Nenhum artista de rock and roll -- nem mesmo Bob Dylan -- coleciona tantas idiossincrasias quanto Neil Young.
São esquisitices que sempre existiram no trabalho dele, mas que ganharam uma força adicional na virada dos anos 1970 para os 1980, em pleno período pós-punk, com um álbum estranho e disforme chamado "Re.act.or", que deixou a Reprise Records bastante irritada na ocasião.
De lá para cá, excentricidades as mais variadas ressurgem pontualmente em seus discos de tempos em tempos.
Neil Young já pagou caro por essas idiossincrasias, mas não adianta: ele não aprende.
Nos Anos 80, foi processado por David Geffen -- seu patrão na Geffen Records, que, ingenuamente, havia concedido a ele liberdade criativa total na elaboração de seus projetos -- sob a alegação de que, de um contrato de cinco álbuns, sua gravadora recebeu de Neil Young quatro LPs estranhíssimos e de difícil comercialização.
De volta à Reprise Records no final dos Anos 80, ainda meio assustado com o processo que perdeu para David Geffen, Neil sossegou por uns tempos, e brindou seu público e sua gravadora com discos às vezes elétricos, às vezes acústicos, sem excentricidades exageradas e sempre com um alto gabarito artístico.
Mas com a virada do milênio, alguma coisa estranha aconteceu.
Provavelmente, alguns parafusos de Neil afrouxaram, e ele pouco a pouco foi retomando sua velha rotina idiossincrática de produzir discos conceituais e experimentais cada vez mais estranhos e voltados para um público cada vez mais dirigido.
A sorte dele é que, a essa altura da vida, sua gravadora não nutria mais grandes expectativas nele, seus projetos passaram a ter um custo relativamente baixo e seu público permaneceu grande e fiel o suficiente para garantir vendagens expressivas para os padrões minguados da Indústria Fonográfica nos dias de hoje.
Pois bem: a nova idiossincrasia musical de Neil Young se chama "Storytone".
É um disco bastante incômodo e pouco satisfatório.
São dez canções novas com o tom minimalista habitual, sempre muito delicadas -- metade delas composta para sua atual namorada, a ex-sereia (e ex-Senhora Jackson Browne) Daryl Hannah --, gravadas ao vivo diante de uma orquestra de cordas arranjada e regida por Michael Bearden, ou de uma Big Band comandada por Chris Walden, parceiro musical de Michael Bublé.
Até aí, nada demais.
O problema é que as baladas dessa sua nova lavra são muito frágeis melodicamente, simples e despojadas demais, e os arranjos de cordas encomendados caem feito bigornas em cima delas, inviabilizando qualquer interação entre Neil -- o crooner mais improvável do mundo -- e o tsunami de cordas que afoga, sufoca e ridiculariza essas canções.
Lembra um pouco aqueles arranjos exagerados que Neil encomendou para a London Symphony Orchestra 42 anos atrás, em canções como "Words" e "A Man Needs A Maid", na época duramente criticados.
Verdade seja dita: o que 42 anos atrás era apenas inadequado, agora chega a ser embaraçoso.
Nas faixas em que Neil vem acompanhado pela Big Band de Rhythm & Blues, o resultado final é bem melhor -- até lembra um pouco "This Note's For You" (1989) --, mas peca vez ou outra por imprimir às canções um registro de swing jazzístico sofisticado demais para o jeitão gauche meio bronco de Neil Young.
"Storytone" não chega a ser uma decepção, mas irrita, e muito.
É um grande equívoco artístico -- bem intencionado, claro, mas um grande equívoco artístico sem sombra de dúvida.
Okay (1), sejamos tolerantes: Neil Young está apaixonado, e todo ser apaixonado perde o senso do ridículo, o que é perfeitamente natural.
Okay (2), Daryl Hannah é bem melhor apessoada do que Pegi Young, com quem ele foi casado por mais de 35 anos.
Okay (3), é inegável que o cd bonus que acompanha "Storytone", com as mesmas canções tocadas "no osso" -- sem esses arranjos estapafúrdios, e na sequência original das canções -- não só é bastante satisfatório, como mostra que ele continua um mestre em compor canções curtas e emocionantes.
O que realmente chateia nessa nova empreitada amalucada de Neil Young é que, dessa vez, ele chegou bem perto de produzir um daqueles "pequenos grandes álbums" que antes pontuavam sua carreira a cada cinco anos -- e que, desde "Silver And Gold", de 2000, simplesmente deixaram de chegar.
Quem sabe no próximo disco -- isso se esse romance durar, ou se conseguir sobreviver a esse "late bloom" fulminante --, Neil acerta a mão novamente.
WEBSITE OFICIAL
http://www.neilyoung.com/index2.html
DISCOGRAFIA
http://www.allmusic.com/artist/neil-young-mn0000379125/discography
AMOSTRAS GRÁTIS
Um comentário:
deixa o cara!
Postar um comentário