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terça-feira, maio 22, 2012

LADIES AND GENTLEMEN, THIS IS TOM JONES!


Eu admiro Tom Jones desde menino.

Adorava seu programa de TV “This Is Tom Jones”, cheio de convidados muito especiais, que ia ao ar pela TV Record por volta de 1970. Não perdia um. Lembro bem do dia em que vi Ray Charles cantando lá. Se bem que lembro também de uns cantores bem cafonas -- como Engelbert Humperdinck e Caterina Valente -- que batiam o ponto por lá.

Os anos foram passando e, conforme fui crescendo, fui percebendo que, apesar de seu talento, Tom Jones era quase tão cafona quanto a maioria dos seus convidados, e que os arranjos da orquestra que o acompanhava eram de gosto altamente dicutível.

Custei a entender como alguém com uma voz tão espetacular quanto a dele podia escolher tão mal seu repertório, alternando verdadeiras aberrações como “Delilah” e “Help Yourself” com números espetaculares como “She´s a Lady” e “It´s Not Unusual”.

Mais alguns anos se passaram, e vi Tom Jones indo direto para o fundo do poço, virando cantor country em discos deploráveis e cada vez mais prisioneiro da cena artística decadente de Las Vegas.


A partir dos anos 90, no entanto, Tom Jones cansou daquilo tudo, voltou para a Inglaterra e começou a flertar com o pop mais modernoso feito por lá, saindo em em busca do lugar ao sol na cena musical que, até palavra em contrário, era seu por direito. 

Primeiro com aquela gravação espetacular de "Kiss", de Prince, com o pessoal do Art Of Noise, que sacodiu as pistas de dança do mundo inteiro. 

E depois, com o magnífico álbum de duetos "Reload!", onde desfila um repertório bem moderno e contracena com grandes estrelas do rock e do pop, num verdadeiro triunfo artístico.

De lá para cá, ele vem gravando um disco melhor que o outro, sempre agradando crítica e público, e resgatando a dignidade de sua carreira a olhos vistos.


“Spirit In the Room”, recém-lançado, é o disco mais despojado de Tom Jones em toda a sua carreira.

Produzido por Ethan Johns, oscila entre o folk e o gospel em números sempre levados no violão ou na guitarra com uma base rítmica bem simplificada.

É curioso constatar o quanto Tom Jones demonstra estar à vontade nesse contexto -- justo ele, habituado a disparar seu vozeirão sobre instrumentações exageradas.

“Spirit In the Room” abre com uma versão delicadíssima para “Tower Of Song”, de Leonard Cohen, simplesmente de arrepiar, 

E o que vem a seguir é impressionante: canções nada óbvias -- e escolhidas a dedo -- dos songbooks de Paul McCartney, Paul Simon, Richard Thompson, Joe Henry e Tom Waits, uma mais linda e sob medida para sua voz que a outra.

Tom Jones está atualmente com 72 anos de idade, e a 2 anos de completar 50 anos de carreira. Continua cantando muito bem, e sua voz não parece dar sinais de cansaço -- se bem que muito do exibicionismo vocal que ele ostentava em sua juventude parece estar totalmente fora de questão no seu trabalho atual, sempre pautado com muita sensatez pelo "menos é mais".

"Spirit In The Room" faz para a carreira de Tom Jones algo semelhante ao que a série "American Recordings" -- produzida "no osso" por Rick Rubin -- fez por Johnny Cash. Não é um projeto tão radical -- mas é tão intenso quanto, e fornece a dimensão real da sua grandeza artística.

Escutem a gravação que ele fez para o blues "Soul Of A Man", de Blind Willie Johnson, e me digam se esse bravo senhor galês de um metro e meio de altura não canta como um gigante?

Vida longa a Mr. Tom Jones!



INFO:
http://www.allmusic.com/artist/tom-jones-p13357/biography

DISCOGRAFIA:
http://www.allmusic.com/artist/tom-jones-p13357/discography

WEBSITE OFICIAL:
http://www.tomjones.com/

AMOSTRAS GRÁTIS:

quarta-feira, junho 01, 2011

SENHORAS E SENHORES... THE KINKS


“Eu gosto de contar histórias. Se não gostasse, não teria virado compositor. É o que sei fazer melhor na vida.” (Ray Davies)


“Eu adoro quando gravam minhas canções e dão a elas um toque que eu não soube ou não pude dar quando as gravei frente dos Kinks. Eu fico arrepiado sempre que escuto Tom Jones cantando “Sunny Afternoon”, por exemplo. Aquilo é simplesmente estupendo.” (Ray Davies)



“É complicado gravar um LP como See My Friends. Você vira uma espécie de Buda e todo mundo envolvido no projeto quer saber como você acha que deve ser isso ou aquilo. Demora até relaxar. Mas quando isso finalmente acontece, o prazer de contracenar com grandes artistas como esses é indescritível.” (Ray Davies)


“Minha parceria com meu irmão Dave Davies sempre fluiu perfeitamente bem. É engraçado, sempre que eu vejo um filme muito bom, como esses últimos dos Irmãos Coen, eu penso: Puxa, que pena que Dave não está aqui! Quando ouço alguma coisa surpreendente, e ele não está por perto, ligo imediatamente e aviso para que ele também ouça. É assim que nós funcionamos.” (Ray Davies)


“É engraçado como minhas primeiras canções tinham letras curtas e grossas e as canções dos meus dois discos solo são extensas. Quem diria que, com a idade, o texto das minhas canções iria ficar novelístico.” (Ray Davies)


LPS THE KINKS
Kinks (1964)
Kinda Kinks (1965)
The Kink Kontroversy (1965)
Kinkdom (1965)
Kinks-Size (1965)
You Really Got Me (1965)
United Kinksdom (1966)
Face To Face (1966)
Something Else By The Kinks (1967)
Live At Kelvin Hall (1968)
The Village Green Preservation Society (1968)
Arthur (1969)
Lola Vs The Powerman & The Money-Go-Around (1970)
Muswell Hillbillies (1971)
Percy (1971)
Everybody´s In Showbiz (1972)
The Great Lost Kinks Album (1973)
Preservation Act #1 (1973)
Preservation Act #2 (1974)
A Soap Opera (1975)
Schooboys In Disgrace (1975)
Sleepwalker (1977)
Misfits (1978)
Low Budget (1979)
One For The Road (1980)
Give The People What They Want (1981)
State Of Confusion (1983)
Word Of Mouth (1984)
Think Visual (1986)
Road (1988)
UK Jive (1989)
Phobia (1993)
To The Bone (1994)

LPS RAY DAVIES SOLO
Return To Waterloo (1985)
The Storyteller (1998)
Opther People´s Lives (2006)
Working Man´s Café (2007)
The Kinks Choral Collection (2010)
See My Friends (2011)
WEBSITE OFICIAL
http://www.raydavies.info/www/main.php?content=news

terça-feira, abril 26, 2011

HUGH LAURIE E MARCIA BALL LEVAM A MÚSICA DE NEW ORLEANS PARA UM PÚBLICO MAIS AMPLO (por Chico Marques)


Pode até parecer exagero, mas certamente não é absurdo dizer que a música da região de New Orleans fez mais amigos pelo mundo afora nos últimos 50 anos do que em território americano. A cena do blues britânico, por exemplo, deve tanto a músicos do Estado da Louisiana -- como o gaitista Slim Harpo e guitarristas como Pee Wee Crayton e Guitar Slim – quanto aos grandes medalhões do gênero em Memphis e Chicago. A cena musical caribenha não seria o que é hoje se jamais tivesse tomado contato num determinado momento com o swing contagiante de Earl King, Snooks Eaglin e Fats Domino. E o jazz eletrificado de Miles Davis e Cia. só escapou dos muitos becos sem saída surgidos na primeira metade da década de 1970 porque bebeu na fonte inesgotável de ritmos e cores musicais que a Crescent City – apelido tradicional de New Orleans -- sempre ostentou.

Como bem notou o saudoso crítico de jazz do The New York Times, Robert Palmer, apesar de New Orleans ficar bem na foz do Rio Mississipi, o blues da Louisiana é um primo meio distante do blues da região do Delta, onde o gênero teria nascido. Sua afinidade maior sempre foi com o blues de Memphis e Kansas City. O fato é que a música que vem do “melting pot” de New Orleans descende do jazz, e é muito marcada tanto pelos ritmos africanos que eram praticados em Congo Square quanto pelo piano sempre afinado com tubas, trombones, trumpetes e saxofones. Na Louisiana -- e só lá -- quem toca guitarra ou harmônica é obrigado a fugir da musicalidade rudimentar do Delta do Mississipi para buscar harmonias mais complexas -- sob o risco de ficar desenturmado musicalmente.


O blues da Louisiana se mesclou muito facilmente com o jazz e o rhythm & blues, e isso sempre atrapalhou a classificação das diversas modalidades musicais da cidade nas paradas de sucesso nacionais. Nos anos áureos do rock and roll, ninguém sabia dizer ao certo se artistas como Earl King e Fats Domino podiam ser classificados como tal. Na dúvida, os dois acabaram preteridos. No auge do sucesso de Aretha Franklin e Otis Redding, ninguém sabia dizer ao certo se Irmã Thomas e Allen Toussaint também eram artistas soul. Na dúvida, também ficaram de lado. Só na explosão funk dos anos 70 não houve dúvidas: os veteranos The Meters e os emergentes The Neville Brothers eram o que havia de melhor e mais representativo no gênero. Daí em diante, nunca mais a música de New Orleans ficou fora do mapa musical pop americano.

Se somarmos isso à consolidação do New Orleans Jazz & Heritage Festival como um grande evento cultural internacional ao longo dos últimos 25 anos, e à desistência do pessoal da revista Billboard em fazer a música da cidade caber em nomenclaturas pouco adequadas e sempre desconfortáveis, podemos entender o prestígio artístico que o Estado da Louisiana ostenta atualmente e o fascínio que desperta em gente no mundo inteiro.

Que o digam alguns forasteiros ilustres, como o inglês Hugh Laurie e a texana Márcia Ball.


Hugh Laurie é um admirador incondicional da música de New Orleans há muitos anos. Todo mundo o conhece como o idiossincrático Dr. Gregory House do seriado de TV “House MD”, mas poucos sabem que ele começou sua carreira como músico e comediante na BBC-TV, onde fez por mais de dez anos um show de muito sucesso ao lado de seu grande amigo e padrinho artístico Stephen Fry. Nascido em Oxford, em 11 de Junho de 1969, Hugh Laurie trocou seu sotaque da Velha Inglaterra pelo da Nova Inglaterra, e foi tentar a sorte no cinema americano, mudando de mala e cuia para Los Angeles. Depois de alguns filmes infantis, e outros que quase ninguém viu, deixou o cinema de lado para tentar a sorte na telinha. Hoje é o ator mais bem pago da TV americana. Mais até que o ruidoso Charlie Sheen.

Fiel ao espírito que fez dele um artista completo na saudosa dobradinha com Stephen Fry, Hugh Laurie nunca deixou a música sair de sua vida artística. Insistiu com os produtores de “House MD” para que mantivessem num canto do apartamento do turbulento doutor um piano meia cauda e algumas guitarras e violões pendurados na parede. Vez ou outra, quando não está assistindo corridas de Monster Trucks ou seriados médicos de quinta categoria, o Dr. House sai tocando algum dos instrumentos em sua sala de estar. E como essas intervenções musicais sempre tiveram uma boa acolhida do público, não foi difícil convencer os executivos da Warner Bros Records a contratá-lo para gravar.


Daí nasceu “Let Them Talk”, seu LP de estréia, um mergulho fascinante na história do blues e do rhythm & blues de New Orleans. Produzido pelo talentosíssimo Joe Henry com apoio de alguns dos melhores músicos de estúdio do extremo sul dos Estados Unidos, Laurie abre seu recital bluesy com uma versão instrumental ao piano da centenária “St. James Infirmary”, para em seguida dar panorâmicas (não necessariamente cronológicas) na diversidade musical da cidade ao longo de todo o Século 20. "Let Them Talk" lembra um pouco o projeto “Going Back To New Orleans”, de Dr. John, mas não é tão pretensioso quanto. Pretende – e consegue -- ser um trabalho de blues honesto, mas também denso, climático, aventuresco, ainda que sempre em tom menor – recurso que facilita a colocação da voz pouco potente, mas muito expressiva, de Laurie. Uma bela estréia, que conta com participações muito inspiradas de Dr. John, Allen Toussaint, Irmã Thomas e Tom Jones.


Já Márcia Ball é um caso à parte. Nascida em 20 de Março de 1949 na cidade de Orange -- epicentro do chamado “triângulo texano”, que incluí parte do Texas e parte da Louisiana, de onde vieram grandes figuras como Janis Joplin, Johnny & Edgar Winter, Clifton Chenier e Lonnie Brooks --, ela aprendeu a tocar piano ainda menina, e aos poucos foi dominando os principais estilos do blues: o barrelhouse, o stride e, claro, o boogie woogie. Marcia Ball nunca quis ser propriamente uma artista de blues. Sua música é deliciosamente híbrida e tipicamente de New Orleans. Cada um dos LPs que ela gravou ao longo dos últimos 30 anos é uma aventura musical diferente, onde ela sempre exercita suas habilidades como pianista, compositora, cantora e band leader.



Seu novo trabalho para a Alligator Records, “Roadside Attractions”, não é uma exceção à regra. Com uma banda afiada e um repertório cheio de atitude e sem altos e baixos, Márcia Ball não deixa dúvidas de que, aos 63 anos de idade, continua esbanjando jovialidade e se renovando ano após ano. Quem a viu ao vivo em São Paulo com sua banda dois anos atrás sabe exatamente do que estou falando. Podem ter certeza que o Ball de seu sobrenome não está lá à toa.


Felizmente, foi-se o tempo em que grandes artistas de New Orleans e outros centros musicais do sul dos Estados Unidos tinham que se mudar para a Europa para conseguir reconhecimento artístico e cachês decentes. Hoje é possível para uma artista como Márcia Ball, por exemplo, fixar residência em Austin, Texas, e circular boa parte do ano só pelo circuito de nightclubs e roadhouses americanos e canadenses, com casa cheia todas as noites. Assim como também é possível que um grande astro do horário nobre da TV americana como Hugh Laurie possa incorporar seu gênero musical favorito -- ainda que pouco popular -- às preferências pessoais de seu personagem mundialmente famoso, e levar isso ao grande público sem maiores traumas.

Para todos aqueles que ainda hoje acham que blues é música de gueto -- de interesse apenas para folcloristas e arqueólogos musicais --, aí estão Márcia Ball e Hugh Laurie para provar justamente o contrário.


HIGHLIGHTS
HUGH LAURIE - "LET THEM TALK"





ENTREVISTA
HUGH LAURIE



HIGHLIGHTS
MARCIA BALL - "ROADSIDE ATTRACTIONS"