Quando vejo artistas como Joseph Arthur, lembro na hora de
meu amigo de infância Zéllus Machado, falecido recentemente.
Assim, como Zéllus, Joseph Arthur só não
emplacou no mainstream porque seus múltiplos talentos de alguma forma
conspiraram contra isso.
Seus shows sempre misturam recitais de canções com oficinas
de pintura -- e muitas vezes, enquanto os músicos de sua banda tocam, Joseph pinta uma tela em algum canto do palco.
Seu público – bem dirigido, e bem reduzido - delira sempre que faz isso.
Seu público – bem dirigido, e bem reduzido - delira sempre que faz isso.
Artistas como eles dois passam a vida brigando por um lugar
ao sol, e jamais abrem mão de seus ideais artísticos para se adequarem ao
mercado fonográfico.
E não fazem isso intencionalmente.
Fazem porque não conseguem conceber o trabalho que
desenvolvem finalizado de outra maneira que não seja “a maneira deles”.
É quase uma sina.
É quase uma sina.
Joseph Arthur nasceu em Akron, Ohio, 40 anos atrás, mas caiu
fora de lá assim que pôde.
Foi tentar a sorte no circuito folk da Califórnia, e em 1997
deu a sorte -- e também o azar -- de ser descoberto por Peter Gabriel, que o
contratou para seu selo New World, voltado prioritariamente para artistas de
world music.
Seu primeiro disco para o selo, “Big City Secrets”, serviu
para tirá-lo do ghetto folk e projetá-lo para o público de Peter Gabriel. No
entanto, as dificuldades financeiras da New World impediram que ele recebesse a
promoção que merecia, ficando perdido num limbo artístico por quase três anos.
Só no seu terceiro trabalho, “Come To Where I'm From”
(2000), com produção de T-Bone Burnett e uma levada mais country rock, Joseph
Arthur conseguiu atingir um público mais amplo.
Devidamente amparado pela Virgin Records, ele começou a
desenvolver projetos mais ambiciosos, sempre influenciado por Gabriel e
seguindo conselhos de amigos como Joe Henry e T-Bone Burnett.
Levou alguns anos até a Virgin finalmente se desinteressar
dele. Mas quando isso aconteceu, Joseph Arthur já era uma força emergente na
cena independente.
De lá para cá, gravou uma série de Lps e EPs impeacáveis com
sua banda The Lonely Astronauts para seu selo próprio, mesclando folk com pop
em contextos sonoros no mínimo inusitados e firmando-se como um dos
compositores mais solicitados da cena atual.
Diz, orgulhoso, que sua obra com músico e como pintor são uma
coisa só -- que ele chama, gargalhando, de “Museum Of Modern Arthur”.
Pois bem, no início de Janeiro, sete meses depois de lançar
seu último disco, Joseph Arthur decidiu não fazer uma versão industrial de seu
trabalho seguinte, e o lançou direto em seu website, para download gratuito.
Até aí, nada demais. Muitos artistas tem feito isso de uns tempos
para cá, liberando demos, tapes variados e gravações que ficaram fora de discos
anteriores.
Só que “Redemption City” não é uma coleção de sobras.
Muito pelo contrário: é um disco coeso, com 24 canções novas, performances muito bem acabadas e produção impacável.
Muito pelo contrário: é um disco coeso, com 24 canções novas, performances muito bem acabadas e produção impacável.
Segundo Arthur, tanto esse esse “Redemption City” quanto “Boogie
Christ”, que deve ser lançado em breve, já estavam prontos antes de “The
Graduation Ceremony”, seu disco do ano passado, e ele já está terminando mais
um – daí, não pareceu fazer sentido segurar todo esse material até surgir uma
oportunidade comercial para lançá-los.
E ele tem razão: “Redemption City” vem na mesma trilha de excelência de seus
trabalhos anteriores.
É uma viagem urbana extremamente climática – semelhante em
parte às promovidas por Lou Reed em “New York” e David Bowie em “Station To
Station” -- onde a delicadeza musical de Joseph Arthur se expressa em diversos
formatos.
Tem desde números de rock and roll acelerados como “Travel
As Equals” e “No Surrender Comes For Free”, até baladas em tom de sonho como
“You´re Not The Only One”, com climas que remetem a Leonard Cohen, Peter Wolf ,
John Cale e – porque não? – Peter Gabriel, seu primeiro mentor musical.
Para um disco conceitual, até que “Redemption City” é bem
contagiante -- não permite em momento algum que o peso do conceito prejudique a valor
individual das canções que compõem o conjunto.
Enfim, é mais um álbum ousado na carreira de Joseph Arthur. Que ele, pelo visto, queria que todos ouvissem --
mesmo sem ver um tostão de royalties.
Sendo assim, faça a sua parte: baixe “Redemption City” direto
do website de Joseph Arthur, sem sentimentos de culpa, e tire suas próprias
conclusões.
Só não deixe esse belo disco desse artista multitalentoso passar
batido.
O Museum of Modern Arthur agradece sua visita.
INFO:
http://www.allmusic.com/artist/joseph-arthur-p202311/biography
DISCOGRAFIA:
http://www.allmusic.com/artist/joseph-arthur-p202311/discography
WEBSITE OFICIAL:
http://www.josepharthur.com/
AMOSTRAS GRÁTIS:
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