quinta-feira, agosto 02, 2012

O LONGO CAMINHO DE VOLTA DE KEVIN ROWLAND E OS DEXYS MIDNIGHT RUNNERS


Em meio à efervescência pós-punk do final dos anos 70, havia uma banda de Birmingham com um cantor irlandês que reciclava o folk celta com o soul americano com uma receita ligeiramente diferente da que Van Morrison e o grupo Them haviam usado nos anos sessenta -- só que com resultados tão explosivos e expressivos quanto.

Essa banda era o Dexys Midnight Runners do guitarrista Al Archer e do tecladista Mick Talbot, mas principalmente do cantor, compositor e gênio pop Kevin Rowland, que idealizou o conceito da banda, mantendo-a funcionando de forma brilhante por três discos magníficos gravados num período de 5 anos extremamente turbulentos

O Dexys começou com dez integrantes e uma série de compactos poderosos para a EMI que emplacaram mundialmente nas paradas -- "Geno, "Burn It Down" --, além de um LP absurdamente vigoroso chamado "Searching for the Young Soul Rebels" (1980), que saudava de forma eloquente a herança soul americana nas Ilhas Britânicas.

Para o segundo disco, já na Mercury Records, Kevin Rowland aproximou o Dexys ainda mais de seu mentor Van Morrison injetando uma dose cavalar de folk celta no som da banda e um toque pop que refinou o som bruto dos Dexys, sem jamais deixar o suingue de lado -- e isso gerou "Too Rye-Aye" (1982), um dos discos fundamentais daquele período.


Mas a essa altura do campeonato, a fama de perfeccionista temperamental de Rowland já tinha chegado à diretoria da gravadora, que não se conformava com o fato dele gastar tanto tempo e tanto dinheiro em estúdios de gravação, além das quedas de braço constantes entre ele e executivos de empresas financiadoras deixaram um histórico de desavenças e contas a pagar que por pouco não arruinaram o terceiro disco da banda, "Don´t Stand Me Down" (1985), que, apesar de tudo, conseguiu ser ainda mais refinado e denso que os trabalhos anteriores -- em parte pelo apoio luxuoso do ex-pianista do Atomic Rooster, Vincent Crane, convocado para substituir Mick Talbot, que saiu do Dexys para se juntar a Paul Weller no igualmente genial Style Council.

Mas, infelizmente, o Dexys estava tão desgastado a essa altura do campeonato que todos os integrantes abandonaram o barco em meio a uma tournée desastrada, pois não suportavam mais conviver com Kevin Rowland.

Paralelo a isso, a Mercury tentou impor um método de trabalho menos dispendioso para Rowland -- uma criatura totalmente perdulária, diga-se de passagem -- e levou um não pela cara.

Um não que acabou custando muito caro para Kevin Rowland.

Nesses últimos anos, Rowland permaneceu atrelado a um contrato leonino com a gravadora, que lançou mais dois discos solo -- "The Wanderer" (1988) e "My Beauty" (1999) --, que, apesar de ótimos, não vingaram e o afundaram ainda mais em dívidas e em drogas.

Por tudo isso, em 2005, quando começou a correr por aí a notícia de que Rowland estaria reformando o Dexys Midnight Runners com vários integrantes originais para gravar um novo disco, todos os admiradores da banda, habituados com o processo criativo demorado de Kevin Rowland, acharam por bem esperar sentados.




Pois agora, finalmente, "One Day I´m Going To Soar", o disco de retorno do Dexys Midnight Runners vê a luz do dia, e a sensação que isso desperta é bastante estranha.

Primeiro por conta da leveza do projeto e da pegada suave e envolvente das novas canções, que oscilam entre o smooth soul de Marvin Gaye e um jeitão pop dance hall bem distante do despojamento dos dois primeiros discos da banda.

(detalhe: esse conceito light da banda original se estende ao nome, que agora está reduzido a Dexys)

E segundo porque o resultado é ótimo.

Eu confesso que fiquei relutante a princípio, achando que Rowland havia diluído o som dos Dexys a um nível perigoso, afastando-o demais de sua proposta original e desprezando elementos que talvez fossem o que a banda tinha de melhor. Mas não. A essência dos Dexys permanece intacta. Só a moldura do quadro está meio diferente.

Kevin Rowland está cantando melhor do que nunca. Mick Talbot está de volta ao piano com um toque que lembra mais o Style Council do que propriamente seu trabalho prévio com o Dexys. A nova cantora Madeleine Hyland é simplesmente espetacular. As canções são todas excelentes, costuradas pelo tema recorrente "Now", que resgata a velha combinação da sessão de metais soul com violinos celtas que é a marca registrada do som do Dexys, deixando que nuances musicais variadas tragam um recheio diferente para o disco.

Não é o caso de destacar um número ou outro. "One Day I´m Going To Soar" é admirável, e estranhamente perfeito. Tanto quanto os 3 trabalhos anteriores dos Dexys.


O Dexys pretende sair em tournée mês que vem pela Inglaterra para promover "One Day I´m Going To Soar", dessa vez sem o stress que marcou as relações pessoais deles nos anos 80..

Quem conhece o histórico deles sabe o quanto o dia a dia de uma tournée pode ser temeroso, e que as chances da banda não conseguir sobreviver a uma tournée são altíssimas.

Resta torcer para que Kevin Rowland esteja mais tranquilo com a idade, agora distante do álcool, da cocaína e da trip de popstar que diversas vezes fez com que ele não sentisse mais o chão, passando anos e anos privando a todos de seu enorme talento.

"One Day I´m Going To Soar" é o resgate à cena principal de um dos maiores artistas musicais que a Grã-Bretanha já produziu, e havia se perdido.

Tomara que, dessa vez, o retorno de Kevin Rowland seja para valer.

  
BIO-DISCOGRAFIA
 http://www.allmusic.com/artist/dexys-midnight-runners-mn0000251361

WEBSITE OFICIAL
http://dexys.info/

AMOSTRAS GRÁTIS

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