Ano passado, quando Cesária Évora morreu, muita gente deve
ter-se perguntado:
“E agora, o que vai ser da Música de Cabo Verde?”
A ignorância dos brasileiros em relação à música produzida
no Continente Africano é tão grande e tão assustadora que deve fazer sentido
para muita gente a hipótese maluca de que Cesária Évora fosse a única representante
musical daquele país.
E que, depois dela, a música tivesse se calado por lá.
Pois bem: basta visitar o Rio Grande do Norte e perguntar a qualquer
um que acompanhe a cena musical de Natal sobre a música de Cabo Verde, e muitos
vão citar o nome de uma cantora muito bonita e extremamente talentosa que já cantou duas vezes por lá.
Que, curiosamente, até hoje não circulou pelo resto do Brasil, por absoluta
falta de convite.
Seu nome: Nancy Vieira.
Nancy Vieira tem 37 anos de idade, 18 anos de carreira, 4 discos gravados e
uma bela reputação por todos os países da Europa, onde se apresenta regularmente.
Sua atitude musical é cosmopolita, e foge das
armadilhas do folk de Cabo Verde que limitariam o alcance de sua música no
exterior, utilizando o folk africano apenas como ponto de partida para poder levar sua
música para onde quiser.
Já dividiu o palco com alguns dos mais emblemáticos nomes da
música de Cabo Verde, como Cesária Évora, Bana, Tito Paris, Ildo Lobo, Boy Gê
Mendes, entre outros.
Compará-la a Cesária Évora -- como muitos desavisados fazem com frequência -- é quase um absurdo. Equivale a
comparar Clementina de Jesus a Margareth Menezes. Não tem o menor cabimento.
Nancy Vieira é fascinada pela música da América do Sul, já gravou com
músicos brasileiros e antilhanos, e vive em Lisboa há 23 anos -- desde quando seu pai, Herculano Vieira, assumiu como Embaixador de Cabo Verde em Portugal.
É considerada motivo de muito orgulho, tanto da parte dos caboverdeanos quanto dos portugueses.
É considerada motivo de muito orgulho, tanto da parte dos caboverdeanos quanto dos portugueses.
“No Amá” é o quarto disco de Nancy Vieira -- o primeiro pelo selo
lisboense Lusáfrica --, e é de uma beleza ímpar.
Aqui, a "princesa da voz de oiro", como é conhecida por lá, optou por deixar seu lado compositora de lado e gravar as canções de andou ganhando de presente de alguns dos compositores mais conceituados de Cabo Verde.
Aqui, a "princesa da voz de oiro", como é conhecida por lá, optou por deixar seu lado compositora de lado e gravar as canções de andou ganhando de presente de alguns dos compositores mais conceituados de Cabo Verde.
Abre com uma canção adorável chamada “Maylen”,
escrita pelo poeta e compositor Mario Lucio, atual Ministro da Cultura de
Portugal – uma oportuna introdução a esse ótimo compositor, pela voz
privilegiada de sua intérprete favorita.
Ao longo do disco, Nancy flerta com uma variedade enorme de
saídas musicais que seguem em direção à África do Sul, para depois apontar para
o Atlântico, estabelecendo pontes com a música da vários cantos da América do Sul –
em particular, o Rio de Janeiro clássico, de Pixinguinha e de Nelson Cavaquinho, e o Nordeste brasileiro, que ela aparentemente conhece muito bem.
Como a atitude de Nancy é iconoclasta e sua postura musical
sempre moderna, ela conduz tranqüilamente esse passeio musical a um porto seguro
em números como “Brasil”, um sambinha em tom menor simplesmente encantador, para mais
adiante voltar a brincar suavemente com os ritmos africanos em números como “Cigana de Curpin Ligante”.
Fãs mais ardorosos de Cesária Évora talvez considerem Nancy
Vieira pop demais.
Talvez argumentem que ela está mais preocupada em agradar ao
público europeu do que em resgatar os valores musicais de sua terra.
Tudo bem, cada um pensa o que quiser.
Mas estarão certamente equivocados. Eu, pessoalmente, prefiro confiar nas palavras amigas do Ministro da Cultura de Portugal, Mário Lúcio:
Mas estarão certamente equivocados. Eu, pessoalmente, prefiro confiar nas palavras amigas do Ministro da Cultura de Portugal, Mário Lúcio:
“Dizer que Nancy Vieira é cabo-verdiana poderia ser uma
forma de justificar a sua inata musicalidade, mas não ficaria tudo dito. Da sua
forma de estar e de interpretar as coisas da vida, com doçura, subtileza, ritmo
e firmeza, emerge um caudal de emoções que reflecte uma “melancolia feliz”,
espelhando a alma cabo-verdiana. Cabo Verde é inspiração. É causa e efeito no
seu canto. O mundo é o auditório e parte integrante de uma miscelânea cultural
que a influencia.”
INFO:
http://www.radioculturaangolana.com/noticias/biografias/393-biografia-nancy-vieira.html
http://www.radioculturaangolana.com/noticias/biografias/393-biografia-nancy-vieira.html
DISCOGRAFIA:
http://www.melomusic.nl/artist/english_nancy_vieira.htm#disco224
WEBSITE OFICIAL:
http://www.nancyvieira.net/
AMOSTRAS GRÁTIS:
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