por Chico Marques
Depois de um mês escutando quase diariamente o novo disco de Keith Richards, "Crosseyed Heart", e já sabendo de antemão que seria impossível para mim escrever uma resenha empírica sobre ele, decidi partir para a louvação mesmo.
A verdade é que eu adorei "Crosseyed Heart". Presumo que todos os que conheçam bem o trabalho de Keith tenham adorado o disco também. Tudo é completamente familiar da primeira à última faixa. O surpreendente aqui não é o conteúdo do disco. E sim a atitude na hora de executar as canções.
É uma pena que os Rolling Stones não tenham mais saco nem para gravar novos discos de estúdio -- o último, "A Bigger Bang", já tem onze anos de idade --, nem para trabalhar de forma tão francamente descomplicada quanto a escolhida por Keith nesse disco.
Quando Keith Richards brigou feio com Mick Jagger 30 anos atrás, na ocasião da gravação do LP "Dirty Work", alegando que os Stones precisavam urgentemente cair na estrada para continuar sendo relevantes como banda -- e Mick bateu o pé e discordou --, não havia mais futuro possível para os Rolling Stones naquele momento.
Havia uma clara situação de rompimento entre os dois. Tanto que gravaram suas partes em "Dirty Work" em horários alternados, sem olhar na cara um do outro. Só não se separaram porque a banda é, antes de mais nada, uma empresa muito rentável, e desmontá-la naquele momento seria uma operação muito complicada.
Foi quando Keith decidiu dar um tapa na cara com luvas de pelica em Mick, reunindo um grupo de artistas que admirava e montando uma banda com eles, The X-Pensive Winos, para em seguida cair na estrada e -- heresia das heresias! -- gravar dois discos -- "Talk Is Cheap" (1988) e "Main Offender" (1992) -- que, apesar de serem tecnicamente discos solo, eram nitidamente discos de banda.
E essa banda não era The Rolling Stones.
Mick Jagger já tinha três discos solo até então.
Todos eles meio frios, orientados por produtores, e gravados com o apoio de músicos de estúdio altamente profissionais, mas que em momento algum suam a camisa.
Não havia nesses discos o menor vestígio daquele vigor que só o trabalho de uma banda de verdade pode proporcionar, e Jagger sabia bem disso, tanto que morreu de ciúmes da atitude de Keith.
No final das contas, teve que dar o braço a torcer.
E então, os Rolling Stones voltaram com um disco sensacional em 1989 -- "Steel Wheels" -- e uma tournée espetacular a reboque do disco.
Foi a última com Bill Wyman no baixo, que deixou a banda por ter desenvolvido pânico de aviões, mas preferiu alegar não suportar mais o estilo de vida de seus velhos parceiros.
Apesar de Keith Richards contar com o apoio de vários X-Pensive Winos -- Steve Jordan, Waddy Wachtel, Ivan Neville, Sarah Dash -- na maioria da faixas de "Crosseyed Heart", não estamos diante de um disco de banda como nas duas vezes anteriores.
De certa forma, esse talvez seja o primeiro disco solo de verdade de Keith.
Ao invés de uma banda, dessa vez ele está cercado de músicos amigos.
Os sopros derradeiros de seu velho comparsa Bobby Keys, por exemplo, estão registrados aqui, em "Crosseyed Heart".
A sempre adorável Norah Jones também faz uma participação muito delicada nessas sessões de gravação.
O momento atual é completamente diferente do vivido por Keith Richards nos Anos 80.
O futuro dos Stones não parece ser mais uma preocupação em sua vida.
As tournées que antes promoviam discos novos agora promovem o programa de relançamento da discografia original dos Stones, repletas de bonus tracks e com remasterização supervisionada por Keith e Mick.
Dizem as boas e as más línguas que vários supostos leftovers da banda da década de 1970 incluídos nestes relançamentos foram na verdade compostos recentemente e fajutados como canções clássicas.
Mick e Keith não dizem que sim, nem que não.
Depois de um mês escutando quase diariamente o novo disco de Keith Richards, "Crosseyed Heart", e já sabendo de antemão que seria impossível para mim escrever uma resenha empírica sobre ele, decidi partir para a louvação mesmo.
A verdade é que eu adorei "Crosseyed Heart". Presumo que todos os que conheçam bem o trabalho de Keith tenham adorado o disco também. Tudo é completamente familiar da primeira à última faixa. O surpreendente aqui não é o conteúdo do disco. E sim a atitude na hora de executar as canções.
É uma pena que os Rolling Stones não tenham mais saco nem para gravar novos discos de estúdio -- o último, "A Bigger Bang", já tem onze anos de idade --, nem para trabalhar de forma tão francamente descomplicada quanto a escolhida por Keith nesse disco.
Quando Keith Richards brigou feio com Mick Jagger 30 anos atrás, na ocasião da gravação do LP "Dirty Work", alegando que os Stones precisavam urgentemente cair na estrada para continuar sendo relevantes como banda -- e Mick bateu o pé e discordou --, não havia mais futuro possível para os Rolling Stones naquele momento.
Havia uma clara situação de rompimento entre os dois. Tanto que gravaram suas partes em "Dirty Work" em horários alternados, sem olhar na cara um do outro. Só não se separaram porque a banda é, antes de mais nada, uma empresa muito rentável, e desmontá-la naquele momento seria uma operação muito complicada.
Foi quando Keith decidiu dar um tapa na cara com luvas de pelica em Mick, reunindo um grupo de artistas que admirava e montando uma banda com eles, The X-Pensive Winos, para em seguida cair na estrada e -- heresia das heresias! -- gravar dois discos -- "Talk Is Cheap" (1988) e "Main Offender" (1992) -- que, apesar de serem tecnicamente discos solo, eram nitidamente discos de banda.
E essa banda não era The Rolling Stones.
Mick Jagger já tinha três discos solo até então.
Todos eles meio frios, orientados por produtores, e gravados com o apoio de músicos de estúdio altamente profissionais, mas que em momento algum suam a camisa.
Não havia nesses discos o menor vestígio daquele vigor que só o trabalho de uma banda de verdade pode proporcionar, e Jagger sabia bem disso, tanto que morreu de ciúmes da atitude de Keith.
No final das contas, teve que dar o braço a torcer.
E então, os Rolling Stones voltaram com um disco sensacional em 1989 -- "Steel Wheels" -- e uma tournée espetacular a reboque do disco.
Foi a última com Bill Wyman no baixo, que deixou a banda por ter desenvolvido pânico de aviões, mas preferiu alegar não suportar mais o estilo de vida de seus velhos parceiros.
Apesar de Keith Richards contar com o apoio de vários X-Pensive Winos -- Steve Jordan, Waddy Wachtel, Ivan Neville, Sarah Dash -- na maioria da faixas de "Crosseyed Heart", não estamos diante de um disco de banda como nas duas vezes anteriores.
De certa forma, esse talvez seja o primeiro disco solo de verdade de Keith.
Ao invés de uma banda, dessa vez ele está cercado de músicos amigos.
Os sopros derradeiros de seu velho comparsa Bobby Keys, por exemplo, estão registrados aqui, em "Crosseyed Heart".
A sempre adorável Norah Jones também faz uma participação muito delicada nessas sessões de gravação.
O momento atual é completamente diferente do vivido por Keith Richards nos Anos 80.
O futuro dos Stones não parece ser mais uma preocupação em sua vida.
As tournées que antes promoviam discos novos agora promovem o programa de relançamento da discografia original dos Stones, repletas de bonus tracks e com remasterização supervisionada por Keith e Mick.
Dizem as boas e as más línguas que vários supostos leftovers da banda da década de 1970 incluídos nestes relançamentos foram na verdade compostos recentemente e fajutados como canções clássicas.
Mick e Keith não dizem que sim, nem que não.
Enfim, "Crosseyed Heart" é um disco com a cara de Keith Richards.
Que revela um artista multifacetado em toda a sua plenitude, mas que sempre usou -- e, pelo visto, sempre vai usar -- o blues como via de acesso a todas as linguagens musicais que lhe interessam.
Melhor indicativo disso do que o repertório absolutamente eclético desse disco, impossível.
Tem desde uma releitura linda de "Goodnight Irene" de Leadbelly até uma curiosa gravação do reggae "Love Overdue" de Gregory Isaacs, passando por baladas magníficas -- “Suspicious”, “Just a Gift”, “Illusion” -- e por rocks impecáveis -- “Trouble”, “Amnesia”, “Something for Nothing”, “Substantial Damage”, “Heartstopper” --, além de alguns blues e outros números que, de tão híbridos, chegam a ser difíceis de classificar.
Rola de tudo nas 15 faixas de "Crosseyed Heart". E é tudo um imenso prazer. E não poderia ser diferente em se tratando de um soul survivor como Keith Richards.
Acreditem: ninguém ostenta um coração vesgo assim, à toa.
WEBSITE PESSOAL
DISCOGRAFIA COMENTADA
AMOSTRAS GRÁTIS
Acreditem: ninguém ostenta um coração vesgo assim, à toa.
WEBSITE PESSOAL
DISCOGRAFIA COMENTADA
AMOSTRAS GRÁTIS
Nenhum comentário:
Postar um comentário