Mostrando postagens com marcador Melody Maker. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Melody Maker. Mostrar todas as postagens

terça-feira, outubro 06, 2015

2 OU 3 COISAS SOBRE "CRADLE TO THE GRAVE", LP DE RETORNO DO SQUEEZE, COM CHRIS DIFFORD E GLENN TILBROOK DE VOLTA À VELHA FORMA

por Chico Marques


Só quem acompanhou de perto o impacto da separação da dupla de compositores John Lennon & Paul McCartney no final dos anos 60 tem noção do quanto aquilo calou fundo no imaginário da imprensa musical inglesa. 

Nos primeiros anos da década de 70, jornais como o Melody Maker e o New Musical Express não cansavam de tentar encontrar em qualquer nova dupla de compositores que surgisse na cena musical pop inglesa os prováveis sucessores de Lennon & McCartney.

E apesar da dupla Elton John e Bernie Taupin ser a aposta mais óbvia e certeira, havia um problema sério com os dois: eles não faziam parte de uma banda. Para substituir os dois Beatles, a Imprensa Musical da boa e velha Inglaterra fazia questão de dois bandmates com aquele mesmo alto padrão de excelência. Não iria ser nada fácil.

Daí, apostaram as fichas na ótima dupla de compositores Eric Stewart e Graham Gouldman, do grupo 10cc. Com isso, catapultaram o trabalho dos dois -- que era extremamente bom, mas obviamente não tão bom quanto o dos dois Beatles -- a um patamar onde nunca conseguiram se situar direito.


Alguns anos se passaram e a velha obsessão da Imprensa Musical Inglesa apontou para a promissora dupla de compositores Chris Difford e Glenn Tilbrook, que integrava o Squeeze -- sem dúvida, o grupo pop mais importante, mais consistente e mais influenciado pelos Beatles e pelos Kinks da cena post-punk. 

Para o Squeeze, a comparação com Lennon & McCartney foi mais do que oportuna, e ajudou a banda a sedimentar seu caminho através de um mercado que era meio hostil com bandas que não tivessem uma atitude de ruptura. Então, entre 1988 e 1999, o Squeeze gravou nada menos que 14 grandes discos e dezenas de singles de sucesso. Entre eles: "Take Me I'm Yours", "Up the Junction", "Another Nail in My Heart," "Pulling Mussels (From the Shell)," "Tempted" e "Black Coffee In Bed". O hoje famoso pianista e apresentador da BBC2 Jools Holland fez parte da banda enre 1974 e 1980, nos anos iniciais da banda.  

O Squeeze foi uma das bandas precursoras do britpop, e até soube tirar algum proveito de sua influência sobre novas bandas bem-sucedidas, como o Blue e o Oasis. Mas seus integrantes nunca esconderam sua decepção por nunca terem conseguido emplacar nos Estados Unidos o mesmo sucesso que faziam na Inglaterra.


Chris Difford e Glenn Tilbrook vem seguindo carreiras solo relativamente bem-sucedidas desde a virada do milênio. De tempos em tempos, se reunem para fazer tournées juntos. Ou como dupla, ou com o Squeeze reunido. 

Entre 2009 e 2010, parecia que a banda iria voltar de verdade. Reuniram-se para uma longa tournée mundial e até voltaram a compor juntos. Mas não conseguiram produzir canções em número suficiente para um novo disco do Squeeze na ocasião. 

No último inverno, no entanto, Chris Difford e Glenn Tilbrook se reuniram para combinar uma nova tournée para 2015, e, de quebra, trataram de compor mais algumas canções para juntar às outras que estavam prontas há cinco anos.


São essas 12 canções que compõem "Cradle to the Grave" (um lançamento Virgin-EMI, sem previsão para o Brasil), esse grande disco de retorno do Squeeze, que quebra um jejum de 17 anos desde o ultimo álbum de inéditas da banda, "Domino", e não corre o menor risco de decepcionar os fãs do grupo. 

É um disco curto, com 44 minutos de duração, seguindo na mesma medida e no mesmo tom dos LPs que a banda gravava nos Anos 80, provando por A mais B que a alquimia entre eles permanece intacta depois de todos esses anos.

Em suas carreiras solo, tanto Chris Difford quanto Glenn Tilbrook vivem testando saídas musicais bem diferentes do som do Squeeze. Mas sempre que unem forças num projeto em comum, eles fazem questão de simplesmente deixar a velha parceria fluir da mesma maneira como acontecia lá atrás.


Pois em "Cradle to the Grave" eles acertam na mosca com 12 canções atemporais completamente impregnadas com a personalidade musical deliciosa da banda. Produzido por Tilbrook e Laurie Latham, o disco foi gravado em poucos dias no 45 RPM Studios em Charlton, Inglaterra. 

A formação atual do Squeeze traz, além de Tilbrook e Difford nos vocais e nas guitarras, Simon Hanson na bateria, Stephen Large nos teclados e Lucy Shaw e John Bentley se alternando nos contrabaixos, além de alguns músicos convidados.


Todas as canções de "Cradle to the Grave" são deliciosas, o conjunto do álbum é extremamente equilibrado, e não é nenhum exagero afirmar que este talvez seja o melhor disco do Squeeze desde "East Side Story" (1981). Tudo dá certo aqui. E todo o prazer que eles proporcionam ao ouvinte soa absolutamente genuíno o tempo todo. 

2015 tem sido um ano bom para bandas clássicas gravarem discos de retorno relevantes: The Pretty Things, The Zombies e Graham Parker & The Rumour acabam de lançar ótimas coleções de canções inéditas. 

Estava mais do que na hora do Squeeze se juntar a eles.

Pois sejam bem-vindos.




AMOSTRAS GRÁTIS







domingo, abril 15, 2012

NICK HORNBY, A CULPA É TODA SUA.


Listas de melhores discos do ano -- de melhor isso, ou melhor aquilo -- sempre foram a salvação dos pauteiros no Jornalismo Cultural. Sempre que chegava o fim de ano, e as pautas estavam esgotadas, com nada acontecendo em lugar algum, as listas de melhores eram providenciais para salvar os Cadernos B dos jornais da mais absoluta falta de assunto.

Mas então, os sempre criativos editores da Rolling Stone americana – ainda nos tempos em que a sede da revista era em San Francisco, e não Nova York – resolveram dar uma dimensão bem mais ambiciosa a essas listas, montando edições inteiras da revista com “Os 100 Melhores Discos dos Anos 60”, “Os 100 Melhores Discos dos Anos 70”, “Os 100 Artistas Mais Influentes do Rock And Roll”, etc etc etc -- sempre comentados um a um por seu extenso time de articulistas.
Desnecessário dizer que essa atitude da Rolling Stone não só foi um sucesso, como foi copiada “ad nauseam” por toda a Imprensa nesses últimos 35 anos, banalizando a iniciativa por completo e fazendo dela um cacoete populista um tanto quanto irritante – mas que deve ter lá seus fãs, categoria na qual eu, definitivamente, não me incluo.

O caso é que tudo isso proliferou de forma desenfreada depois do romance “Alta Fidelidade”, de Nick Hornby, cujo personagem principal elabora listas de Top 5 de praticamente tudo o que vê pela frente, o tempo todo, no limite do insuportável.

E o diabo é que, dependendo da maneira como essas “listas de melhores” são anunciadas em portais da música, a gente vai lá e olha, mesmo sabendo de antemão que vai acabar se aborrecendo.


Pois bem, o NME publicou nesta semana uma dessas listas -- essa bem diferente das habituais, com os “Cinquenta Melhores Produtores de Discos” de todos os tempos. Eu achei a idéia original, fui lá dar uma olhada e... só aborrecimento! Eles praticamente desconsideraram todos os grandes produtores dos anos 60 e 70.

Para o NME, grandes craques da produção como Lenny Waronker, Russ Titelman, Peter Asher, Bill Szymszyk, Richard Perry, Bones Howe, Rob Fraboni, Allen Toussaint, Smokey Robinson, Phil Walden, Chris Blackwell, Denny Cordell, Bob Ezrin, Nick Lowe e John Cale nunca existiram. Em vez deles, vários rappers e algumas criaturas esquecidas da Era Disco – como Biddu, da famigerada Biddu Orchestra – foram agraciados com postos privilegiados na lista. Um horror.

Mas aí vem o pior de tudo: nos comentários abaixo da postagem no portal do NME, vários produtores famosos, enfurecidos com os critérios levianos utilizados na escolha, soltaram os cachorros em cima dos jornalistas responsáveis, sem e menor piedade.


Para citar um exemplo: Tony Visconti, ex-produtor de David Bowie, não só corrigiu dados historicamente incorretos publicados nos textos que acompanhavam a lista, como ainda agradeceu por ter sido preterido de uma empreitada tão insignificante.

Ah, bons tempos em que a Imprensa Musical seguia diretrizes bastante criativas e diferenciadas das adotadas pelos jornalões. Não era isso que é hoje, com tudo totalmente dominado por pautas sem imaginação e matérias escritas para agradar clientes de Assessorias de Imprensa que sempre mandam bons presentes no final do ano.

Felizmente, com a chegada das revistas pós-industriais no formato de blogs especializados na web, tudo esse panorama começou a mudar de alguns anos para cá. Revistas como Rolling Stone e New Musical Express deixaram de ter a importância que tinham antes. Hoje, todo blogueiro com alma de publisher sabe que pode ser o próximo Ralph J Gleason. Basta querer, ter um bom projeto e achar um atalho para chegar ao público almejado. O resto é sorte.