por Chico Marques
Só quem acompanhou de perto o impacto da separação da dupla de compositores John Lennon & Paul McCartney no final dos anos 60 tem noção do quanto aquilo calou fundo no imaginário da imprensa musical inglesa.
Nos primeiros anos da década de 70, jornais como o Melody Maker e o New Musical Express não cansavam de tentar encontrar em qualquer nova dupla de compositores que surgisse na cena musical pop inglesa os prováveis sucessores de Lennon & McCartney.
E apesar da dupla Elton John e Bernie Taupin ser a aposta mais óbvia e certeira, havia um problema sério com os dois: eles não faziam parte de uma banda. Para substituir os dois Beatles, a Imprensa Musical da boa e velha Inglaterra fazia questão de dois bandmates com aquele mesmo alto padrão de excelência. Não iria ser nada fácil.
Daí, apostaram as fichas na ótima dupla de compositores Eric Stewart e Graham Gouldman, do grupo 10cc. Com isso, catapultaram o trabalho dos dois -- que era extremamente bom, mas obviamente não tão bom quanto o dos dois Beatles -- a um patamar onde nunca conseguiram se situar direito.
Alguns anos se passaram e a velha obsessão da Imprensa Musical Inglesa apontou para a promissora dupla de compositores Chris Difford e Glenn Tilbrook, que integrava o Squeeze -- sem dúvida, o grupo pop mais importante, mais consistente e mais influenciado pelos Beatles e pelos Kinks da cena post-punk.
Para o Squeeze, a comparação com Lennon & McCartney foi mais do que oportuna, e ajudou a banda a sedimentar seu caminho através de um mercado que era meio hostil com bandas que não tivessem uma atitude de ruptura. Então, entre 1988 e 1999, o Squeeze gravou nada menos que 14 grandes discos e dezenas de singles de sucesso. Entre eles: "Take Me I'm Yours", "Up the Junction", "Another Nail in My Heart," "Pulling Mussels (From the Shell)," "Tempted" e "Black Coffee In Bed". O hoje famoso pianista e apresentador da BBC2 Jools Holland fez parte da banda enre 1974 e 1980, nos anos iniciais da banda.
O Squeeze foi uma das bandas precursoras do britpop, e até soube tirar algum proveito de sua influência sobre novas bandas bem-sucedidas, como o Blue e o Oasis. Mas seus integrantes nunca esconderam sua decepção por nunca terem conseguido emplacar nos Estados Unidos o mesmo sucesso que faziam na Inglaterra.
Chris Difford e Glenn Tilbrook vem seguindo carreiras solo relativamente bem-sucedidas desde a virada do milênio. De tempos em tempos, se reunem para fazer tournées juntos. Ou como dupla, ou com o Squeeze reunido.
Entre 2009 e 2010, parecia que a banda iria voltar de verdade. Reuniram-se para uma longa tournée mundial e até voltaram a compor juntos. Mas não conseguiram produzir canções em número suficiente para um novo disco do Squeeze na ocasião.
No último inverno, no entanto, Chris Difford e Glenn Tilbrook se reuniram para combinar uma nova tournée para 2015, e, de quebra, trataram de compor mais algumas canções para juntar às outras que estavam prontas há cinco anos.
São essas 12 canções que compõem "Cradle to the Grave" (um lançamento Virgin-EMI, sem previsão para o Brasil), esse grande disco de retorno do Squeeze, que quebra um jejum de 17 anos desde o ultimo álbum de inéditas da banda, "Domino", e não corre o menor risco de decepcionar os fãs do grupo.
É um disco curto, com 44 minutos de duração, seguindo na mesma medida e no mesmo tom dos LPs que a banda gravava nos Anos 80, provando por A mais B que a alquimia entre eles permanece intacta depois de todos esses anos.
Em suas carreiras solo, tanto Chris Difford quanto Glenn Tilbrook vivem testando saídas musicais bem diferentes do som do Squeeze. Mas sempre que unem forças num projeto em comum, eles fazem questão de simplesmente deixar a velha parceria fluir da mesma maneira como acontecia lá atrás.
Pois em "Cradle to the Grave" eles acertam na mosca com 12 canções atemporais completamente impregnadas com a personalidade musical deliciosa da banda. Produzido por Tilbrook e Laurie Latham, o disco foi gravado em poucos dias no 45 RPM Studios em Charlton, Inglaterra.
A formação atual do Squeeze traz, além de Tilbrook e Difford nos vocais e nas guitarras, Simon Hanson na bateria, Stephen Large nos teclados e Lucy Shaw e John Bentley se alternando nos contrabaixos, além de alguns músicos convidados.
Todas as canções de "Cradle to the Grave" são deliciosas, o conjunto do álbum é extremamente equilibrado, e não é nenhum exagero afirmar que este talvez seja o melhor disco do Squeeze desde "East Side Story" (1981). Tudo dá certo aqui. E todo o prazer que eles proporcionam ao ouvinte soa absolutamente genuíno o tempo todo.
2015 tem sido um ano bom para bandas clássicas gravarem discos de retorno relevantes: The Pretty Things, The Zombies e Graham Parker & The Rumour acabam de lançar ótimas coleções de canções inéditas.
Estava mais do que na hora do Squeeze se juntar a eles.
Pois sejam bem-vindos.
AMOSTRAS GRÁTIS
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