domingo, abril 15, 2012

NICK HORNBY, A CULPA É TODA SUA.


Listas de melhores discos do ano -- de melhor isso, ou melhor aquilo -- sempre foram a salvação dos pauteiros no Jornalismo Cultural. Sempre que chegava o fim de ano, e as pautas estavam esgotadas, com nada acontecendo em lugar algum, as listas de melhores eram providenciais para salvar os Cadernos B dos jornais da mais absoluta falta de assunto.

Mas então, os sempre criativos editores da Rolling Stone americana – ainda nos tempos em que a sede da revista era em San Francisco, e não Nova York – resolveram dar uma dimensão bem mais ambiciosa a essas listas, montando edições inteiras da revista com “Os 100 Melhores Discos dos Anos 60”, “Os 100 Melhores Discos dos Anos 70”, “Os 100 Artistas Mais Influentes do Rock And Roll”, etc etc etc -- sempre comentados um a um por seu extenso time de articulistas.
Desnecessário dizer que essa atitude da Rolling Stone não só foi um sucesso, como foi copiada “ad nauseam” por toda a Imprensa nesses últimos 35 anos, banalizando a iniciativa por completo e fazendo dela um cacoete populista um tanto quanto irritante – mas que deve ter lá seus fãs, categoria na qual eu, definitivamente, não me incluo.

O caso é que tudo isso proliferou de forma desenfreada depois do romance “Alta Fidelidade”, de Nick Hornby, cujo personagem principal elabora listas de Top 5 de praticamente tudo o que vê pela frente, o tempo todo, no limite do insuportável.

E o diabo é que, dependendo da maneira como essas “listas de melhores” são anunciadas em portais da música, a gente vai lá e olha, mesmo sabendo de antemão que vai acabar se aborrecendo.


Pois bem, o NME publicou nesta semana uma dessas listas -- essa bem diferente das habituais, com os “Cinquenta Melhores Produtores de Discos” de todos os tempos. Eu achei a idéia original, fui lá dar uma olhada e... só aborrecimento! Eles praticamente desconsideraram todos os grandes produtores dos anos 60 e 70.

Para o NME, grandes craques da produção como Lenny Waronker, Russ Titelman, Peter Asher, Bill Szymszyk, Richard Perry, Bones Howe, Rob Fraboni, Allen Toussaint, Smokey Robinson, Phil Walden, Chris Blackwell, Denny Cordell, Bob Ezrin, Nick Lowe e John Cale nunca existiram. Em vez deles, vários rappers e algumas criaturas esquecidas da Era Disco – como Biddu, da famigerada Biddu Orchestra – foram agraciados com postos privilegiados na lista. Um horror.

Mas aí vem o pior de tudo: nos comentários abaixo da postagem no portal do NME, vários produtores famosos, enfurecidos com os critérios levianos utilizados na escolha, soltaram os cachorros em cima dos jornalistas responsáveis, sem e menor piedade.


Para citar um exemplo: Tony Visconti, ex-produtor de David Bowie, não só corrigiu dados historicamente incorretos publicados nos textos que acompanhavam a lista, como ainda agradeceu por ter sido preterido de uma empreitada tão insignificante.

Ah, bons tempos em que a Imprensa Musical seguia diretrizes bastante criativas e diferenciadas das adotadas pelos jornalões. Não era isso que é hoje, com tudo totalmente dominado por pautas sem imaginação e matérias escritas para agradar clientes de Assessorias de Imprensa que sempre mandam bons presentes no final do ano.

Felizmente, com a chegada das revistas pós-industriais no formato de blogs especializados na web, tudo esse panorama começou a mudar de alguns anos para cá. Revistas como Rolling Stone e New Musical Express deixaram de ter a importância que tinham antes. Hoje, todo blogueiro com alma de publisher sabe que pode ser o próximo Ralph J Gleason. Basta querer, ter um bom projeto e achar um atalho para chegar ao público almejado. O resto é sorte.

Nenhum comentário: