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quinta-feira, setembro 04, 2014

RYAN ADAMS DEIXA OS EXAGEROS DE LADO E VOLTA ECONÔMICO, PRECISO E INSPIRADO.


Por muitos anos, correu na cena alt-country americana uma piadinha que apontava o cantor, compositor e roqueiro de garagem Ryan Adams como o único "workaholic alcooholic" do show business.

O motivo da piada -- além de suas constantes bebedeiras públicas -- é o volume impressionante de composições que ele publicava e gravava todo ano, em discos sempre muito longos e, vez ou outra, cansativos.

Ryan é exagerado desde sempre.

Sempre produziu com facilidade desde que começou a compor aos 14 anos, e graças a isso nunca teve dificuldades em liderar e abastecer com novas canções suas primeiras bandas na década de 90: The Patty Duke Syndrome e a lendária Whiskeytown, que era tido como uma espécie de "Nirvana Alt-Country".

Mas ele sempre teve dificuldade em escolher entre as muitas canções que compunha.

Na dúvida, gravava e publicava todas, e isso às vezes virava um problemaço. Para se ter uma idéia, houve um ano em que Ryan lançou nada menos que 3 discos com canções inéditas.

Ecomo quantidade e qualidade raramente andam juntas, logo ficou claro que o que Ryan tinha de de prolífico, seu trabalho tinha de irregular.


Verdade seja dita, não era bem assim no início de sua carreira solo.

Ele já foi mais comedido, prova disso são os discos que ele gravou entre 2000 e 2003.

Mas começou a errar a mão, pecar pelo exagero e nunca mais conseguiu produzir discos tão gabaritados quanto os que gravou no início de sua carreira solo.

E então, de três anos para cá, vários problemas pessoais obrigaram Ryan Adams a sair de cena: um divórcio litigioso, saúde debilitada, abstinência alcoólica compulsória e uma infecção nos ouvidos que quase o deixou surdo.

Sua vida pessoal virou um inferno.

Com isso, ele deixou sua carreira meio de lado e passou a produzir discos para alguns artistas amigos


Mas sobreviveu.

E agora, recuperado de tudo isso -- inclusive do alcoolismo -- Ryan está de volta, e com o melhor disco de sua carreira até agora

O nome do disco sinaliza um recomeço: é apenas "Ryan Adams".

É um trabalho primoroso, produzido por Ryan e seu velho parceiro Mike Viola, que teve um histórico bastante acidentado, mas felizmente resultou num triunfo artístico.

(esse disco teve uma versão anterior gravada ano passado produzida pelo veterano Glyn Johns -- que também produziu seu disco anterior, "Ashes & Fire" --, mas Ryan detestou o produto final a ponto de vetar o lançamento do disco, alegando ser "slow, adult shit", isso apesar de ter custado a "bagatela" de 100 mil dólares)

Os arranjos das 11 canções de "Ryan Adams" são extremamente delicados e de um bom gosto a toda prova, graças ao alto calibre dos músicos envolvidos no projeto -- Benmont Tench nos teclados, Jeremy Stacey na bateria, Cindy Cashdollar no pedal steel guitar, Ethan Johns na guitarra e Don Was no baixo.

A orientação musical oscila entre o rock and roll rasgado e o power pop bem melódico que seus fãs de Adams conhecem muito bem.

Não é um disco que vá provocar qualquer tipo de estranhamento em seus ouvintes.

A grande novidade aqui é a falta de urgência da maioria das canções, e também a diversidade de tons ao longo do disco -- além, é claro, de ser sua estréia na Blue Note Records, gravadora tradicionalmente jazzística.

As 11 canções desse "Ryan Adams" ganham o ouvinte logo de cara, apesar de não serem exatamente canções fáceis.

Todas são, claro, exemplos muito bem acabados do talento desse grande artesão pop, que não só continua no topo de seus poderes como cantor e compositor, como faz questão de deixar claro que ainda tem muita lenha para queimar.


Essa aposta franca no exagero, tanto na sua produção artística quanto na sua vida pessoal, custou muito caro para Ryan Adams.

Em troca, recebeu a indiferença de parte de seu público, que deixou de acompanhar sua carreira.

Agora, depois de muitos discos longos e dispersos que quase ninguém ouviu, Ryan Adams parece ter finalmente achado a medida certa para embalar seu trabalho.

Permanece um artista inquieto e nada fácil de se lidar, mas o produto final de seu trabalho não sofre mais as consequências de suas idiossincrasias.

Meno male.




WEBSITE OFICIAL
http://paxamrecords.com/

DISCOGRAFIA
http://www.allmusic.com/artist/ryan-adams-mn0000808336/discography

AMOSTRAS GRÁTIS

terça-feira, agosto 12, 2014

TOM PETTY AND THE HEARTBREAKERS RETOMAM SEU IMAGINÁRIO PSICODÉLICO EM PLENO 2014.



Taí uma banda que sempre enganou todo mundo com uma atitude aparentemente despretensiosa e um sorriso nos lábios indicando que só queriam mesmo é fazer "good time music".

Tudo conversa mole.

Logo no terceiro disco, "Damn The Torpedos" (1979), já não havia mais a menor dúvida de que Petty era um cantor com um timbre único e um compositor de primeira grandeza, e ao menos dois de seus escudeiros nos Heartbreakers -- o guitarrista Mike Campbell e o tecladista Benmont Tench -- eram músicos extremamente criativos que, bem aproveitados, levariam a banda muito longe.


Pois foi o que aconteceu.

A carreira espetacular de Tom Petty & The Heartbreakers fala por si própria.

Agora, 38 anos depois de estrearem na lendária Shelter Records de Leon Russell com um disco repleto de sonoridades psicodélicas envolventes, ainda que meio fora de época, eis que nossos bravos rapazes retornam mais uma vez com uma nova coleção de canções naquele mesmo tom de seu distante LP de estréia.


"Hypnotic Eye" é um álbum denso, envolvente, com melodias inusitadas e saídas musicais extremamente criativas que se por um lado remetem ao passado da banda, por outro demonstram uma atitude musical madura e atual.

É menos bluesy e menos truculento que o anterior "Mojo", mas é tão vigoroso quanto.

Canções como "American Dream Plan B", que abre o disco de forma inusitada, e "All You Can Carry" e "Shadow People" estão entre os números mais marcantes de toda a carreira do grupo.

E é tão bem tocado que engana mais uma vez o ouvinte desavisado que não conseguir perceber a sintonia fina dos músicos enquanto alinhavam o formato derradeiro dessas novas canções.


Quando dizem que Tom Petty & The Heartbreakers vem na mesma tradição musical de The Band, acreditem: não há exagero.

Apenas a constatação de que a soma dos fatores às vezes multiplica o produto final.

Com certeza foi isso que Bob Dylan viu neles quando os convidou para ser sua banda de estrada nos Anos 80.

E com certeza é isso que -- curiosamente -- faz desses velhos rapazes da Florida a melhor banda californiana dos últimos... vai, 38 anos!


Moral da história: não se deixe enganar pelo "low profile" do Tom Petty & The Heartbreakers.

Eles sempre produziram música de primeira. Música intrincada, rock and roll extremamente vertebrado.

E continuam produzindo. Em grande estilo.

Só que sem dar bandeira.






WEBSITE OFICIAL
http://www.tompetty.com/?frontpage=true

DISCOGRAFIA
http://www.allmusic.com/artist/tom-petty-the-heartbreakers-mn0000614137/discography

AMOSTRAS GRÁTIS