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domingo, setembro 16, 2012

LOS LOBOS, A MAIS VIBRANTE BANDA LATINA DA AMÉRICA, SE REINVENTA EM "KIKO LIVE"


Assim como The Band foi a banda síntese da musicalidade da América nos anos 1960, e o Little Feat o equivalente nos anos 1970, é inegável que os los angelinos do Los Lobos sejam os legítimos representantes dessa gloriosa categoria de grandes bandas nos anos 1980.

Desde seus primeiros LPs "How Will The Wolf Survive" e "By The Light Of The Moon" -- bem menos descompromissados artisticamente do que aparentam à primeira vista --, até o conceitual e intenso "The Neighborhood", Los Lobos trilhou de forma brilhante as rotas musicais possíveis da América do Norte, mesclando todas as variantes musicais latinas que dão o tom no Lado Leste de Los Angeles com pop, rock, blues, soul, jazz, tex-mex, country e até cajun e folk.

Los Lobos já era consagradíssimo por crítica e público quando, em 1992, eles surpreenderam com um disco ambicioso e complexo chamado "Kiko", que leva toda essa mistureba musical às últimas consequências -- e que faz parte de muitas listas de melhores discos dos anos 1990.

De tão bom e tão multifacetado, "Kiko" quase virou um problema para Los Lobos.

Todos os discos seguintes da banda que não pretenderam ser tão superlativos quanto esse foram duramente criticados. Não por serem discos ruins. Pelo contrário, eram trabalhos mais focados em temas específicos, enquanto "Kiko" funcionava como um mosaico musical riquíssimo. Tanto que, nos anos seguintes, só "Good Morning Aztlán" (2002) e "The Town And The City" (2006) conseguiram chegar perto da grandeza de "Kiko".

Os líderes do Los Lobos, David Hidalgo e Cesar Pérez, no entanto, não se deixam abater com isso, e seguem sempre em frente com novos projetos.



Enquanto preparam o novo álbum de estúdio de Los Lobos, decidiram ganhar tempo lançando no mercado "Kiko Live", um concerto temático gravado em 2006 lançado em cd e dvd, em que a banda revisita o repertório de "Kiko" com abordagens um pouco diferentes das originais.

Aqui, Los Lobos vira quase uma jam band, esticando bastante a duração de alguns dos temas originais, e mostrando claramente que ser capaz de levar ao vivo toda a pluralidade musical de "Kiko".

É emocionante ver-ouvir esse grande disco novamente com uma nova roupagem, ao vivo e "passado a sujo" 15 anos depois das gravações originais, sem a produção intrincada que Mitchell Froom imprimiu no disco clássico.

Trata-se de uma verdadeira odisséia musical em 15 canções, que segue bravamente pelos mais diversos gêneros musicais, até desaguar na emocionante valsa-mariachi 'Rio de Tenampa", numa versão vibrante.

Sendo assim, quem quiser conhecer a alma latina da América, a entrada é por aqui mesmo.

Viva Los Lobos!



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sexta-feira, agosto 24, 2012

JOHN HIATT FAZ 60 ANOS E PRESENTEIA A TODOS NÓS COM UM DISCO MAGNÍFICO.


John Hiatt é um dos grandes compositores americanos vivos.

Bob Dylan, Neil Young, Paul Simon, Randy Newman e ele mereciam estar esculpidos em algum Monte Rushmore qualquer.

Hiatt é craque em criar personagens para incorporar canções que alternam um bom humor impecável com reflexões contundentes sobre meia idade, amor e vida na estrada.

Canções que, diga-se de passagem, são disputadas a tapa por artistas dos mais diversos gêneros.

Como artista solo, John Hiatt é dono de uma carreira riquíssima, que começou em meados dos anos 70 em discos não muito afirmativos gravados na Columbia e na MCA, para então estrear em grande estilo na A&M Records no hoje clássico LP “Bring The Family”, de 1987 -- onde dividiu a cena com seus comparsas Ry Cooder, Nick Lowe e Jim Keltner pela primeira vez, antes de formar o genial grupo Little Village. 

De lá para cá, Hiatt vem gravando discos excelentes. Alguns elétricos e truculentos como "Perfectly Good Guitar", "Beneath This Gruff Exterior" e "Master Of Disaster". Outros acústicos e climáticos como "Walk On" e "Crossing Muddy Waters".

Infelizmente, nenhum deles conseguiu ser um grande sucesso de vendas, o que dificultou bastante a permanência de Hiatt na cena mainstream.

Seu público não crescia e nem encolhia, daí o interesse das gravadoras grandes nele começou a oscilar.



Mas, curiosamente, Hiatt nunca se deixou abalar com isso.

Assim que seu contrato com a Capitol encerrou, logo depois do disco "Little Head", ele simplesmente assinou com o selo independente Vanguard, que o recebeu de braços abertos, e fez a transição de uma cena para outra sem nenhum trauma.

Dois discos mais tarde, assinou com a New West Records e foi fazer companhia para gente como Lucinda Williams, Delbert McClinton, Lyle Lovett, Kris Kristofferson, The Flatlanders e vários outros grandes artistas que também estavam cansados de ser esnobados pelo mercadão musical.

Hoje, aparentemente, Hiatt está feliz e satisfeito, e continua abastecendo artistas com canções magníficas.


Pois bem: "Mystic Pinball", seu vigésimo primeiro álbum em quase 40 anos como artista solo, acaba de sair do forno.

É mais uma bela coleção de canções, que alterna rocks fulminantes (“Bite Marks", "My Business", "You´re The Reason I Need"), números de rhythm and blues rasgados ("I Know How To Lose You", "One Of Them Damn Days", "Give It Up") e baladas contundentes ("No Wicked Grin", "I Just Don´t Know What To Say").   Chega a ser impressionante como Hiatt consegue produzir no espaço curto de um ano um repertório novo tão variado e tão gabaritado como esse.

Eu confesso que fiquei encantado tanto com a faixa de encerramento do disco, "The Blues Can´t Even Find Me" -- fortemente influenciada por Bob Dylan e simplesmente perfeita. Gostei muito também do punch roqueiro truculento de "We´re Alright Now", um número da mesma família de sua "Thing Called Love", que já nasce clássico.

Hiatt, sabiamente, chamou Kevin "Caveman" Shirley para assumir a produção do disco, pois gostou muito do que ele realizou em “Dirty Jeans and Mudslide Hymns”, seu trabalho anterior, lançado no ano passado. Shirley tornou os arranjos das canções mais teatrais e climáticos, pôs a banda para tocar de uma maneira bem aberta e ainda insistiu para que Hiatt escolhessee com um repertório bem eclético para tentar atingir diversas faixas de público. Deu tão certo que ele decidiu repetir a dose.

A banda que trabalha com ele aqui em "Mystic Pinball" é a sua banda de estrada: Doug Lancio (guitarras, mansolin, dobro), Kenneth Blevins (bateria) e Patrick O´Hearn (baixo). Uma opção segura para um repertório "road tested".



Para alguém que já cometeu muitas ousadias ao longo de sua carreira, John Hiatt tem todo o direito de apostar agora num público mais amplo para seu trabalho.

Seu conjunto de obra é vigoroso demais para ser privilégio de apenas alguns iniciados.

Além do mais, "Mystic Pinball" celebra o aniversário de sessenta anos de John Hiatt -- que está não só em excelente forma, como não quer mais saber de perder tempo com experimentos duvidosos daqui por diante.

Ou seja: preparem-se, pois Hiatt não deve dar sossego nos próximos anos com discos anuais, tournées  longas e canções novas na voz de meio mundo por aí.

Sejam bem vindos a essa nova fase na vida de John Hiatt.


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quinta-feira, junho 28, 2012

PATTI SMITH VOLTA SERENA MAS SEMPRE CONTUNDENTE EM SEU NOVO LP, "BANGA"


O passar dos anos parece ter trazido serenidade a Patti Smith.

Em seu novo trabalho, "Banga", ela contempla os tempos atuais com algum inconformismo, mas sem aquele radicalismo filosófico de outras épocas. É como se já tivesse vivido quase tudo o que havia se preparado para viver, e agora procura manter sempre um olho no retrovisor antes de simplesmente seguir em frente. Patti parece estar aceitando com alguma tranquilidade o imponderável da vida, e a dificuldade em flertar com situações musicais-limite como as que peitava nos palcos nos anos 70.


Banga" tem algo de aconchegante para Patti, pois foi gravado com sua banda de costume -- os guitarristas Lenny Kaye e Tom Verlaine, o baterista Jay Dee Daugherty e o baixista Tony Shanahan --, no mesmo estúdio Electric Lady Studios onde gravou sua obra chave, Horses, disco de estréia, em 1975. Parece um portal do tempo, entre passado e futuro de Patti, e a essência da própria América, mais o Estado de Coisas do mundo atual.

A aventura começa como "Amerigo", uma reflexão sobre sobre a viagem de Américo Vespúcio ao Novo Mundo em 1497. Segue com "Fugi-San", um rock para o povo do Japão após os terremotos do ano passado. Que é seguido por "This Is the Girl", bela canção em homenagem a Amy Winehouse, e "Maria", em homenagem a Maria Schneider. E que culmina em "Constantine's Drigo" uma espécie de meditação sobre arte e natureza, e em "Nine", que compôs de presente de aniversário para seu amigo Johnny Depp, que comparece tocando guitarra.




Patti sempre foi assim.

Sempre se alimentou de um universo que, assim como a joga para a frente, possui fundações muito sólidas. Em seu inícío de carreira, foi acusada levianamente por alguns críticos de fazer um pastiche artístico-filosófico que envolvia poetas como Blake, filósofos como Rousseau, e compositores pop como Bob Dylan, Jim Morrison e Van Morrison. Demoraram a perceber que Patti tinha uma postura antropofágica em relação a todas essas frentes culturais, e que ninguém naquele momento -- meados dos anos 70 -- era dono de uma postura artística tão roqueira, radical e autêntica quanto ela.

Sua carreira é magnífica e sua obra de uma grandeza única, tanto como artista pop quanto como poeta e memorialista. Seu ex-namorado nos anos 70, o teatrólogo Sam Shepard, sempre fez questão de afirmar que Patti é um original americano. Bob Dylan, Bruce Springsteen e Neil Young são seus fãs confessos. E depois de "Só Garotos", o mundo inteiro parece ter-se apaixonado por Patti Smith. Até Jean-Luc Godard ficou encantado com ela, e a incluiu em seu "Film Socialisme".



"Banga" é o primeiro disco de originais de Patti em oito anos.

A arte que envolve o disco faz alusão direta à capa de "After The Goldrush", belo álbum de Neil Young de 1970.

Os dois discos possuem em comum a mesma serenidade aparente e o mesmo desencanto.

Mas Patti, assim como Neil em seu disco clássico, vislumbra manhãs melhores conforme avançam as canções do Lado B.

E ela, por sua vez, não deixa por menos e encerra seu "Banga" com um cover iluminado da faixa título visionária do disco de Neil.

É a nossa Patti Smith desafiando sua própria Maturidade com sua serenidade radical.

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http://www.allmusic.com/artist/patti-smith-mn0000747445

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http://www.pattismith.net/

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quarta-feira, maio 09, 2012

O RETORNO SEMPRE BEM-VINDO DE CRIS BRAUN NUM DISCO TERNO, DENSO E TURBULENTO



Sempre que alguém faz menção ao rock carioca dos anos 80 e 90, o assunto é invariavelmente Cazuza, Lobão, Barão Vermelho, Paralamas ou Kid Abelha.

Todo mundo parece ter esquecido que a cena roqueira carioca tinha um segundo time espetacular, que infelizmente passou batido do grande público na época -- o que condenou bandas brilhantes como Picassos Falsos e Sex Beatles a ficar restritos apenas ao circuito alternativo.

A gauchinha espevitada Cris Braun apareceu justamente como vocalista nos Sex Beatles, uma banda tão divertida quanto difícil de classificar -- parecia um cruzamento dos Mutantes com o Concrete Blonde, como algo assim fosse possível.

Ela dividia a cena com Alvin L, compositor e tecladista de gênio, e com o produtor e guitarrista Dado Villa-Lobos, dono do selo Rockit!.

Não duvidem: eles não só faziam música de primeira, como frequentemente passavam a impressão de estarem se divertindo no palco muito mais do que quem estava na platéia.
 

Talvez por isso mesmo, nenhum dos dois discos brilhantes que a banda gravou – “Automobilia” (1994) e “Mondo Passionale” (1996) -- tenha conseguido vingar, deixando a banda cheia de dívidas e com um futuro incerto demais pela frente.

Com o fim dos Sex Beatles, Alvin L saiu por aí e Cris Braun começou a flertar com uma possível carreira solo.

Deu no que deu: em 1997, com a ajuda de um time de amigos estelares, Cris Braun gravou e lançou seu primeiro disco solo, “Cuidado Com Pessoas Como Eu”, pelo selo Fullgás da amiga Marina Lima.

Apesar de muito bem recebido pela crítica, “Cuidado Com Pessoas Como Eu” falhou ao não conseguir amenizar um certo estranhamento que existia -- e talvez ainda exista até hoje, num grau bem inferior -- em relação à figura de Cris Braun. Como explicar sua atitude roqueira naquele repertório de MPB com arranjos bem pop e com um pé na música eletrônica?

Por essas e outras, “Cuidado Com Pessoas Como Eu” foi considerado MPB demais pelas rádios rock e roqueiro demais pelas rádios adulto-contemporâneo -- e acabou não sendo executado como merecia em nenhuma das duas modalidades de emissora.

Já no seu segundo disco, "Atemporal", gravado em 2004, Cris Braun, ao invés de tentar corrigir esse estranhamento, o incorporou às composições que fez em parceria com Gustavo Corsi e Billy Brandão, resultando num disco climático, nada afoito, repleto de convidados e com uma atitude roqueira bem relaxada, mas jamais adormecida.


E eis que, oito anos depois, Cris Braun volta com “Fábula”, uma nova coleção de canções estranhamente pontuais, onde promove um mix de rock and roll com ritmos nordestinos e baladas pop sem igual na música brasileira moderna.

Gravado parte com músicos de Alagoas, onde vive atualmente, e parte no Rio de Janeiro, "Fábula" é uma espécie de crônica roqueira da chegada à maturidade inevitável.

É um disco cheio de solavancos, onde Cris canta de forma serena o tempo todo, apesar das canções se alternarem com muita turbulencia, além de um viés existencial sempre muito envolvente e arranjos extremamente originais.

“Tão Feliz”, por exemplo, lembra um pouco Edu Lobo e Antonio Adolfo, mas ostenta um coro de vozes sintetizadas que Edu, por exemplo, jamais aprovaria – o que dá o diferencial nessa explosão bem dosada de melancolia.

Outro exemplo curioso é “Oscilante”, só com voz e batucada baiana -- uma brincadeira deliciosa que mescla imaginário pop com raízes africanas, como nunca alguém ousou fazer por aqui. 

E o que dizer do reggae “O Amor Calou”, todo levado no órgão, na sítara e na harmônica, e com referências a “Carinhoso”, de Pixinguinha, na letra? No mínimo, genial.

Tem ainda, entre outras coisas, releituras impecáveis de “Tanto Faz Para O Amor”, de Lucas Santana, e de “Deve Ser Assim”, de Marina Lima e Alvin L, que revelam em Cris Braun uma intérprete sofisticada e de uma sensibilidade ímpar.


“Fábula” é um daqueles discos aparentemente tortos que a gente deixa tocando o dia inteiro e ele -- assim, como quem não quer nada -- sai preenchendo todas as nossas horas com emoções genuínas dos mais diversos tipos.

É um trabalho envolvente, carinhoso, incômodo, cativante, delicado, truculento, ameaçador... Nada ao mesmo tempo agora. Mas tudo a seu tempo...

Cris Braun diz que “Fábula” não é pacato como o anterior “Atemporal” porque não foi concebido na paz da Serra Carioca, e sim à beira-mar, em Maceió, onde mora atualmente e convive com as turbulências que vêm do oceano.

Faz sentido.

Seja como for, “Fábula” é desde já um dos melhores discos desse ano, e afirma Cris Braun como uma cantora e compositora de primeiro time da música brasileira moderna -- que conseguiu, a duras penas, se ver livre do estigma de "artista esquecida e não-reconhecida dos anos 90".

Confiram os números musicais de Cris Braun nas janelas do YouTube logo abaixo.

Mas respirem fundo antes de cada um deles.



WEBSITE OFICIAL:
http://www.crisbraun.com.br/

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