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quinta-feira, outubro 04, 2012

A VOLTA DO MESTRE DO BLUES SUGAR BLUE NUM ÁLBUM AO VIVO DE TIRAR O FÔLEGO

Sugar Blue é o tipo de artista que nove em cada dez puristas do blues odeia de paixão.

Desde que surgiu na cena musical, no início dos anos 70, no Harlem, Nova York, bem distante do Mississipi, ele vem se revelando não só um gaitista extraordinariamente intenso e criativo, como também um intérprete poderoso, capaz de trafegar por todas as nuances musicais que compõem a música negra das ruas de Nova York.

Dono de um vozeirão e de um sopro implacáveis, Sugar Blue foi constantemente comparado a Junior Wells e James Cotton, por conseguir trafegar tranquilo e com muita desenvoltura entre o blues e a soul music.

Essa atitude eclética acabou dando o norte a sua carreira emergente. E com isso, ele logo passou a ser chamado com frequência para gravar tanto com artistas de rock e soul quanto com grandes mestres do blues de passagem pelos estúdios da cidade -- como os saudosos Johnny Shines, Brownie McGhee e Louisiana Red.

Essas gravações foram parar em discos excelentes desses veteranos do blues, mas infelizmente foram ouvidos por poucos.

Por sorte, entre esses poucos estavam Mick Jagger e Keith Richards, que já conheciam a reputação de Sugar Blue quando foram apresentados pessoalmente a ele num clube de blues em Paris, em 1977.

Desse dia em diante, começou uma longa associação entre ele e os Rolling Stones, que dura até os dias de hoje, em participações memoráveis em quase todos os discos da banda gravados desde então.



É engraçado como a carreira fonográfica solo de Sugar Blue segue num rumo inversamente proporcional ao impacto fulminante de seu jeito de cantar e tocar. Ele gravou apenas 6 discos solo de estúdio de 1980 para cá -- muito pouco para alguém que nunca esteve distante dos palcos.

São discos muito consistentes e de alto gabarito, baseados no blues e no rhythm and blues, com influoências musicais bem urbanas e bem diversas sempre pipocando entre um número e outro.

Seus dois trabalhos gravados para a Alligator nos anos 90 -- "Blue Blazes" e "In Your Eyes" -- são multifacetados e surpreendentes em termos artísticos.

"Code Blue", de 2007, gravado para o selo Beeble, chuta para todos os lados com grande maestria e é considerado uma pequena obra prima do blues moderno.

Já "Threshold", seu mais recente trabalho, também para a Beeble, lançado ano passado, é bem menos bluesy que o habitual, e mais roqueiro e funkeado. Mesmo assim, é praticamente tão intenso quanto seus trabalhos anteriores.

Curiosamente, em contraponto a esses poucos discos de estúdio, Sugar Blue tem pelo menos outros 6 discos ao vivo lançados por aí pelos mais diversos selos, atestando o quanto ele tem sido presente e constante nos palcos do mundo inteiro ao longo desses anos todos.



"Raw Sugar Blue Live!" é mais um desses registros ao vivo excepcionais.

Comandando uma banda que traz o grande guitarrista Rico McFarland, seu colaborador contumaz, e uma cozinha excepcional composta por músicos bem jovens, Sugar Blue mostra todo o seu poder de fogo num repertório bem variado nesse álbum duplo contagiante.

Impossível ficar indiferente a "Red Hot Mama", uma shuffle aceleradíssimo, que vem seguido de verdadeiras aulas de swing em números como "One More Mile" e a quase jazzística "Swing Chicken". E tem ainda clássicos como "Hoochie Cootchie Man", de Muddy Waters, e "Messin´ With The Kid", de seu mestre Junior Wells, revistos de forma pouco reverente e sempre muito vigorosa.

E, para completar, como não podia deixar de ser, "Raw Sugar Blue Live!" traz uma surpreendente releitura de "Miss You", clássico dos Stones, que tem Sugar Blue na gaita em sua versão original. Ele se apropriou devidamente da canção e fez dela o número mais aguardado em em seus shows, e também em seus discos ao vivo.



Conversando com Sugar Blue alguns anos atrás numa mesa de bar, depois de um show demolidor no SESC-Santos -- e assombrado com a quantidade impressionante de doses de Velho Barreiro que ele estava bebendo desde antes de começar o show --, perguntei a ele se tinha viajado muito pelas rotas do blues do sul dos Estados Unidos.

A resposta foi não. Sempre tocou blues em Nova York mesmo, onde vive praticamente desde sempre.

Não satisfeito, tentei puxar dele, completamente bêbado, como e onde ele teve seu primeiro contato com o blues.

Ele respondeu: "foi no Vietnam".

Não perguntei mais nada depois disso.

Toda a urgência e a truculência da música de Sugar Blue passaram a fazer todo o sentido do mundo para mim depois dessa declaração.


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quinta-feira, setembro 27, 2012

ROBERT CRAY VOLTA REPAGINADO, MAS COM O SWING DE SEMPRE EM "NOTHIN' BUT LOVE"

O cantor e guitarrista americano foi acusado diversas vezes nos anos 80 de ser um bluesman com atitude yuppie, por mesclar em seus discos rhythm and blues, soul music e rock-pop na medida certa para agradar aos programadores de rádio de diversos segmentos musicais e, com isso, favorecer rapidamente sua carreira musical.

Desnecessário dizer que, além de despeitada e desrespeitosa, essa afirmação é também injusta e imprecisa.

Desde que surgiu, em 1980, com "Who's Been Talkin'", Robert Cray vem apurando seu blend musical híbrido com muita sabedoria, aperfeiçoando-o disco após disco. Sua voz é suave e suingada, bem soul, enquanto seu toque na guitarra alterna influências que vão desde o rhythm and blues rasgado de Earl King e Lowell Fulsom, até o jazz elegante de heróis como Wes Montgomery e Kenny Burrell.

Depois que passou seu grande momento, proporcionado pelo sucesso internacional de seu quarto LP,  "Strong Persuader", de 1986, Cray vem experimentando pequenas alterações em sua receita musical. Alterações que até podem parecer irrisórias aos menos atentos. Mas que saltam aos ouvidos de todos os que acompanham sua carreira bem de perto.

Basta comparar seus discos gravados nos últimos 13 anos para vários selos independentes, para ver que Robert Cray jamais parou de crescer musicalmente, tanto como intérprete quanto como guitarrista e band leader.



"Nothin' But Love" é seu décimo-sexto disco de estúdio.

Depois de vários trabalhos ficados unicamente em seu quarteto, sem o suporte de uma sessão de metais, aqui ele resgata sua sonoridade mais soul, em meio a um repertório bastante apelativo e grudento (no bom sentido).

Essa orientação, certamente, é do produtor Kevin Shirley, um dos mais requisitados do momento, que tem por norma de trabalho evitar correr riscos desnecessários sempre que trabalha com artistas veteranos. Shirley é o anti-Rick Rubin. É incapaz de reduzir a sonoridade de seus artistas ao essencial. Faz um jogo mais óbvio: se esse é o som que favorece o reconhecimento imediato de Robert Cray por parte do seu público, então é por aí que seu trabalho de produção deve seguir. Ainda mais em tempos bicudos como esseso mais óbvio:  em que vive a indústria fonográfica.

Se por um lado isso rompe com as simpáticas experiências musicais de seus discos anteriores -- mais blueseiros e climáticos --, por outro lado expõe a um público bem mais amplo que Robert Cray está vivo e produtivo, e que seu trabalho permanece tão intenso, agradável e válido quanto era antes.



"Nothin'  But Love" é um trabalho de resultados, não tenha a menor dúvida quanto a isso.

Mas é também um trabalho honesto, como podem atestar baladas soul certeiras como "Fix This", "Sadder Days", "I'll Always Remember You" e "Won´t Be Coming Home", que, vez ou outra, suingam com uma precisão impressionante, lembrando a quem estava esquecido que este Robert Cray aqui é aquele mesmo de antes, só que 25 anos mais velho, mais experiente e -- porque não? -- mais experimentado.

Quem duvida disso, que escute "I´m Done Cryin'", talvez a única ousadia musical do disco -- um blues balada com quase 10 minutos de duração onde ele e sua banda mostram sua maestria musical em toda a plenitude, em improvisos espetaculares.

Robert Cray pode até parecer pacato e assentado depois de todos esses anos, em dorrência da maturidade musical -- afinal, ninguém chega aos 60 anos impunemente.

Mas não se engane: sua Fender Stratocaster continua sendo a mesma "smoking gun" de tempos atrás.

E isso nunca há de mudar.



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domingo, setembro 16, 2012

LOS LOBOS, A MAIS VIBRANTE BANDA LATINA DA AMÉRICA, SE REINVENTA EM "KIKO LIVE"


Assim como The Band foi a banda síntese da musicalidade da América nos anos 1960, e o Little Feat o equivalente nos anos 1970, é inegável que os los angelinos do Los Lobos sejam os legítimos representantes dessa gloriosa categoria de grandes bandas nos anos 1980.

Desde seus primeiros LPs "How Will The Wolf Survive" e "By The Light Of The Moon" -- bem menos descompromissados artisticamente do que aparentam à primeira vista --, até o conceitual e intenso "The Neighborhood", Los Lobos trilhou de forma brilhante as rotas musicais possíveis da América do Norte, mesclando todas as variantes musicais latinas que dão o tom no Lado Leste de Los Angeles com pop, rock, blues, soul, jazz, tex-mex, country e até cajun e folk.

Los Lobos já era consagradíssimo por crítica e público quando, em 1992, eles surpreenderam com um disco ambicioso e complexo chamado "Kiko", que leva toda essa mistureba musical às últimas consequências -- e que faz parte de muitas listas de melhores discos dos anos 1990.

De tão bom e tão multifacetado, "Kiko" quase virou um problema para Los Lobos.

Todos os discos seguintes da banda que não pretenderam ser tão superlativos quanto esse foram duramente criticados. Não por serem discos ruins. Pelo contrário, eram trabalhos mais focados em temas específicos, enquanto "Kiko" funcionava como um mosaico musical riquíssimo. Tanto que, nos anos seguintes, só "Good Morning Aztlán" (2002) e "The Town And The City" (2006) conseguiram chegar perto da grandeza de "Kiko".

Os líderes do Los Lobos, David Hidalgo e Cesar Pérez, no entanto, não se deixam abater com isso, e seguem sempre em frente com novos projetos.



Enquanto preparam o novo álbum de estúdio de Los Lobos, decidiram ganhar tempo lançando no mercado "Kiko Live", um concerto temático gravado em 2006 lançado em cd e dvd, em que a banda revisita o repertório de "Kiko" com abordagens um pouco diferentes das originais.

Aqui, Los Lobos vira quase uma jam band, esticando bastante a duração de alguns dos temas originais, e mostrando claramente que ser capaz de levar ao vivo toda a pluralidade musical de "Kiko".

É emocionante ver-ouvir esse grande disco novamente com uma nova roupagem, ao vivo e "passado a sujo" 15 anos depois das gravações originais, sem a produção intrincada que Mitchell Froom imprimiu no disco clássico.

Trata-se de uma verdadeira odisséia musical em 15 canções, que segue bravamente pelos mais diversos gêneros musicais, até desaguar na emocionante valsa-mariachi 'Rio de Tenampa", numa versão vibrante.

Sendo assim, quem quiser conhecer a alma latina da América, a entrada é por aqui mesmo.

Viva Los Lobos!



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quarta-feira, setembro 12, 2012

TAJ MAHAL ABRE AS ARCAS COM SEUS TESOUROS MUSICAIS PARA TODOS NÓS


Algum de vocês consegue imaginar um grande bluesman que tenha nascido no Harlem, Nova York -- bem longe do Mississipi, portanto --,  de uma família negra de classe média, com o nome Henry Saint Clair Fredericks?

Pois é: Taj Mahal, cantor, guitarrista e pesquisador musical de primeiríssima grandeza tem esse background no mínimo curioso. Desde pequeno, seus pais incutiram nele o sentimento de orgulho pela sua herança cultural afro-americana, e o incentivaram na música com aulas de piano clássico, clarinete, trombone e gaita.

Durante os últimos quarenta anos, ele vem explorando as raízes do blues, revitalizando a tradição e preparando o caminho para uma nova geração de bluseiros. Assimilou diferentes ritmos e criou um blues que vai muito além do tradicional. Enquanto muitos afro-americanos optaram por evitar velhos estilos musicais durante a década de 1960, Taj Mahal seguiu na contramão e mergulhou de cabeça nas raízes de seu passado. Não satisfeito com isso, fundiu o blues com ritmos do Caribe, África do Sul e do Pacífico, estabelecendo pontes musicais em discos que hoje são clássicos do final dos anos 1960 e início dos 1970.

Toda essa pluralidade musical tem sua razão de ser. Seu pai emigrou do Caribe para a América, viveu muitos anos como pianista e escreveu arranjos para Benny Goodman e sua orquestra. Sua mãe, Mildred Shields, foi professora na escola da Carolina do Sul. Foi através de seus pais que descobriu a alma negra da América nas vozes de Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan, Mahalia Jackson e Ray Charles, e também conheceu a música de todo o mundo no rádio de ondas curtas de seu pai. Teve certeza de que queria realmente ser músico profissional quando descobriu Leadbelly e Lightnin 'Hopkins, além do rock and roll de Chuck Berry e Bo Diddley, e do jazz suingado de Illinois Jacquet, Ben Webster, Charles Mingus, Thelonious Monk e Milt Jackson.



Sua carreira começou para valer em 1964, em Los Angeles, quando formou os Rising Sons ao lado dos amigos Ry Cooder, Jessie Lee Kincaid e Jesse Ed Davis. O grupo assinou com a Columbia Records, mas a gravadora não sabia extatamente como lançar um grupo tão eclético musicalmente naquele momento.

Na dúvida, não lançou. E o material que eles haviam gravado -- suficiente para dois LPs -- permaneceu inédito 25 anos nas geladeiras da gravadora. Isso, claro, tornou o futuro dos Rising Sons extremamente incerto, e a banda encerrou atividades antes mesmo de começar para valer -- o que foi uma pena.

A Columbia, no entanto, fez questão de manter Taj Mahal sob contrato. E em 1968, lançou seu primeiro LP, uma pequena obra prima entitulada simplesmente "Taj Mahal", que veio seguida em 1969 por três discos magníficos: "The Natch'l Blues", "Giant Step" e "De Ole Folks at Home", onde viabilizava sozinho boa parte da mistureba musical que os Native Sons haviam tentado fazer alguns anos antes.

Esses LPs estabeleceram sua reputação como um bluesman autêntico, único e moderno, aproximando sua música dos ritmos vindos do Caribe e da África Ocidental, além do reggae, do calypso, do jazz, do zydeco, do rhythm and blues e da música gospel.

De lá para cá, Taj Mahal nunca mais parou de mesclar música das mais diversas procedências ao blues, mas sem jamais perder de vista as verdadeiras raízes do gênero, e com isso construiu uma carreira gloriosa, vital para a música americana dos últimos 40 anos.



Agora, que Taj Mahal completa 70 anos de idade, resolveram dar uma fuçada nas geladeiras da Columbia Records para resgatar faixas perdidas desses grandes discos que ele gravou entre 1968 e 1973, e descobriram muito mais do que imaginavam em princípio.

Por conta disso, organizaram 3 álbuns duplos entitulados "The Hidden Treasures Of Taj Mahal" com todo esse material inédito, e o primeiro deles acaba de ser lançado.

Desnecessário dizer que é magnífico: um passeio glorioso por toda a musicalidade que ele desencadeou em seus trabalhos iniciais. Doze das canções que compõem o disco 1 deste pacote ou são versões preliminares de números que entraram em seus discos, ou são pérolas de estúdio que ficaram de fora por absoluta falta de espaço mesmo.

Já o disco 2 é um concerto completo gravado no Royal Albert Hall, em Londres, em 1970. que deveria ter sido lançado como um álbum duplo na época, e infelizmente não foi. Aqui, Taj Mahal mostra toda a sua maestria em diversos instrumentos, e divide a cena com seu amigo superguitarrista Jesse Ed Davis, numa das performances mais gloriosas das vidas desses dois grandes músicos.

Portanto, se você é admirador dos múltiplos talentos de Taj Mahal, esse primeiro volume de "The Hidden Treasures Of Taj Mahal" é para você.o este.

Vamos torcer para que os próximos dois volumes da série sejam tão eletrizantes quanto este.


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quarta-feira, agosto 29, 2012

O CASAL SUSAN TEDESCHI E DEREK TRUCKS MOSTRA MAIS UMA VEZ A QUE VEIO





Susan Tedeschi e Derek Trucks já estão no ramo musical há mais de 20 anos.

Susan, 42 anos de idade, segue uma carreira bem sucedida desde que montou sua primeira banda de blues em 1991 em Boston, onde nasceu. Seu timbre vocal levemente rouco e meloso cai como uma pluma tanto para as baladas quanto para os números de rhythm & blues de seu repertório. Seu toque na guitarra -- em particular, sua técnica no uso do bottleneck -- lembra um pouco Bonnie Raitt, sua mentora musical, e suas habilidades como compositora nao são nem um pouco desprezíveis, muito pelo contrário.

Já seu marido Derek, 33 anos de idade, criado na Florida, é um caso à parte, Prodígio da guitarra desde os 12 anos e sobrinho do baterista Butch Trucks da Allman Brothers Band, Derek sempre conviveu com a banda e com os músicos veteranos que se habilitavam a participar de jams ao lado deles. Com isso, atingiu a maturidade musical muito jovem, e aos 18 já mostrava claramente em seu disco de estréia estar pronto para o que desse e viesse. A partir de 2001, substituiu Richard Betts na Allman Brothers Band, ajudando a banda a deixar de lado seu lado country-rock para se assumir de uma vez por todas como a jam-band número 1 da America. Mesmo ocupadíssimo, prosseguiu com uma carreira solo vitoriosa nos intervalos das tournées dos Allmans.

Desde que Derek e Susan se casaram, eles vêm excursionando juntos sempre que possível. Em diversas ocasiões, a banda de Susan uniu forças com a banda de Derek, formando um ensemble com mais de 10 integrantes no palco, e o resultado sempre foi muito satisfatório para todos os envolvidos.

E então, um belo dia, Derek propôs a Susan fazer das duas bandas uma única unidade, e acrescentar uma sessão de metais bem poderosa, mais ou menos nos moldes da lendária banda de rhythm & blues do final dos anos 60 Delaney & Bonnie & Friends, do casal Delaney & Bonnie Bramlett.

Susan topou no ato, e então surgiu em 2010 a Tedeschi-Trucks Band, com nada menos que onze integrantes, que caiu imediatamente na estrada testando repertório e, assim que sentiu que estava com tudo no seu devido lugar, entrou em estúdio e gravou sem demoras o seu primeiro disco, "Revelator" -- que faturou um Grammy, depois de marcar presença na maioria das listas de melhores discos do ano passado.


Para seu segundo disco, a Tedeschi-Trucks Band achou melhor nem entrar em estúdio. Optou por capturar o som da banda ao vivo em sua segunda tournée. O resultado foi esse álbum duplo fenomenal, "Everybody's Talkin'",onde a banda mostra definivamente a que veio.

Se antes, à frente de seu quarteto, Susan podia trafegar pelos mais diversos gêneros, aqui a coisa fica mais restrita aos blues ritmados e às baladas.Só que, no entanto, a maneira como Susan se posiciona perante esse repertório, e também perante a massa sonora disparada pela banda, é muito mais intensa e incisiva. Quase heróica, eu diria.

O ouvinte já é fisgado logo de cara por uma versão bem à moda de Memphis da clássica "Everybody's Talkin'", de Fred Neil, gravada por Harry Nilsson para a trilha sonora do filme "Midnight Cowboy", em 1969.

O que vem daí pra frente é nada menos que uma explosão de suingue e tesão de palco, que aparece intensamente tanto em canções delicadas como "Darling Be Home Soon", de John Sebastian, quanto em bluesaços como "Rollin' and Tumblin'", de Muddy Waters. .

As guitarras de Derek e Susan, sempre tinindo, estão perfeitamente integradas com a banda. Quando os dois solam prolongadamente, levando alguns números musicais a 10 ou 12 minutos de duração, fazem isso sempre dentro de um contexto em que todos os integrantes da banda participam de alguma maneira.

Em outras palavras: você jamais irá ver um músico ocioso ou fora de contexto nos impprovisos da Tedeschi-Trucks Band.


Por quanto tempo essa brincadeira suingada de big-band de rhythm and blues da Tedeschi-Trucks Band vai durar, é um mistério.

Pode ser que Susan e Derek cansem disso depois de algumas tournées e decidam retomar suas carreiras solo para desenvolver projetos pessoais.

Aconteça o que acontecer, o momento atual dos dois é simplesmente magnífico, portanto não deixem de acompanhar os vôos musicais deliciosos dessa banda implacável.

Tanto "Revelator" quanto "Everybody's Talkin'" merecem um lugar de destaque na sua discoteca.




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sexta-feira, agosto 24, 2012

JOHN HIATT FAZ 60 ANOS E PRESENTEIA A TODOS NÓS COM UM DISCO MAGNÍFICO.


John Hiatt é um dos grandes compositores americanos vivos.

Bob Dylan, Neil Young, Paul Simon, Randy Newman e ele mereciam estar esculpidos em algum Monte Rushmore qualquer.

Hiatt é craque em criar personagens para incorporar canções que alternam um bom humor impecável com reflexões contundentes sobre meia idade, amor e vida na estrada.

Canções que, diga-se de passagem, são disputadas a tapa por artistas dos mais diversos gêneros.

Como artista solo, John Hiatt é dono de uma carreira riquíssima, que começou em meados dos anos 70 em discos não muito afirmativos gravados na Columbia e na MCA, para então estrear em grande estilo na A&M Records no hoje clássico LP “Bring The Family”, de 1987 -- onde dividiu a cena com seus comparsas Ry Cooder, Nick Lowe e Jim Keltner pela primeira vez, antes de formar o genial grupo Little Village. 

De lá para cá, Hiatt vem gravando discos excelentes. Alguns elétricos e truculentos como "Perfectly Good Guitar", "Beneath This Gruff Exterior" e "Master Of Disaster". Outros acústicos e climáticos como "Walk On" e "Crossing Muddy Waters".

Infelizmente, nenhum deles conseguiu ser um grande sucesso de vendas, o que dificultou bastante a permanência de Hiatt na cena mainstream.

Seu público não crescia e nem encolhia, daí o interesse das gravadoras grandes nele começou a oscilar.



Mas, curiosamente, Hiatt nunca se deixou abalar com isso.

Assim que seu contrato com a Capitol encerrou, logo depois do disco "Little Head", ele simplesmente assinou com o selo independente Vanguard, que o recebeu de braços abertos, e fez a transição de uma cena para outra sem nenhum trauma.

Dois discos mais tarde, assinou com a New West Records e foi fazer companhia para gente como Lucinda Williams, Delbert McClinton, Lyle Lovett, Kris Kristofferson, The Flatlanders e vários outros grandes artistas que também estavam cansados de ser esnobados pelo mercadão musical.

Hoje, aparentemente, Hiatt está feliz e satisfeito, e continua abastecendo artistas com canções magníficas.


Pois bem: "Mystic Pinball", seu vigésimo primeiro álbum em quase 40 anos como artista solo, acaba de sair do forno.

É mais uma bela coleção de canções, que alterna rocks fulminantes (“Bite Marks", "My Business", "You´re The Reason I Need"), números de rhythm and blues rasgados ("I Know How To Lose You", "One Of Them Damn Days", "Give It Up") e baladas contundentes ("No Wicked Grin", "I Just Don´t Know What To Say").   Chega a ser impressionante como Hiatt consegue produzir no espaço curto de um ano um repertório novo tão variado e tão gabaritado como esse.

Eu confesso que fiquei encantado tanto com a faixa de encerramento do disco, "The Blues Can´t Even Find Me" -- fortemente influenciada por Bob Dylan e simplesmente perfeita. Gostei muito também do punch roqueiro truculento de "We´re Alright Now", um número da mesma família de sua "Thing Called Love", que já nasce clássico.

Hiatt, sabiamente, chamou Kevin "Caveman" Shirley para assumir a produção do disco, pois gostou muito do que ele realizou em “Dirty Jeans and Mudslide Hymns”, seu trabalho anterior, lançado no ano passado. Shirley tornou os arranjos das canções mais teatrais e climáticos, pôs a banda para tocar de uma maneira bem aberta e ainda insistiu para que Hiatt escolhessee com um repertório bem eclético para tentar atingir diversas faixas de público. Deu tão certo que ele decidiu repetir a dose.

A banda que trabalha com ele aqui em "Mystic Pinball" é a sua banda de estrada: Doug Lancio (guitarras, mansolin, dobro), Kenneth Blevins (bateria) e Patrick O´Hearn (baixo). Uma opção segura para um repertório "road tested".



Para alguém que já cometeu muitas ousadias ao longo de sua carreira, John Hiatt tem todo o direito de apostar agora num público mais amplo para seu trabalho.

Seu conjunto de obra é vigoroso demais para ser privilégio de apenas alguns iniciados.

Além do mais, "Mystic Pinball" celebra o aniversário de sessenta anos de John Hiatt -- que está não só em excelente forma, como não quer mais saber de perder tempo com experimentos duvidosos daqui por diante.

Ou seja: preparem-se, pois Hiatt não deve dar sossego nos próximos anos com discos anuais, tournées  longas e canções novas na voz de meio mundo por aí.

Sejam bem vindos a essa nova fase na vida de John Hiatt.


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quarta-feira, agosto 15, 2012

BILLY BOY ARNOLD HOMENAGEIA BIG BILL BROONZY E RESGATA A ALMA DO BLUES


Se engana quem imagina o folk-blues apenas como aquela modalidade rústica de blues acústico tradicionalmente praticada pelo pessoal do Mississipi.

O folk-blues, para quem não sabe, possui uma vertente urbana muito forte, que ganhou a América no início dos anos 40, logo após o lendário espetáculo "From Spirituals To Swing", que John Hammond montou no Carnegie Hall, em Nova York, com a nata do blues e do jazz da época.

Um dos participantes principais do show seria o lendário guitarrista, cantor e compositor Robert Johnson, que morreu assassinado pouco tempo antes de sua realização, naquela história clássica de pacto com o demônio que todo mundo conhece.

Em seu lugar, Hammond escalou um cantor emergente de voz intensa, que sabia tanto cantar com a eloquência dos blues shouters quanto daquele jeitão mais intimista dos jovens cantores brancos, como Frank Sinatra, e que, ainda por cima, era um compositor espetacular, responsável por números que já nasceram clássicos como "Key To The Highway" e "See See Rider".

Seu nome verdadeiro: Lee Conley Bradley.

Nome artístico: Big Bill Broonzy


Nascido em Bolivar County, Mississipi, em 1903, Big Bill Broonzy circulou por todos os cantos dos Sul dos Estados Unidos até decidir virar cantor e assinar um contrato com a Paramount Records em 1924 em Chicago, onde chegou e logo se misturou com o pessoal de jazz da cidade.

Big Bill gravava de tudo na época. Desde blues, work songs e folk music tradicional até versões acústicas de canções do momento que tocavam no rádio. Fazia isso com tamanha personalidade e gabarito que muitas vezes as gravadoras procuravam esconder suas fotos nas capas dos discos, para evitar que sua pele negra atrapalhasse as vendas.

Nos anos 30, brilhou em gravações espetaculares para a Bluebird Records, e começou a ganhar reconhecimento nacional, fazendo longas temporadas em nightclubs de Nova York e Los Angeles com bandas com sonoridade bem mais encorpada, firmando-se como um dos pioneiros do rhythm & blues.
E então, nos anos 40 quando o blues explodiu em Chicago, Big Bill já era veterano na cena da cidade, e conseguiu se sair melhor que a maioria dos novatos promissores que chegavam à cena, ganhando um contrato de vulto com a Mercury, onde produziu mais uma sequência espetacular de canções de sucesso.

Só nos anos 50 é que Big Bill assumiu para valer sua persona musical mais conhecida: a de folk-singer. Ele foi a ponta de lança do revival glorioso do folk-blues na época, gravando LPs magníficos para a Folkways que fizeram dele um dos maiores e mais respeitados tesouros musicais americanos de todos os tempos.

Sua carreira foi interrompida no auge por um câncer na garganta que o tirou de cena em 1958, e seu legado musical influenciou diretamente diversas gerações de bluesmen e folk-singers nesses últimos 50 anos.



Eu confesso que fiquei surpreso quando ouvi dizer que o cantor, guitarrista e grande gaitista Billy Boy Arnold dedicar um disco inteiro ao repertório clássico de Big Bill Broonzy.

É que, francamente, eu nunca achei que houvesse maior afinidade entre a música praticada por eles dois.

Big Bill sempre foi um mestre da delicadeza, enquanto Billy Boy sempre privilegiou um estilo mais truculento e urgente -- característica que ele cultiva desde seus singles gravados nos anos 50, como "I Ain´t Got You" e "I Wish You Would", e seu clássico LP de estréia, o clássico "More Blues On The South Side".

Mas eu estava enganado.

Billy Boy sempre teve grande afinidade com Big Bill. Chegou a conhecê-lo pessoalmente. Trocaram figurinhas em diversas ocasiões diferentes. E, por pouco, Billy Boy não cedeu sua banda na época para acompanhar Big Bill numa tournée rápida, pouco antes de sua morte.

Bom... o caso é que o blues ardido de Billy Boy Arnold suavizou com o passar dos anos, e depois de viver longos períodos tocando na Europa e no Japão, ele finalmente conseguiu retomar sua carreira na América em 1993 com "Back Where I Belong", gravado para a Alligator Records, que o colocou novamente no Olimpo do Blues de Chicago depois de mais de 20 anos de semi-ostracismo.

De lá para cá, vem desenvolvendo discos brilhantes para a Eletro-Fi, e se reinventando artisticamente a cada trabalho.

Quando completou 70 anos de idade, gravou um belo tributo a seu mentor musical e vizinho Sonny Boy "John Lee' Williamson I, e foi alvo de mais elogios e premiações do que jamais antes.



E agora ele surge com esse "Billy Boy Arnold Sings Big Bill Broonzy", mais ou menos no mesmo padrão de excelência da homenagem que fez a Sonny Boy, promovendo um belo passeio pelo repertório de mais esse grande mestre do blues americano.

É um disco respeitoso, mas não necessariamente reverente a Big Bill Broonzy.

Billy Boy deixa claro o tempo todo que é, antes de tudo, um gaitista, e que, por mais forte que seja seu jeito de cantar, ele não tem e jamais terá o magnetismo de Big Bill Broonzy. Com isso estabelecido logo de cara, ele alcança resultados soberbos tanto em números mais manjados de seu repertório, quanto em escolhas incomuns como "San Antonio Blues", "Living On Easy Street" e a adorável "Just Got To Hold You Tight".

"Billy Boy Arnold Sings Big Bill Broonzy" é mais um songbook do que propriamente um disco tributo.

Segue mais ou menos na mesma levada descontraída do grande disco que Muddy Waters fez em 1960 também em homenagem a Big Bill, e que foi tão criticado na época por ser moderno demais.

Convenhamos, ver um artista setentão como Billy Boy Arnold se reinventando mais uma vez, e buscando em 15 números do repertório de Big Bill Broonzy que marcaram sua juventude uma ponte de volta a sua própria origem como bluesman, só pode ser um jornada gloriosa, tanto para os aficionados em blues em geral quanto para os fãs de folk music.

Um disco e tanto!



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domingo, julho 29, 2012

THE PHANTOM BLUES BAND REAFIRMA SUA ALMA AMERICANA EM "INSIDE OUT"


Quando Henry Saint Clair Fredericks Jr. -- ele mesmo, o fabuloso bluesman do Harlem, Nova York, conhecido por Taj Mahal -- montou uma banda só com craques para acompanhá-lo no disco e na tournée "Dancing The Blues" (1993), num momento particularmente incerto de sua longa carreira, mal ele sabia que estava apadrinhando o surgimento do melhor, mais criativo e mais eclético grupo de blues atualmente em atividade.

Desde então, a Phantom Blues Band tem sido uma combinação curiosa de talentos de vários músicos de estúdio muito tarimbados da região de Memphis, Tennessee, requisitadíssima por artistas como Bonnie Raitt, Joe Cocker e até B B King.

Comandada pelo organista Mike Finnigan -- que participou das bandas de Stephen Stills e Dave Mason nos anos 70 -- e pelo guitarrista Johnny Lee Schell -- colaborador de longa data de artistas como Bonnie Raitt e John Hiatt --, a Phantom Blues Band conta com uma cozinha impecável -- Larry Fulcher no contrabaixo e Tony Braunagel na bateria -- e ainda o sopro suingado do trumpetista Darrell Leonard e do saxofonista Joe Sublett, ambos texanos de Austin.

Juntos, eles trabalham um repertório que usa o blues e o rhythm & blues como ponto de partida para aventuras musicais as mais diversas pelo gospel, pelo jazz, por ritmos latinos, pela country music e, claro, também pelo rock and roll. Detalhe importante: sempre alternando 3 vozes diferentes na linha de frente do repertório  do grupo.

Se esse tipo de formação lembra um certo qunteto canadense que ficou famoso depois de ter sido banda de apoio de Bob Dylan no final dos anos 60, acredite: a semelhança com The Band não é mera coincidência.



Ninguém pode acusar o pessoal da Phantom Blues Band de imediatismo.

Seu primeiro disco, "Out In The Shadows" (2006), foi gravado quando a banda completou 13 anos de atividades, depois de participar de vários discos e tournées de Taj Mahal, e foi concebido com muita cautela, trazendo apenas duas composições dos integrantes e muitos covers de clássicos do rhythm & blues.

O segundo disco, "Footsteps", gravado no ano seguinte, já traz metade do repertório de autoria da banda, revelando o alto gabarito das composições de Finnigan e Schell e a pluralidade musical que torna o som da Phantom Blues band absolutamente inclassificável, mas completamente cativante.

Mas então, cinco anos se passaram sem nenhum disco novo da Phantom Blues Band, deixando no ar a pergunta: o que terá sido feito daquela banda espetacular, que estava indo tão bem?



Pois bem, a resposta a essa e outras perguntas está em "Inside Out", o muito aguardado terceiro disco ds Phantom Blues Band.

São 13 números -- metade de autoria deles próprios -- tão envolventes e tão agradáveis que fazem com que os 52 minutos de duração do disco passem voando.

Não é para menos: a combinação Hammond B3 mais uma guitarra limpa na linha de frente, com uma cozinha bem suingada e dois hornmen cuspindo fogo logo atrás, raras vezes funcionou tão bem quanto com esses experientes rapazes, e, particularmente, no contexto desse disco.

Entre as saídas musicais mais inusitadas estão alguns números soul rasgados como "So Far From Heaven", que conta com Joe Sample, dos Cruzaders, no piano, e "Change", um upbeat irresistível que lembra os áureos tempos da Muscle Shoals Rhythm Section.

Tem também uma releitura contagiante de "Shame, Shame", de Jimmy McCracklin, que resgata em grande estilo a essência do beat pedestre de Memphis, uma das instituições musicais americanas mais relevantes dos Século XX.

E, claro, não podemos esquecer da belíssima valsinha "It´s All Right", que lembra algumas das melhores contribuições de Robbie Robertson para o repertório de The Band.

Acreditem, não é pouca coisa o que temos aqui. É música de primeira grandeza.





A Phantom Blues Band pode não ser ainda uma grande instituição musical americana, mas caminha a passos largos para chegar lá em breve.

Basta mais um ou dois discos ousados e no mesmo padrão de excelência de "Inside Out", e pronto.

Quer um conselho? Não deixe para descobrir isso daqui a 4 ou 5 anos o que você pode descobrir hoje.

Siga a trilha gloriosa da Phantom Blues Band rumo à alma musical da América.



BIO-DISCOGRAFIA
http://www.allmusic.com/artist/phantom-blues-band-mn0000844831

WEBSITE OFICIAL 
http://www.phantombluesband.com/

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sexta-feira, julho 20, 2012

O MESTRE DA GUITARRA JUNIOR WATSON RETORNA COM SEU JUMP BLUES IMPLACÁVEL


Mike "Junior" Watson é uma das figuras mais conhecidas da cena blueseira de Los Angeles, e um dos guitarristas mais respeitados dentro do que se convencionou chamar "Wesr Coast Blues" -- um mix bem dosado do Swing do Texas com o Jump Blues de Kansas City e o Blues de Chicago.

Herdeiro musical de T-Bone Walker e Luther Tucker, Junior surgiu na cena impulsionado por seu amigo e professor Mike "Hollywood Fats" Mann, e logo se revelou um ás da guitarra capaz de passear por qualquer gênero musical, sempre com bom humor e uma levada implacável.

Foi parceiro do grande gaitista Rod Piazza durante dez anos, na primeira encarnação de sua banda, The Mighty Flyers.

Mais adiante, uniu forças ao baixista Larry Taylor e ao baterista Fito de la Parra, últimos remanescentes da formação original do Canned Heat, e juntos cunharam uma expressão sofisticada e pluralista para o tradicional boogie frenético da banda.

Atuou como sideman de bandas de amigos gaitistas como James Harman, William Clarke, Kim Wilson, Lynwood Slim, John Nemeth e Mitch Kashmar, e vem desenvolvendo um belo trabalho ao lado do excelente pianista Fred Kaplan, com quem divide a cena tanto em discos quanto gigs sempre muito elogiadas.


Como artista solo, no entanto, Junior Watson sempre deixou a desejar.

Por melhores que fossem seus discos solo, eles tinham um defeito grave: eram esporádicos demais.

Seu primeiro LP, "Long Overdue", foi gravado em 1987 para a  Black Top Records,  é predominantemente instrumental e funciona como um showcase impecável para o estilo de Watson, sempre econômico e espirituoso, privilegiando sua interação com seus companheiros de banda em detrimento de arrombos virtuosísticos inócuos e inoportunos.

Seu segundo disco solo só foi surgir quinze anos mais tarde, em 2002: "If I Had A Genie", gravado em parceria com o pianista Gene Taylor, tem uma levada bem diferente, é completamente descontraído, e foi gravado ao vivo no estúdio sem maiores requintes de produção.



Só agora, dez anos mais tarde, é que Junior Watson tomou coragem e achou uma brecha na sua agenda de sideman para arriscar uma terceira investida solo.

"Jumpin´ Wit Junior" reprisa, de certa forma, a parceria com seu velho parceiro Fred Kaplan, que vem desde o tempo em que tocavam nas bandas de Hollywood Fats.

Mas é um disco mais rude e mais ligeiro que "Long Overdue", gravado 25 anos atrás.

Primeiro porque os dois foram atrás daquela sonoridade clássica dos estúdios de Chicago dos anos 50 que Fred Kaplan já haviam expermentado em vários discos anteriormente -- seus e de amigos como Kim Wilson --, deixando inclusive o mix final em mono.

Segundo porque eles novamente gravaram tudo ao vivo no estúdio, sem overdubs e sem perder tempo, como se fazia antigamente, e o resultado final é deliciosamente expontâneo.

O repertório de "Jumpin´ Wit Junior" é bem suingado e segue em ritmo de festa, alternando clássicos do blues com números originais de Watson e Kaplan, e mais algumas pequenas excentricidades, como uma versão divertidíssima para o tema do seriado "Bonanza".



Enfim, que já viu Junior Watson num palco -- e ele já tocou duas vezes aqui no Brasil --, sabe perfeitamente bem do que ele é capaz.

Sabe também que ele é, ao lado de Little Charlie Baty, Jimmie Vaughan e Kid Ramos, um dos guitarristas mais safos e mais divertidos do Oeste Americano.

Sim, porque erra quem pensa que, no blues, rapidez é documento.

Não é mesmo.

Quem é rápido demais, normalmente não tem tempo de ser malicioso com seu instrumento, não consegue interagir com sua banda e passa ao largo do verdadeiro prazer de tocar esse tipo de música.

Ouçam "Jumpin´ Wit Junior" de Junior Watson e vocês vão entender o que estou falando.

Acreditem: um "twang" na sua Harmony Stratotone modelo 1963 vale mais que mil palavras.



BIO-DISCOGRAFIA
 http://www.allmusic.com/artist/junior-watson-mn0000304962

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http://juniorwatson.com

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quarta-feira, julho 11, 2012

O BLUESMAN SONNY LANDRETH RETORNA NUM ÁLBUM INTEIRAMENTE INSTRUMENTAL


A essa altura do campeonato, é pouco provável que algum aficcionado em blues ainda não conheça -- e não admire muito -- o trabalho do fabuloso guitarrista de Lafayette, Louisiana,

Landreth é uma unanimidade no meio musical.

Como sideman, é o guitarrista que sempre providencia o toque que faltava nos trabalhos de artistas de primeiro time -- como seus amigos John Hiatt, Mark Knopfler e Jimmy Buffett, além do pessoal do grupo Little Feat.

Como artista solo, é um guitarrista dono de um estilo absolutamente único, que mescla o fingerpickin´ do rockabilly com técnicas de slide guitar dos bluesman clássicos. Só que, assim como Knopfler, ele usa sempre todos os dedos de sua mão direita, o que dá um toque jazzístico a seu blend musical de blues, zydeco, cajun, e tudo mais que quiser mergulhar em seu cozido musical à moda da Lousiana.

Como compositor, Sonny é muito bom.

Como cantor, ele até que dá para o gasto.

Já como band-leader, Sonny Landreth é um craque absoluto.

Prova irrefutável disso é a consistência impressionante de seu trabalho solo, em 10 LPs prestigiados por crítica e público que vem gravando de 1973 para cá -- primeiro para selos obscuros da Louisiana e depois para selos independentes prestigiados como Zoo Records, Sugar Hill Records, e agora para a Land Fall Records.


"Elemental Journey" é seu décimo-primeiro LP, e o seu primeiro totalmente instrumental.

Não é um disco de blues.

É um daqueles trabalhos que desafiam classificações mercadológicas.

E é tão eloquente e elegante que deve deixar mesmo fãs de blues mais ortodoxos sem saber como fazer para torcer o nariz para uma aventura musical tão ensolarada e tão delicada.

Tem de tudo um pouco em "Elemental Journey". Desde guitarradas relativamente comedidas ao lado de amigos escandalosos, como Joe Satriani e Eric Johnson, até arranjos muito melódicos -- do trio Steve Cann (teclados), Brian Brignac (bateria) e David Ranson (baixo) -- que ganham texturas musicais densas com o apoio luxuoso da Acadian Symphony Orchestra, prata da casa lá de Lafayette, Louisiana.

E funciona.

Ao longo de seus quarenta e cinco minutos de duração, em momento algum "Elemental Journey" soa arrastado ou tedioso.

É um disco de banda. Conciso. Bem focado musicalmente. Nem parece trabalho solo de guitarrista. Às vezes lembra um pouco certos temas instrumentais de Joe Walsh em seus discos solo nos anos 70 e 80, o que não deixa de ser uma referência um tanto quanto curiosa..


Quem gosta de exageros na guitarra, talvez não se sinta muito à vontade com "Elemental Journey".

É um trabalho muito diferente do habitual de Sonny Landreth.

Mas um trabalho que só o engrandesce em termos musicais.

Eu, pessoalmente, sempre vou preferir Sonny mergulhando de cabeça no blues centenário de seus mestres com sua abordagem musical única e seu tempero bem apimentado -- até porque não existe hoje guitarrista branco de blues mais gabaritado do que ele nos Estados Unidos.

Mas imagino que para Sonny Landreth seja interessante manter portas abertas para os mais diversos segmentos de público, e abraçar desde os aficcionados em Robert Johnson e Skip James, passando por Chet Atkins e Scotty Moore, até chegar nos devotos de Joe Satriani e Eric Johnson.

Está no ramo há 40 anos, deve saber bem onde está pisando.


BIO-DISCOGRAFIA
http://www.allmusic.com/artist/sonny-landreth-mn0000044994

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segunda-feira, maio 14, 2012

O RETORNO DO RHYTHM AND BLUES CONJUGAL DE SUE FOLEY E PETER KARP


Cupido anda à solta na cena do blues americano.

Depois que o casal de guitarristas Derek Trucks e Susan Tedeschi decidiram unificar suas bandas para cair na estrada juntos como Tedeschi-Trucks Band, eis que mais dois ícones do blues moderno decidem embarcar numa empreitada semelhante.

Tudo começou quando Sue Foley – 45 anos, canadense de Ottawa, veterana da cena de Austin, Texas, com mais de 10 discos gravados – foi convidada para participar do festejado álbum “Shadows And Cracks” do gênio incompreendido Peter Karp, que havia sido líder da Roadhouse Band nos anos 90 -- um artista errante de New Jersey radicado em Nashville, misto de cineasta, artista plástico e cantor e compositor.

O tal dueto entre os dois foi gravado, mas acabou não sendo incluído no disco.

Nesse meio tempo, tiveram um romance rápido, mas muito intenso. Se separaram e caíram na estrada, cada um promovendo seu próprio disco, mas, como estavam apaixonados, se correspondiam quase diariamente por emails. ,

Assim que as duas tournées acabaram, os dois decidiram se casar, mudar para Austin e dar uma geral em tudo o que escreveram um para o outro em seus laptops.

Resultado: a correspondência deles se transformou numa série de canções que deram origem a um disco que é a crônica do romance entre os dois.


“He Said She Said” é um álbum conceitual muito bonito e totalmente confessional assinado por Sue Foley e Peter Karp, e que veio seguido de uma tournée conjunta, com o agora casal dividindo a mesma banda e correndo juntos pelos quatro cantos da América.

Foi extremamente bem recebido, tanto pela crítica quanto pelos públicos de Sue Foley e de Peter Kamp, que o colocaram em todas as listas de Melhores do Ano de 2010.

E quem apostou que, depois dessa experiência musical e conjugal, Foley & Karp iriam dar um tempo e retomar suas carreiras solo, se enganou redondamente.


E agora, olha eles aí de volta com “Beyond The Crossroads”, um LP diametralmente oposto a tudo o que haviam realizado dois anos atrás em “He Said She Said”.

Dessa vez, os dois fugiram dos conceitos.

Toda a corte que um fez para o outro e toda aquela conversa confessional no disco anterior já é passado, e isso se reflete no novo repertório do casal, bem leve e totalmente desencanado.

A faixa de abertura já dá o tom do que vem pela frente: nada menos que uma releitura bem suingada de “We´re Gonna Make It”, do saudoso Little Milton Campbell, que tanto Karp quanto Foley cantam com uma convicção impressionante.

E o que vem a seguir é o blend de blues, rhythm & blues, country music e folk que permeia há muitos anos os trabalhos solo tanto de um quanto do outro, em canções compostas pelos dois durante a tournée anterior e testadas na estrada antes de ganhar gravações definitivas em estúdio.

Antes que algum blueseiro mais ranheta reclame, é bom deixar claro que trata-se mais de um álbum de “americana” do que propriamente de blues, onde números mais roqueiros como “You´ve Got A Problem” e a faixa título se alternam com doses cavalares de rhythm & blues em “More Than I Bargained For” e “Analyse´n Blues”.


O resultado prático disso são 12 números extremamente agradáveis, que falam de momentos alegres e triviais, ao longo de quase 40 minutos de música de altíssimo gabarito, por dois cantores e compositores que acharam um jeito de conjugar seus talentos de forma intensa e surpreendente.

Daí, só nos resta dizer: Parabéns Sue Foley e Peter Kamp.

Pela ousadia em arriscar duas carreiras bem sucedidas num projeto em princípio incerto.

Pela delicadeza com que trazem a público flashes reveladores de sua vida cotidiana.

E pela nonchalance das performances registradas nesses dois discos, prova incontestável do gabarit
o musical desses dois grandes músicos.

Quanto a você, ouvinte, prepare-se para embarcar nessa aventura musical muito envolvente deste casal nada improvável.

Acredite: Cupido sabe o que faz.


INFO:
http://www.allmusic.com/artist/sue-foley-p38838/biography

DISCOGRAFIA:
http://www.allmusic.com/artist/sue-foley-p38838/discography

WEBSITE OFICIAL:
http://www.suefoley.com/

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