sexta-feira, abril 13, 2012

CHARLES LLOYD, MAIS UMA VEZ ABRINDO NOVAS FRONTEIRAS PARA O JAZZ NUM LP EMOCIONANTE


Charles Lloyd é um artista singular.

Figura ímpar na cena do jazz de Los Angeles – onde vive desde 1956, quando foi estudar música clássica na UCLA --, esse grande saxofonista sempre apostou suas fichas em propostas musicais nada fáceis e nada óbvias.

É um músico que adora flertar com extremos -- e que, depois, não descansa enquanto não ergue pontes musicais que liguem um desses extremos ao outro.

Seu background como integrante de bandas de blues em Memphis, sua cidade natal -- tocou com B B King, Bobby Bland e até Howlin’ Wolf -- fez dele um dos músicos mais cobiçados em Los Angeles por artistas dos mais diversos gêneros nos anos 50 e 60. E ele não fazia doce, não. Tocava com gente das mais diversas linhagens. E com prazer. Sem preconceitos.

Mas na verdade era o jazz experimental que o interessava, e Charles Lloyd logo se envolveu com os artistas mais transgressores da cena jazzística da época – nada menos que os saxofonistas Ornette Coleman, Eric Dolphy e Cannonball Adderley, o vibrafonista Bobby Hutcherson, o baixista Charles Mingus e o pianista Chico Hamilton, com quem gravou incansavelmente como sideman.


Foi por conta dessas escolhas complicadas que Charles Lloyd demorou muito para gravar um disco comandando seu próprio grupo. Só que quando estreou solo, foi pra valer.

Seu primeiro LP com seu quarteto, “Discovery”, só foi ver a luz do dia em 1965. E que quarteto: Jack deJohnette na bateria, Cecil McBee no contabaixo e nada menos que Keith Jarrett ao piano -- todos iniciando suas carreiras.

Com esses grandes jovens músicos a tiracolo, Lloyd seguiu pesquisando fusões musicais entre jazz de vanguarda e música oriental em LPs nada menos que espetaculares, como “Dream Weaver”, “Love In”, “Live In Europe” e principalmente “Forest Flower: Live At Monterey Pop” -- o primeiro álbum de jazz a cair no gosto do público de rock and roll, vendendo mais de um milhão de cópias.

Daí em diante, Charles Lloyd começou a participar de jams com artistas dos mais diversos gêneros – de Jimi Hendrix a Ravi Shankar, do Cream ao Grateful Dead, de Carlos Santana aos Byrds --, e, justamente quando estava no topo de sua carreira, em 1972, decidiu se recolher na bucólica Big Sur, perto de Monterey, deixando a música de lado para se dedicar integralmente à meditação transcedental.


Só dez anos mais tarde, Charles Lloyd ressurgiu na cena jazzística da Califórnia.

Seus primeiros trabalhos foram feitos em dobradinha com músicos jovens e emergentes, como Michel Petrucciani e Stanley Jordan, e pareciam algo tímidos perto de tudo o que ele havia realizado nos anos 60.

Mas então, eis que, bem na virada dos anos 80 para os 90, o velho espírito experimentalista toma conta de Charles Lloyd novamente, numa série espetacular de 14 discos (até agora) para o selo holandês ECM.


O mais recente deles, “The Athens Concert”, saiu há poucos meses, e eu confesso que não consigo passar uma semana sem ter vontade de ouví-lo novamente.

Aqui, sua banda multinacional recebe o reforço da contralto grega Maria Farantouri numa viagem musical que une – a idéia é essa mesmo: unir -- jazz, música indiana e música grega como nunca nenhum músico de jazz jamais ousou fazer.

E então, sem a menor dificuldade, o repertório jazzístico de Charles Lloyd se funde com as canções dramáticas de Maria Faranturi numa aventura operística transcedental, que eleva o ouvinte a um patamar assombroso de consciência e percepção musicais.


“The Athens Concert” é um LP de uma beleza arrebatadora, de uma integridade artística admirável e de uma coragem invejável. Na medida certa para coroar Charles Lloyd como uma das maiores forças criativas do jazz em todos os tempos e um artista de primeríssima grandeza de qualquer gênero musical.

Só para finalizar: “The Athens Concert” é a prova definitiva de que toda a trajetória acidentada de Charles Lloyd ao longo desses quase 60 anos de carreira não só faz todo o sentido do mundo, como também foi absolutamente necessária para que hoje ele possa ostentar toda essa grandeza existencial e artística.

Ouça, e não se emocione profundamente se for capaz.


INFO:
http://www.allmusic.com/artist/charles-lloyd-p6991/biography

DISCOGRAFIA:
http://www.allmusic.com/artist/charles-lloyd-p6991/discography

WEBSITE OFICIAL:
http://www.charleslloyd.com/

AMOSTRAS GRÁTIS:


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