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segunda-feira, maio 01, 2017

ENCAIXOTANDO EM 5 CDS 50 ANOS DE CARREIRA DO NRBQ, A MAIOR BANDA DE BEIRA DE ESTRADA DO PLANETA TERRA

por Chico Marques


Em 1967, enquanto quase toda a comunidade roqueira do Planeta Terra celebrava o Verão do Amor embalada por Paz, Amor Livre e muito LSD, dois jovens músicos de Louisville, Kentucky uniam forças num projeto musical completamente desalinhado e inusitado.

Combinavam rock, pop, country, folk, blues, jazz, valsinhas e polkas num conceito musical aventuresco e extremamente agradável aos ouvidos, mas enganosamente despretensioso.

Os dois jovens de Kentucky eram eles o pianista Terry Adams e o guitarrista Steve Ferguson, criaturas extremamente criativas e absolutamente ecléticas, que decidiram montar uma banda em homenagem ao grupo Modern Jazz Quartet -- que assinava MJQ.

Foi assim que nasceu o NRBQ, sigla que designa New Rhythm & Blues Quartet.



Logo no primeiro disco para a Epic, o NRBQ já deixava claro no repertório de covers escolhidos -- com números de artistas tão díspares quanto Eddie Cochran, Carla Bley, Sony Terry & Brownie McGhee e Sun Ra -- que não só faziam questão de levar seu ecletismo musical às últimas inconsequências, como também estariam sempre abertos a qualquer brincadeira musical que surgisse pelo caminho da banda.

Esse espírito criativo e brincalhão, somado às performances fulminantes que promoviam em pequenas casas noturnas por todos os cantos dos EUA e do Canadá, acabaram  rendendo ao NRBQ um "cult status" invejável e um público cativo fidelíssimo.

Isso apesar de seus discos jamais terem tido vendagens expressivas.


Segundo Terry Adams, o motivo pelo qual o NRBQ nunca emplacou com o grande público é que eles sempre estiveram no momento certo, mas no lugar errado.

Cita o fato deles terem tocado num clube de cadetes na cidade de Woodstock no mesmo final de semana de 1969 em que, alguns quilômetros adiante, rolava o emblemático Festival.

E assim, sempre zombando das regras do mercado e sempre abusando do diletantismo, o NRBQ passou toda a década de 70 pulando de galho em galho -- da Columbia Records para a Mercury, e depois para a Bearsville --, até que, já nos Anos 1980, mudaram de mala e cuia para a cena independente, onde ficaram muito à vontade, e de onde nunca mais saíram.

(na verdade, saíram sim, uma única vez, em 1989, e gravaram um belo disco para a Virgin Records, 'Wild Weekend", que vendeu muito pouco e deve ter gerado a demissão de todos os executivos da gravadora responsáveis pela contratação deles -- mas o importante é que o NRBQ sobreviveu bem a tudo isso, danem-se os executivos...)


Depois do décimo aniversário da NRBQ, vários dos integrantes da banda cansaram de tanto diletantismo e caíram fora para experimentar outras saídas musicais.

O primeiro foi o guitarrista Steve Ferguson, que deixou a banda em meados dos 70.

E o segundo foi seu substituto, Big Al Anderson, que alegou estar bebendo sem controle e daí pulou fora em meados dos 90 para seguir carreira como produtor e compositor em Nashville.

Um pouco adiante, foi a vez do baixista Joey Spampinato pedir para sair depois de uma temporada emprestado para os X-Pensive Winos de Keith Richards, quando tomou coragem e montou os Spampinato Brothers com seu irmão Johnny.

Mesmo com essas mudanças no line-up, o NRBQ seguiu em frente com o mesmo espírito eclético do início, gravando discos e expandindo seu público em shows ao vivo pela America, Europa e Japão.


Mas então, depois de uma série de shows comemorativos de 35 anos de carreira, a brincadeira cansou, e Terry Adams anunciou que o NRBQ estava encerrando atividades.

Só que isso não durou muito tempo.

O caso é que a banda que Terry Adams montou para dar suporte a sua carreira solo tinha uma sonoridade tão parecida com a do NRBQ que não fazia o menor sentido deixar de usar um nome tão consagrado.

E então, depois de um hiato de 7 anos, o NRBQ voltou, com o suporte de músicos jovens e muito espirituosos como o guitarrista Scott Ligon, o baixista Casey McDonough e o baterista Conrad Chouchon.




O NRBQ é hoje, assumidamente, a banda de apoio de Terry Adams.

Ele incorpora o espírito original da banda com suas composições divertidas, muitas vezes surreais, sempre pontuadas por sua voz amalucada e seu piano elétrico estridente, que simula a sonoridade daquelas pianolas de crianças.

Terry não cansa de seguir atrás daquelas mesmas combinações sonoras inusitadas que a banda persegue desde o início, e que estranhamente nunca se repetem.

Sua missão de vida parece ser desdenhar o mainstream, que nunca soube acolhê-los devidamente, debochando abertamente de tudo e de todos da maneira mais positiva e dançante possível.

Nada mais saudável e divertido do que isso.


Para celebrar seus 50 anos de carreira, o NRBQ decidiu comemorar em grande estilo: com uma caixa de 5 cds que promove uma panorâmica generosíssima em cinco décadas de extravagâncias musicais.

"High Noon -- Highlights & Rarities From 50 Years" inclui praticamente tudo o que já havia sido coletado na antologia dupla da Rhino "Peek-a-Boo", de 1989, somado a um monte de faixas adicionais produzidas nesses últimos 28 anos, além de números ao vivo inéditos e raridades sempre preciosas.

Foi lançado oficialmente no Record Store Day deste ano, e as peças (todas numeradas) que não foram vendidas naquele dia estarão à venda pelo website da Rough Trade a partir de 29 de Abril de 2017.

Quando acabar, acabou: não haverá uma segunda edição.


Desnecessário dizer que o disco é uma festa, e é recomendado até mesmo para quem possui tudo o que o NRBQ gravou ao longo desses anos todos.

Ao contrário da imensa maioria das caixas retrospectivas, "High Noon -- Highlights & Rarities From 50 Years" começa pelos últimos 12 anos, quando o NRBQ voltou à ativa, e só depois desse panorama recente dá início ao mergulho no passado da banda.

Todas as fases da banda estão bem representadas em "High Noon", exceto os álbuns "Wild Weekend" (Virgin, 1989) e "Message From the Mess Age" (Rhino, 1994) -- que, apesar de excelentes, estranhamente contribuem para esta caixa com apenas uma canção cada um.

Não espere de "High Noon" a concisão retrospectiva de "Peek-a-Boo", que se dispunha a apresentar o NRBQ a um público que desconhecia a banda.

"High Noon" é, isso sim, uma colcha de retalhos emocional, que revela através da atitude exagerada de seus compiladores a grandeza indiscutível dessa banda originalíssima, que escreveu sozinha um capítulo brilhante da história do rock independente anglo americano.

 Resumindo: "High Noon -- Highlights & Rarities From 50 Years" é o sonho dourado de qualquer fã de carteirinha do NRBQ.

Recomendamos a todos ouví-la comendo pipoca, bebendo cuba libre e dançando até cair.


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AMOSTRAS GRÁTIS
    





CHICO MARQUES
é comentarista,
produtor musical
e radialista
há mais de 30 anos,
e edita a revista cultural
LEVA UM CASAQUINHO
e o blog musical
ALTO & CLARO 



segunda-feira, abril 02, 2012

NRBQ FLERTA ABERTAMENTE COM O PASSADO, MAS SEM SAUDOSISMOS, EM SEU NOVO LP

O quarteto novaiorquino NRBQ (New Rhythm & Blues Quartet) está perto de comemorar 45 anos de vida. É uma das bandas mais estranhas e peculiares que a América já produziu. Sempre seguiu orgulhosamente na contramão de todas as tendências musicais surgidas de 1970 para cá. Diz a lenda que em 1969, enquanto rolava o Festival de Woodstock, o NRBQ apresentava seu blend cativante de rock and roll, power pop e jazz no Clube de Cadetes da cidade de Woodstock.

Verdade ou não, essa é a metáfora perfeita para definir a carreira errante e diletante da banda nos anos que se seguiram. Hoje, mesmo depois de tanto tempo em cena, o NRBQ continua desconhecido da maioria do público do rock mainstream, apesar de quase ter “chegado lá” diversas vezes.

Composto originalmente pelo cantor e tecladista Terry Adams, pelo guitarrista Al Anderson, mais o baixista Joey Spampinato e o baterista Tom Ardolino, o NRBQ deu sinais claros de desgaste 8 anos atrás, logo após o album “Dummy”. Na ocasião, todos os integrantes acharam por bem deixar a banda descansando por uns tempos enquanto se dedicavam a projetos pessoais.

Ano passado, no entanto, Terry Adams tomou a iniciativa de convocar seus velhos parceiros para ressucitar o NRBQ, mas só Tom Ardolino atendeu ao chamado de prontidão. Daí, Adams decidiu que não havia o que esperar, chamou um novo baixista e um novo guitarrista, entrou com a nova encarnação da banda no estúdio e assim nasceu esse “Keep This Love Goin´”.

O disco é uma delícia.

Todas as faixas lembram o passado artisticamente glorioso da banda -- sem a intenção de resgatar coisa alguma, apenas manter viva a sonoridade única do NRBQ. Se por um lado os novos músicos não conseguem reproduzir o mesmo molho musical da banda original, por outro a essência do som do NRBQ está totalmente preservada, em números deliciosos e extremamente criativos que raramente excedem os 3 minutos de duração.

“In Every Dream”, por exemplo, é um tema de Tchaikowsky que se transformou numa adorável balada country -- o tipo de coisa que só Terry Adamss é capaz de fazer. A releitura beatle do clássico do jazz "Gone With The Wind” é outro número irresistível, tão delicado que nenhum jazzista diehard vai se aborrecer com tamanha leviandade. E os temas originais de Terry Adams -- o disco está repleto deles -- continuam sendo exemplos perfeitos de que é possível explorar o pop muito além de seus limites sem cair nas progressivices de praxe.

Em suma, “Keep This Love Goin´” parece um disco clássico do NRBQ, só que em tom menor. Seu único pecado talvez seja a falta de suor -- se é que isso é pecado.

Detalhe: pouco depois do fim das gravações do disco, o baterista Tom Ardolino morreu de um aneurisma cerebral. Mas a banda continua. Agora em homenagem a ele.

INFO:
http://www.allmusic.com/artist/nrbq-p5044/biography

DISCOGRAFIA:
http://www.allmusic.com/artist/nrbq-p5044/discography

WEBSITE OFICIAL:
http://www.nrbq.com/

AMOSTRAS GRÁTIS: