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sábado, junho 02, 2012

RELANÇADO O MELHOR LP AO VIVO DA HISTÓRIA DO ROCK & ROLL: 'BO DIDDLEY´S BEACH PARTY"



Nos primeiros anos da década de 1960, era relativamente comum entre artistas de grande apelo popular gravar discos ao vivo com microfones abertos para a platéia, para assim captar de forma plena tanto a energia de quem está tocando no palco quanto a vibração de quem está assistindo o show.

Deixar a euforia e a eventual gritaria da platéia tomar conta do mix final desses discos era uma maneira de driblar as deficiências técnicas e a falta de recursos disponíveis para as gravações ao vivo na época.

Quem se der ao trabalho de ouvir LPs ao vivo desse período -- como “Got Live If You Want It” dos Rolling Stones, ou “Live At The Regal” de B B King – vai sentir como esse conceito de mixagem funcionava extremamente bem, isso quando feito da maneira certa.

É dessa época também o conceito do “disco de festa” gravado ao vivo em estúdio com uma quantidade infinitamente superior de recursos de gravação, com gente falando alto enquanto os artistas tocam de forma descontraída seus sucessos ou versões cover de canções de outros artistas.

Uma peculiaridade desses “discos de festa” é que não costumavam ter separação de faixas -- neles, todas as canções sempre começam e terminam envoltas em muito falatório e muitas gargalhadas.

O LP “The Beach Boys Party” é um exemplo clássico disso.

Aqui no Brasil, a série de LPs “Alegria, Alegria”, de Wilson Simonal, gravados entre 1966 e 1969, segue esse mesmo padrão.


“Bo Diddley´s Beach Party” é uma combinação curiosa desses dois formatos de disco ao vivo.

Considerado por vários críticos o melhor LP de rock and roll de todos os tempos, ele estava fora de circulação há muito tempo, e nunca havia sido relançado em CD pela Chess nos Estados Unidos em sua versão mono original -- existia apenas numa "versão frankestein" com stereo fajutado eletronicamente, que circulou pela Europa numa edição da Charly Records.

Totalmente gravado ao vivo numa praia na Carolina do Sul diante de uma platéia bem festiva -- com recursos técnicos limitados e uma banda de apoio sob medida para seus devaneios selvagens naquela charmosíssima guitarra quadradinha e em suas vocalizações divertidas e inusitadas.--, “Bo Diddley´s Beach Party” traz nosso herói Elias McDaniel, vulgo Bo Diddley, desfilando um número explosivo atrás do outro, numa seqüência de altíssima voltagem que tem um único defeito: dura apenas 33 minutos.

Esse disco, para quem não sabe, era um dos favoritos de Mick Jagger & Keith Richards, e serviu de modelo por uns bons anos para as peripécias no palco dos jovens Rolling Stones. Basta ouvir as gravações dos Stones ao vivo em 1964 para sentir como eles tocam parecido com a banda de Bo Diddley nesse “Beach Party”. A semelhança é tamanha que tem gente maldosa por aí que diz que esse LP merece ser guardado na estante junto com a discografia dos Stones...

O que mais impressiona ao ouvir “Beach Party” após todos esses anos é constatar que Bo Diddley conseguiu manter, a um custo altíssimo, a essência do seu blend de rock and roll e rhythm & blues viva e selvagem num momento, 1963, em que todos os artistas seminais do gênero tentavam amenizar e diluir seus trabalhos para não sofrer represálias dos setores conservadores da sociedade americana.

Afinal, esses mesmos setores já haviam crucificado artistas negros como Chuck Berry e Little Richard pelo pecado portal de terem virado ídolos da juventude branca.


É questão de ouvir, vibrar e depois tirar o chapéu para "Bo Diddley´s Beach Party". Um disco espetacular, que permanece impávido em seu mix original em mono mesmo quase 50 anos depois de ter sido gravado.

Infelizmente, foi o último grande sopro de popularidade de Bo Diddley.

Ele foi sumindo das paradas paulatinamente, enquanto a Invasão Britânica (dos Beatles, Animals, Kinks e Rolling Stones) tomava conta da cena musical americana, isso de 1964 em diante.Bo Diddley só iria conseguir ressurgir com material novo a partir do início dos anos 70, em gravações geniais feitas em Londres com aquela rapaziada de lá.

Eu assumo: faço parte dos fãs incondicionais de "Bo Diddley´s Beach Party".Nenhum outro herói da primeira geração do roll conseguiu produzir um disco ao vivo tão bom quanto esse. Nem Jerry Lee Lewis em seu espetacular "Live At The Star Club" consegue brilhar e ferver tanto quando o velho Bo.

Fico feliz de ter tido a chance de ver Bo Diddley ao vivo num Festival de Blues no Ginásio do Ibirapuera em 1990, onde desfilou todos os seus grandes sucessos de forma vigorosa para uma platéia lamentavelmente desinteressada, que estava lá apenas para ver e ouvir ícones do blues de Chicago como Koko Taylor e Magic Slim & The Teardrops.

Bem... o azar é todo deles.

Para mim, naquela noite de 1990, era 1963 novamente numa praia na Carolina do Sul, em plena Era de Ouro do Rock & Roll.


BIO-DISCOGRAFIA:
http://www.allmusic.com/artist/bo-diddley-mn0000055128

WEBSITE OFICIAL:
http://www.bodiddley.com/

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quinta-feira, abril 26, 2012

O INCANSÁVEL JOSEPH ARTHUR SE REINVENTA DE NOVO NESTE AMBICIOSO "REDEMPTION CITY"



Quando vejo artistas como Joseph Arthur, lembro na hora de meu amigo de infância Zéllus Machado, falecido recentemente.

Assim, como Zéllus, Joseph Arthur só não emplacou no mainstream porque seus múltiplos talentos de alguma forma conspiraram contra isso.

Seus shows sempre misturam recitais de canções com oficinas de pintura -- e muitas vezes, enquanto os músicos de sua banda tocam, Joseph pinta uma tela em algum canto do palco.

Seu público – bem dirigido, e bem reduzido - delira sempre que faz isso.

Artistas como eles dois passam a vida brigando por um lugar ao sol, e jamais abrem mão de seus ideais artísticos para se adequarem ao mercado fonográfico.

E não fazem isso intencionalmente.

Fazem porque não conseguem conceber o trabalho que desenvolvem finalizado de outra maneira que não seja “a maneira deles”.

É quase uma sina.
 
Joseph Arthur nasceu em Akron, Ohio, 40 anos atrás, mas caiu fora de lá assim que pôde.

Foi tentar a sorte no circuito folk da Califórnia, e em 1997 deu a sorte -- e também o azar -- de ser descoberto por Peter Gabriel, que o contratou para seu selo New World, voltado prioritariamente para artistas de world music.

Seu primeiro disco para o selo, “Big City Secrets”, serviu para tirá-lo do ghetto folk e projetá-lo para o público de Peter Gabriel. No entanto, as dificuldades financeiras da New World impediram que ele recebesse a promoção que merecia, ficando perdido num limbo artístico por quase três anos.

Só no seu terceiro trabalho, “Come To Where I'm From” (2000), com produção de T-Bone Burnett e uma levada mais country rock, Joseph Arthur conseguiu atingir um público mais amplo.

Devidamente amparado pela Virgin Records, ele começou a desenvolver projetos mais ambiciosos, sempre influenciado por Gabriel e seguindo conselhos de amigos como Joe Henry e T-Bone Burnett.

Levou alguns anos até a Virgin finalmente se desinteressar dele. Mas quando isso aconteceu, Joseph Arthur já era uma força emergente na cena independente.

De lá para cá, gravou uma série de Lps e EPs impeacáveis com sua banda The Lonely Astronauts para seu selo próprio, mesclando folk com pop em contextos sonoros no mínimo inusitados e firmando-se como um dos compositores mais solicitados da cena atual.

Diz, orgulhoso, que sua obra com músico e como pintor são uma coisa só -- que ele chama, gargalhando, de “Museum Of Modern Arthur”.
Pois bem, no início de Janeiro, sete meses depois de lançar seu último disco, Joseph Arthur decidiu não fazer uma versão industrial de seu trabalho seguinte, e o lançou direto em seu website, para download gratuito.

Até aí, nada demais. Muitos artistas tem feito isso de uns tempos para cá, liberando demos, tapes variados e gravações que ficaram fora de discos anteriores.

Só que “Redemption City” não é uma coleção de sobras.

Muito pelo contrário: é um disco coeso, com 24 canções novas, performances muito bem acabadas e produção impacável.

Segundo Arthur, tanto esse esse “Redemption City” quanto “Boogie Christ”, que deve ser lançado em breve, já estavam prontos antes de “The Graduation Ceremony”, seu disco do ano passado, e ele já está terminando mais um – daí, não pareceu fazer sentido segurar todo esse material até surgir uma oportunidade comercial para lançá-los.


E ele tem razão: “Redemption City” vem na mesma trilha de excelência de seus trabalhos anteriores.

É uma viagem urbana extremamente climática – semelhante em parte às promovidas por Lou Reed em “New York” e David Bowie em “Station To Station” -- onde a delicadeza musical de Joseph Arthur se expressa em diversos formatos.

Tem desde números de rock and roll acelerados como “Travel As Equals” e “No Surrender Comes For Free”, até baladas em tom de sonho como “You´re Not The Only One”, com climas que remetem a Leonard Cohen, Peter Wolf , John Cale e – porque não? – Peter Gabriel, seu primeiro mentor musical.

Para um disco conceitual, até que “Redemption City” é bem contagiante -- não permite em momento algum que o peso do conceito prejudique a valor individual das canções que compõem o conjunto.

Enfim, é mais um álbum ousado na carreira de Joseph Arthur. Que ele, pelo visto, queria que todos ouvissem -- mesmo sem ver um tostão de royalties.

Sendo assim, faça a sua parte: baixe “Redemption City” direto do website de Joseph Arthur, sem sentimentos de culpa, e tire suas próprias conclusões.

Só não deixe esse belo disco desse artista multitalentoso passar batido.

O Museum of Modern Arthur agradece sua visita.


INFO:
http://www.allmusic.com/artist/joseph-arthur-p202311/biography

DISCOGRAFIA:
http://www.allmusic.com/artist/joseph-arthur-p202311/discography

WEBSITE OFICIAL:
http://www.josepharthur.com/

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terça-feira, abril 24, 2012

LYLE LOVETT SE DESPEDE DE SUA VELHA GRAVADORA COM UM LP NADA CASUAL


 
Os anos 80 foram uma espécie de Nova Idade Média para a cena do rock and roll.

Foi quando surgiu o conceito de LP blockbuster -- difundido por Michael Jackson, Prince e Madonna –, que expulsou do mercado todo e qualquer artista que pretendesse seguir trabalhando com públicos segmentados.

Foi muito cruel. De uma hora para outra, grandes nomes que haviam brilhado intensamente nos anos 70 foram escanteados e impiedosamente trocados por figuras duvidosas inventadas nos escritórios dos executivos das gravadoras.

Essa Nova Idade Média durou até o início dos 90, quando as gravadoras finalmente se deram conta de que estavam jogando fora o que tinham de melhor: seus compositores e seus artistas mais tarimbados.


O engraçado é que, nos anos 80, a cena da country music vivia uma situação diametralmente oposta a essa.

Os produtores de Nashville haviam aceitado uma série de mudanças de comportamento dos artistas da cidade por conta da postura anti-conservadora dos novos astros do gênero que vinham da cena liberal de Austin nos anos 70 – gente como Willie Nelson, Waylon  Jennings e Billy Joe Shaver , e que chegavam abençoados por ninguém menos que Johnny Cash.


E o diabo é que, ao longo dos anos 80, não parava de aparecer em Nashville gente estranha, desalinhada e muito talentosa vinda de Austin. E Nashville deixava entrar. Fazer o que? Era a renovação do gênero que estava em jogo. Os barões de Nashville podiam ser conservadores, mas definitivamente não rasgam dinheiro.

Steve Earle, por exemplo, apareceu tocando um rockabilly bem desaforado quando explodiu com “Guitar Town”.

Dwight Yoakam reinventou o honky-tonk dos tempos de Hank Williams, só que com uma guitarra elétrica nas mãos, na  “Guitars, Cadillacs, etc”.

E K D Lang era estranhíssima: uma homossexual esquimó vinda do Canadá com atitude de Patsy Cline e voz de crooner de orquestras de jazz.


Mas, de todos eles, o mais estranho e inclassificável – e também o mais ambicioso e agradável deles todos – era sem dúvida Lyle Lovett.

Lyle Lovett era um artista múltiplo, capaz de encarar qualquer estilo musical, na mesma tradição texana heróica de seus heróis Bob Willis e Doug Sahm.

Paralelo à sua carreira musical, trabalhava como ator sempre que era convocado por seu amigo e admirador Robert Altman -- que adorava seu queixo quadrado e sua expressão enigmática -- e então, nas filmagens de "O Jogador", conheceu Julia Roberts e os dois se casaram.

Seus primeiros discos com sua Large Band -- que incluía uma extensa sessão de metais que soava redonda tanto em números country e pop quanto em números de jazz, blues e de rock and roll --, deixaram todo mundo boquiaberto, pois tornavam quase impossível qualquer iniciativa de rotulá-lo e empacotá-lo para tocar no rádio. 

E o diabo é que, mesmo assim, ele emplacou vários singles, tanto em emissoras country quanto em emissoras de rock.

Pois bem, 25 anos se passaram desde sua estréia em 1986, e eis que Lyle Lovett agora em 2011 é intimado judicialmente por sua ex-gravadora Curb Records a entregar um último disco para fechar um contrato assinado naquela época.


E não é que, para surpresa geral, ele entrega um disco divertidíssimo, repleto de covers, chamado “Release Me” -- tão bom e tão inteligente que nem parece uma “obrigação contratual”.

O repertório mistura alhos com bugalhos, formando um conjunto estranhamente coeso. 

Tem uma releitura brilhante da balada country cafona “Release Me”, grande sucesso do inclasificável Engelbert Humperdinck, num dueto delicioso com K D Lang.

Tem também uma versão estranhíssima de “Brown Eyed Handsome Man” de Chuck Berry, que lembra o Grateful Dead tocando soul music.

E tem ainda uma releitura desconcertante para “Baby It´s Cold Outside”, grande sucesso de Ray Charles e Betty Carter. Entre muitas outras coisas.


Obviamente, “Release Me” não é um projeto artístico do mesmo nível de “Joshua Judges Ruth”, “I Love Everybody” ou “The Road To Ensenada” – grandes discos da carreira de Lyle Lovett.

Nem pretende ser.

Mas equivale a pedir um prato de arroz com feijão para um grande cozinheiro num excelente restaurante. 

Convenhamos: não existe a menor chance de um prato tão trivial, nas mãos do grande cozinheiro em questão, não se revelar algo no mínimo espetacular. 


INFO:
 http://www.allmusic.com/artist/lyle-lovett-p4798/biography
DISCOGRAFIA:
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WEBSITE OFICIAL:
http://www.lylelovett.com/
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quinta-feira, abril 19, 2012

A VOLTA TRIUNFAL DO PRÍNCIPE DO POWER-POP DWIGHT TWILLEY NUM DISCO ESPLÊNDIDO

Quem viveu os anos 70 e seguia os passos de bandas power-pop como Big Star, Badfinger e Raspberries, com certeza lembra com muito carinho da Dwight Twilley Band.

Era uma guitar-band americana fortemente influenciada pelos Beatles, com canções delicadas e ensolaradas, fruto da conjunção dos talentos de dois guitarristas, cantores e compositores brilhantes: Phil Seymour e o próprio Dwight Twilley.

Eles se conheceram em Tulsa, Oklahoma, 1967, depois de assistir “A Hard Day’s Night” num cinema da cidade.

Montaram sua banda, Oister, no ano seguinte, e passaram mais de cinco anos viajando por todo o Sul dos Estados Unidos, tentando gravar para algum selo que se interessasse por eles. Sem sucesso.

 

Só em 1974 eles conseguiram um contrato, com a gloriosa Shelter Records, de Denny Cordell e Leon Russell -- que, a essa altura do campeonato, não ia nada bem das pernas.

Cordell achou a banda ótima, mas também achou o nome Oister medonho.

Insistiu para que eles mudassem para Dwight Twilley Band e gravou com eles material suficiente para compor dois LPs diferentes.


Dessas gravações, saíram vários singles e também o primeiro LP deles, “Sincerely”, lançado pela ABC em 1976 em meio a uma confusão dos diabos, por conta do colapso financeiro da Shelter.

Foi sucesso de crítica e fiasco de público, sendo seguido no ano seguinte por “Twilley Don´t Mind” -- igualmente ótimo, mas que também não emplacou.

Foram tantas confusões empresariais e tantos revezes ao longo desses dois anos que a banda não suportou o tranco.

Phil Seymour e Dwight Twilley acharam por bem desistir do projeto da banda e seguir carreiras solo.


Com a explosão do pós-punk no final dos anos 70. ficou mais fácil para qualquer artista inglês ou americano conseguir um lugar ao sol na cena musical tocando "pop puro", como o que eles faziam.


Dwight Twilley seguiu a reboque das tournées do amigo Tom Petty e, com isso, conseguiu contratos com gravadoras que resultaram em vários discos muito bons, ainda que não tão eloquentes quanto os que gravara nos anos 70.

Já Seymour produziu apenas três discos ao longo dos anos 80, sendo que o primeiro (foto abaixo) é considerado hoje uma obra prima do power-pop.

Infelizmente, nenhum dos dois jamais conseguiu emplacar no Top 20 da Billboard.Pareciam estar fadados ao fracasso comercial.
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E então, Phil Seymour morre em 1993.

Paralelo a isso, Dwight Twilley resolve parar de correr atrás de contratos com gravadoras e de ter que trabalhar com produtores sem a menor consideração com a integridade de seu trabalho, e decide virar um artista independente.

Nesse meio tempo, tanto ele quanto Phil Seymour viram objeto de culto para as novas gerações.Seus discos antigos começam a ser relançados, e isso dá um gás todo especial à carreira meio combalida de Twilley.

O resultado prático disso é que, nos vinte anos que se seguiriam a esses acontecimentos, Dwight Twilley não sossegaria mais, produzindo discos em abundância e compondo canções extremamente apelativas e praticamente tão boas quanto as do tempo em que Seymour e ele faziam dobradinha.


O que nos leva a "Soundtrack", seu novo trabalho.

São canções autobiográficas e em tom confessional compostas especialmente para um documentário sobre sua vida artística, que ainda não foi lançado. Todas muito envolventes e invariavelmente grudentas.

Sua nova banda é ótima, com músicos das mais diversas faixas de idade. Impressionante como as guitarras de Twilley e de Bill Pitcock soam harmoniosas e estridentes na medida certa, resgatando boa parte da alquimia que rolava em seus primeiros discos, ao lado de Phil Seymour.

Em suma: a musicalidade de Dwight Twilley chega completamente revigorada nesse "Soundtrack", e isso é uma grande notícia para seus novos e velhos fãs.

Nada mais bacana do que vez um veterano talentoso como ele, que passou anos e anos dando murro em ponta de faca para manter sua carreira ativa, finalmente chegando a um porto seguro.



Enfim, se você gosta do power-pop dos Beatles, conheça “Soundtrack”, de Dwight Twilley.

É um disco “perfil baixo” espetacular, de um grande artista, talvez no melhor momento de sua carreira.

Um marco na história atrapalhada de um grande herói subestimado do rock and roll.


INFO: 
http://www.allmusic.com/artist/dwight-twilley-p5718/biography

DISCOGRAFIA: 
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quarta-feira, abril 11, 2012

THE SHEEPDOGS: SOUTHERN ROCK DA GEMA MADE IN CANADA

Não deixa de ser uma grande ironia a melhor banda americana de Southern Rock da atualidade ser... canadense.

Parece troco por todas aquelas gracinhas disparadas contra o modo de vida do Canada pelos roteiristas de "South Park" ao longo de muitos e muitos anos.

The Sheepdogs -- difícil imaginar um nome mais "sixties" para uma banda -- estão na estrada desde 2006, dando murro em ponta de faca e brigando por um lugar ao sol na disputadíssima cena do rock adulto norteamericano.

Gravaram 3 LPs muito simpáticos, por conta própria, que acabaram solenemente ignorados fora do Canadá -- a não ser por algum "airplay" em college rádios da região de Minneapolis-Saint Paul.

Mas, mesmo com tudo meio que conspirando contra, eles nunca desistiram.


Ano passado, finalmente a sorte sorriu para eles:

A Rolling Stone Magazine promoveu um concurso nacional para escolher uma banda sem contrato com gravadoras para sair na capa da revista, chamado "Choose The Cover - So You Want To Be A Rock & Roll Star", e eles ganharam.

Ganharam não só a capa, mas também notoriedade instantânea e, claro, um contrato com a Atlantic Records, que lançou correndo o EP gravado a toque de caixa "Five Easy Pieces", muito bem recebido pela crítica.


Agora, graças a toda essa exposição por conta do concurso, os discos anteriores dos Sheepdogs -- justamente aqueles que foram solenemente esnobados poucos anos atrás -- começam a aparecer nas lojas em reedições luxuosas.

E o primeiro a chegar é justamente o terceiro (e melhor) deles todos, "Learn And Burn", lançado originalmente no finalzinho de 2010.

Trata-se de uma sucessão impressionante de números muito melódicos, bem marcados nas guitarras e quase sempre com vocais em três partes -- característica das bandas psicodélicas de origem folk vindas de San Francisco e Los Angeles, como Jefferson Airplane, Mamas & Papas e Quicksilver Messenger Service.

Em outras palavras: um disco delicioso de rock and roll rasgado, sem enrolação -- a maioria dos números não excede 4 minutos de duração -- e, claro, sem o festival de clichês habituais comuns às bandas de Southern Rock e de Rock Psicodélico.


Por conta de todas essas características conflitantes, é muito complicado definir os Sheepdogs.

Não são uma jam band -- mas, se necessário, fazem improvisos longos.

Tocam seguindo o figurino das bandas clássicas -- mas possuem um frescor musical que nada tem a ver com elas.

E, para piorar ainda mais, estão muito satisfeitos com toda essa indefinição e com todo esse descompromisso -- que, pouco a pouco, vão se transformando em traços estilísticos da banda.

Portanto, se você ainda não conhece The Sheepdogs, aproveite: a hora é agora.

E se gostar de algum dos 3 números apresentados abaixo, procure por aí pelos cds "Learn And Burn" e "Five Easy Pieces" -- dois exemplos bem eloquentes da excelente produção musical canadense atual.

INFO:
http://www.southernrockbrasil.com.br/2010/10/sheepdogs.html

DISCOGRAFIA:
http://www.allmusic.com/artist/the-sheepdogs-p1046629/discography

WEBSITE OFICIAL:
http://www.thesheepdogs.com/

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quinta-feira, abril 05, 2012

A INTRÉPIDA BONNIE RAITT ESTÁ DE VOLTA NUM LP DE TIRAR O FÔLEGO


Há exatos sete anos, Bonnie Raitt não gravava um disco.

Ou seja: há sete anos estávamos privados de uma das vozes mais lindas da história do pop mundial -- capaz de transitar livremente por todos os gêneros musicais genuinamente americanos -- e também de uma das guitarras slide mais marcantes que o blues e o rock and roll já tiveram o prazer de conhecer.

Seu disco anterior, “Souls Alike” (2005), tinha aspectos curiosos. Era bem mais despojado e bem menos apelativo que os trabalhos que o antecederam. Além do mais, foi a primeira vez em que Bonnie se autoproduziu, com resultados bastante satisfatórios.

Só que, infelizmente, algo saiu errado e "Souls Alike" não só foi um fiasco comercial, como também não conseguiu se afirmar entre os melhores discos gravados por Bonnie Raitt ao longo de seus mais de 40 anos de carreira.


Bom... esse certamente não vai ser o destino desse novo LP cheio de atitude chamado “Slipstream”, que chega às lojas americanas no próximo dia 10 de Abril.

Aqui, Bonnie está estreando numa nova gravadora. Por cautela, entregou a produção para o especialista Joe Henry – também um excelente artista solo e um arranjador muito criativo --, que soube explorar bem todas as possibilidades dela como artista já bem conhecidas do seu público, e outras um tanto quanto inusitadas.

Por exemplo: a idéia dele em transformar num reggae “Right Down The Line”, número clássico de Gerry Rafferty, é de uma ousadia impressionante. E o mais legal de tudo é que Bonnie encara desafios assim com uma jovialidade e uma galhardia impressionantes, mesmo aos 63 anos de idade.

Mas “Slipstream” tem muito mais a oferecer.

Tem duas canções de Bob Dylan: “Standing In The Doorway” -- inédita, que ela acaba de ganhar de presente dele -- e uma releitura de arrepiar do bluesaço “Million Miles” -- um clássico do repertório recente de Mr. Zimmerman, que está no LP "Time Out Of Mind" (1997).

Tem também várias canções dos amigos Al Anderson (ex-guitarrista do NRBQ) e Randall Bramblett (ex-guitarrista do Traffic), todas impecáveis e facilmente assovioáveis.

Se bem que as canções mais bonitas do disco são “Not Cause I Wanted To”, da jovem cantora-campositora Bonnie Bishop, e “You Can't Fail Me Now”, parceria do produtor Joe Henry com Loudon Wainwright III (hoje mais conhecido como o pai do Rufus Wainwright).

Tanto uma quanto a outra são parentes distantes daquelas baladas tristes de Eric Kaz – como a clássica “Love Has No Pride” --, que Bonnie Raitt costumava gravar -- melhor do que ninguém, diga-se de passagem -- em seus discos no início dos anos 70.

Desnecessário dizer que ambas são absolutamente desconcertantes. Para ouvir de joelhos.

Enfim, Bonnie Raitt está de volta, madura e intrépida, nesse turbilhão de novas emoções chamado “Slipstream” -- um disco para ouvir muitas e muitas vezes, pelo simples prazer de estar vivo.


INFO:
http://www.allmusic.com/artist/bonnie-raitt-p5222/biography

DISCOGRAFIA:
http://www.allmusic.com/artist/bonnie-raitt-p5222/discography

WEBSITE OFICIAL:
http://www.bonnieraitt.com/

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segunda-feira, abril 02, 2012

CONHEÇAM A NOVA EXTRAVAGÂNCIA MUSICAL DE PAUL WELLER


Paul Weller é uma figura impagável.

Depois de brilhar 15 anos à frente de grupos como The Jam e Style Council, e de passar boa parte da década de 90 apostando numa carreira solo voltada para agradar o público americano -- em vão, pois os americanos não conseguem entendê-lo --, Weller desistiu de facilitar as coisas e passou a investir num trabalho independente cada vez mais pessoal e idiossincrático. Desde então, não pára de ganhar prêmios e de ser reconhecido como a artista mais importante e influente da cena inglesa desde David Bowie.

Agora, depois de algumas aventuras bem sucedidas pela soul music, nosso herói resolveu promover uma virada surpreendente em seu trabalho, enveredando pelo terreno às vezes pantanoso da música eletrônica. Só que fez isso com um bom humor contagiante e uma atitude musical camp que mescla os Beach Boys de “Good Vibrations” com o pop cafona do Human League, passando pelas experiências berlinenses de David Bowie e Brian Eno do final dos anos 70.

Perguntado sobre o porquê dessa reviravolta, Paul Weller simplesmente declarou que sua nova mulher gosta muito desse tipo de música e que esse novo disco é todo dedicado a ela.


O nome desse novo disco é “Sonik Kicks”. Os primeiros 5 minutos assustam um pouco, tamanha a quantidade de sintetizadores piando nos nossos ouvidos. Mas lá pela terceira música, “Kling-Klang”, já estamos à vontade com o curioso revisionismo psicodélico sci-fi de Paul Weller – até porque as canções são quase todas ótimas e bem grudentas, como a irônica “That Dangerous Age”, a grandiloquente “By The Waters” e a sublime “Be Happy Children”, onde divide os vocais com sua filha Leah Weller.

Paul Weller cansou de tentar agradar o mainstream e ser maltratado por ele. Hoje, faz o que bem entende, e o mainstream o trata como um gênio pop – coisa que ele jamais pretendeu ser. Daí, ele se diverte produzindo brincadeiras musicais deliciosas como essa.

Claro que é uma fase passageira. Certamente o próximo disco de Weller virá bem diferente desse. E o seguinte, mais diferente ainda.

Com Paul Weller, vale aquela máxima de Lô Borges: “Nada Será Como Antes, Amanhã”.
INFO:
http://www.allmusic.com/artist/paul-weller-p112851/biography

DISCOGRAFIA SOLO:
http://www.allmusic.com/artist/paul-weller-p112851/discography

DISCOGRAFIA COM THE STYLE COUNCIL:
http://www.allmusic.com/artist/the-style-council-p5548/discography

DISCOGRAFIA COM THE JAM:
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WEBSITE OFICIAL:
http://www.paulweller.com/

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NRBQ FLERTA ABERTAMENTE COM O PASSADO, MAS SEM SAUDOSISMOS, EM SEU NOVO LP

O quarteto novaiorquino NRBQ (New Rhythm & Blues Quartet) está perto de comemorar 45 anos de vida. É uma das bandas mais estranhas e peculiares que a América já produziu. Sempre seguiu orgulhosamente na contramão de todas as tendências musicais surgidas de 1970 para cá. Diz a lenda que em 1969, enquanto rolava o Festival de Woodstock, o NRBQ apresentava seu blend cativante de rock and roll, power pop e jazz no Clube de Cadetes da cidade de Woodstock.

Verdade ou não, essa é a metáfora perfeita para definir a carreira errante e diletante da banda nos anos que se seguiram. Hoje, mesmo depois de tanto tempo em cena, o NRBQ continua desconhecido da maioria do público do rock mainstream, apesar de quase ter “chegado lá” diversas vezes.

Composto originalmente pelo cantor e tecladista Terry Adams, pelo guitarrista Al Anderson, mais o baixista Joey Spampinato e o baterista Tom Ardolino, o NRBQ deu sinais claros de desgaste 8 anos atrás, logo após o album “Dummy”. Na ocasião, todos os integrantes acharam por bem deixar a banda descansando por uns tempos enquanto se dedicavam a projetos pessoais.

Ano passado, no entanto, Terry Adams tomou a iniciativa de convocar seus velhos parceiros para ressucitar o NRBQ, mas só Tom Ardolino atendeu ao chamado de prontidão. Daí, Adams decidiu que não havia o que esperar, chamou um novo baixista e um novo guitarrista, entrou com a nova encarnação da banda no estúdio e assim nasceu esse “Keep This Love Goin´”.

O disco é uma delícia.

Todas as faixas lembram o passado artisticamente glorioso da banda -- sem a intenção de resgatar coisa alguma, apenas manter viva a sonoridade única do NRBQ. Se por um lado os novos músicos não conseguem reproduzir o mesmo molho musical da banda original, por outro a essência do som do NRBQ está totalmente preservada, em números deliciosos e extremamente criativos que raramente excedem os 3 minutos de duração.

“In Every Dream”, por exemplo, é um tema de Tchaikowsky que se transformou numa adorável balada country -- o tipo de coisa que só Terry Adamss é capaz de fazer. A releitura beatle do clássico do jazz "Gone With The Wind” é outro número irresistível, tão delicado que nenhum jazzista diehard vai se aborrecer com tamanha leviandade. E os temas originais de Terry Adams -- o disco está repleto deles -- continuam sendo exemplos perfeitos de que é possível explorar o pop muito além de seus limites sem cair nas progressivices de praxe.

Em suma, “Keep This Love Goin´” parece um disco clássico do NRBQ, só que em tom menor. Seu único pecado talvez seja a falta de suor -- se é que isso é pecado.

Detalhe: pouco depois do fim das gravações do disco, o baterista Tom Ardolino morreu de um aneurisma cerebral. Mas a banda continua. Agora em homenagem a ele.

INFO:
http://www.allmusic.com/artist/nrbq-p5044/biography

DISCOGRAFIA:
http://www.allmusic.com/artist/nrbq-p5044/discography

WEBSITE OFICIAL:
http://www.nrbq.com/

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