terça-feira, agosto 21, 2012

O LEGADO DE DIZZY GILLESPIE, POR SEU MAIOR DISCÍPULO: ARTURO SANDOVAL


Dizzy Gillespie, mais do que qualquer outro músico de jazz de sua geração, promoveu a aproximação do Bebop com o som das Big Bands. Com isso, criou um híbrido de Orquestra de Jazz que, apesar de ter sido um pouco incompreendido no início, pouco a pouco virou um padrão musical seguido por muitos arranjadores, e suas influências acabaram sendo incorporadas até mesmo em Orquestras clássicas de jazz, como a do venerável Count Basie.

Quem subestima o legado de Dizzy ao compará-lo com Gil Evans -- e tem muita gente por aí que faz isso --comete um equívoco terrível.

O problema com Dizzy é que ele sempre foi visto com desconfiança por setores da crítica por ter-se aborrecido com as limitações do Bebop no início dos anos 50 e mergulhado de cabeça na música cubana, carregando consigo seu amigo Charlie Parker -- justo ele, a expressão máxima do Bebop.

Foi a partir daí que seus detratores passaram a chamar sua música, pejorativamente, de Cubop.

Mas ao longo dos anos 60, com a chegada de praticamente todos os grandes artistas cubanos e porto-riquenhos à América, Dizzy virou uma espécie de cicerone deles e ajudou a colocá-los no mapa musical do jazz internacional, mergulhando ainda mais fundo tanto no universo da música latina quanto no universo pop.

Com isso, o termo Cubop acabou ganhando seriedade e notoriedade, levando sua música a se impôr como a antítese à música cerebral e de ruptura produzida pelo velho amigo Miles Davis.



De todos os artistas latinos que ganharam vulto trabalhando ao lado de Dizzy Gillespie, o trumpetista cubano Arturo Sandoval é certamente o mais bem sucedido.

Nascido em Havana, Cuba, em 1949, é um músico excepcional capaz de tocar qualquer gênero musical, dono de um estilo incendiáirio no trumpete, que, estranhamente, se alterna com um toque terno e suave no seu flugelhorn.

Ne entanto, apesar de toda a sua versatilidade, nada dá mais prazer a Arturo Sandoval do que passear pelo repertório de seu mentor Dizzy Gillespie, que o lançou nos Estados Unidos nos anos 80 em sua United Nations Orchestra. Cuna, 1949,

Desde que pediu asilo político há 23 anos, Arturo virou cidadão do mundo. Foi morar em Miami Beach e depois no Sul da Califórnia com sua família. Daí em diante, passou a trazer para sua música uma Cuba cada vez mais idealizada e distante.

Em seus primeiros anos na América, sua produção musical foi intensa, a princípio em discos meio duvidosos para a GRP Records, mas logo Arturo acertou o passo em gravações impecáveis para a Columbia e, mais recentemente, para a Telarc e para a Concord.


"Dear Diz (Every Day I Think of You)", seu mais recente trabalho para a Concord, é mais que simplesmente um tributo ao mestre Dizzy Gillespie: é uma verdadeira aula de jazz afro-cubano, com arranjos para big band das composições mais emblemáticas de Dizzy.

Aqui, Arturo contracena com diversas estrelas do jazz: o mestre do Hammond B-3 Joey DeFrancesco, o vibrafonista Gary Burton, o saxofonista tenor Bob Mintzer e o clarinetista Eddie Daniels, e o resultado é um festival de camaradagens entre músicos.

"Dear Diz (Every Day I Think of You)" celebra o aniversário de 35 anos do início de sua amizade com Dizzy Gillespie. Os dois se conheceram quando Dizzy tocou em Cuba em 1977, e viraram amigos imediatamente. Daí para a frente, nunca mais desgrudaram, e viraram colaboradores contumazes até a morte de Dizzy em 1993.

De la para cá, devido a sua condição de melhor amigo e herdeiro musical de Dizzy Gillespie, esperava-se de Arturo Santoval homenagens constantes a seu mentor musical -- que Arturo sempre evitou ao máximo, seguindo adiante com sua carreira, como Dizzy gostaria que ele fizesse.

Só que agora, às veśperas do vigésimo aniversário da morte de Dizzy Gillespie, uma homenagem seria necessária, e Arturo Sandoval tratou de fazê-la à altura de seu Mestre, recriando seus arranjos ariginais de forma vigorosa, exuberante, e às vezes até inusitada, como em "Salt Peanuts!", "Birks Works" e "Con Alma".


Para quem não lembra, Arturo Sandoval foi interpretado por Andy Garcia no produção HBO "For Love Or Country - The Arturo Sandoval Story", de 2000, que conta sua tragetória musical e os problemas que teve com Cuba depois que pediu asilo polífico na Espanha em 1990.

Não é um grande filme. Nem pretende ser. Mas mostra de forma vibrante e verdadeira o quanto Arturo Sandoval lutou para poder levar sua música para o mercado internacional e fugir das limitações impostas pelo Governo Cubano. Dizzy está presente no filme. Uma presença intensa e muito carinhosa, graças à bela performance do ator Charles S. Dutton.

Arturo Sandoval sempre soube que, na hora de retribuir a Dizzy tudo o que recebeu dele, teria que caprichar.

Se "Dear Diz (Every Day I Think of You)" é um disco tão bom, apesar de ter sido concebido com essa enorme responsabilidade nas costas, é certamente porque foi concebido com carinho, leveza e respeito artístico.


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