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terça-feira, agosto 26, 2014

AS PÉROLAS DO SUPERDRAG, RESGATADAS POR SEU INCANSÁVEL COMANDANTE JOHN DAVIS.


Power Pop, para quem desconhece o termo, é basicamente "pop melódico com harmonias vocais, tocado com instrumentação de rock and roll: guitarras, baixo e bateria".

Nenhuma grande novidade, como vocês podem perceber.

The Beatles foi, de certa forma, a primeira banda Power Pop.

O "de certa forma" fica por conta do termo ter sido calcado um ou dois anos depois do fim dos Beatles para classificar grupos musicalmente derivados deles -- como o inglês Badfinger e os americanos Raspberries e Big Star.

Essas três bandas, juntamente com Dwight Twilley e Phil Seymour, acabaram virando os maiores expoentes desse movimento nos anos 70, e se tornaram ícones muito respeitados até hoje.
O número de bandas Power Pop surgidas dos anos 80 para cá é gigantesco.

Nenhuma delas sonha em ser os novos Beatles.

Mas todas sonham em ser tão boas quanto o Big Star.

E, com isso, conseguem mantém vivo um conceito musical que se acomoda bem a qualquer novo contexto de mercado, sem sofrer restrições da maioria dos segmentos rock e pop.

É sempre bom lembrar que quando os dois LPs clássicos do grupo Big Star surgiram no início dos anos 70 lançados pelo selo independente Ardent, quase ninguém fora de Memphis percebeu a existência deles.

O tempo passou, a banda acabou, e só então se deram conta de que aquela pequena banda de Memphis não só era grande como poderia ter ido longe se ao menos tivesse tido uma chance melhor do que teve.

Exemplos como o do Big Star viraram pesadelos para o departamentos de A&R de grandes gravadoras, que ignoraram e continuam ignorando artistas desse gabarito -- seja por descuido, ou por falta de visão mesmo.



Então, 20 anos mais tarde, quando os executivos da Elektra Records viram um EP com 8 músicas de uma banda de rock do Tennessee, entitulado 'The Fabulous 8-Track Sound Of Superdrag", eles com certeza lembraram do Caso Big Star e não pensaram duas vezes: contrataram na hora o quarteto dos guitarristas e compositores John Davis e Brandon Fisher, para depois decidir o que fazer com eles.

E o Superdrag emplacou logo de cara um disco bem urgente e repleto de números bem grudentos, "Regretfully Yours", que fez uma boa carreira pelo mundo afora em 1996.

Dois anos mais tarde, o Superdrag voltou com um trabalho intrincado, conceitual, extremamente melódico e psicodélico entitulado "Head Trip In Every Key", que foi um sucesso absoluto de crítica e um fiasco de vendagens para a Elektra, pois consumiu muitas horas de estúdio para ser produzido e custou muito caro.

Em consequência disso, executivos da Elektra decidiram que o próximo disco da banda teria que ser realizado com menos de um terço do tempo e do dinheiro gastos no disco anterior, e eles não concordaram. Resultado: acabaram desligados da gravadora.

De 2000 para cá, já independentes, gravaram 4 discos de primeira grandeza e mantiveram o nome Superdrag como herdeiro musical legítimo tanto do legado musical do Big Star quanto do de outras bandas dos Anos 90, como os Posies de Ken Stringfellow e os Replacements de Paul Westerberg..



O Superdrag está inativo desde 2010, mas John Davis não.

E já que o baú do Superdrag está repleto de surpresas, os lançamentos não param de chegar às lojas.

Ano passado, os dois  primeiros CDs da banda foram relançados no formato LP -- como a banda sempre quis, mas a Elektra nunca permitiu.

E agora, o Superdrag acaba de lançar dois LPs impecáveis com demos e faixas gravadas em 1997 nos Estúdios Trident, que permaneciam inéditas até agora.

"Jokers W/ Tracers" é surpreendente, e mostra claramente como a formação original do Superdrag tinha gabarito para produzir tanto números urgentes quanto vôos musicais impressionantes.

Boa parte do repertório desses dois LPs é conhecido dos discos que a banda gravou de 1998 em diante, mas não com o pegada truculenta dessas gravações.

"Jokers W/ Tracers" revela o que muita gente já sabia: as demos do Superdrag são intensas e implacáveis, e muitas vezes superiores ao produto final de seus melhores discos -- o que faz desse lançamento um ítem obrigatório na discoteca de qualquer admirador da banda.

Diz o temperamental líder John Davis que espera com esses lançamentos sensibilizar seus velhos bandmates para que desconsiderem todas as picuinhas do passado e se animem a cair na estrada novamente e, quem sabe, voltem a gravar juntos de novo como Superdrag.

A julgar pela boa receptividade que o disco está tendo, é bem provável que Davis consiga seu intuito e o Superdrag ressurja das cinzas em breve.

"Jokers W/ Tracers" revela uma banda viva demais para se dar ao luxo de permanecer inativa. 

E esse é um dilema que o Superdrag vai ter que, de alguma maneira, resolver.


WEBSITE
http://arenarock.com/bands/superdrag/

DISCOGRAFIA
http://www.allmusic.com/artist/superdrag-mn0000751256/discography

AMOSTRAS GRÁTIS

domingo, abril 14, 2013

A SELVAGERIA DOS REPLACEMENTS ESTÁ DE VOLTA. POR UMA CAUSA NOBRE.


Assim como nunca houve uma mulher como Gilda, nunca houve uma banda como os Replacements.

Nunca, antes deles, uma banda teve a cara de pau de tentar combinar o punch infernal dos Sex Pistols, do Damned e dos Tuff Darts com as harmonias vocais dos Byrds.

Nunca, antes deles, uma banda punk ousou incluir no repertório de seus shows números tão duvidosos quanto bem humorados, como “She‘s A Lady”, de Tom Jones, e “Tie A Yellow Ribbon Round The Ole Oak Tree”, de Tony Orlando.

O que para muitos parecia inviável e até inconcebível, para esses rapazes desaforados de Minneapolis era algo perfeitamente natural.

Que outra banda teria a desfaçatez de estrear com um disco entitulado “Desculpa, mãe, esqueci de por o lixo para fora”?

Só eles, The Replacements, banda seminal comandada pelo excelente compositor, guitarrista e cantor Paul Westerberg, e que contava com o suporte tenso e truculento do baixista Tommy Stinson, do baterista Chris Mars e do guitarrista solo Slim Dunlap.

De 1979 a 1991, eles praticamente redefiniram a cena do rock independente americano, buscando saídas estilísticas nada fáceis, e muito menos óbvias, para suas propostas musicais e, de quebra, abrindo alas para o surgimento da cena grunge que iria dominar toda a década de 90 nos EUA.


O legado musical dos Replacements está espalhado por apenas sete albuns – entre eles, dois (“Let It Be” e “Tim”) que viraram referência obrigatória para toda uma geração, e outros dois (“Don’t Tell A Soul” e “All Shook Down”) que praticamente redefiniram o rock-pop praticado na época, revelando o dom melódico de Paul Westerberg e o afirmando como um grande artesão pop.

De lá para cá já se passaram 22 anos, e os Replacements nunca mais se reuniram. Receberam inúmeras propostas para discos e tournées de retorno, mas nunca cogitaram olhar para trás e ceder ao apelo do dinheiro fácil. Westerberg estabeleceu uma sólida carreira solo, mas está muito longe de ser um homem rico. Slim Dunlap partiu para um trabalho solo bem interessante, mas que nunca conseguiu o reconhecimento merecido fora dos limites das cidades gêmeas Minneapolis e Saint Paul. E Tommy Stinson e Chris Mars participaram de inúmeras bandas, todas com pouca projeção.



Até que, ano passado, Slim Dunlap sofreu um derrame, ficou seriamente debilitado e sem condições financeiras para bancar sua recuperação. Diante disso, Westerberg, Stinson & Mars não pensaram duas vezes e reuniram finalmente os Replacements para gravar um disco juntos, e assim levantar uma grana para ajudar seu velho companheiro de banda.

Esse disco é um EP, com apenas cinco canções – nenhuma de autoria deles --, se chama simplesmente “Songs For Slim” e acaba de chegar às lojas através da New West Records.

Mas havia um problema a ser resolvido. Por conta de velhas picuinhas mal resolvidas, Mars se negou a dividir a cena com seus dois ex-parceiros e só aceitou participar da empreitada com um número solo, de autoria de Slim Dunlap, chamado “Radio Hook Word Hit”, acompanhado de um grupo de músicos de seu círculo.

Westerberg não só aceitou as condições como ainda incorporou os mesmos músicos usados por Mars aos outros quatro números em que divide a cena com Stinson.

E o resultado dessa empreitada é extremamente satisfatório, apesar da coisa toda não poder ser considerada uma reunião plena dos Replacements.


Os velhos fãs da banda talvez estranhem o número de abertura, “Busted Up”, um rock suingado à moda de Bo Diddley, só que sem guitarras, com Westerberg martelando um piano e contando uma história de azar extremamente bem humorada, composta justamente pelo homenageado Slim Dunlap.

O número seguinte já é a cara dos Replacements: uma genial versão upbeat para “I’m Not Sayin’”, balada folk de Gordon Lightfoot, que ganhou um tratamento power-pop deliciosamente truculento e a urgência clássica das gravações dos Replacements.

Na seqüência, vem uma versão bem roqueira (e igualmente truculenta) para “Lost Highway”, de Hank Williams, que acaba lembrando mais bandas como Jason and The Scorchers do que propriamente os Replacements. Mas funciona muito bem.

E por fim, uma surpresa extremamente inusitada: “Everything’s Coming Up Roses”, clássico da Broadway, do grande Stephen Sondheim, numa versão roqueira surpreendentemente bem resolvida, sem guitarras distorcidas demais, só para variar.

Ao final de “Songs For Slim”, fica a constatação de que, para os Replacements, só fazia sentido voltar a tocar juntos resgatando esse espírito selvagem e palhaço da banda. Nada de resgatar o passado glorioso, nem de buscar alternativas para o futuro. A idéia aqui, além de ajudar Slim Dunlap, é apesar brincar novamente com o repertório alheio, algo que eles sempre fizeram tão bem, só que não da maneira autodestrutiva de antes.

Sendo assim, considerem "Songs For Slim" não um retorno, mas um posfácio para a história turbulenta e visceral dos quatro rapazes de Minneapolis.

Os Replacements estão mortos. Vida longa aos Replacements.





AMOSTRAS GRÁTIS