HO HO HO HO HO
quinta-feira, dezembro 25, 2014
quarta-feira, dezembro 03, 2014
T-BONE BURNETT FAZ COM QUE BOB DYLAN TENHA 26 ANOS DE IDADE NOVAMENTE EM 2014
T-Bone Burnett é um cara admirável.
Desde os tempos da Alpha Band nos anos 70, passando por sua carreira solo brilhante a partir dos anos 80, ele sempre gostou de encarar desafios complicados -- fosse como cantor-compositor-arranjador-guitarrista, ou apenas como produtor.
Parceiro musical de Bob Dylan desde os tempos da Rolling Thunder Revue, Burnett recebeu ano passado um desses desafios complicados, e adorou..
Dylan entregou a ele um pacote com cerca de 50 letras escritas -- mas não musicadas -- quando tinha 26 anos de idade, na ocasião de seu retiro na Casa de Woodstock com The Band, que gerou os festejados "Basement Tapes" em 1967.
Missão: montar uma espécie de banda de ocasião com artistas de relevo que topassem pegar aquelas letras escritas 47 anos atrás e não apenas transformá-las em canções, mas envolvê-las num projeto que pudesse soar sereno e grandioso, como uma versão revista e atualizada dos seus 'Basement Tapes".
Burnett gostou da idéia e encampou o projeto, mas não quis se envolver nele como músico -- ao menos, não diretamente.
Assumiu a cadeira de produtor.
Escolheu a dedo vários artistas amigos.
E os convidou para uma aventura musical sem precedentes na história do rock and roll.
O time de compositores convocado por T-Bone Burnett é composto por sua alma gêmea Elvis Costello, mais Jim James (do My Morning Jacket), Marcus Mumford (do Mumford & Sons), Rhiannon Giddens (Carolina Chocolate Drops) e Taylor Goldsmith (The Dawes).
Todos seguiram não para o velho estúdio improvisado no porão da Casa Rosa de Woodstock, onde os "Basement Tapes' originais foram gravados, mas para o Studio One da Capitol em Los Angeles, California -- provavelmente, o melhor estúdio de áudio de todo o Planeta Terra.
Conforme os ensaios e as sessões quase coletivas de composição corriam, todos iam achando o tom certo para suas participações no projeto.
E, sem perceber, começaram a interagir uns com os outros de uma maneira quase fraternal, com um envolvimento bem semelhante ao que rolou entre Bob Dylan e The Band em 1967..
Elvis Costello explica que todos procuraram tratar o parceiro Bob Dylan como um integrante da banda com 26 anos de idade que, por motivo de doença, não estava presente ao estúdio naquele dia.
A partir daí, saíram buscando maneiras de interagir com ele através de seus escritos -- sem reverências de espécie alguma, apenas como um talentoso companheiro de trabalho.
E foi assim que conseguiriam desenvolver um projeto sem ranço nostálgico e sem a preocupação de ter que correr atrás daquele mesmo tom dos "Basement Tapes" originais, preservando a personalidade musical de cada um dos integrantes.
Uma das preocupações principais deles todos foi tentar não compor melodias usando os fraseados musicais que Dylan adota habitualmente nas suas canções.
Não foi muito fácil a princípio.
Mas, depois que acharam o Norte, a coisa toda seguiu às mil maravilhas.
Das 50 canções que Dylan enviou, 20 ganharam melodia e foram finalizadas para este belíssimo "Lost In The River - The New Basement Tapes"
A primeira audição já impressiona, e muito, tanto pela beleza e pela densidade das canções quanto pela grandeza artística do projeto.
É nesses momentos que fica clara a enorme diferença que faz ter alguém como T-Bone Burnett no comando.
Serenamente, ele facilitou para cada um dos integrantes da "banda" achasse mais rapidamente o seu papel no projeto, e permaneceu a maior parte do tempo do outro lado do vidro, acompanhando as coisas da mesa de gravação.
Não se preocupou em imprimir seu toque pessoal acima das contribuições dos participantes, e buscou como produtor aquela mesma organicidade musical que faz do seu trabalho como artista solo algo tão intenso.
É impressionante como "Lost In The River" cresce a cada audição, combinando talentos jamais combinados antes de forma genial.
É sempre bom lembrar que, antes dos "Basement Tapes", Dylan era um compositor solitário, que interagia com suas bandas apenas nos palcos, na hora de tocar.
Nos "Basement Tapes" ele, pela primeira vez, teve a chance de ter parceiros nas suas canções -- vide "This Wheel's On Fire", composta com Rick Danko, e "Tears Of Rage", composta com Richard Manuel, ambos de sua banda na ocasião -- e os resultados foram notáveis.
Há diversas canções em "Lost In The River" em que essa mesma simbiose artística acontece -- e isso, por si só, já revela o quanto essa aventura musical é preciosa.
Essas canções vem encadeadas de forma delicada e envolvente, o que ajuda a fazer de "Lost In The Flood" um sério candidato a maior e mais bem resolvida empreitada musical do ano.
Como eu disse no início do texto, T-Bone Burnett é um cara admirável.
É o único produtor de discos que Bob Dylan nunca conseguiu levar à loucura.
Acreditem: não é pouca coisa..
WEBSITE OFICIAL
http://www.thenewbasementtapes.com/
AMOSTRAS GRÁTIS
terça-feira, dezembro 02, 2014
NEIL YOUNG ESTÁ LOUCAMENTE APAIXONADO. DURMA-SE COM UM BARULHO DESSES...
Nenhum artista de rock and roll -- nem mesmo Bob Dylan -- coleciona tantas idiossincrasias quanto Neil Young.
São esquisitices que sempre existiram no trabalho dele, mas que ganharam uma força adicional na virada dos anos 1970 para os 1980, em pleno período pós-punk, com um álbum estranho e disforme chamado "Re.act.or", que deixou a Reprise Records bastante irritada na ocasião.
De lá para cá, excentricidades as mais variadas ressurgem pontualmente em seus discos de tempos em tempos.
Neil Young já pagou caro por essas idiossincrasias, mas não adianta: ele não aprende.
Nos Anos 80, foi processado por David Geffen -- seu patrão na Geffen Records, que, ingenuamente, havia concedido a ele liberdade criativa total na elaboração de seus projetos -- sob a alegação de que, de um contrato de cinco álbuns, sua gravadora recebeu de Neil Young quatro LPs estranhíssimos e de difícil comercialização.
De volta à Reprise Records no final dos Anos 80, ainda meio assustado com o processo que perdeu para David Geffen, Neil sossegou por uns tempos, e brindou seu público e sua gravadora com discos às vezes elétricos, às vezes acústicos, sem excentricidades exageradas e sempre com um alto gabarito artístico.
Mas com a virada do milênio, alguma coisa estranha aconteceu.
Provavelmente, alguns parafusos de Neil afrouxaram, e ele pouco a pouco foi retomando sua velha rotina idiossincrática de produzir discos conceituais e experimentais cada vez mais estranhos e voltados para um público cada vez mais dirigido.
A sorte dele é que, a essa altura da vida, sua gravadora não nutria mais grandes expectativas nele, seus projetos passaram a ter um custo relativamente baixo e seu público permaneceu grande e fiel o suficiente para garantir vendagens expressivas para os padrões minguados da Indústria Fonográfica nos dias de hoje.
Pois bem: a nova idiossincrasia musical de Neil Young se chama "Storytone".
É um disco bastante incômodo e pouco satisfatório.
São dez canções novas com o tom minimalista habitual, sempre muito delicadas -- metade delas composta para sua atual namorada, a ex-sereia (e ex-Senhora Jackson Browne) Daryl Hannah --, gravadas ao vivo diante de uma orquestra de cordas arranjada e regida por Michael Bearden, ou de uma Big Band comandada por Chris Walden, parceiro musical de Michael Bublé.
Até aí, nada demais.
O problema é que as baladas dessa sua nova lavra são muito frágeis melodicamente, simples e despojadas demais, e os arranjos de cordas encomendados caem feito bigornas em cima delas, inviabilizando qualquer interação entre Neil -- o crooner mais improvável do mundo -- e o tsunami de cordas que afoga, sufoca e ridiculariza essas canções.
Lembra um pouco aqueles arranjos exagerados que Neil encomendou para a London Symphony Orchestra 42 anos atrás, em canções como "Words" e "A Man Needs A Maid", na época duramente criticados.
Verdade seja dita: o que 42 anos atrás era apenas inadequado, agora chega a ser embaraçoso.
Nas faixas em que Neil vem acompanhado pela Big Band de Rhythm & Blues, o resultado final é bem melhor -- até lembra um pouco "This Note's For You" (1989) --, mas peca vez ou outra por imprimir às canções um registro de swing jazzístico sofisticado demais para o jeitão gauche meio bronco de Neil Young.
"Storytone" não chega a ser uma decepção, mas irrita, e muito.
É um grande equívoco artístico -- bem intencionado, claro, mas um grande equívoco artístico sem sombra de dúvida.
Okay (1), sejamos tolerantes: Neil Young está apaixonado, e todo ser apaixonado perde o senso do ridículo, o que é perfeitamente natural.
Okay (2), Daryl Hannah é bem melhor apessoada do que Pegi Young, com quem ele foi casado por mais de 35 anos.
Okay (3), é inegável que o cd bonus que acompanha "Storytone", com as mesmas canções tocadas "no osso" -- sem esses arranjos estapafúrdios, e na sequência original das canções -- não só é bastante satisfatório, como mostra que ele continua um mestre em compor canções curtas e emocionantes.
O que realmente chateia nessa nova empreitada amalucada de Neil Young é que, dessa vez, ele chegou bem perto de produzir um daqueles "pequenos grandes álbums" que antes pontuavam sua carreira a cada cinco anos -- e que, desde "Silver And Gold", de 2000, simplesmente deixaram de chegar.
Quem sabe no próximo disco -- isso se esse romance durar, ou se conseguir sobreviver a esse "late bloom" fulminante --, Neil acerta a mão novamente.
WEBSITE OFICIAL
http://www.neilyoung.com/index2.html
DISCOGRAFIA
http://www.allmusic.com/artist/neil-young-mn0000379125/discography
AMOSTRAS GRÁTIS
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