por Chico Marques
Desde o final dos anos 70, o público se acostumou a sempre esperar o inesperado de Joe Jackson.
Pianista, cantor e compositor, esse inglês de Burton-upon-Trent, dono de um background musical invejável, começou a veu companheiros de geração como Elvis Costello e Graham Parker se afirmarem na cena post-punk com blends diversos de pop e rock com muita ironia e uma boa contundência meio raivosa, e se perguntou: "Se eles podem, porque não eu?"
Então, preparou um repertório bem no tom daqueles tempos, montou sua Joe Jackson Band com alguns músicos amigos, levou algumas demos com algumas composições para a A&M Records e rapidamente foi contratado pelo selo, onde gravou logo de cara dois LPs muito divertidos sob a supervisão do produtor David Kershenbaum.
Obteve sucesso internacional imediato, que lhe rendeu uma invejável autonomia de trabalho na gravadora. Graças a isso, Joe deu início a sua longa série de aventuras musicais pelo pop classudo ("Night & Day"), pelo cool jazz ("Body & Soul"), pelo latin jazz ("Beat Crazy") e pela world music ("Big World"), com mergulhos cada vez mais profundos nas mais diversas modalidades da música popular americana e até algumas incursões no território da música erudita.
Toda essa diversidade musical, no entanto, fez de Joe Jackson um artista difícil de classificar, e sua sobrevida no mercado só foi possível graças a um público bastante fiel, que sempre aplaude sem restrições qualquer nova aventura musical que ele se disponha a trilhar. Mas é um público que, infelizmente, não se expande há anos.
"Fast Forward" (um lançamento earMusic, sem previsão para o Brasil) é o primeiro disco de Joe Jackson com material próprio desde "Rain", de 2008, e chega sinalizando claramente que, dessa vez, ele decidiu facilitar as coisas para permitir que suas canções atinjam um público maior que o habitual.
É um trabalho curioso, com 16 novas canções, todas sobre a vida moderna e com temas ligados aos dias de hoje. Quatro delas foram gravadas gravadas em Nova York, com o suporte de músicos de jazz como Bill Frisell e Brian Blade. Outras quatro foram gravadas em New Orleans, com integrantes do grupo Galactic. Outras quatro em Berlin, ao lado de Greg Cohen e Earl Harvin, e mais quatro em Amsterdam, com Stefan Kruger e Stefan Schmid.
Cada um desses lugares e cada um desses times de músicos forneceu o setting adequado para que Joe Jackson pudesse desfilar sua ironia implacável e seu bom humor contagiante. É como se para ele, neste momento, fosse necessário olhar para o mundo e para a vida moderna a partir de vários pontos diferentes do globo para poder ver com mais clareza os tempos duvidosos em que vivemos.
Jackson sempre foi bom nessa brincadeira de "outside looking in". A novidade aqui é o tom da brincadeira, um pouco mais incisivo do que suas abordagens anteriores sobre temas semelhantes. Com certeza, tem gente que não vai gostar de "Junkie Diva", um puxão de orelhas em Amy Winehouse um tanto quanto inoportuno, ou do clima de cabaré de algumas faixas gravadas na Alemanha, meio arrastado e desnecessariamente pretensioso em termos musicais.
Mas, no geral, o que temos em "Fast Forward" é o bom e velho Joe Jackson se renovando e buscando uma espécie de rejuvenecimento em canções um pouco mais verborrágicas que o seu habitual, mas ainda assim muito certeiras.
Em "Fast Forward", Jackson faz o que sabe fazer melhor: canções pop classudas.
De um tipo que só ele sabe fazer.
Sem se submeter a nenhum grande desafio artístico que possa afastar seu público de seu trabalho.
Parece que Joe Jackson finalmente entendeu que o mundo atual, que ele contempla tão brilhantemente neste "Fast Forward", exige talento e clareza de intenções.
AMOSTRAS GRÁTIS
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