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terça-feira, outubro 02, 2012

DIANA KRALL VOLTA À ALVORADA DO GREAT AMERICAN SONGBOOK EM SEU NOVO LP


Ninguém pode acusar Diana Krall de ser uma artista previsível.

Em vinte gloriosos anos de carreira, essa loura canadense estonteante (em todos os sentidos) já se revelou uma excelente pianista de jazz, e também se afirmou como uma cantora envolvente e versátil a ponto de conseguir cativar as mais sisudas platéias de jazzófilos.

Claro que, ao longo de todo esse tempo, nem tudo foram flores.

Nossa loura deu, sempre que pode, algumas puladas de cerca artísticas que, se por um lado lhe renderam alguns arranhões com setores mais ortodoxos da crítica, por outro lado foram deliciosamente aventurescas e divertidas.

Uma atitude positiva, bem na medida certa para quebrar com a obviedade que parecia estar reservada para sua carreira.


Pois bem: Diana Krall é não só surpreendente, mas também imensamente vaidosa.

Adora incorporar musas da canção de outras épocas

Se divertiu muito posando de Julie London no LP 'The Look Of Love" (2001).

Ficou muito à vontade brincando de Astrud Gilberto em "Quiet Nights", lançado no ano passado.

Até se deu ao luxo de cometer "The Girl In The Other Room", um belo disco de jazz com repertório contemporâneo de gente como Joni Mitchell, mesclado com 6 canções próprias inspiradas em Joni e compostas em parceria com o maridão Elvis Costello, com quem vive há quase 10 anos.

Diana topa qualquer parada para não cair prisioneira do formato que a consagrou em seu início de carreira.

Não que ela não goste de comandar um quarteto de jazz. Gosta, e muito. Mas não esconde de ninguém que almeja um público muito maior.



Seu novo LP, "Glad Rag Doll", é mais um ítem ousado em sua discografia.

Produzido por T-Bone Burnett a partir de um repertório de 35 canções meio obscuras dos anos 20, 30 e 40, que ela conhecia dos discos 78 rotações da coleção pessoal de seu pai, foi gravado utilizando pela primeiríssima vez um piano honky-tonk de armário, ao invés dos Steinways habituais.

Sua banda é composta por colaboradores contumazes de Burnett, como o multiinstrumentista Marc Ribot, o baterista Jay Bellerose e o baixista Dennis Crouch, mesclando sonoridades de ragtime com boogie woogie e, pasmem, até rock and roll.

Nossa loura certamente ficou impressionada com a multiplicidade musical dos últimos discos de seu marido produzidos por T-Bone, e quis tentar uma experiência semelhante, mesclando tradição e modernidade e subvertendo alguns padrões de mercado que devem irritar muito artistas criativos e desalinhados como ela.

Todas as canções de "Glad Rag Doll" são ótimas. Ela está cada vez mais arrojada como intérprete. A faixa título, por exemplo, apresentada em duas versões diametralmente diferentes, dá o tom exato dessas suas qualificações.

Isso para não mencionar as gravações soberbas e muito originais que ela fez para dois clássicos dos anos 50: "I'm A Little Mixed Up" -- um número de rock and roll rasgado -- e "Lonely Avenue" -- composta por Doc Pomus para seu amigo Ray Charles, aqui num arranjo todo climático e levemente atonal.


Verdade seja dita: Diana Krall está mais arrebatadora do que nunca na capa de "Rag Baby Doll".

Como ela consegue, aos 48 anos de idade -- que ela completa no dia 18 de Novembro --, isso só ela sabe.

Nossa loura abusa de seus atributos físicos na capa do disco, vestida como uma honky tonk girl dos tempos do ragtime e do vaudeville -- se bem que com alguns detalhes em couro liso que indicam uma atitude um pouco mais barra pesada,

Em outras palavras: Diana Krall continua uma artista e uma mulher fascinantes -- dois conceitos que não costumam ser complementares, mas que nossa lora sabe mesclar numa mesma persona artística como poucas outras divas da canção americana conseguiram.

"Glad Rag Doll" é, indiscutivelmente, desde seu conceito até o resultado final, um grande disco.

Traz Diana Krall bem do jeito que o diabo gosta -- e nós aqui também.



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domingo, setembro 16, 2012

LOS LOBOS, A MAIS VIBRANTE BANDA LATINA DA AMÉRICA, SE REINVENTA EM "KIKO LIVE"


Assim como The Band foi a banda síntese da musicalidade da América nos anos 1960, e o Little Feat o equivalente nos anos 1970, é inegável que os los angelinos do Los Lobos sejam os legítimos representantes dessa gloriosa categoria de grandes bandas nos anos 1980.

Desde seus primeiros LPs "How Will The Wolf Survive" e "By The Light Of The Moon" -- bem menos descompromissados artisticamente do que aparentam à primeira vista --, até o conceitual e intenso "The Neighborhood", Los Lobos trilhou de forma brilhante as rotas musicais possíveis da América do Norte, mesclando todas as variantes musicais latinas que dão o tom no Lado Leste de Los Angeles com pop, rock, blues, soul, jazz, tex-mex, country e até cajun e folk.

Los Lobos já era consagradíssimo por crítica e público quando, em 1992, eles surpreenderam com um disco ambicioso e complexo chamado "Kiko", que leva toda essa mistureba musical às últimas consequências -- e que faz parte de muitas listas de melhores discos dos anos 1990.

De tão bom e tão multifacetado, "Kiko" quase virou um problema para Los Lobos.

Todos os discos seguintes da banda que não pretenderam ser tão superlativos quanto esse foram duramente criticados. Não por serem discos ruins. Pelo contrário, eram trabalhos mais focados em temas específicos, enquanto "Kiko" funcionava como um mosaico musical riquíssimo. Tanto que, nos anos seguintes, só "Good Morning Aztlán" (2002) e "The Town And The City" (2006) conseguiram chegar perto da grandeza de "Kiko".

Os líderes do Los Lobos, David Hidalgo e Cesar Pérez, no entanto, não se deixam abater com isso, e seguem sempre em frente com novos projetos.



Enquanto preparam o novo álbum de estúdio de Los Lobos, decidiram ganhar tempo lançando no mercado "Kiko Live", um concerto temático gravado em 2006 lançado em cd e dvd, em que a banda revisita o repertório de "Kiko" com abordagens um pouco diferentes das originais.

Aqui, Los Lobos vira quase uma jam band, esticando bastante a duração de alguns dos temas originais, e mostrando claramente que ser capaz de levar ao vivo toda a pluralidade musical de "Kiko".

É emocionante ver-ouvir esse grande disco novamente com uma nova roupagem, ao vivo e "passado a sujo" 15 anos depois das gravações originais, sem a produção intrincada que Mitchell Froom imprimiu no disco clássico.

Trata-se de uma verdadeira odisséia musical em 15 canções, que segue bravamente pelos mais diversos gêneros musicais, até desaguar na emocionante valsa-mariachi 'Rio de Tenampa", numa versão vibrante.

Sendo assim, quem quiser conhecer a alma latina da América, a entrada é por aqui mesmo.

Viva Los Lobos!



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quinta-feira, agosto 09, 2012

AIMEE MANN VOLTA MESCLANDO DENSIDADE EXISTENCIAL E CHARME NUM LP MAGNÍFICO


Quem acompanhou a passagem do grupo Til Tuesday pela cena pop americana em meados dos anos 80, jamais poderia suspeitar que aquela loira bonitinha que cantava quase sussurrado no grupo iria um dia se transformar numa das maiores compositoras pop americanas, produzindo canções de uma grandeza muito próxima à de Joni Mitchell e Rickie Lee Jones, suas mentoras.

Aimee Mann começou sua carreira ganhando as pessoas pela simpatia e pela delicadeza, mas aos poucos foi revelando uma habilidade literária na composição de suas canções -- quase sempre baseadas em vivências pessoais, mas jamais confessionais.

Os dois primeiros discos do Til Tuesday são apenas trabalhos medianos e sem grandes atrativos artísticos. Mas o terceiro e último disco da banda, "Everything´s Different Now" (1988), mostra um salto qualitativo considerável nas canções de Aimee Mann, e traz uma parceria dela com Elvis Costello que já nasceu clássica: "The Other End Of The Telescope".


Daí por diante, ficou claro que o talento de Aimee não cabia mais na banda, e não teve jeito: o Til Tuesday debandou.

Mas não sem antes arrumar uma confusão do tamanho de um bonde com a Epic, que, por brigas contratuais, impediu que Aimee se lançasse solo antes de 1993 -- quando finalmente brilhou com "Whatever", uma estréia magistral, e "I´m With Stupid", uma sequência brilhante, que emplacou dois singles arrebatadores: "That´s Just What You Are" e "You Could Make A Killing".

Então, veio "Bachelor #2" e o filme "Magnólia", criado pelo grande diretor e roteirista Paul Thomas Anderson a partir de algumas canções extremamente contundentes de Aimee, e o resultado foi que, na cerimònia dos Oscars de 2001, Aimee Mann foi revelada para o mundo inteiro.

Ao contrário do esperado, Aimee Mann não optou pelo big business e preferiu resguardar seu trabalho,   para manter sua autonomia criativa. Nos últimos dez anos, gravou cinco discos, quase todos conceituais ou, ao menos, temáticos.

E um muito diferente do outro.


"Charmer", seu mais recente trabalho, é uma deliciosa coleção de canções na mesma linha de "Bachelor #2" (2000), que circulam em torno de um mesmo tema: o aprendizado do uso cotidiano do Charme como meio de sobrevivência num mundo cada vez mais apegado a aparências.

As canções falam de desilusões, ilusões, descaminhos e revelações íntimas por meio de epifanias poéticas que mais parecem uma longa sessão de terapia. A maneira como Aimee promove a alternância desses temas faz com que o encadeamento das canções no disco soe perfeito.

Ela está em excelente forma artística. O tom de suas canções segue um padrão de serenidade muito interessante. Pelo visto, está vivendo um momento muito especial de sua vida. E isso, para quem a conhece de vários romances anteriores, acaba se refletindo no tom das suas novas canções.

Mas jamais espere otimismo em demasia na produção poética de Aimee Mann. A barra pesada está sempre logo alí na esquina, à espreita, em números contundentes como 'Living A Lie" e "Disappeared". 

A maneira como ela aborda esse universo, no entanto, é sempre feita com o devido distanciamento.
.

E não há muito mais o que dizer, exceto que "Charmer" engana o ouvinte desavisado, pois é muito mais profundo do que aparenta à primeira vista, e também muito menos leve do que sua sonoridade indica.


Se bem que, para quem está familiarizado com o trabalho de Aimee Mann, isso não vai ser exatamente novidade. Aliás, para quem conhece e gosta do trabalho de Aimee Mann, "Charmer" tem tudo para ser um dos melhores discos desse ano.

Não sei quanto a vocês, mas eu adoro essa garota-enxaqueca encantadora, que acaba de completar 52 anos de idade insuspeitos.

Agradeçam por Aimee Mann continuar assim como sempre foi, complicada e perfeitinha.

Da minha parte, é um grande prazer poder saudar a sua volta.



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http://www.allmusic.com/artist/aimee-mann-mn0000610346

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domingo, julho 22, 2012

OS BEACH BOYS CONTEMPLAM O FIM DO VERÃO ETERNO NUM NOVO DISCO SERENO E ADORÁVEL


A última vez que Brian Wilson uniu forças aos Beach Boys, nem é bom lembrar.

Foi há exatos 27 anos, naquele disco sem nome que trazia canções medianas como "California Calling", "Getcha Back" e "Just A Matter Of Time", e outras bem fraquinhas, quase desprezíveis.

Na ocasião, os Beach Boys viviam em pé de guerra -- e não era guerra de areia, não.

Al Jardine e Mike Love batiam boca em público com muita frequência, e por pouco um não arrancou o escalpo do outro numa entrevista no talk-show de Johnny Carson.

Enquanto isso, Brian saía de um tratamento psiquiátrico aparentemente eficaz, mas bastante controvertido -- até porque transformou em parceiro nas suas composições o seu psicanalista, um certo Dr. Eugene Landy, que mais tarde foi impedido de exercer a profissão, acusado de cometer abuso psicológico em seus pacientes, e acabou expulso da Ordem dos Psicoterapeutas da California.

Eram tempos muito estranhos aqueles, e a produção da banda naquele momento refletia bem isso..

Tanto que, logo depois desse disco, Brian Wilson caiu fora e saiu em carreira solo, Mike Love interditou Al Jardine e tomou as rédeas da banda, não sossegando até transformar os Beach Boys numa banda nostálgica da pior espécie, fazendo tournées caça-níqueis que desonravam de forma flagrante o seu passado glorioso.


Mas então, em 2011, "Smile", o disco clássico inédito dos Beach Boys, de 1967, finalmente viu a luz do dia numa edição luxuosa e muito carinhosa da Capitol Records, supervisionada pelo próprio Brian -- que, apesar de ter realizado o disco praticamente sozinho na época, fez questão de chamar todos os sobreviventes da banda para participar deste resgate musical tão aguardado por todos os fãs da banda.

Na verdade, isso tudo já era uma prévia do grande evento que iria acontecer agora, em 2012: as comemorações de 50 anos de atividade da banda, com direito a disco novo com material inédito e uma tournée mundial com os sobreviventes das várias formações da banda.

Uma empreitada ambiciosa, sem dúvida.

Que, se por um lado gerava uma grande espectativa, por outro não despertava muita confiança em ninguém, a julgar pelo que os Beach Boys produziram nesses 27 anos -- apesar de ter o aval de Brian Wilson, que nunca deixou de gravar discos solo belíssimos nesse período.

O caso é que ninguém imaginava que, a essa altura do campeonato, depois de tantas desavenças e tanto desrespeito com a própria história da banda, os Beach Boys pudessem ressurgir das cinzas e se reafirmar novamente como a grande banda que sempre foi. 


Pois bem: confesso que minha primeira audição desse "That's Why God Made The Radio" foi feita com muita desconfiança.

Primeiro, procurando novidades no trabalho da banda e não achando.

Depois, estranhando um pouco o pastiche que Brian fez unindo os arranjos clássicos da fase "Pet Sounds" com o padrão sonoro da banda dos anos 80.

E então, procurando defeitos nas novas canções.

Tudo em vão.

O caso é que as canções são lindas. E as vocalizações são delicadíssimas, e extremamente intrincadas, como de hábito. E os arranjos são magníficos. E o astral da empreitada, nada menos que simplesmente perfeito. E eu me senti um idiota por ficar procurando defeitos numa pequena obra-prima como essa. Bem feito para mim.

As três belíssimas faixas de encerramento do disco -- "From There To Back Again", "Pacific Coast Highway" e "Summer´s Gone" -- formam uma pequena suite que fala desse momento da vida em que todos eles estão, contemplando o passado e olhando para o tempo que lhes resta de forma serena, alegre e generosa. Usando o Verão mais uma vez como metáfora para a vida, mas deixando o hedonismo de lado para saudar a chegada do Outono como um ensaio para o adeus derradeiro.

E então, vem a melancolia inevitável.

E a música termina, deixando apenas o som eterno das ondas quebrando ao fundo.



Não há o que discutir: "That´s Why God Made The Radio" ostenta um padrão de perfeição pouco comum na longa discografia dos Beach Boys.

É superior a qualquer disco gravado pela banda de "15 Big Ones" (1975) para cá.


E é o melhor álbum de retorno cometido por uma banda clássica desde "Breathe Out, Breathe In" (2010), dos ingleses The Zombies.

E sou capaz de apostar que "That´s Why God Made The Radio" é, desde já, um dos cinco melhores álbuns deste ano.

Do meu toca-discos, eu garanto que ele não sai tão cedo.

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 http://www.allmusic.com/artist/the-beach-boys-mn0000041874

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quarta-feira, maio 09, 2012

O RETORNO SEMPRE BEM-VINDO DE CRIS BRAUN NUM DISCO TERNO, DENSO E TURBULENTO



Sempre que alguém faz menção ao rock carioca dos anos 80 e 90, o assunto é invariavelmente Cazuza, Lobão, Barão Vermelho, Paralamas ou Kid Abelha.

Todo mundo parece ter esquecido que a cena roqueira carioca tinha um segundo time espetacular, que infelizmente passou batido do grande público na época -- o que condenou bandas brilhantes como Picassos Falsos e Sex Beatles a ficar restritos apenas ao circuito alternativo.

A gauchinha espevitada Cris Braun apareceu justamente como vocalista nos Sex Beatles, uma banda tão divertida quanto difícil de classificar -- parecia um cruzamento dos Mutantes com o Concrete Blonde, como algo assim fosse possível.

Ela dividia a cena com Alvin L, compositor e tecladista de gênio, e com o produtor e guitarrista Dado Villa-Lobos, dono do selo Rockit!.

Não duvidem: eles não só faziam música de primeira, como frequentemente passavam a impressão de estarem se divertindo no palco muito mais do que quem estava na platéia.
 

Talvez por isso mesmo, nenhum dos dois discos brilhantes que a banda gravou – “Automobilia” (1994) e “Mondo Passionale” (1996) -- tenha conseguido vingar, deixando a banda cheia de dívidas e com um futuro incerto demais pela frente.

Com o fim dos Sex Beatles, Alvin L saiu por aí e Cris Braun começou a flertar com uma possível carreira solo.

Deu no que deu: em 1997, com a ajuda de um time de amigos estelares, Cris Braun gravou e lançou seu primeiro disco solo, “Cuidado Com Pessoas Como Eu”, pelo selo Fullgás da amiga Marina Lima.

Apesar de muito bem recebido pela crítica, “Cuidado Com Pessoas Como Eu” falhou ao não conseguir amenizar um certo estranhamento que existia -- e talvez ainda exista até hoje, num grau bem inferior -- em relação à figura de Cris Braun. Como explicar sua atitude roqueira naquele repertório de MPB com arranjos bem pop e com um pé na música eletrônica?

Por essas e outras, “Cuidado Com Pessoas Como Eu” foi considerado MPB demais pelas rádios rock e roqueiro demais pelas rádios adulto-contemporâneo -- e acabou não sendo executado como merecia em nenhuma das duas modalidades de emissora.

Já no seu segundo disco, "Atemporal", gravado em 2004, Cris Braun, ao invés de tentar corrigir esse estranhamento, o incorporou às composições que fez em parceria com Gustavo Corsi e Billy Brandão, resultando num disco climático, nada afoito, repleto de convidados e com uma atitude roqueira bem relaxada, mas jamais adormecida.


E eis que, oito anos depois, Cris Braun volta com “Fábula”, uma nova coleção de canções estranhamente pontuais, onde promove um mix de rock and roll com ritmos nordestinos e baladas pop sem igual na música brasileira moderna.

Gravado parte com músicos de Alagoas, onde vive atualmente, e parte no Rio de Janeiro, "Fábula" é uma espécie de crônica roqueira da chegada à maturidade inevitável.

É um disco cheio de solavancos, onde Cris canta de forma serena o tempo todo, apesar das canções se alternarem com muita turbulencia, além de um viés existencial sempre muito envolvente e arranjos extremamente originais.

“Tão Feliz”, por exemplo, lembra um pouco Edu Lobo e Antonio Adolfo, mas ostenta um coro de vozes sintetizadas que Edu, por exemplo, jamais aprovaria – o que dá o diferencial nessa explosão bem dosada de melancolia.

Outro exemplo curioso é “Oscilante”, só com voz e batucada baiana -- uma brincadeira deliciosa que mescla imaginário pop com raízes africanas, como nunca alguém ousou fazer por aqui. 

E o que dizer do reggae “O Amor Calou”, todo levado no órgão, na sítara e na harmônica, e com referências a “Carinhoso”, de Pixinguinha, na letra? No mínimo, genial.

Tem ainda, entre outras coisas, releituras impecáveis de “Tanto Faz Para O Amor”, de Lucas Santana, e de “Deve Ser Assim”, de Marina Lima e Alvin L, que revelam em Cris Braun uma intérprete sofisticada e de uma sensibilidade ímpar.


“Fábula” é um daqueles discos aparentemente tortos que a gente deixa tocando o dia inteiro e ele -- assim, como quem não quer nada -- sai preenchendo todas as nossas horas com emoções genuínas dos mais diversos tipos.

É um trabalho envolvente, carinhoso, incômodo, cativante, delicado, truculento, ameaçador... Nada ao mesmo tempo agora. Mas tudo a seu tempo...

Cris Braun diz que “Fábula” não é pacato como o anterior “Atemporal” porque não foi concebido na paz da Serra Carioca, e sim à beira-mar, em Maceió, onde mora atualmente e convive com as turbulências que vêm do oceano.

Faz sentido.

Seja como for, “Fábula” é desde já um dos melhores discos desse ano, e afirma Cris Braun como uma cantora e compositora de primeiro time da música brasileira moderna -- que conseguiu, a duras penas, se ver livre do estigma de "artista esquecida e não-reconhecida dos anos 90".

Confiram os números musicais de Cris Braun nas janelas do YouTube logo abaixo.

Mas respirem fundo antes de cada um deles.



WEBSITE OFICIAL:
http://www.crisbraun.com.br/

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quinta-feira, abril 26, 2012

O INCANSÁVEL JOSEPH ARTHUR SE REINVENTA DE NOVO NESTE AMBICIOSO "REDEMPTION CITY"



Quando vejo artistas como Joseph Arthur, lembro na hora de meu amigo de infância Zéllus Machado, falecido recentemente.

Assim, como Zéllus, Joseph Arthur só não emplacou no mainstream porque seus múltiplos talentos de alguma forma conspiraram contra isso.

Seus shows sempre misturam recitais de canções com oficinas de pintura -- e muitas vezes, enquanto os músicos de sua banda tocam, Joseph pinta uma tela em algum canto do palco.

Seu público – bem dirigido, e bem reduzido - delira sempre que faz isso.

Artistas como eles dois passam a vida brigando por um lugar ao sol, e jamais abrem mão de seus ideais artísticos para se adequarem ao mercado fonográfico.

E não fazem isso intencionalmente.

Fazem porque não conseguem conceber o trabalho que desenvolvem finalizado de outra maneira que não seja “a maneira deles”.

É quase uma sina.
 
Joseph Arthur nasceu em Akron, Ohio, 40 anos atrás, mas caiu fora de lá assim que pôde.

Foi tentar a sorte no circuito folk da Califórnia, e em 1997 deu a sorte -- e também o azar -- de ser descoberto por Peter Gabriel, que o contratou para seu selo New World, voltado prioritariamente para artistas de world music.

Seu primeiro disco para o selo, “Big City Secrets”, serviu para tirá-lo do ghetto folk e projetá-lo para o público de Peter Gabriel. No entanto, as dificuldades financeiras da New World impediram que ele recebesse a promoção que merecia, ficando perdido num limbo artístico por quase três anos.

Só no seu terceiro trabalho, “Come To Where I'm From” (2000), com produção de T-Bone Burnett e uma levada mais country rock, Joseph Arthur conseguiu atingir um público mais amplo.

Devidamente amparado pela Virgin Records, ele começou a desenvolver projetos mais ambiciosos, sempre influenciado por Gabriel e seguindo conselhos de amigos como Joe Henry e T-Bone Burnett.

Levou alguns anos até a Virgin finalmente se desinteressar dele. Mas quando isso aconteceu, Joseph Arthur já era uma força emergente na cena independente.

De lá para cá, gravou uma série de Lps e EPs impeacáveis com sua banda The Lonely Astronauts para seu selo próprio, mesclando folk com pop em contextos sonoros no mínimo inusitados e firmando-se como um dos compositores mais solicitados da cena atual.

Diz, orgulhoso, que sua obra com músico e como pintor são uma coisa só -- que ele chama, gargalhando, de “Museum Of Modern Arthur”.
Pois bem, no início de Janeiro, sete meses depois de lançar seu último disco, Joseph Arthur decidiu não fazer uma versão industrial de seu trabalho seguinte, e o lançou direto em seu website, para download gratuito.

Até aí, nada demais. Muitos artistas tem feito isso de uns tempos para cá, liberando demos, tapes variados e gravações que ficaram fora de discos anteriores.

Só que “Redemption City” não é uma coleção de sobras.

Muito pelo contrário: é um disco coeso, com 24 canções novas, performances muito bem acabadas e produção impacável.

Segundo Arthur, tanto esse esse “Redemption City” quanto “Boogie Christ”, que deve ser lançado em breve, já estavam prontos antes de “The Graduation Ceremony”, seu disco do ano passado, e ele já está terminando mais um – daí, não pareceu fazer sentido segurar todo esse material até surgir uma oportunidade comercial para lançá-los.


E ele tem razão: “Redemption City” vem na mesma trilha de excelência de seus trabalhos anteriores.

É uma viagem urbana extremamente climática – semelhante em parte às promovidas por Lou Reed em “New York” e David Bowie em “Station To Station” -- onde a delicadeza musical de Joseph Arthur se expressa em diversos formatos.

Tem desde números de rock and roll acelerados como “Travel As Equals” e “No Surrender Comes For Free”, até baladas em tom de sonho como “You´re Not The Only One”, com climas que remetem a Leonard Cohen, Peter Wolf , John Cale e – porque não? – Peter Gabriel, seu primeiro mentor musical.

Para um disco conceitual, até que “Redemption City” é bem contagiante -- não permite em momento algum que o peso do conceito prejudique a valor individual das canções que compõem o conjunto.

Enfim, é mais um álbum ousado na carreira de Joseph Arthur. Que ele, pelo visto, queria que todos ouvissem -- mesmo sem ver um tostão de royalties.

Sendo assim, faça a sua parte: baixe “Redemption City” direto do website de Joseph Arthur, sem sentimentos de culpa, e tire suas próprias conclusões.

Só não deixe esse belo disco desse artista multitalentoso passar batido.

O Museum of Modern Arthur agradece sua visita.


INFO:
http://www.allmusic.com/artist/joseph-arthur-p202311/biography

DISCOGRAFIA:
http://www.allmusic.com/artist/joseph-arthur-p202311/discography

WEBSITE OFICIAL:
http://www.josepharthur.com/

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quarta-feira, abril 25, 2012

NANCY VIEIRA: A GRANDE REVELAÇÃO MUSICAL DE CABO VERDE, PRONTA PARA GANHAR O MUNDO



Ano passado, quando Cesária Évora morreu, muita gente deve ter-se perguntado:

“E agora, o que vai ser da Música de Cabo Verde?”

A ignorância dos brasileiros em relação à música produzida no Continente Africano é tão grande e tão assustadora que deve fazer sentido para muita gente a hipótese maluca de que Cesária Évora fosse a única representante musical daquele país.

E que, depois dela, a música tivesse se calado por lá.


Pois bem: basta visitar o Rio Grande do Norte e perguntar a qualquer um que acompanhe a cena musical de Natal sobre a música de Cabo Verde, e muitos vão citar o nome de uma cantora muito bonita e extremamente talentosa que já cantou duas vezes por lá.

Que, curiosamente, até hoje não circulou pelo resto do Brasil, por absoluta falta de convite. 

Seu nome: Nancy Vieira.

 

Nancy Vieira tem 37 anos de idade, 18 anos de carreira, 4 discos gravados e uma bela reputação por todos os países da Europa, onde se apresenta regularmente.

Sua atitude musical é cosmopolita, e foge das armadilhas do folk de Cabo Verde que limitariam o alcance de sua música no exterior, utilizando o folk africano apenas como ponto de partida para poder levar sua música para onde quiser.

Já dividiu o palco com alguns dos mais emblemáticos nomes da música de Cabo Verde, como Cesária Évora, Bana, Tito Paris, Ildo Lobo, Boy Gê Mendes, entre outros.

Compará-la a Cesária Évora -- como muitos desavisados fazem com frequência -- é quase um absurdo. Equivale a comparar Clementina de Jesus a Margareth Menezes. Não tem o menor cabimento.

Nancy Vieira é fascinada pela música da América do Sul, já gravou com músicos brasileiros e antilhanos, e vive em Lisboa há 23 anos -- desde quando seu pai, Herculano Vieira, assumiu como Embaixador de Cabo Verde em Portugal.

É considerada motivo de muito orgulho, tanto da parte dos caboverdeanos quanto dos portugueses.


“No Amá” é o quarto disco de Nancy Vieira -- o primeiro pelo selo lisboense Lusáfrica --, e é de uma beleza ímpar.

Aqui, a "princesa da voz de oiro", como é conhecida por lá, optou por deixar seu lado compositora de lado e gravar as canções de andou ganhando de presente de alguns dos compositores mais conceituados de Cabo Verde. 

Abre com uma canção adorável chamada “Maylen”, escrita pelo poeta e compositor Mario Lucio, atual Ministro da Cultura de Portugal – uma oportuna introdução a esse ótimo compositor, pela voz privilegiada de sua intérprete favorita.

Ao longo do disco, Nancy flerta com uma variedade enorme de saídas musicais que seguem em direção à África do Sul, para depois apontar para o Atlântico, estabelecendo pontes com a música da vários cantos da América do Sul – em particular, o Rio de Janeiro clássico, de Pixinguinha e de Nelson Cavaquinho, e o Nordeste brasileiro, que ela aparentemente conhece muito bem.

Como a atitude de Nancy é iconoclasta e sua postura musical sempre moderna, ela conduz tranqüilamente esse passeio musical a um porto seguro em números como “Brasil”, um sambinha em tom menor simplesmente encantador, para mais adiante voltar a brincar suavemente com os ritmos africanos em números como “Cigana de Curpin Ligante”.


Fãs mais ardorosos de Cesária Évora talvez considerem Nancy Vieira pop demais.

Talvez argumentem que ela está mais preocupada em agradar ao público europeu do que em resgatar os valores musicais de sua terra.

Tudo bem, cada um pensa o que quiser.

Mas estarão certamente equivocados. Eu, pessoalmente, prefiro confiar nas palavras amigas do Ministro da Cultura de Portugal, Mário Lúcio:

“Dizer que Nancy Vieira é cabo-verdiana poderia ser uma forma de justificar a sua inata musicalidade, mas não ficaria tudo dito. Da sua forma de estar e de interpretar as coisas da vida, com doçura, subtileza, ritmo e firmeza, emerge um caudal de emoções que reflecte uma “melancolia feliz”, espelhando a alma cabo-verdiana. Cabo Verde é inspiração. É causa e efeito no seu canto. O mundo é o auditório e parte integrante de uma miscelânea cultural que a influencia.”


INFO:
 http://www.radioculturaangolana.com/noticias/biografias/393-biografia-nancy-vieira.html 

DISCOGRAFIA:
 http://www.melomusic.nl/artist/english_nancy_vieira.htm#disco224 

WEBSITE OFICIAL:
 http://www.nancyvieira.net/

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quinta-feira, abril 19, 2012

A VOLTA TRIUNFAL DO PRÍNCIPE DO POWER-POP DWIGHT TWILLEY NUM DISCO ESPLÊNDIDO

Quem viveu os anos 70 e seguia os passos de bandas power-pop como Big Star, Badfinger e Raspberries, com certeza lembra com muito carinho da Dwight Twilley Band.

Era uma guitar-band americana fortemente influenciada pelos Beatles, com canções delicadas e ensolaradas, fruto da conjunção dos talentos de dois guitarristas, cantores e compositores brilhantes: Phil Seymour e o próprio Dwight Twilley.

Eles se conheceram em Tulsa, Oklahoma, 1967, depois de assistir “A Hard Day’s Night” num cinema da cidade.

Montaram sua banda, Oister, no ano seguinte, e passaram mais de cinco anos viajando por todo o Sul dos Estados Unidos, tentando gravar para algum selo que se interessasse por eles. Sem sucesso.

 

Só em 1974 eles conseguiram um contrato, com a gloriosa Shelter Records, de Denny Cordell e Leon Russell -- que, a essa altura do campeonato, não ia nada bem das pernas.

Cordell achou a banda ótima, mas também achou o nome Oister medonho.

Insistiu para que eles mudassem para Dwight Twilley Band e gravou com eles material suficiente para compor dois LPs diferentes.


Dessas gravações, saíram vários singles e também o primeiro LP deles, “Sincerely”, lançado pela ABC em 1976 em meio a uma confusão dos diabos, por conta do colapso financeiro da Shelter.

Foi sucesso de crítica e fiasco de público, sendo seguido no ano seguinte por “Twilley Don´t Mind” -- igualmente ótimo, mas que também não emplacou.

Foram tantas confusões empresariais e tantos revezes ao longo desses dois anos que a banda não suportou o tranco.

Phil Seymour e Dwight Twilley acharam por bem desistir do projeto da banda e seguir carreiras solo.


Com a explosão do pós-punk no final dos anos 70. ficou mais fácil para qualquer artista inglês ou americano conseguir um lugar ao sol na cena musical tocando "pop puro", como o que eles faziam.


Dwight Twilley seguiu a reboque das tournées do amigo Tom Petty e, com isso, conseguiu contratos com gravadoras que resultaram em vários discos muito bons, ainda que não tão eloquentes quanto os que gravara nos anos 70.

Já Seymour produziu apenas três discos ao longo dos anos 80, sendo que o primeiro (foto abaixo) é considerado hoje uma obra prima do power-pop.

Infelizmente, nenhum dos dois jamais conseguiu emplacar no Top 20 da Billboard.Pareciam estar fadados ao fracasso comercial.
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E então, Phil Seymour morre em 1993.

Paralelo a isso, Dwight Twilley resolve parar de correr atrás de contratos com gravadoras e de ter que trabalhar com produtores sem a menor consideração com a integridade de seu trabalho, e decide virar um artista independente.

Nesse meio tempo, tanto ele quanto Phil Seymour viram objeto de culto para as novas gerações.Seus discos antigos começam a ser relançados, e isso dá um gás todo especial à carreira meio combalida de Twilley.

O resultado prático disso é que, nos vinte anos que se seguiriam a esses acontecimentos, Dwight Twilley não sossegaria mais, produzindo discos em abundância e compondo canções extremamente apelativas e praticamente tão boas quanto as do tempo em que Seymour e ele faziam dobradinha.


O que nos leva a "Soundtrack", seu novo trabalho.

São canções autobiográficas e em tom confessional compostas especialmente para um documentário sobre sua vida artística, que ainda não foi lançado. Todas muito envolventes e invariavelmente grudentas.

Sua nova banda é ótima, com músicos das mais diversas faixas de idade. Impressionante como as guitarras de Twilley e de Bill Pitcock soam harmoniosas e estridentes na medida certa, resgatando boa parte da alquimia que rolava em seus primeiros discos, ao lado de Phil Seymour.

Em suma: a musicalidade de Dwight Twilley chega completamente revigorada nesse "Soundtrack", e isso é uma grande notícia para seus novos e velhos fãs.

Nada mais bacana do que vez um veterano talentoso como ele, que passou anos e anos dando murro em ponta de faca para manter sua carreira ativa, finalmente chegando a um porto seguro.



Enfim, se você gosta do power-pop dos Beatles, conheça “Soundtrack”, de Dwight Twilley.

É um disco “perfil baixo” espetacular, de um grande artista, talvez no melhor momento de sua carreira.

Um marco na história atrapalhada de um grande herói subestimado do rock and roll.


INFO: 
http://www.allmusic.com/artist/dwight-twilley-p5718/biography

DISCOGRAFIA: 
 http://www.allmusic.com/artist/dwight-twilley-p5718/discography

WEBSITE OFICIAL:
 http://www.dwighttwilley.com/

AMOSTRAS GRÁTIS:

quarta-feira, abril 18, 2012

ZECA BALEIRO CELEBRA 15 ANOS DE BONS DISCOS E MUITO RESPEITO PARA COM SEU PÚBLICO


Zeca Baleiro sabe bem onde pisa.

Quando surgiu 15 anos atrás -- com o cd “Por Onde Andará Stephen Fry” e o sucesso instantâneo “Heavy Metal do Senhor” --, foi tão bem aceito por crítica e pelo público que, sem querer, ofuscou seus próprios companheiros de gravadora – em particular, Chico César, que até então parecia uma grande promessa, mas se revelou apenas um “two-hit wonder”.

Zeca sabia que o mesmo revés que tomou conta da carreira de Chico César poderia assolar sua carreira também. Para isso, bastaria descuidar dela se comportando como popstar deslumbrado que torra rios de dinheiro com um séquito de interesseiros e perdendo controle sobre as ações de sua gravadora em seus discos.

Para todos os efeitos, Zeca se manteve alerta o tempo todo nos primeiros 6 anos de sua carreira.

Em 2004, depois de 4 discos para a MZA Discos -- do veterano produtor Mazola --, percebeu que o mercado fonográfico estava encolhendo a olhos vistos e virando uma prisão -- e ele iria dançar.

Foi quando assumiu o comando de sua própria carreira, passando a ser produtor independente em uma seqüência vitoriosa de discos felizmente muito bem recebidos pelo público.

“O Disco do Ano” é o décimo primeiro de sua carreira.

O conceito é irônico. Passa a idéia de rotina anual, com Zeca no balcão de uma loja, de cara fechada, vendendo seu peixe ao público sem muita convicção.

Na verdade, não é nada disso. É um trabalho ambicioso, que levou muito tempo para ser realizado. E é também um trabalho caro, de formiguinha, já que cada faixa conta com um produtor diferente -- sendo que algumas trazem convidados muito especiais, como Andréia Dias e Margareth Menezes.

Mas é, antes de mais nada, um disco extremamente bem resolvido, com canções fortíssimas como “O Desejo” (em dueto com Chorão) e “Mamãe No Face” -- ambas com um potencial radiofônico e (ao menos uma delas) com lugar garantido nas trilhas das novelas da TV Globo que acabam de estrear.

Como disse no começo, Zeca sabe bem onde pisa.

Aprendeu com seu amigo Lenine a nunca subestimar seu público, e a nunca oferecer a ele menos do que espera do artista. Assim como Lenine, acredita em honestidade e integridade artísticas. E, a conselho de Lenine, fechou um acordo de distribuição com a Globo Discos de todos os lançamentos de seu selo Saravá -- o que inclui o novo disco de Odair José, "Praça Tiradentes", orgulhosamente produzido por ele, Zeca Baleiro.

Com um pouco de sorte, quem sabe esses primeiros 15 anos de vida artística de Zeca sejam apenas o início de uma carreira longa e bem sucedida, tanto como artista quanto como produtor.

Como diria Chacrinha, o Velho Guerreiro: "Ele merece... Ele merece..."


INFO: 
 http://pt.wikipedia.org/wiki/Zeca_Baleiro
DISCOGRAFIA: 
 http://www.dicionariompb.com.br/zeca-baleiro/discografia
WEBSITE OFICIAL: 
 http://www2.uol.com.br/zecabaleiro/

LANÇAMENTO PREVISTO PARA A ÚLTIMA SEMANA DE ABRIL
ENCOMENDE JÁ O SEU NA DISQUERIA:
 
AMOSTRAS GRÁTIS:

quarta-feira, abril 11, 2012

CAIO BOSCO MERGULHA DE CABEÇA NAS ÁGUAS PROFUNDAS DA SOUL MUSIC EM SEU NOVO DISCO


Eu me considero uma das pessoas menos indicadas para escrever uma apreciação crítica do novo disco desse jovem soulman talentoso e esforçado chamado Caio Bosco.

É que eu o conheço bem.

Vejo o Caio há sei lá quantos anos correndo atrás de uma personalidade para seu trabalho, pesquisando incessantemente os mais diversos gêneros e experimentando água de todas as fontes musicais disponíveis.

Ele é um daqueles artistas que já nascem com mentalidade de produtor, e que não sossegam enquanto não encontram a melhor moldura sonora para suas canções – mesmo que esse processo exija uma disponibilidade de tempo que ele, como cantor e compositor, nem sempre tem.

Mas o legal é que, nesse embate meio esquizofrênico consigo mesmo, a música de Caio sai sempre ganhando.


Foi assim com os dois discos que fez à frente do Radiola Santa Rosa entre 2004 e 2006, quando ainda usava o nome Caio Dubfones e circulava pela cena hip-hop com um trabalho "low profile" extremamente original.

E foi assim também com o EP “Diamante”, o primeiro gravado com seu nome Caio Bosco, 3 anos atrás, onde deixava o hip-hop de lado e brincava de Tim Buckley e de Beck Hansen em 6 canções no mínimo inusitadas – eu, pessoalmente, adoro “Eu Não Quero Ser Sua Garota Nunca Mais”, composta depois de presenciar uma discussão entre um casal de meninas.

Pois agora, em 2012, com esse recém-lançado “Caio Bosco”, ele volta novamente repaginado e se afirma como “blue-eyed soulman”, soltando a voz em números expressivos e delicados como “Em Frente”, que remete a Curtis Mayfield no início dos anos 70, e também “Miss High Times”, onde mistura Jorge Ben pré-Banda do Zé Pretinho com grooves que lembram Norman Whitfield.


Caio não mediu esforços para que seu novo disco soasse analógico.

Enviou os tapes para o especialista Jim Waters, responsável por verdadeiros milagres sonoros em discos do Sonic Youth e do Jon Spencer Blues Explosion, além de Lucinda Williams e R L Burnside, e aqui ele repete a dose em grande estilo.

Para completar, "Caio Bosco" foi masterizado em Nova York pelo também especialista Fred Kervokian, responsável pelo arremate final na brincadeira.


Enfim, o motivo pelo qual sou uma das pessoas menos indicadas para escrever uma apreciação crítica do novo disco do Caio Bosco é que eu só consigo ver as virtudes dele, que não são poucas.

É um artista emergente admirável, que, com um pouco de sorte, ainda vai dar muito o que falar.

Claro que ele ainda não é um artista consumado. Ninguém o é.

E claro que Caio ainda pode melhorar muito, tanto como cantor e compositor quanto como produtor – e vai melhorar, sempre, até porque é um artista inquieto em busca da maneira mais acertada de se expressar musicalmente.

No momento, o que ele tem para oferecer é esse cd aqui: “Caio Bosco”.

Acreditem, não é pouco.



WEBSITE OFICIAL:
http://caiobosco.com/

Já à venda na Nova DISQUERIA, em Santos


AMOSTRAS GRÁTIS: