De todas as bandas estranhas e dificeis de rotular surgidas nos anos 1980, o Camper Van Beethoven é serio candidato ao título de Banda Mais Iconoclasta da Cena Independente.
Muito antes de existir o que hoje chamamos de Indie Rock, o cantor e guitarrista David Lowery e seus colegas de banda já misturavam punk com folk, mais ska e world music num repertório bem laid-back, à moda do Grateful Dead, numa mistureba sonora que alguns tentaram classificar como folk-rock surrealista.
Mas o caso é, depois de três albuns independentes muito badalados entre a crítica, mas pouco conhecidos do grande público, eles conseguiram um contrato com a Virgin, que decidiu promovê-los de forma intensa.
E então, quando o "Our Beloved Revolutionary Sweetheart", o quarto álbum, foi lançado, ficou claro que o excesso de produção proposto pela irgin havia não só desfigurado o Camper Van Beethoven como também criado celeumas internos difíceis de ser contornados.
Resultado: o Camper Van Beethoven não aguentou e desmoronou em 1989.
Durante os anos 90, cada integrante seguiu para um lado. Dave Lowery montou o Cracker, uma banda com sonoridade bem roqueira que conseguiu fazer uma carreira muito interesssante, com vários hits bem posicionados nas paradas do início dos anos 1990, como "Low" e a genial "Teen Angst (What The World Needs Now)", que rivalizou na época com "Smells Like Teen Spirit", do Nirvana, na condição de hino de uma geração. O baixista Victor Krummenacher e o guitarrista Greg Lisher retomaram o Monks Of Doom, banda que eles tinham antes de entrar para o Camper Van Beethoven. Quanto ao violinista e trecladista Jonathan Segel, montou o estranhíssimo Hyeronimous Firebrain, e depois o duo Jack & Jill.
E então, em 2002, quando ninguém mais pensava que o Camper Van Beethoven poderia um dia voltar, eles ressurgiram do nada com um disco no mínimo estranho: "Tusk", onde regravaram o clássico álbum duplo do Fleetwood Mac de 1980 faixa por faixa, em covers um tanto quanto estranhos. Na verdade, esse disco nem deveria ter sido lançado. Os membros da banda não sabiam se conseguiriam voltar a tocar juntos novamente e decidiram tocar um album que todos gostavam e conheciam bem.
Mas de lá para cá tudo parece ter clareado para o Camper Van Beethoven, e eles vem produzindo discos conceituais muito divertidos como "New Roman Times" (2004), sobre o Estado do Texas, e "La Costa Perdida" (2013), sobre a California.
Agora, eles voltam com "El Camino Real" (2014)
É um disco estranhamente sombrio, estranhamente "laid back", mas muito vigoroso.
Na verdade, é composto por canções que sobraram de "La Costa Perdida" sobre a California. Todas elas fortes o suficiente para funcionar não exatamente como uma sequência daquele projeto. mas como um apêndice.
Claro que todos os que, por algum motivo, não conhecem "La Costa Perdida", poderão perfeitamente ouvir "El Camino Real" como um album autônomo, sem prejuízo algum qualquer das partes envolvidas.
O som clássico do Camper van Beethoven está lá, em números extremamente marcantes como "Come Down The Coast", "Northern California Girls", "The Ultimate Solution" e "Dockweiller Beach".
A grande surpresa fica por conta de "Grasshopper", faixa de encerramento do disco, que busca um meio termo impossível entre as sonoridades dos Beach Boys e do Grateful Dead, numa tentativa de mergulhar na essência musical da California.
Eu pessoalmente achei "El Camino Real" muito mais do que apenas um disco intenso e delicioso de uma banda que não cansa de nos surpreender com reviravoltas em sua decida retomar sua idéia de biografia.
Sufjan Stevens tem algo a aprender com eles, caso decida retomar seu projeto de mapear musicalmente os Estados Unidos em seus álbuns.
É que, com o Camper Van Beethoven, esse mapeamento nunca segue pelas estradas principais.
Eles melhor do que ninguém sabem que as estradas vicinais são as que contém as grandes supresas e as melhores revelações.
AMOSTRAS GRÁTIS