T-Bone Burnett é um cara admirável.
Desde os tempos da Alpha Band nos anos 70, passando por sua carreira solo brilhante a partir dos anos 80, ele sempre gostou de encarar desafios complicados -- fosse como cantor-compositor-arranjador-guitarrista, ou apenas como produtor.
Parceiro musical de Bob Dylan desde os tempos da Rolling Thunder Revue, Burnett recebeu ano passado um desses desafios complicados, e adorou..
Dylan entregou a ele um pacote com cerca de 50 letras escritas -- mas não musicadas -- quando tinha 26 anos de idade, na ocasião de seu retiro na Casa de Woodstock com The Band, que gerou os festejados "Basement Tapes" em 1967.
Missão: montar uma espécie de banda de ocasião com artistas de relevo que topassem pegar aquelas letras escritas 47 anos atrás e não apenas transformá-las em canções, mas envolvê-las num projeto que pudesse soar sereno e grandioso, como uma versão revista e atualizada dos seus 'Basement Tapes".
Burnett gostou da idéia e encampou o projeto, mas não quis se envolver nele como músico -- ao menos, não diretamente.
Assumiu a cadeira de produtor.
Escolheu a dedo vários artistas amigos.
E os convidou para uma aventura musical sem precedentes na história do rock and roll.
O time de compositores convocado por T-Bone Burnett é composto por sua alma gêmea Elvis Costello, mais Jim James (do My Morning Jacket), Marcus Mumford (do Mumford & Sons), Rhiannon Giddens (Carolina Chocolate Drops) e Taylor Goldsmith (The Dawes).
Todos seguiram não para o velho estúdio improvisado no porão da Casa Rosa de Woodstock, onde os "Basement Tapes' originais foram gravados, mas para o Studio One da Capitol em Los Angeles, California -- provavelmente, o melhor estúdio de áudio de todo o Planeta Terra.
Conforme os ensaios e as sessões quase coletivas de composição corriam, todos iam achando o tom certo para suas participações no projeto.
E, sem perceber, começaram a interagir uns com os outros de uma maneira quase fraternal, com um envolvimento bem semelhante ao que rolou entre Bob Dylan e The Band em 1967..
Elvis Costello explica que todos procuraram tratar o parceiro Bob Dylan como um integrante da banda com 26 anos de idade que, por motivo de doença, não estava presente ao estúdio naquele dia.
A partir daí, saíram buscando maneiras de interagir com ele através de seus escritos -- sem reverências de espécie alguma, apenas como um talentoso companheiro de trabalho.
E foi assim que conseguiriam desenvolver um projeto sem ranço nostálgico e sem a preocupação de ter que correr atrás daquele mesmo tom dos "Basement Tapes" originais, preservando a personalidade musical de cada um dos integrantes.
Uma das preocupações principais deles todos foi tentar não compor melodias usando os fraseados musicais que Dylan adota habitualmente nas suas canções.
Não foi muito fácil a princípio.
Mas, depois que acharam o Norte, a coisa toda seguiu às mil maravilhas.
Das 50 canções que Dylan enviou, 20 ganharam melodia e foram finalizadas para este belíssimo "Lost In The River - The New Basement Tapes"
A primeira audição já impressiona, e muito, tanto pela beleza e pela densidade das canções quanto pela grandeza artística do projeto.
É nesses momentos que fica clara a enorme diferença que faz ter alguém como T-Bone Burnett no comando.
Serenamente, ele facilitou para cada um dos integrantes da "banda" achasse mais rapidamente o seu papel no projeto, e permaneceu a maior parte do tempo do outro lado do vidro, acompanhando as coisas da mesa de gravação.
Não se preocupou em imprimir seu toque pessoal acima das contribuições dos participantes, e buscou como produtor aquela mesma organicidade musical que faz do seu trabalho como artista solo algo tão intenso.
É impressionante como "Lost In The River" cresce a cada audição, combinando talentos jamais combinados antes de forma genial.
É sempre bom lembrar que, antes dos "Basement Tapes", Dylan era um compositor solitário, que interagia com suas bandas apenas nos palcos, na hora de tocar.
Nos "Basement Tapes" ele, pela primeira vez, teve a chance de ter parceiros nas suas canções -- vide "This Wheel's On Fire", composta com Rick Danko, e "Tears Of Rage", composta com Richard Manuel, ambos de sua banda na ocasião -- e os resultados foram notáveis.
Há diversas canções em "Lost In The River" em que essa mesma simbiose artística acontece -- e isso, por si só, já revela o quanto essa aventura musical é preciosa.
Essas canções vem encadeadas de forma delicada e envolvente, o que ajuda a fazer de "Lost In The Flood" um sério candidato a maior e mais bem resolvida empreitada musical do ano.
Como eu disse no início do texto, T-Bone Burnett é um cara admirável.
É o único produtor de discos que Bob Dylan nunca conseguiu levar à loucura.
Acreditem: não é pouca coisa..
WEBSITE OFICIAL
http://www.thenewbasementtapes.com/
AMOSTRAS GRÁTIS
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