terça-feira, novembro 06, 2012

CONHEÇAM THE COOKERS, A MAIOR SUPER BANDA DE HARD-BOP DA HISTÓRIA DO JAZZ


Existia nos anos 50 e 60 uma tradição na Blue Note Records de chamar de "cooker" todo jovem músico que brilhasse de forma muito intensa como band-leader em discos da gravadora.

Uma tradição que funcionava mais como uma gentileza do que propriamente como um rótulo.

Mas que fornecia credenciais suficientes para apresentar aos admiradores do bebop jovens talentos de grande potencial que caíam na rede da gravadora.

O primeiro dos grandes "cookers" da Blue Note foi o lendário trumpetista Lee Morgan, que aos 19 anos gravou um disco espetacular com esse nome, e imediatamente entrou para o rol dos grandes mestres de seu instrumento.

O segundo dos grandes "cookers" da Blue Note veio no início dos anos 60: o jovem trumpetista Freddie Hubbard, que não sossegou enquanto não teve o apelido em questão estampado na capa de um de seus discos -- justamente o álbum ao vivo "Night Of The Cookers", onde divide a cena com seu mentor Lee Morgan.

Daí para a frente, jovens saxofonistas como Wayne Shorter e Billy Harper também passaram a ostentar o termo crookers também -- até que, com o advento do jazz fusion e o ocaso do hard bop e da Blue Note Records no final dos anos 60, a gíria saiu de moda e caiu em desuso.

Mas não morreu.

Com o ressurgimento vigoroso do hard bop em meados dos anos 80, novos "young men with a horn" como Wynton & Branford Marsalis, Terence Blanchard e Donald Harrison trataram de resgatar algumas velhas tradições do jazz, e, entre outras coisas, decidiram se auto entitular "cookers" também, retomando a velha tradição.

De lá para cá, essa brincadeira não parou mais, a ponto de um time de grandes jazzistas veteranos da noite da cidade de Nova York decidir se apropriar do nome e formar uma superbanda de hard bop para Leonard Feather nenhum botar defeito.


Assim, em 2009, nasceu The Cookers, reunindo o lendário saxofonista tenor Billy Harper, os trumpetistas Eddie Henderson e David Weiss, o saxofonista alto Craig Handy, o pianista George Cable, e ainda o baixista Cecil McBee e o baterista Billy Hart.

A idéia de montar o grupo foi de Harper, entusiasmado por um lampejo de estrelato decorrente de sua participação comovente no filme "O Terminal", de Steven Spieberg. Ele achou que não fazia sentido não capitalizar em cima disso, e fez muito bem.

The Cookers estreou com um bom disco em 2010, "Warriors", prestando uma bela homenagem a Freddie Hubbard, que acabara de falecer. A crítica, apesar de favorável, apontou como único pecado do disco ser tímido e sistemático demais em relação ao potencial que aquele conjunto espetacular de músicos poderia oferecer.

O segundo disco do grupo, "Cast The First Stone", do ano passado, tratou de consertar esse pequeno erro, colocando os sete músicos em performances muito menos comportadas, e interagindo muito mais uns com os outros -- e os aplausos vieram de imediato, e de forma unânime, tanto de crítica quanto de público.



E então, eis que nossos bravos boppers estão de volta com um terceiro disco, só com composições próprias, para sedimentar de uma vez por todas a razão de ser do grupo: reunir as vivências musicais desses músicos experimentadíssimos num projeto comum que faça juz a suas reputações individuais.

"Believe" abre com um número inusitadamente manso de oito minutos de duração chamado "Believe, For It Is True", onde Billy Harper mostra, para quem não o conhece direito, como é perfeitamente possível ser terno e perigoso ao mesmo tempo, usando e abusando de um senso de concisão único, sempre esbanjando melodia no desenvolvimento do tema através de solos inebriantes.

E o que vem a seguir é uma aula de diversidade musical, onde todos os rumos que o hard bop tomou entre os anos 60 e 70 convergem para um mesmo porto seguro, onde cabem tanto influências de renovadores do bebop como Charles Mingus e Miles Davis quanto dos mestres clássicos do gênero.

Acredite: o que The Cookers faz é jazz de primeiríssima grandeza.

Ouçam e tirem suas próprias conclusões.



Billy Harper sempre foi um dos meus tenores favoritos.

Pude vê-lo ao vivo uma única vez, em 1985, à frente de um quarteto poderosíssimo, num show espetacular no Teatro Nacional de Brasília, e lembro como se fosse ontem de saír de lá completamente boquiaberto com a vitalidade de seu sopro e a levada perigosa de sua banda.

Depois daquele show inesquecível, tratei de conhecer melhor a carreira de Mr. Harper. Para minha surpresa, ele tinha pouquíssimos discos gravados como solista, apesar de sua longa carreira. Fiquei com a impressão de que Harper era daquele tipo de artista que faz milagres nos discos de amigos, mas tem dificuldades sérias em comandar projetos pessoais.

Passados 25 anos disso tudo, confesso que, para mim, é um imenso prazer ver Harper, já septuagenário, comandando um septeto espetacular como esse, e proporcionando aos apreciadores de hard bop música de primeira grandeza como a que compõe esse grande disco.

E, claro, desfazendo por completo minha impressão equivocada de 25 anos atrás.

'Believe" tem essa grandeza toda, sim. Pode fazer uma fé nele que vale a pena.




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