quinta-feira, agosto 09, 2012

AIMEE MANN VOLTA MESCLANDO DENSIDADE EXISTENCIAL E CHARME NUM LP MAGNÍFICO


Quem acompanhou a passagem do grupo Til Tuesday pela cena pop americana em meados dos anos 80, jamais poderia suspeitar que aquela loira bonitinha que cantava quase sussurrado no grupo iria um dia se transformar numa das maiores compositoras pop americanas, produzindo canções de uma grandeza muito próxima à de Joni Mitchell e Rickie Lee Jones, suas mentoras.

Aimee Mann começou sua carreira ganhando as pessoas pela simpatia e pela delicadeza, mas aos poucos foi revelando uma habilidade literária na composição de suas canções -- quase sempre baseadas em vivências pessoais, mas jamais confessionais.

Os dois primeiros discos do Til Tuesday são apenas trabalhos medianos e sem grandes atrativos artísticos. Mas o terceiro e último disco da banda, "Everything´s Different Now" (1988), mostra um salto qualitativo considerável nas canções de Aimee Mann, e traz uma parceria dela com Elvis Costello que já nasceu clássica: "The Other End Of The Telescope".


Daí por diante, ficou claro que o talento de Aimee não cabia mais na banda, e não teve jeito: o Til Tuesday debandou.

Mas não sem antes arrumar uma confusão do tamanho de um bonde com a Epic, que, por brigas contratuais, impediu que Aimee se lançasse solo antes de 1993 -- quando finalmente brilhou com "Whatever", uma estréia magistral, e "I´m With Stupid", uma sequência brilhante, que emplacou dois singles arrebatadores: "That´s Just What You Are" e "You Could Make A Killing".

Então, veio "Bachelor #2" e o filme "Magnólia", criado pelo grande diretor e roteirista Paul Thomas Anderson a partir de algumas canções extremamente contundentes de Aimee, e o resultado foi que, na cerimònia dos Oscars de 2001, Aimee Mann foi revelada para o mundo inteiro.

Ao contrário do esperado, Aimee Mann não optou pelo big business e preferiu resguardar seu trabalho,   para manter sua autonomia criativa. Nos últimos dez anos, gravou cinco discos, quase todos conceituais ou, ao menos, temáticos.

E um muito diferente do outro.


"Charmer", seu mais recente trabalho, é uma deliciosa coleção de canções na mesma linha de "Bachelor #2" (2000), que circulam em torno de um mesmo tema: o aprendizado do uso cotidiano do Charme como meio de sobrevivência num mundo cada vez mais apegado a aparências.

As canções falam de desilusões, ilusões, descaminhos e revelações íntimas por meio de epifanias poéticas que mais parecem uma longa sessão de terapia. A maneira como Aimee promove a alternância desses temas faz com que o encadeamento das canções no disco soe perfeito.

Ela está em excelente forma artística. O tom de suas canções segue um padrão de serenidade muito interessante. Pelo visto, está vivendo um momento muito especial de sua vida. E isso, para quem a conhece de vários romances anteriores, acaba se refletindo no tom das suas novas canções.

Mas jamais espere otimismo em demasia na produção poética de Aimee Mann. A barra pesada está sempre logo alí na esquina, à espreita, em números contundentes como 'Living A Lie" e "Disappeared". 

A maneira como ela aborda esse universo, no entanto, é sempre feita com o devido distanciamento.
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E não há muito mais o que dizer, exceto que "Charmer" engana o ouvinte desavisado, pois é muito mais profundo do que aparenta à primeira vista, e também muito menos leve do que sua sonoridade indica.


Se bem que, para quem está familiarizado com o trabalho de Aimee Mann, isso não vai ser exatamente novidade. Aliás, para quem conhece e gosta do trabalho de Aimee Mann, "Charmer" tem tudo para ser um dos melhores discos desse ano.

Não sei quanto a vocês, mas eu adoro essa garota-enxaqueca encantadora, que acaba de completar 52 anos de idade insuspeitos.

Agradeçam por Aimee Mann continuar assim como sempre foi, complicada e perfeitinha.

Da minha parte, é um grande prazer poder saudar a sua volta.



BIO-DISCOGRAFIA
http://www.allmusic.com/artist/aimee-mann-mn0000610346

WEBSITE PESSOAL
 http://www.aimeemann.com/

AMOSTRAS GRÁTIS

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