por Chico Marques
Bonnie Raitt passou por uns maus bocados nesses últimos anos. Perdeu seu pai, o ator e cantor da Broadway John Raitt, em 2004. Logo a seguir, em 2005, perdeu sua mãe, a pianista Marjorie Haydock.
E então, em 2009, perdeu o irmão mais velho, com quem tinha mais afinidade: Steve Raitt, cantor, guitarrista e engenheiro de som na cena de Minneapolis
(Steve morreu de um câncer no cérebro que o castigou por um período bem prolongado, e foi Bonnie quem cuidou dele nos seus últimos anos de vida)
Em meio a todo esse turbilhão emocional, Bonnie Raitt gravou o disco "Slipstream" em 2012, com sua banda de estrada e com a produção do craque Joe Henry – também um excelente artista solo e um arranjador muito criativo --, que soube explorar muito bem as possibilidades dela como artista já bem conhecidas de todos nós, além de outras um tanto quanto inusitadas.
Com "Slipstream", Bonnie retornou aos estúdios com um repertório fortíssimo e não só deu o pontapé inicial em seu próprio selo independente, Redwing Records, como ainda rompeu um silêncio de sete anos da cena fonográfica.
Esse retorno foi devidamente valorizado na Festa dos Grammies daquele ano, quando Bonnie venceu na categoria Best Americana Album, o que ajudou a revigorar sua carreira.
Ela chegou a declarar à Rolling Stone Magazine na ocasião: "essas sessões de gravação foram tão inspiradoras e tão saudáveis que restauraram minha fé na música a ponto de redespertar meu apetite para seguir em frente fazendo o que sei fazer melhor".
Convenhamos: não foi nada fácil ficarmos privados durante sete anos de uma das vozes mais lindas da história do pop mundial, capaz de transitar livremente por todos os gêneros musicais genuinamente americanos.
Sem contar que seu timbre na slide guitar é um dos mais marcantes que o blues e o rock and roll já tiveram o prazer de conhecer.
Pois dessa vez não foi necessário esperar tanto.
Bonnie Raitt está de volta com "Dig In Deep" (Redwing Records), seu vigésimo disco em 45 anos de carreira.
"Dig In Deep" é uma sequência à altura de "Slipstream". O tom dos dois discos é bastante semelhante. As diferenças estão basicamente no repertório e na produção.
Se em "Slipstream" Bonnie trabalhou prioritariamente com canções de amigos como Bob Dylan, Al Anderson e Randall Bramblett, aqui ele privilegia mais seu lado compositora, trazendo nada menos que cinco (ótimas) canções próprias que ela (felizmente) julgou dignas de ser gravadas. E apesar de Bonnie brilhar à frente de covers inusitados para "I Need You Tonight" (do INXS) e "Shakin' Shakin' Shakes" (do Los Lobos), os destaques aqui vão justamente para essas canções próprias -- em particular para "The Coming Round Is Going Through", "The Ones We Couldn't Be" (dedicada a seus pais e a seu irmão) e a adorável faixa título, em que ela homenageia todos os que acompanham sua carreira há quase meio século.
Detalhe: dessa vez Bonnie dispensou o amigo Joe Henry e assumiu a produção do disco sozinha, o que indica claramente que ela está em busca de desafios -- apesar de sua experiência anterior com antoprodução, no LP "Souls Alike" (2005), não ter sido lá muito feliz. Mas considerando que Bonnie acaba de sair de uma tournée longa, onde teve a oportunidade de amadurecer e testar ao vivo várias dessas novas canções, podemos presumir que não tenha sido complicado para ela encarar a autoprodução do disco com boa parte das novas canções já devidamente azeitadas na estrada. Se ao se autoproduzir em "Dig In Deep" a intenção de Bonnie era se redimir de algum eventual trauma resultante de críticas pouco favoráveis a sua primeira experiência como produtora, eu diria que ela conseguiu seu intuito, pois deu tudo certo dessa vez.
Enfim, Bonnie Raitt está de volta aos 66 anos de idade, madura e intrépida, com mais um belo disco a tiracolo, e à frente de uma banda impecável, pronta para cair na estrada pelo mundo afora, composta por veteranos tarimbadíssimos como Mike Finnigan (teclados), George Marinelli (guitarra), James "Hutch" Hutchinson (Baixo) e Ricky Fattar (bateria).
Na medida em que existe a possibilidade dessa tournée mundial passar aqui pelo Brasil no segundo semestre deste ano, só nos resta torcer para que nossa adorável Ruiva da Statocaster, legítima herdeira musical de Lowell George, inspire a imensa maioria de nossos "guitarristas de blues", espalhafatosos como eles só, a concluir que para alcançar um acorde verdadeiramente bluesy na slide guitar, menos é sempre mais.
Quem viu Bonnie homenageando B B King de forma magnífica na Festa dos Grammies deste ano, sabe bem do que estou falando.
WEBSITE OFICIAL
DISCOTECA COMENTADA
AMOSTRAS GRÁTIS
Bonnie Raitt passou por uns maus bocados nesses últimos anos. Perdeu seu pai, o ator e cantor da Broadway John Raitt, em 2004. Logo a seguir, em 2005, perdeu sua mãe, a pianista Marjorie Haydock.
E então, em 2009, perdeu o irmão mais velho, com quem tinha mais afinidade: Steve Raitt, cantor, guitarrista e engenheiro de som na cena de Minneapolis
(Steve morreu de um câncer no cérebro que o castigou por um período bem prolongado, e foi Bonnie quem cuidou dele nos seus últimos anos de vida)
Em meio a todo esse turbilhão emocional, Bonnie Raitt gravou o disco "Slipstream" em 2012, com sua banda de estrada e com a produção do craque Joe Henry – também um excelente artista solo e um arranjador muito criativo --, que soube explorar muito bem as possibilidades dela como artista já bem conhecidas de todos nós, além de outras um tanto quanto inusitadas.
Com "Slipstream", Bonnie retornou aos estúdios com um repertório fortíssimo e não só deu o pontapé inicial em seu próprio selo independente, Redwing Records, como ainda rompeu um silêncio de sete anos da cena fonográfica.
Esse retorno foi devidamente valorizado na Festa dos Grammies daquele ano, quando Bonnie venceu na categoria Best Americana Album, o que ajudou a revigorar sua carreira.
Ela chegou a declarar à Rolling Stone Magazine na ocasião: "essas sessões de gravação foram tão inspiradoras e tão saudáveis que restauraram minha fé na música a ponto de redespertar meu apetite para seguir em frente fazendo o que sei fazer melhor".
Convenhamos: não foi nada fácil ficarmos privados durante sete anos de uma das vozes mais lindas da história do pop mundial, capaz de transitar livremente por todos os gêneros musicais genuinamente americanos.
Sem contar que seu timbre na slide guitar é um dos mais marcantes que o blues e o rock and roll já tiveram o prazer de conhecer.
Pois dessa vez não foi necessário esperar tanto.
Bonnie Raitt está de volta com "Dig In Deep" (Redwing Records), seu vigésimo disco em 45 anos de carreira.
"Dig In Deep" é uma sequência à altura de "Slipstream". O tom dos dois discos é bastante semelhante. As diferenças estão basicamente no repertório e na produção.
Se em "Slipstream" Bonnie trabalhou prioritariamente com canções de amigos como Bob Dylan, Al Anderson e Randall Bramblett, aqui ele privilegia mais seu lado compositora, trazendo nada menos que cinco (ótimas) canções próprias que ela (felizmente) julgou dignas de ser gravadas. E apesar de Bonnie brilhar à frente de covers inusitados para "I Need You Tonight" (do INXS) e "Shakin' Shakin' Shakes" (do Los Lobos), os destaques aqui vão justamente para essas canções próprias -- em particular para "The Coming Round Is Going Through", "The Ones We Couldn't Be" (dedicada a seus pais e a seu irmão) e a adorável faixa título, em que ela homenageia todos os que acompanham sua carreira há quase meio século.
Detalhe: dessa vez Bonnie dispensou o amigo Joe Henry e assumiu a produção do disco sozinha, o que indica claramente que ela está em busca de desafios -- apesar de sua experiência anterior com antoprodução, no LP "Souls Alike" (2005), não ter sido lá muito feliz. Mas considerando que Bonnie acaba de sair de uma tournée longa, onde teve a oportunidade de amadurecer e testar ao vivo várias dessas novas canções, podemos presumir que não tenha sido complicado para ela encarar a autoprodução do disco com boa parte das novas canções já devidamente azeitadas na estrada. Se ao se autoproduzir em "Dig In Deep" a intenção de Bonnie era se redimir de algum eventual trauma resultante de críticas pouco favoráveis a sua primeira experiência como produtora, eu diria que ela conseguiu seu intuito, pois deu tudo certo dessa vez.
Enfim, Bonnie Raitt está de volta aos 66 anos de idade, madura e intrépida, com mais um belo disco a tiracolo, e à frente de uma banda impecável, pronta para cair na estrada pelo mundo afora, composta por veteranos tarimbadíssimos como Mike Finnigan (teclados), George Marinelli (guitarra), James "Hutch" Hutchinson (Baixo) e Ricky Fattar (bateria).
Na medida em que existe a possibilidade dessa tournée mundial passar aqui pelo Brasil no segundo semestre deste ano, só nos resta torcer para que nossa adorável Ruiva da Statocaster, legítima herdeira musical de Lowell George, inspire a imensa maioria de nossos "guitarristas de blues", espalhafatosos como eles só, a concluir que para alcançar um acorde verdadeiramente bluesy na slide guitar, menos é sempre mais.
Quem viu Bonnie homenageando B B King de forma magnífica na Festa dos Grammies deste ano, sabe bem do que estou falando.
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