta como Steve Wynn é a única vida possível.



WEBSITE PESSOAL
http://stevewynn.net/

DISCOGRAFIA
http://www.allmusic.com/artist/steve-wynn-mn0000040969/discography

AMOSTRAS GRÁTIS