por Chico Marques
De todas as bandas americanas surgidas nos Anos 1980, nenhuma prezou tanto por sua integridade artística e debochou tanto das regras impostas pelo big business da Indústria Fonográfica quanto o Faith No More.
Composto por Mike Patton (vocal), Bill Gould (baixo), Mike Bordin (bateria), Roddy Bottum (teclados) e Jon Hudson (guitarra), o Faith No More é, sem dúvida, a maior e a melhor banda americana do fim do Século 20, e, juntamente com o Guns & Roses e o Red Hot Chili Peppers, impôs um padrão totalmente novo, difícil de seguir, para as novas bandas que surgiam na cena da California.
As ambições musicais do Faith No More nunca foram exatamente pequenas ou lineares. Prova disso são as variações musicais que a banda experimentou de um LP para outro, revelando uma inquietação artística intensa e uma atitude diletante radical que certamente provocou enfartos fulminantes em muitos "idiotas da objetividade" da Indústria Fonográfica.
Turbulentos ao extremo, estiveram à beira do rompimento inúmeras vezes. Mas como gostavam de viver no limite, a banda sempre sobrevivia, e prosseguia.
Em 1997, no entanto, logo após a tournée do disco "Album Of The Year", a situação ficou insustentável, e cada um dos integrantes da banda seguiu seu caminho, sem olhar para trás.
Aliás, olharam sim, uma vez, em 2010, quando estavam com o caixa muito baixo, e decidiram voltar para uma tournée revival assumidamente oportunista e altamente rentável. Mas assim que ela acabou, cada um seguiu seu caminho novamente.
Essa nova reunião é bem diferente.
É um retorno de verdade, com espírito renovado, uma postura mais madura de todos os integrantes e novas canções com a mesma nonchalance de outras épocas devidamente preservada da corrosão do passar do tempo.
"Sol Invictus" (lançamento Ipercac Records - Voice Music BR), primeiro disco do Faith No More em 18 anos, retoma as clássicas idiossincrasias musicais de Mike Patton e seus comparsas, com resultados tão satisfatórios que não só irão satisfazer os fãs da banda como devem arrebanhar uma nova legião de aficionados.
O disco começa com um jeitão meio sinuoso, com Mike Patton emulando algum personagem fugido de alguma peça musical de Kurt Weill.
Mas logo a seguir, "Superhero" chega para por ordem na casa e situar o ouvinte na sonoridade clássica do Faith No More.
Daí em diante, surpresas inusitadas se alternam com números com uma sonoridade mais familiar, com todas as peças se encaixando à perfeição.
Mas logo a seguir, "Superhero" chega para por ordem na casa e situar o ouvinte na sonoridade clássica do Faith No More.
Daí em diante, surpresas inusitadas se alternam com números com uma sonoridade mais familiar, com todas as peças se encaixando à perfeição.
Entre as surpresas, "Black Friday" mescla folk com funk, como se isso fosse algo perfeitamente natural. Não era. Não até agora, claro,
Já "Matador" é uma balada sombria ao extremo, tocada de forma truculenta e estranhamente harmoniosa. Não está entre os números mais marcantes do disco, mas faz sentido como complemento para harmonizar o conjunto de canções. Imagino que funcione muito bem nos shows da banda.
"From The Dead", a faixa de encerramento, parece uma homenagem a David Bowie -- o que é estranho, pois nunca imaginei o Faith No More afinado com sonoridades glam. Presumo que a função dessa faixa seja funcionar como contraponto à faixa de abertura, ou como consequência dela. Independente do que seja, encerra o disco de forma redonda, e provoca uma vontade irresistível de ouvir tudo novamente.
Não existe nada mais salutar num disco do que essa sensação. Sinal claro de a empreitada produzida pelo baixista Bill Gould) foi bem sucedida em termos artísticos.
Acho que o maior elogio que pode ser feito ao Faith No More agora, depois de 18 anos sem lançar um álbum de inéditas, é afirmar que eles continuam imprevisíveis e inclassificáveis.
Nenhum rótulo pega neles.
Mesmo ostentando carecas, cabelos brancos e barriguinhas, não se engane com esses senhores aparentemente respeitáveis.
Mesmo ostentando carecas, cabelos brancos e barriguinhas, não se engane com esses senhores aparentemente respeitáveis.
Eles permanecem tão excêntricos, tão selvagens e tão talentosos quanto antes.
Só nos resta torcer para que consigam permanecer juntos para nos brindar com, pelo menos, mais um LP tão bom e intenso quanto este "Sol Invictus".
AMOSTRAS GRÁTIS
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