Power Pop, para quem desconhece o termo, é basicamente "pop melódico com harmonias vocais, tocado com instrumentação de rock and roll: guitarras, baixo e bateria".
Nenhuma grande novidade, como vocês podem perceber.
The Beatles foi, de certa forma, a primeira banda Power Pop.
O "de certa forma" fica por conta do termo ter sido calcado um ou dois anos depois do fim dos Beatles para classificar grupos musicalmente derivados deles -- como o inglês Badfinger e os americanos Raspberries e Big Star.
Nenhuma delas sonha em ser os novos Beatles.
Mas todas sonham em ser tão boas quanto o Big Star.
E, com isso, conseguem mantém vivo um conceito musical que se acomoda bem a qualquer novo contexto de mercado, sem sofrer restrições da maioria dos segmentos rock e pop.
É sempre bom lembrar que quando os dois LPs clássicos do grupo Big Star surgiram no início dos anos 70 lançados pelo selo independente Ardent, quase ninguém fora de Memphis percebeu a existência deles.
O tempo passou, a banda acabou, e só então se deram conta de que aquela pequena banda de Memphis não só era grande como poderia ter ido longe se ao menos tivesse tido uma chance melhor do que teve.
Exemplos como o do Big Star viraram pesadelos para o departamentos de A&R de grandes gravadoras, que ignoraram e continuam ignorando artistas desse gabarito -- seja por descuido, ou por falta de visão mesmo.
Então, 20 anos mais tarde, quando os executivos da Elektra Records viram um EP com 8 músicas de uma banda de rock do Tennessee, entitulado 'The Fabulous 8-Track Sound Of Superdrag", eles com certeza lembraram do Caso Big Star e não pensaram duas vezes: contrataram na hora o quarteto dos guitarristas e compositores John Davis e Brandon Fisher, para depois decidir o que fazer com eles.
E o Superdrag emplacou logo de cara um disco bem urgente e repleto de números bem grudentos, "Regretfully Yours", que fez uma boa carreira pelo mundo afora em 1996.
Dois anos mais tarde, o Superdrag voltou com um trabalho intrincado, conceitual, extremamente melódico e psicodélico entitulado "Head Trip In Every Key", que foi um sucesso absoluto de crítica e um fiasco de vendagens para a Elektra, pois consumiu muitas horas de estúdio para ser produzido e custou muito caro.
Em consequência disso, executivos da Elektra decidiram que o próximo disco da banda teria que ser realizado com menos de um terço do tempo e do dinheiro gastos no disco anterior, e eles não concordaram. Resultado: acabaram desligados da gravadora.
De 2000 para cá, já independentes, gravaram 4 discos de primeira grandeza e mantiveram o nome Superdrag como herdeiro musical legítimo tanto do legado musical do Big Star quanto do de outras bandas dos Anos 90, como os Posies de Ken Stringfellow e os Replacements de Paul Westerberg..
O Superdrag está inativo desde 2010, mas John Davis não.
E já que o baú do Superdrag está repleto de surpresas, os lançamentos não param de chegar às lojas.
Ano passado, os dois primeiros CDs da banda foram relançados no formato LP -- como a banda sempre quis, mas a Elektra nunca permitiu.
E agora, o Superdrag acaba de lançar dois LPs impecáveis com demos e faixas gravadas em 1997 nos Estúdios Trident, que permaneciam inéditas até agora.
"Jokers W/ Tracers" é surpreendente, e mostra claramente como a formação original do Superdrag tinha gabarito para produzir tanto números urgentes quanto vôos musicais impressionantes.
Boa parte do repertório desses dois LPs é conhecido dos discos que a banda gravou de 1998 em diante, mas não com o pegada truculenta dessas gravações.
"Jokers W/ Tracers" revela o que muita gente já sabia: as demos do Superdrag são intensas e implacáveis, e muitas vezes superiores ao produto final de seus melhores discos -- o que faz desse lançamento um ítem obrigatório na discoteca de qualquer admirador da banda.
A julgar pela boa receptividade que o disco está tendo, é bem provável que Davis consiga seu intuito e o Superdrag ressurja das cinzas em breve.
"Jokers W/ Tracers" revela uma banda viva demais para se dar ao luxo de permanecer inativa.
E esse é um dilema que o Superdrag vai ter que, de alguma maneira, resolver.
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