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sábado, abril 13, 2013

BILLY BRAGG CHEGA À MATURIDADE AINDA MAIS INCONFORMADO EM "TOOTH & NAIL"


Um dos maiores desafios para qualquer artista popular é, e sempre será, permanecer relevante depois de se estabelecer no mercado.

Neil Young abordou esse dilema em canções como “Thrasher”, talvez a mais contundente delas, falando de amigos perdidos em canyons de cristal, absorvidos pela vaidade e encastelados no estrelato, incapazes de perceber que seu métier só faz sentido enquanto eles conseguirem se reinventar a cada nova estação.

Billy Bragg sabe disso melhor do que ninguém.

Desde que surgiu, 30 anos atrás, em meio à efervecência pós-punk, em discos contundentes como “Talking With The Taxman About Poetry” e “Workers Playtime” ele personifica uma versão pós-moderna de Woody Guthrie. Isso em plena Era Margareth Thatcher, No início, foi acusado de ser apenas um "poser" curioso. Mas, com os anos, foi-se revelando um ótimo compositor, extremamente hábil tanto com letras quanto com melodias, e um artista muito peculiar.

De lá para cá já se reinventou algumas vezes, unindo forças aos americanos do Wilco e, mais recentemente, integrando a banda The Blokes, sempre alternando seu discurso político com um discurso amoroso denso e intenso, trafegando pelos mais diversos gêneros musicais com sua guitarra na mão e uma atitude nunca menos que contundente.


E não é que em seu mais novo trabalho, “Tooth & Nail”, ele se reinventa mais uma vez?

Gravado em Santa Mônica, Califórnia, com o suporte precioso do produtor Joe Henry e dos amigos The Blokes, Bragg deixa seus temas politizados um pouco de lado e investe numa mensagem mais universal, expandindo sua retórica -- sempre incisiva, diga-se de passagem -- a assuntos ainda não devidamente explorados em seu trabalho -- às vezes num tom de crônica, outras vezes num tom mais confessional..

O resultado disso são canções desconcertantes como “Your Name On My Tongue”, ‘Swallow My Pride” e “No One Knows Nothing Anymore”. Ou então canções delicadas e assováveis, como “January Song” e “Tomorrow’s Gonna Be A Better Day”, que abrem e fecham o disco, respectivamente.

Em meio a tudo isso, temos como termômetro do "estado de coisas atual de Billy Bragg" uma bela e sintomática releitura de “I Ain’t Got No Home Anymore”, de Woody Guthrie. Que, de certa forma, indica que nosso herói está nos dias de hoje mais propenso a conjugar seu ativismo político com sua condição de cidadão do mundo do que ficar restrito à cena trabalhista inglesa que sempre defendeu.

(não vou me espantar se, a essa altura do campeonato, já tiver alguns velhos colegas folkies esquerdofrênicos acusando Bragg de seu um traidor da causa. Bob "Judas" Dylan conhece bem os métodos dessa gente.)



Enfim, Billy Bragg esá comemorando 30 anos de carreira questionando se seu trabalho ainda faz sentido no mundo de hoje.

30 anos que não pesam na bagagem, e que, de quebra, fornecem um diferencial artístico que poucos artistas mais jovens conseguem ostentar.

Além, é claro, de mais perplexidade do que conforto, mais angústia que alívio, e as habituais doses cavalares de som e fúria -- como ele demonstra em “No One Knows Nothing Anymore”, a canção mais truculenta deste disco:

"Let's stop pretending / We can manage our way out of here / Let's stop defending the indefensible / Let's stop relying on / The lecturing of the experts / Whose spin just makes our plight incomprehensible/ High up on a mountain top, somebody with a skinhead crop / Is thinking deep thoughts for us all / Serenity is all around, but if you listen /You can hear the sound / Of one head being banged against the wall"




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sábado, abril 28, 2012

BILLY BRAGG E WILCO: REDIMENSIONANDO O LEGADO DE WOODY GUTHRIE PARA AS GERAÇÕES QUE AINDA ESTÃO POR VIR.


A América comemora o centenário de Woody Guthrie este ano.

Woody Guthrie, para quem não conhece, foi um folk singer combativo e um compositor implacável com as mazelas que oprimiam a classe trabalhadora americana nos anos 30 e 40.

Herói musical e existencial de nove em cada dez jovens folk singers inconformados com o 'Sistema" surgidos nos anos 60 -- entre eles, o jovem Bob Dylan --, Guthrie virou lenda por correr os quatro cantos da América com seu violão, levando sua mensagem populista e pró-Sindicalista onde quer que ela fosse incômoda ao "Establishment" naquela época.

Mas o diabo é tempo passou, sua música foi ficando datada demais, e sobreviveu esses anos todos a duras penas, apesar de ter sido agraciada com dois revivals -- um na ocasião de sua morte em 1967, e outro em 1976 no lançamento de sua cinebiografia "Bound For Glory", dirigida por Hal Ashby e com David "Kung-Fu" Carradine interpretando Woody.

Pois bem: vinte anos atrás, os herdeiros de Woody Guthrie negociaram com a editora musical da Warner Bros. Records uma série de manuscritos dele com dezenas de letras para canções que ele nunca cegou a musicar -- em parte por serem "off-topic" demais para sua reputação de folkie politizado.

A idéia do pessoal da Warner era entregar essas letras para compositores de prestígio com alguma afinidade com Guthrie, para que eles as musicasse.

Mas como era um projeto caro e complicado, que não entusiasmava a ninguém na direção da gravadora, nunca entrou nas prioridades principais deles.



Até que um dia alguém comentou sobre as letras de Woody Guthrie com Jeff Tweedy, do grupo Wilco, e também com o folk singer inglês Billy Bragg, e eles se resolveram encampar o projeto de virar parceiros em composições de Woody Guthrie.

Mas sem reverências. Trataram Woody Guthrie de igual para igual. Billy Bragg compôs algumas canções, Jeff Tweedy e seus parceiros do Wilco compuseram outras, e nessa brincadeira eles conseguiram fazer Woody Guthrie renascer como artista.

Até porque muitas dessas letras revelam facetas muito curiosas de Woody, que não tem nada a ver com o folk singer de protesto.

Quem poderia imaginar que ele gostava tanto de Ingrid Bergman a ponto de compor uma canção para ela?

Ou que ele poderia ser capaz de compor canções como "Christ For President" e "My Flying Saucer"?

Ou ainda que ele fosse capaz de tanto lirismo quanto em "Someday Some Morning Sometime" ou "At My Window Sad And Lonely"?


Tudo isso veio à tona em dois discos magníficos que são verdadeiras revelações musicais de Billy Bragg & Wilco (com participação especial da delicadíssima Natalie Merchant), chamados "Mermaid Avenue" (1997) e "Mermaid Avenue 2" (2000).

Mas o que ninguém sabia é que as sobras de estúdio dessas sessões de gravação ainda continham tantas preciosidades.


Pois bem, agora vem tudo à tona em "Mermaid Sessions - The Complete Sessions", com os dois cds originais, mais um terceiro repleto de faixas acabadas que ficaram de fora, e ainda alguns demos bem reveladoras de como foi árduo, mas divertido, o processo de composição de Bragg e Tweedy.

São mais de 3 horas de música popular americana de primera grandeza, produzida por compositores da gema do folk e do rock and roll.

É uma daquelas associações que, em princípio, tinha tudo para dar errado.

Mas acabou saindo melhor... muito melhor que a encomenda.



INFO:
 http://www.allmusic.com/artist/woody-guthrie-p1995/biography
http://www.allmusic.com/artist/billy-bragg-p3761/biography
 http://www.allmusic.com/artist/wilco-p142015/biography
 
DISCOGRAFIAS:
http://www.allmusic.com/artist/woody-guthrie-p1995/discography
http://www.allmusic.com/artist/billy-bragg-p3761/discography
http://www.allmusic.com/artist/wilco-p142015/discography

WEBSITES OFICIAIS:
 http://www.woodyguthrie.org/
http://billybragg.com/
 http://wilcoworld.net/

AMOSTRAS GRÁTIS: