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sexta-feira, novembro 09, 2012

JOHN CALE CHEGA AOS 70 ANOS DE IDADE FLERTANDO COM O CORAÇÃO DAS TREVAS


John Cale é um daqueles casos raros em que um talento enorme e múltiplo acaba roubando o foco de uma carreira que tinha tudo para ser estelar, e que, por algum motivo, não conseguiu ser.

Nascido em uma família de classe operária em Wales, na Grã-Bretanha, Cale se revelou um músico prodígio muito cedo, e ganhou bolsas para estudar música tanto em Londres quanto em Nova York -- sob a tutela de grandes mestres como Aaron Copland e Leonard Bernstein.

Mas foi sua paixão por música avant-guarde que o levou a se aproximar de mestres do gênero em diversas modalidades artística. Conheceu Andy Warhol, e acabou convidado para dar um tom experimental a uma banda de rock composta por uma Nico, uma cantora alemã um tanto quanto sombria, e alguns analfabetos musicais extremamente talentosos, comandados por Lou Reed, nos quais Andy estava apostando.

Essa banda era, claro, o Velvet Underground. E as idéias musicais arrojadas de Cale, em contraponto às baladas e rocks rasgados de Reed, acabaram sendo o grande diferencial dos dois primeiros LPs do Velvet.

Infelizmente, as dificuldades de relacionamento entre os dois não foram poucas, e acabaram levando a um racha dentro da banda.

Nico e Cale seguiram caminhos diferentes do Velvet -- que, desse ponto em diante, deixou os experimentalismos de lado e passou a apostar exclusivamente no rock and roll urbano mais contundente de que se tem notícia até hoje.



Foi a partir daí que a carreira de Cale se subdividiu em diversas frentes.

Havia o John Cale produtor e arranjador, que impulsionou de forma brilhante carreiras de músicos os mais diversos, como Nico, Jonathan Richman, Patti Smith, Iggy Pop e vários outros.

Havia também o John Cale artista erudito, que fazia experiências avant-guarde com LaMonte Young e Terry Riley, além de trilhas sonoras para filmes e uma série magnífica de discos com composições para piano e orquestra para o selo francês Crepuscule Disques.

E, para completar, havia o John Cale artista popular, com um trabalho musicalmente acessível, que aborda temas filosóficos, psicológicos e poéticos, e que possui uma discografia extensa e de alto gabarito artístico -- mas infelizmente sem grande apelo popular.


Pois é justamente desse John Cale que vamos falar aqui.

"Shifty Adventures In The Nookie Wood", seu mais novo disco, é um trabalho que aposta numa levada roqueira e sombria que remete aos primeiros anos de sua carreira solo, em LPs como "Paris 1919", "Fear" e "Slow Dazzle". Mas que, curiosamente, também mantém uma levada eletrônica semelhante à de alguns dos últimos cds gravados por David Bowie antes de se aposentar. Considerando que tanto Bowie quanto Cale trocam figurinhas constantemente com Brian Eno, nada a estranhar.

A maioria das canções dos disco chama a atenção pela contundência nos temas abordados e pelas melodias que grudam nos ouvidos logo na primeira audição -- apesar de alguns arranjos exageradamente eletrônicos, que vez ou outra conspiram contra as próprias canções.

Claro que esses exageros fazem todo o sentido do mundo na mente barroca avant-guarde de John Cale.

"Shifty Adventures In The Nookie Wood", assim como outros discos de John Cale, funciona como um jogo de espelhos. A linda e obsessiva faixa de abertura, "I Wanna Talk 2 U", gravada com a coleboração de Danger Mouse, já dá logo de cara o tom soturno e surreal da viagem que vem pela frente. Vem seguida pela envolvente 'Scotland Yard". Que engata em "Hemingway", uma homenagem ao espírito indômito e ao coração sombrio do grande escritor americano.

Daí para a frente, somos engolidos pela esquizofrenia musical de Cale, onde baladas lindíssimas como "Living With You" e "Flying Dutchman" se misturam com canções enigmáticas como "Midnight Feast", "Face To The Skies" e "December Rains", sempre seguindo a musicalidade "berlinense" que sempre emoldurou muito bem a voz gutural de Cale.

Não é uma viagem musical das mais leves.

Mas é intensa.



No geral, "Shifty Adventures In The Nookie Wood" soa como uma radicalização do trabalho desenvolvido por John Cale em seus dois discos anteriores, "Hobo Sapiens" e "Black Acetate", fechando talvez uma trilogia de discos surreais e sombrios.

Traz John Cale em plena forma, esbanjando jovialidade e criatividade aos 70 anos de idade, e, ao mesmo tempo, fazendo uma revisão de suas motivações artísticas mais básicas -- e isso, por si só, já é uma excelente recomendação.

Benvindo âs idiossincrasias musicais e temáticas de "Shifty Adventures In The Nookie Wood".

Prepare-se para emoções loucas e intensas com John Cale.



BIO-DISCOGRAFIA
http://www.allmusic.com/artist/john-cale-mn0000224638

WEBSITE OFICIAL
http://john-cale.com/

AMOSTRAS GRÁTIS

sexta-feira, maio 11, 2012

ATÉ QUANDO É AGRESSIVA E DESAGRADÁVEL, NORAH JONES SOA DOCE E MAGNÍFICA



Eu tenho um caso sério com Norah Jones.

Desde o momento em que ouvi, dez anos atrás, “Come Away With Me”, seu primeiro disco solo -- onde ela mesclava jazz e pop com uma levada meio bluesy, e às vezes meio folk, mas sempre de extremo bom gosto – fiquei perdidamente enfeitiçado.

Confesso que, na ocasião, não achei original seu approach musical. 

Toda aquela salada que ela prepara alí já havia sido testada antes – mais precisamente no início dos anos 70 -- por artistas como Maria Muldaur, Wendy Waldman e Valerie Carter, que continuam por aí até hoje, mesmo não tendo sido tão bem sucedidas comercialmente quanto ela.
O caso é que havia algo de estranhamente cativante no trabalho de estréia de Norah Jones, do tipo “decifra-me ou te devoro” – que eu confesso que não consegui decifrar, e que me devorou.

Não era apenas a produção do especialista Arif Mardin. Nem a doçura e o alto gabarito dela como cantora e compositora. Era algo mais. Um equilíbrio muito delicado, e verdadeiramente arrebatador. E um mistério: como explicar que uma estreante como ela pudesse chegar à cena mainstream de forma tão determinada e incondicional?

Dez anos e seis discos se passaram e eu continuo sem entender que magia é aquela que vem de “Come Away With Me”, e de todos os outros álbuns solo dessa adorável cantora e pianista, filha de mãe texana e pai indiano – ninguém menos que o genial Ravi Shankar.

Seja lá o que for que emane de Norah Jones, permanece no ar, imagino que encantando a todos. E essa regra vale até mesmo para discos um pouco estranhos, como esse que ela acaba de lançar. 


“Little Broken Hearts” é o sexto trabalho solo de Norah Jones, e o mais aventuresco que ela gravou até agora.
                                                                                                              
Justo quando todos esperavam que -- por conta de seu tumultuado divórcio, muito noticiado pela Imprensa -- Norah fosse reaparecer em cena se rasgando toda e cantando “torch songs” no melhor estilo “Carly Simon vivendo sem James Taylor”, eis que ela surpreende a todos com o disco mais “up” de sua carreira.

"Little Broken Hearts" é dissimulado e envolvente. Nele, a doçura habitual de Norah Jones se esconde por trás de letras truculentas e até meio malcriadas, e suas canções ganham uma moldura sonora pop noir bem modernosa, providenciada pelo craque Danger Mouse, do Gnals Barkley.
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Quase tudo é espinho nos números aparentemente alegrinhos que compoem “Little Broken Hearts”. Na desconcertante “She´s 22”, por exemplo, ela pergunta candidamente a seu ex-amante se sua nova namorada, de apenas 22 anos, consegue fazê-lo feliz? Em “Say Goodbye”, em meio a um riff oriental, ela desdenha seu ex-amante e diz na cara dele, serenamente, que mentirosos como ele só merecem uma coisa: adeus. Mais da metade das canções do disco segue nesse tom.

Só lá pelas tantas, em “Traveling On”, Norah deixa a raiva um pouco de lado e assume sua atitude escapista. É quando as canções passam a ostentar novamente aquela doce melancolia que todos nós conhecemos muito bem de seus discos anteriores. Até chegar em “All A Dream”, faixa de encerramento do disco, em que ela reduz a zero, sem piedade e com uma delicadeza ímpar, o cidadão que inspirou todas as canções desse “Little Broken Hearts”.

É um álbum com a duração de um LP: 45 minutos de duação.

Extremamente climático já a partir da capa, que traz a sempre adorável Norah mais linda do que nunca, fazendo um tipo fatal bem inusitado.

Com certeza não vai agradar aos que encaram Norah Jones como uma artista de pop adulto com um estilo cristalizado. Mas revela uma faceta adorável de sua personalidade musical, que deve introduzí-la a uma nova faixa de público que aprecia as sonoridades muito envolventes de Danger Mouse e o Gnals Barkley.

Enfim, "Little Broken Hearts" é sob medida para fazer novos amigos e também para deixar velhos fãs babões como eu completamente extasiados.

Quer um conselho? Antes de descartar o disco por ser diferente demais, dê a ele uma segunda chance. E uma terceira, se necessário.

Essa menina merece, ela é demais...

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