O público de classic rock dos anos 70 costuma abusar do direito de ser conservador.
Quem já trabalhou com emissoras de rádio dedicadas a esse segmento de público sabe bem o quanto é difícil apresentar a eles qualquer coisa que não seja o PF nostálgico que sempre os remete de volta aos "bons e velhos tempos".
Felizmente, vários artistas que podem ser enquadrados nessa categoria, e que permanecem na ativa até hoje, adoram remar contra a maré do "saudosismo confortável". E trazem de tempos em tempos discos repletos de novidades, onde deixam claro que não querem ser prisioneiros dos seus passados gloriosos.
John Hiatt é um que viveu grandes momentos e chegou a flertar com o estrelato nos anos 80.
Hoje ele é um sobrevivente de alma.
Jamais encostou o boi na sombra.
Continua produtivo aos sessenta anos com a mesma verve que tinham aos trinta, somada à sabedoria de estrada que acumulou com o passar dos anos.
Quando estreou em 1974 com "Hangin' Around The Observatory", ele era apenas mais um candidato ao cargo de "novo Bob Dylan" -- que estava em aberto desde que Dylan subiu as montanhas e sumiu da vista de todos no final dos anos 60.
Hiatt tentou de tudo, quebrou a cara em 7 discos que, apesar de bons, não deram em nada, e só foi dar certo como artista solo em 1987, quando aparou as arestas e reduziu suas idéias musicais a um mínimo no disco "Bring The Family", onde contracenou com Ry Cooder, Nick Lowe e Jim Keltner.
Desde então, desistiu de apostar no "aim high, hit big" e vem mantendo seu "low profile" desfilando seus rocks, seus blues e suas baladas em discos às vezes elétricos, outras vezes acústicos, às vezes urgentes, outras vezes perenes.
Como é o caso deste seu novo trabalho, "Terms Of My Surrender", predominantemente acústico, gravado com sua banda de estrada e produzido pelo seu guitarrista Doug Lancio.
Se você é daqueles que reclamaram que o padrão de produção de Kevin Shirley havia afogado os discos anteriores de Hiatt num padrão sonoro roqueiro demais, sorria: esse disco é para você.
Aqui, Hiatt brinca à vontade com sua voz e com sua banda numa sequência deliciosa de números totalmente "laid back".
Talvez falte um single, alguém vai dizer.
Talvez, mas será que isso faz alguma diferença em 2014?
Gostaria de destacar duas canções: a magnífica balada dylaniana "Long Time Comin'", que abre o disco e já nasce clássica, e a adorável faixa título, "Terms Of My Surrender", que lembra aquelas velhas baladas de Hoagy Carmichael dos anos 30 e 40.
Há 40 anos, John Hiatt conquistou um público fiel, sempre ansioso por conhecer as novas canções que ele compôs ao longo do ano.
Mesmo assim, isso não foi o suficiente para a Indústria Fonográfica, que, no início dos Anos 90, rebaixou John Hiatt do mainstream para a cena alternativa, já que a vendagem de seus discos permanecia estática ao longo dos anos. Hoje, depois da crise da Indústria, esse público fiel e essas vendagens estáticas de John Hiatt passaram a valer ouro. Na verdade, sempre valeram, a Indústria é que não se dava conta disso.
A cada dois anos, John Hiatt sempre nos brinda com um disco muito especial.
Mas dessa vez ele caprichou pra valer.
WEBSITE OFICIAL
http://www.johnhiatt.com/
DISCOGRAFIA
http://www.allmusic.com/artist/john-hiatt-mn0000812046/discography
AMOSTRAS GRÁTIS
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