Quando surgiu na cena musical de Los Angeles, correndo de rádio em rádio com seu primeiro LP "Silvertone" em baixo do braço, Chris Isaak esbanjou simpatia e, com isso, foi saudado de imediato por todos no meio musical como um curioso mix entre o visual de Ricky Nelson, a voz de Roy Orbison e a guitarra "twangy" de Duane Eddy.
Isaak chegou com a corda toda, mesclando sonoridades revisionistas da Sun Records com os "pet sounds" californianos dos Anos 60, alternando seu jeitão de surfista vintage com uma atitude artística pós-modernosa -- sempre sob a tutela do veterano produtor Eric Jacobsen, co-responsável pelos sucesso de John Sebastian e de Tim Hardin nos anos 60.
Chris Isaak fez um bom número de amigos pela América com seus dois primeiros discos, mas só foi cair no gosto do grande público no terceiro, "Heart Shaped World", de 1989, quando emplacou a canção "Wicked Game" nas paradas do mundo inteiro -- aqui no Brasil inclusive.
Desnecessário dizer que sua carreira paralela como ator em filmes como "O Silêncio dos Inocentes" de Jonathan Demme e "Coração Selvagem" de David Lynch ajudaram bastante na sedimentação de sua imagem de astro pop múltiplo, fazendo dele uma espécie de "instant darling" daquele final de década.
Nos últimos 25 anos, no entanto, Chris Isaak nunca mais conseguiu repetir o sucesso daquele momento.
Soube administrar bem sua carreira, alternando música e cinema com um talk-show chamado "The Chris Isaak Hour" que fez por uns tempos no Biography Channel, e fugindo sempre que possível daquela armadilha clássica que faz do artista um prisioneiro de fórmulas que deram certo tempos atrás.
Mas sempre que sentiu que sua carreira ameaçada a entrar em baixa, Chris Isaak não hesitou em retomar sua persona "mezzo Ricky Nelson com Roy Orbison, mezzo Duane Eddy" para reencontrar seu público cativo e assim seguir em frente com sua carreira.
"First Comes The Night" (um lançamento Vanguard-Wicked Game Records) é o 13º álbum de estúdio de Chris Isaak em 30 anos de carreira.
Quer saber se traz grandes novidades?
Não, não traz.
Não muitas, pelo menos.
Mas na medida que há seis anos Chris Isaak não nos brindava com um disco com canções inéditas, isso por si só já faz de "First Comes The Night" um acontecimento musical digno de ser devidamente saudado.
Gravado em Nashville, bem longe do mar, e produzido por Paul Worley (Dixie Chicks, Lady Antebellum, Martina McBride), Dave Cobb (Jason Isbell, Sturgill Simpson, Shooter Jennings) e seu velho amigo Mark Needham, "First Comes The Night" segue em sintonia fina com o espírito de seus discos clássicos, só que mais pelo viés das composições do que pela musicalidade revisionista.
É um disco um pouco menos praiano que seu trabalho habitual, mas tão colorido e climático quanto, trazendo um cardápio de doze canções marcantes e perfeitamente assoviáveis, que vão das baladas românticas sempre infalíveis a rocks estilosos e números country híbridos que são, no mínimo, cativantes.
"The Way Things Really Are", por exemplo, é um número composto e levado no piano -- coisa rara nos discos de Isaak, sempre movidos por guitarras.
"Down in Flames", uma canção difícil de classificar, ostenta um beat muito curioso e bastante incomum em seu repertório.
Já "Perfect Lover" vem pontuada por uma levada meio rockabilly, meio mariachi que é simplesmente irresistível -- a trilha sonora perfeita para uma escapada de fim de semana em Tijuana.
E tem ainda as divertidas "Baby What You Want Me to Do" and "Don't Break My Heart", que parecem ter fugido de um daqueles filmes duvidosos de Elvis Presley rodados na década de 60, como "Carrossel de Emoções" e "Loiras Morenas e Ruivas".
Claro que sempre é bom ter um single poderoso puxando execução nas rádios, e a faixa-título é simplesmente perfeita para exercer essa função. Trata-se de um número poderoso, que evoca "Wicked Game" e é a cara de Chris Isaak -- ou ao menos, a cara que o grande público se habituou a associar a ele.
Apesar de "First Comes The Night" alternar números inusitados com canções sob medida para agradar em cheio ao fã habitual de Mr. Isaak, não se pode dizer que seja um LP que eleve o trabalho dele a um novo patamar artístico.
É um disco de manutenção de carreira, visando sua sobrevivência na cena independente e a manutenção de sua reputação de roqueiro baladeiro romântico.
"First Comes The Night" é um belo disco, reforça sua persona cool e o reafirma como um ótimo compositor e um artista pop bastante relevante.
O que mais um veterano da cena pop, com 30 anos de carreira pregressa e uns tantos outros pela frente, pode desejar nos dias de hoje?
WEBSITE OFICIAL
http://www.chrisisaak.com/
DISCOGRAFIA COMENTADA
http://www.allmusic.com/artist/chris-isaak-mn0000775323/discography
AMOSTRAS GRÁTIS
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