Os anos 80 foram uma espécie de Nova Idade Média para a cena do rock and roll.
Foi quando surgiu o conceito de LP blockbuster --
difundido por Michael Jackson, Prince e Madonna –, que expulsou do mercado todo
e qualquer artista que pretendesse seguir trabalhando com públicos segmentados.
Foi muito cruel. De uma hora para outra, grandes nomes que haviam brilhado
intensamente nos anos 70 foram escanteados e impiedosamente trocados por
figuras duvidosas inventadas nos escritórios dos executivos das gravadoras.
Essa Nova Idade Média durou até o início dos 90, quando as
gravadoras finalmente se deram conta de que estavam jogando fora o que tinham
de melhor: seus compositores e seus artistas mais tarimbados.
O engraçado é que, nos anos 80, a cena da country music
vivia uma situação diametralmente oposta a essa.
Os produtores de Nashville haviam aceitado uma
série de mudanças de comportamento dos artistas da cidade por conta da postura
anti-conservadora dos novos astros do gênero que vinham da cena liberal de
Austin nos anos 70 – gente como Willie Nelson, Waylon Jennings e Billy Joe Shaver , e que chegavam abençoados por ninguém menos que Johnny Cash.
E o diabo é que, ao longo dos anos 80, não parava de
aparecer em Nashville gente estranha, desalinhada e muito talentosa vinda de Austin. E Nashville deixava entrar. Fazer o que? Era a renovação do gênero que estava em jogo. Os barões de Nashville podiam ser conservadores, mas definitivamente não rasgam dinheiro.
Steve Earle, por exemplo, apareceu tocando um rockabilly bem
desaforado quando explodiu com “Guitar Town”.
Dwight Yoakam reinventou o honky-tonk dos tempos de Hank Williams, só que com uma guitarra elétrica nas mãos, na “Guitars, Cadillacs, etc”.
E K D Lang era estranhíssima: uma homossexual esquimó vinda do Canadá com atitude de Patsy Cline e voz de crooner de orquestras de jazz.
Dwight Yoakam reinventou o honky-tonk dos tempos de Hank Williams, só que com uma guitarra elétrica nas mãos, na “Guitars, Cadillacs, etc”.
E K D Lang era estranhíssima: uma homossexual esquimó vinda do Canadá com atitude de Patsy Cline e voz de crooner de orquestras de jazz.
Mas, de todos eles, o mais estranho e inclassificável – e também o
mais ambicioso e agradável deles todos – era sem dúvida Lyle Lovett.
Lyle Lovett era um artista múltiplo, capaz de encarar
qualquer estilo musical, na mesma tradição texana heróica de seus heróis Bob Willis e
Doug Sahm.
Paralelo à sua carreira musical, trabalhava como ator sempre que era convocado por seu amigo e admirador Robert Altman -- que adorava seu queixo quadrado e sua expressão enigmática -- e então, nas filmagens de "O Jogador", conheceu Julia Roberts e os dois se casaram.
Paralelo à sua carreira musical, trabalhava como ator sempre que era convocado por seu amigo e admirador Robert Altman -- que adorava seu queixo quadrado e sua expressão enigmática -- e então, nas filmagens de "O Jogador", conheceu Julia Roberts e os dois se casaram.
Seus primeiros discos com sua Large Band -- que incluía uma
extensa sessão de metais que soava redonda tanto em números country e pop
quanto em números de jazz, blues e de rock and roll --, deixaram todo mundo
boquiaberto, pois tornavam quase impossível qualquer iniciativa de rotulá-lo e empacotá-lo para tocar
no rádio.
E o diabo é que, mesmo assim, ele emplacou vários singles,
tanto em emissoras country quanto em emissoras de rock.
Pois bem, 25 anos se passaram desde sua estréia em 1986, e
eis que Lyle Lovett agora em 2011 é intimado judicialmente por sua ex-gravadora
Curb Records a entregar um último disco para fechar um contrato assinado
naquela época.
E não é que, para surpresa geral, ele entrega um disco
divertidíssimo, repleto de covers, chamado “Release Me” -- tão bom e tão
inteligente que nem parece uma “obrigação contratual”.
O repertório mistura alhos com bugalhos, formando um conjunto
estranhamente coeso.
Tem uma releitura brilhante da balada country cafona
“Release Me”, grande sucesso do inclasificável Engelbert Humperdinck, num dueto delicioso com K D Lang.
Tem também uma versão estranhíssima de “Brown Eyed Handsome Man” de Chuck Berry, que lembra o Grateful Dead tocando soul music.
E tem ainda uma releitura desconcertante para “Baby It´s Cold Outside”, grande sucesso de Ray Charles e Betty Carter. Entre muitas outras coisas.
Tem também uma versão estranhíssima de “Brown Eyed Handsome Man” de Chuck Berry, que lembra o Grateful Dead tocando soul music.
E tem ainda uma releitura desconcertante para “Baby It´s Cold Outside”, grande sucesso de Ray Charles e Betty Carter. Entre muitas outras coisas.
Obviamente, “Release Me” não é um projeto artístico do mesmo
nível de “Joshua Judges Ruth”, “I Love Everybody” ou “The Road To Ensenada” –
grandes discos da carreira de Lyle Lovett.
Nem pretende ser.
Mas equivale a pedir um prato de arroz com feijão para um grande cozinheiro num excelente restaurante.
Nem pretende ser.
Mas equivale a pedir um prato de arroz com feijão para um grande cozinheiro num excelente restaurante.
Convenhamos: não existe a menor chance de um prato tão trivial, nas mãos do grande cozinheiro em questão, não se revelar algo no mínimo espetacular.
INFO:
http://www.allmusic.com/artist/lyle-lovett-p4798/biography
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DISCOGRAFIA:
http://www.allmusic.com/artist/lyle-lovett-p4798/discography
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WEBSITE OFICIAL:
http://www.lylelovett.com/
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