Garland Jeffreys é o tipo de artista que os americanos costumam identificar como sendo "the best thing that never happened".
Mezzo portoriquenho, mezzo negro e dono de olhos azuis que indicam sangue de outras procedências, Mr. Jeffreys sempre foi cultuado como uma espécie de gênio desalinhado pela comunidade roqueira, mas nunca foi devidamente absorvido pela comunidade soul e pela comunidade musical latina.
Daí, acabou virando um herói musical do Brooklyn e do Harlem, tornando-se pouco conhecido além dessas vizinhanças.
Sua música sempre desafiou classificações de gênero, mesclando rock, blues, soul, reggae e influências latinas com uma naturalidade de enlouquecer o pessoal da Billboard Magazine.
Com pouco mais de uma dúzia de LPs gravados ao longo de 45 anos de uma carreira bem acidentada, vários produtores bem que tentaram fazer com que seu enorme talento coubesse num LP.
E em duas ou três ocasiões, quase conseguiram.
A primeira vez que se ouviu falar no nome Garland Jeffreys foi em 1969, quando John Cale, recém-saído do Velvet Underground, gravou seu primeiro LP solo pela Columbia Records.
O disco se chamava "Vintage Violence", e trazia uma lindíssima composição de Mr. Jeffreys -- que era muito amigo de Cale -- intitulada "Fairweather Friend", em que ele cantava também.
E como cantava...
Logo no início de 1970, o nome Garland Jeffreys surgiria na capa de um LP do grupo de folk-blues Grinder's Switch -- não confundir com o Grinderswitch, banda de southern rock do segundo time da Capricorn Records em meados dos Anos 70 --, formado por amigos seus que moravam em Woodstock.
E como cantava...
Logo no início de 1970, o nome Garland Jeffreys surgiria na capa de um LP do grupo de folk-blues Grinder's Switch -- não confundir com o Grinderswitch, banda de southern rock do segundo time da Capricorn Records em meados dos Anos 70 --, formado por amigos seus que moravam em Woodstock.
Lançado pele selo independente Vanguard, o Lp em questão não chamou a atenção de ninguém, e logo ele foi sondado e contratado por uma gravadora poderosa -- a Atlantic Records --, que parecia muito interessada em suas habilidades como compositor, mas não sabia ao certo o que fazer com ele como artista solo.
Então, em 1973, ele finalmente estreou solo num LP muito bom, intitulado simplesmente "Garland Jeffreys", com excelentes canções e um aparato promocional bastante razoável.
Mas infelizmente o LP tinha mais a cara musical do produtor -- o lendário Dr. John MacRebbenack -- do que a cara dele -- e, talvez por conta disso, acabou passando totalmente desconsiderado por crítica e público.
E mais uma vez, a tão aguardada estreia em disco de Garland Jeffreys acabou adiada.
Garland Jeffreys permaneceu um ilustre desconhecido ao longo dos anos 70.
Mas infelizmente o LP tinha mais a cara musical do produtor -- o lendário Dr. John MacRebbenack -- do que a cara dele -- e, talvez por conta disso, acabou passando totalmente desconsiderado por crítica e público.
E mais uma vez, a tão aguardada estreia em disco de Garland Jeffreys acabou adiada.
Garland Jeffreys permaneceu um ilustre desconhecido ao longo dos anos 70.
Só que um ilustre desconhecido com amigos influentes, como Lou Reed, Bob Marley e James Taylor.
Que, por sua vez, não se conformavam com o fato de Mr. Jeffreys ter estreado de forma tão torta, e estar demorando tanto para conseguir dar o pontapé inicial em sua carreira.
Pois esses amigos não sossegaram enquanto não conseguiram para ele um contrato decente com alguma gravadora, que lhe desse direito a liberdade artística e a escolher seu produtor.
Que, por sua vez, não se conformavam com o fato de Mr. Jeffreys ter estreado de forma tão torta, e estar demorando tanto para conseguir dar o pontapé inicial em sua carreira.
Pois esses amigos não sossegaram enquanto não conseguiram para ele um contrato decente com alguma gravadora, que lhe desse direito a liberdade artística e a escolher seu produtor.
E então nasceu "Ghost Writer" (1976), produzido e arranjado por David Spinozza para a A&M Records, um dos discos mais emblemáticos e urgentes da cena novaiorquina pré-punk.
Repleto de canções espetaculares, "Ghost Writer" ganhou visibilidade nacional e internacional embalado pelo sucesso de outros artistas novaiorquinos ascendentes como Bruce Springsteen -- que acabara de lançar "Born To Run" -- e Patti Smith -- que estava explidindo com "Horses".
Repleto de canções espetaculares, "Ghost Writer" ganhou visibilidade nacional e internacional embalado pelo sucesso de outros artistas novaiorquinos ascendentes como Bruce Springsteen -- que acabara de lançar "Born To Run" -- e Patti Smith -- que estava explidindo com "Horses".
"Ghost Writer" emplacou logo de cara nas paradas o single "Wild In The Streets/35 Milimeter Dreams", um caso raro em que tanto o lado A quanto o lado B tocaram sem parar nas rádios na época.
Graças a isso, a carreira de Mr. Jeffreys finalmente escalou o Top 50 nos dois lados do Oceano Atlântico, garantindo a ele 5 ou 6 anos de tournées constantes e contratos que lhe permitiram gravar LPs anuais sempre bem recebidos por crítica e público.
Graças a isso, a carreira de Mr. Jeffreys finalmente escalou o Top 50 nos dois lados do Oceano Atlântico, garantindo a ele 5 ou 6 anos de tournées constantes e contratos que lhe permitiram gravar LPs anuais sempre bem recebidos por crítica e público.
Infelizmente, depois de dois ótimos LPs para a A & amp; M e Outros dois para a Columbia, Garland Jeffreys começou a perder o foco de sua Carreira.
Um flerte desastrado com o mainstream no LP "Guts For Love", produzido pelo inadequadíssimo Bob Clearmountain, o levou a um fiasco retumbante em vendas.
E esse fiasco retumbante levou a carreira de Mr. Jeffreys para a mesma vala comum em que vários outros artistas muito talentosos e sem contrato com gravadoras -- Warren Zevon, John David Souther, Gene Clark, Tony Joe White, Tom Waits, etc. -- também afundaram no início dos Anos 80.
E esse fiasco retumbante levou a carreira de Mr. Jeffreys para a mesma vala comum em que vários outros artistas muito talentosos e sem contrato com gravadoras -- Warren Zevon, John David Souther, Gene Clark, Tony Joe White, Tom Waits, etc. -- também afundaram no início dos Anos 80.
Pensando bem: em plena "Era Thriller", nada mais natural que nenhuma grande gravadora demonstrar interesse em comprar o passe de artistas com perfis diferenciados.
Para Garland Jeffreys, o jeito foi seguir de mala e cuia para a cena alternativa, onde acabou se saindo relativamente bem, gravando discos esporádicos e circulando por faixas de público cada vez mais específicas.
A essa altura do campeonato, já são 35 anos como artista independente na cena americana.
Sempre escapando com alguma frequência para a Europa e Japão, onde nunca deixou de ter uma excelente acolhida de público.
E onde até hoje recebe tratamento de estrela.
Para Garland Jeffreys, o jeito foi seguir de mala e cuia para a cena alternativa, onde acabou se saindo relativamente bem, gravando discos esporádicos e circulando por faixas de público cada vez mais específicas.
A essa altura do campeonato, já são 35 anos como artista independente na cena americana.
Sempre escapando com alguma frequência para a Europa e Japão, onde nunca deixou de ter uma excelente acolhida de público.
E onde até hoje recebe tratamento de estrela.
Pois Garland Jeffreys está de volta com "14 Steps To Harlem" (Luna Park Records, USA), mais um belo disco que, se por um lado não traz grandes novidades, por outro serve para deixar 3 coisas bem claras a respeito dele:
1. Aos 73 anos de idade, Mr. Jeffreys continua em plena forma, tanto como performer quanto como compositor.
2. Na medida em que gravou nada menos que 3 LPs nos últimos 6 anos, essa regularidade colocou Mr. Jeffreys de volta na cena musical e permitiu a ele se autopromover melhor, ficando livre daquelas pautas irritantes que a Imprensa de Variedades adora, do tipo "Por Onde Anda..." ou "O Que Foi Feito de..."
3. Depois de todos esses anos, sua musicalidade mestiça finalmente acabou sendo aceita como traço estilístico, e agora Mr. Jeffreys consegue ser trabalhado perante o público como "um artista de rock and roll de Nova York", seja lá o que isso signifique.
As novas canções de Garland Jeffreys falam sobre o passado, sobre sua trajetória até aqui, sobre as alegrias e os amigos, e sobre as dificuldades que passou e as perspectivas de futuro que insistem em mantê-lo vivo, ativo e sempre pronto para o próximo desafio.
São relatos de vida vigorosos e cativantes, que tornam essas canções muito especiais.
Além dessas novas dez canções autorais, que promovem o tour habitual por todas as suas predileções musicais -- tem rock, blues, soul, reggae e sonoridades latinas as mais diversas --, Mr. Jeffreys escolheu para fechar "14 Steps To Harlem" dois covers sensacionais como uma homenagem a dois grandes artistas de Nova York.
O primeiro deles é John Lennon.
Mr. Jeffreys faz uma releitura bem lenta e soulful de "Help", do repertório dos Beatles, e praticamente reinventa esse número emblemático, tomando-o para si próprio de forma impressionante.
E o segundo é Lou Reed, um grande amigo seu, que é homenageado com uma versão muito curiosa e streetwise para o clássico dos tempos do Velvet Underground “I’m Waiting for My Man”.
Para completar, Laurie Anderson, viúva de Reed, toca violino de forma arrebatadora na belíssima balada que encerra o disco: “Luna Part Love Theme”.
E quando o disco termina, a choradeira é inevitável.
Canção lindíssima!
"14 Steps To Harlem" é um disco um pouco mais leve e mais positivo que seus antecessores.
Apesar da maioria das canções falar de amor, de dificuldades do dia a dia e dos "generation gaps" que existem na visão de mundo dele e das novas gerações, nada pesa demais nessa nova seleta de canções.
Sua nova banda, composta por músicos jovens e não muito conhecidos, formula performances coesas e muito intensas sob a orientação do produtor e arranjador James Maddock.
Garland, como de hábito, acertou em cheio na escolha de seu novo produtor e seus novos bandmates; todos se esforçaram para proporcionar molduras musicais impecáveis para o ótimo repertório do disco.
Graças a essa toda essa integração temática e musical que flui em "14 Steps To Harlem", não me parece nenhum exagero afirmar que esse novo disco de Garland Jeffreys não só deve agradar em cheio aos velhos fãs como tem sérias chances de cativar novos admiradores que poderão talvez descobrir o quanto ele foi importante na formação de artistas mais jovens como Ben Harper e Alexandro Escovedo.
Está mais do que na hora de Garland Jeffreys voltar a ter um público mais extenso.
AMOSTRAS GRÁTIS
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