segunda-feira, agosto 13, 2012

LEE KONITZ CHEGA AOS 80 ANOS DE IDADE E SEGUE EM FRENTE NESSE ESPETACULAR "LIVE AT THE VILLAGE VANGUARD"


O poder de fogo da música de Charlie Parker incendiou o jazz dos anos 40 de forma irreversível, enterrando a Era do Swing e dando o pontapé inicial na Era do Bebop.

O estilo de Parker era tão vibrante e sua personalidade musical tão forte que era praticamente impossível para qualquer jovem músico que tivesse escolhido o sax alto como instrumento não se deixar contaminar pelo sopro sincopado e acelerado de Parker.

Mas havia uma exceção: um jovem saxofonista de Chicago chamado Lee Konitz, nascido em 1927, aluno de Lennie Tristano, que esnobou um convite para ingressar na Orquestra de Dizzy Gillespie, onde Parker tocava, para unir forças a dois amigos que estavam montando um noneto sob orientação de Gil Evans, que iria levar a carreira de todos os envolvidos para um caminho inusitado e brilhante.

Esses amigos se chamavam Miles Davis e Gerry Mulligan.

O ano era 1949.

E o disco que eles iriam gravar juntos -- "The Birth Of The Cool" -- viraria um marco para o jazz moderno, inaugurando uma modalidade mais climática e reflexiva de bebop, com músicos usando e abusando de notas longas e encorpadas, que mais tarde seria batizada de cool jazz.



Todos os músicos que se escolavam com o pianista Lennie Tristano saíam com uma bagagem em comum: tornavam-se craques em harmonia jazzística e erudita, e eram encorajados por Tristano a fazer experiências melódicas e rítmicas constantemente.

Graças a esse background, Lee Konitz conseguiu desenvolver um estilo no sax alto bem diferente do estilo de Parker, abusando das notas longas, valorizando a melodia em suas intervenções, e sempre permitindo que os integrantes de suas bandas improvisassem à vontade.

Daí em diante, passou a desafiar gêneros.

Fez um disco explosivo de jazz com o baterista Elvin Jones para a Verve, chamado "Motion". Experimentou desde Dixieland até o free-jazz, com músicos das mais diversas formações, e gravou vários discos para o mercado de música erudita. Apesar de ser conceituado como band-leader, não negava fogo sempre que algum amigo o convidava para atuar como sideman em alguma tounée.

Desde 1980 está estabelecido em Paris, voltando aos Estados Unidos de tempos em tempos para matar a saudade de casa, quase sempre acompanhado por músicos jovens de vários cantos do mundo.


"Live At The Village Vanguard" é o registro precioso de duas noites em 2010 em que Konitz se apresentou à frente de seu New Quartet, formado pelo excelente pianista alemão Florian Weber, pelo baterista israelense Ziv Ravitz e pelo baixista californiano Jeff Denson.

Mesmo com 83 anos de idade na ocasião, Konitz não fez feio em momento algum.

Pelo contrário, dividiu a responsabilidade de proporcionar uma noite memorável para o público com os músicos, e eventualmente se posiciona quase como um sideman de seu pianista para poder se poupar para aguentar mais tempo no palco. Convenhamos, que outro grande mestre do jazz dos anos 40 ainda circula pelos palcos do mundo inteiro com tamanha galhardia?

Konitz e seu New Quartet dão um toque totalmente novo a um dos temas mais gravados do jazz, 'Cherokee", de Ray Noble. Passeiam com muita delicadeza por três standards -- "Polka, Dots & Moonbeans", "I Remember You" e uma releitura inusitada para "All The Things You Are" --  e mergulham de cabeça num tema impressionista intrincadíssimo, "Colors", de autoria de Weber, que segue magnificamente bem por mais de 10 minutos e poderia durar outros dez, tranquilamente.

Tudo isso somado à alegria de tocar novamente no Village Vanguard, onde brilhou em diversas formações desde os anos 40, faz de Lee Konitz um músico feliz e realizado, e um verdadeiro patrimônio afetivo para quem teve o prazer de estar na platéia em qualquer uma dessas duas noites registradas nesse disco.



Lee Konitz está com 85 anos agora.

Sua saúde não anda boa de uns tempos para cá, e suas apresentações estão ficando cada vez mais esporádicas. Algumas tiveram que ser canceladas ano passado.

É bem provável que, daqui para a frente, não tenhamos mais a chance de ouví-lo com toda essa non-chalance demonstrada nesse belo concerto ao vivo.

Mas só de saber que Lee Konitz continua vivo e ativo depois de mais de 60 anos de excelentes serviços prestados ao jazz já é motivo de comemoração entre os amantes do gênero

Sendo assim...

"Senhoras e Senhores, Benvindos ao Village Vanguard. Com vocês, o grande Lee Konitz!"






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