Todo mundo adora falar mal dos anos 80.
É compreensível.
Foi uma época terrível, onde qualquer manifestação artística pop tinha que virar blockbuster obrigatoriamente e as gravadoras não apostavam mais em qualquer coisa que não flertasse abertamente com o mercadão.
Mas o fato é que quem não estava no mainstream na ocasião e conseguiu ter jogo de cintura para se virar na recém-surgida cena alternativa, buscando apoio promocional nas college radios, bem ou mal conseguiu se virar, e pouco a pouco conseguiu um lugar ao sol na nova cena musical que foi surgir forte mais para o final da década.
Quando a americana Chrissie Hynde surgiu à frente dos Pretenders na Londres do início dos anos 80, bem na fase derradeira da efervescência punk londrina -- ou seja, dois anos depois do desmantelamento dos Sex Pistols e um ano depois do marco "London Calling" do Clash -- a morte do rock and roll foi adiada mais uma vez, e a cena musical anglo-americana suspirou aliviada.
Chrissie era boa demais para ser verdade: bonita, sensual, carismática, ótima cantora e band-leader com uma atitude feroz.
Os Pretenders, por sua vez, eram o veículo perfeito para ela, graças principalmente à bateria truculenta e estranhamente sofisticada de Martin Chambers, e forneciam a muralha sonora perfeita para os manifestos políticos e sentimentais de Chrissie.
A partir do terceiro disco, "Learning To Crawl", as composições dela -- que eram o único quesito de qualidade discutível nos dois primeiros discos da banda -- ganharam um toque de excelência que surpreendeu a todos, elevando os Pretenders da condição de promessa para a de grupo bem estabelecido.
E foi assim por 30 anos e 11 álbuns muito bons.
Mas então, em 2010, Chrissie deu sinais de que os Pretenders talvez já pertencessem ao passado.
Participou do LP "Fidelity!" ao lado do singer-songwriter e namorado JP Welsh, com quem compôs todas as canções e dividiu todos os vocais.
E agora, com esse "Stockholm", as evidências do fim dos Pretenders ficam mais claras ainda. Se "Fidelity!" já era um flerte com o pop, 'Stockholm" -- composto integralmente em parceria com o Björn Yttling, da banda pop sueca Peter Bjorn and John -- reafirma essa tendência, mesclando melodias fortes com números bem roqueiros, à moda dos Pretenders, só que mais estilizados musicalmente e menos musculares.
O resultado é muito positivo, uma bela coleção de novas canções, sendo que duas delas já nascem clássicas: "You Or No One" e "Dark Sunglasses".
Nas faixas que encerram "Stockholm", Chrissie se autoquestiona sobre a real necessidade de gravar um disco solo, mas não conclui coisa alguma, provavelmente de propósito, deixando entender que talvez esteja apenas tirando férias tanto de sua velha banda quanto do rock and roll acelerado que sempre pontuou seu trabalho como cantora e compositora.
Parece sincera, mas... vai saber?
O caso é que não dá para negar que ela está muito bem posicionada artisticamente nesse novo contexto.
Tanto que não consegue -- e nem quer -- esconder o prazer de estar recomeçando novamente sua carreira de forma mais leve, só com bagagem de mão, num trabalho tão bacana quanto esse "Stockholm".
Fico feliz por Chrissie.
Mas triste pelos Pretenders.
WEBSITE OFICIAL
http://chrissiehynde.com/
DISCOGRAFIA
http://www.allmusic.com/artist/pretenders-mn0000492331/discography
AMOSTRAS GRÁTIS
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