Mostrando postagens com marcador Nick Lowe. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Nick Lowe. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, outubro 31, 2014

CARLENE CARTER, A HERDEIRA MUSICAL DA CARTER FAMILY, VOLTA EM "CARTER GIRL"


Não é nada fácil ser filha de June Carter, ter Johnny Cash como padrasto e ainda querer se afirmar por seus próprios méritos como cantora e compositora.

Ao longo de mais de 30 anos de carreira, pode-se dizer que Carlene Carter foi vítima de uma espécie de nepotismo às avessas.

Apesar de demonstrar talento já em seu disco de estréia, ela custou a ser levada a sério na cena country-rock.

Seu início de carreira em Los Angeles -- bem longe de sua Nashville natal -- em meados dos anos 70 foi muito badalado.

Mas essa badalação toda não se refletiu em boas vendagens, e ela fez mais amigos na cena musical do que entre o grande público.


Carlene Carter herdou a beleza da mãe, e a perseverança também.

Seus primeiros LPs, gravados nos anos 1980, chamaram a atenção por serem roqueiros e modernosos, e pouco ou nada afinados com seu pedigrée musical country.

Eram discos muito bons, mas infelizmente não soaram convincentes o suficiente para mantê-la firme no mercado.

E sua carreira passou a enfrentar altos e baixos emocionais e artísticos.

Drogas, bebedeiras e acusações de falta de profissionalismo vindas de promotores de shows começaram a conspirar contra sua reputação.



Só no quinto álbum, "I Fell In Love", quando ela cansou de negar o fato de ser herdeira da riquíssima tradição musical da Carter Family, é que veio o reconhecimento da crítica.

De lá para cá, seus discos -- bastante esporádicos, diga-se de passagem -- viraram mergulhos profundos na alma musical country americana com uma atitude sempre roqueira e afirmativa.

"Carter Girl", seu novo trabalho para a Rounder Records, é seu trabalho mais denso e vigoroso até o presente momento.

Se em seus projetos anteriores, ele contou com a produção aventuresca dos baixistas e ex-maridos Nick Lowe e Howie Epstein, aqui em "Carter Girl" ela segue à risca as orientações precisas do especialista Don Was -- curiosamente, também baixista --, que deixou claro desde o começo que não iria sossegar enquanto não fizesse dela a grande herdeira musical da gloriosa Dinastia Carter.

"Carter Girl" é um acerto implacável para a carreira de Carlene Carter.

Repertório impecável, parcerias brilhantes com alguns dos melhores compositores de Nashville, covers magníficos, performances impecáveis... não há nada em 'Carter Girl" que possa conspirar contra o futuro da carreira de Carlene Carter -- muito pelo contrário.

Até os quilos a mais que ganhou de uns tempos para cá -- ela está com 59 anos de idade, e, pelo visto, liberta da indumentária "cougar" que a fazia parecer mais jovem -- serviram para dar a Carlene um ar mais saudável e desencanado e um semblante bem mais... Carter Family!


Como não podia deixar de ser, "Carter Girl" conta com participações inspiradíssimas dos "amigos da família" Willie Nelson e Kris Kristofferson -- tanto um quanto o outro fizeram questão de abençoar a "sobrinha" Carlene nesse belo momento de sua carreira.

Willie a ajuda a achar o tom ideal para a "Troublesome Waters", uma balada country clássica, e Kris faz par com ela numa releitura muito bonita do "Blackjack David" -- dois clássicos da Carter Family nos Anos 40 e 50.

Experimente "Carter Girl", um disco country moderno e atemporal ao mesmo tempo, que reafirma mais uma vez o talento dessa artista ímpar chamada Carlene Carter

Com certeza, um dos melhores discos de country music que você irá ouvir este ano.



WEBSITE OFICIAL
http://www.carlenecarter.net/

DISCOGRAFIA
http://www.allmusic.com/artist/carlene-carter-mn0000142050/discography

AMOSTRAS GRÁTIS

terça-feira, agosto 12, 2014

JOHN HIATT VOLTA MAIS DESPOJADO DO QUE NUNCA EM "TERMS OF MY SURRENDER"


O público de classic rock dos anos 70 costuma abusar do direito de ser conservador.

Quem já trabalhou com emissoras de rádio dedicadas a esse segmento de público sabe bem o quanto é difícil apresentar a eles qualquer coisa que não seja o PF nostálgico que sempre os remete de volta aos "bons e velhos tempos".

Felizmente, vários artistas que podem ser enquadrados nessa categoria, e que permanecem na ativa até hoje, adoram remar contra a maré do "saudosismo confortável". E trazem de tempos em tempos discos repletos de novidades, onde deixam claro que não querem ser prisioneiros dos seus passados gloriosos.


John Hiatt é um que viveu grandes momentos e chegou a flertar com o estrelato nos anos 80.

Hoje ele é um sobrevivente de alma.

Jamais encostou o boi na sombra.

Continua produtivo aos sessenta anos com a mesma verve que tinham aos trinta, somada à sabedoria de estrada que acumulou com o passar dos anos.


Quando estreou em 1974 com "Hangin' Around The Observatory", ele era apenas mais um candidato ao cargo de "novo Bob Dylan" -- que estava em aberto desde que Dylan subiu as montanhas e sumiu da vista de todos no final dos anos 60.

Hiatt tentou de tudo, quebrou a cara em 7 discos que, apesar de bons, não deram em nada, e só foi dar certo como artista solo em 1987, quando aparou as arestas e reduziu suas idéias musicais a um mínimo no disco "Bring The Family", onde contracenou com Ry Cooder, Nick Lowe e Jim Keltner.

Desde então, desistiu de apostar no "aim high, hit big" e vem mantendo seu "low profile" desfilando seus rocks, seus blues e suas baladas em discos às vezes elétricos, outras vezes acústicos, às vezes urgentes, outras vezes perenes.


Como é o caso deste seu novo trabalho, "Terms Of My Surrender", predominantemente acústico, gravado com sua banda de estrada e produzido pelo seu guitarrista Doug Lancio.

Se você é daqueles que reclamaram que o padrão de produção de Kevin Shirley havia afogado os discos anteriores de Hiatt num padrão sonoro roqueiro demais, sorria: esse disco é para você.

Aqui, Hiatt brinca à vontade com sua voz e com sua banda numa sequência deliciosa de números totalmente "laid back".

Talvez falte um single, alguém vai dizer.

Talvez, mas será que isso faz alguma diferença em 2014?

Gostaria de destacar duas canções: a magnífica balada dylaniana "Long Time Comin'", que abre o disco e já nasce clássica, e a adorável faixa título, "Terms Of My Surrender", que lembra aquelas velhas baladas de Hoagy Carmichael dos anos 30 e 40.


Há 40 anos, John Hiatt conquistou um público fiel, sempre ansioso por conhecer as novas canções que ele compôs ao longo do ano.

Mesmo assim, isso não foi o suficiente para a Indústria Fonográfica, que, no início dos Anos 90, rebaixou John Hiatt do mainstream para a cena alternativa, já que a vendagem de seus discos permanecia estática ao longo dos anos. Hoje, depois da crise da Indústria, esse público fiel e essas vendagens estáticas de John Hiatt passaram a valer ouro. Na verdade, sempre valeram, a Indústria é que não se dava conta disso.

A cada dois anos, John Hiatt sempre nos brinda com um disco muito especial.

Mas dessa vez ele caprichou pra valer.




WEBSITE OFICIAL
http://www.johnhiatt.com/

DISCOGRAFIA 
http://www.allmusic.com/artist/john-hiatt-mn0000812046/discography

AMOSTRAS GRÁTIS

terça-feira, julho 17, 2012

O NOVO DISCO DE JOE JACKSON REDIMENSIONA O FABULOSO LEGADO DE DUKE ELLINGTON


Nos dias de hoje, quem vê Elvis Costello se desdobrando em diversas frentes musicais -- ora gravando um disco de jazz para a Verve Records, ora gravando música erudita para a Deutsche Grammophon, ou então simplesmente oscilando entre o pop classudo de Burt Bacharach, o rock rasgado de sua banda, The Imposters, e flertes com country music ao lado de T-Bone Burnett -- não imagina que, muito antes dele, e fazendo muito menos barulho que ele, um outro artista de sua geração já havia percorrido todos esses caminhos -- de forma muito mais inusitada.

Esse artista é o cantor, pianista e saxofonista inglês Joe Jackson.

Jackson, para quem não lembra direito, foi uma das forças emergentes mais vitais da cena pós-punk inglesa, ao lado de Costello, Graham Parker, Dave Edmunds, Nick Lowe, The Clash e The Pretenders. À frente de um quarteto rápido e rasteiro, ele brilhou em uma sequência impecável de LPs bem desaforados e até hoje muito divertidos de se ouvir: "Look Sharp", "I´m The Man" e "Beat Crazy"

Mas assim que sentiu que a efervecência do pós-punk estava se dissipando, Joe Jackson deixou sua banda de lado e passou a perseguir um projeto musical pop muito requintado, com raízes no cancioneiro clássico americano e no jazz, mas também com um pé nos conceitos pop de seu amigo Thomas Dolby.

Nessa brincadeira, surgiram "Night & Day" e "Body & Soul", dois discos deliciosos e extremamente bem sucedidos comercialmente, onde Joe Jackson explora todas as vocações musicais que tinha até então, e mais algumas.



Pois bem: quase 30 anos se passaram desde então.

De lá para cá, Jackson seguiu explorando novas vocações musicais, criando trilhas sonoras para filmes, sinfonias jazzísticas e peças um tanto quanto idiossincráticas, sem jamais fazer concessões e seguindo firme num projeto artístico que cada vez mais se distanciava de seu trabalho mais consagrado, cujo valor -- tudo indicava a essa altura do campeonato --só iria ser devidamente reconhecido depois que ele morresse ou se aposentasse.

Mas nada disso foi necessário, felizmente.

Depois do retorno triunfal de seu quarteto original dos anos 70 para gravar um ótimo disco de estúdio e uma tournée que resultou num álbum ao vivo espetacular, Jackson parece estar empenhado em não permitir mais que seus projetos musical falem línguas diferentes das que ele já testou no passado, e menos ainda que sejam esnobados por seus velhos fãs.



"For Duke", seu novo trabalho, é um triunfo artístico assombroso.

Partindo do pressuposto de que Duke Ellington nunca teve uma atitude reverente em relação aos arranjos mais conhecidos de seus números clássicos, e sempre tratou de reinventar esse repertório das mais diversas maneiras possíveis, Joe saiu em busca de uma maneira original e pessoal para abordar o universo ellingtoniano.

E achou, sem dificuldades.

Sua primeira providência foi retirar todos os metais dos arranjos de Ellington e substituí-los por teclados e guitarras, para depois reinventar os andamentos e dar ao repertório um toque bem "lush", com climas musicais oscilando entre o cocktail bar, clubes de jazz e cabarets pós-modernos -- tudo isso sem jamais diluir os originais, ou sufocá-los com arranjos mal dimensionados.

Muitos jazzófilos mais tradicionalistas torceram o nariz para "For Duke".

Acharam o que Jackson fez uma heresia musical, e um desrespeito pára com Ellington.

Mas não é não.

É um trabalho ousado, corajoso, extremamente intrincado, que reúne num mesmo conceito musical músicos de naturezas muito diferentes -- como Iggy Pop e Sharon Jones, o guitarrista Steve Vai, o contrabaixista Christian McBride, a violinista Regina Carter e até a cantora brasileira Lilian Vieira, que faz uma releitura para "Perdido" que é quase um sambinha.

E, cá entre nós, eu que achava a versão que os Neville Brothers fizeram 20 e poucos anos atrás para "Caravan" um achado musical, fiquei completamente boquiaberto com a diversidade de idiomas culturais e musicais que Joe Jackson conseguiu afluir para sua releitura desse clássico ellingtoniano.

"For Duke" é um triunfo que é porque Joe Jackson partiu do presuposto de que Ellington jamais se importaria que a essência de sua música servisse de ponto de partida para investigações pessoais de outros artistas de naturezas diferentes da dele, e mergulhou fundo.

Ouça com carinho e deixe-se envolver, pois vale a pena.

Você provavelmente ficará espantado não só com as possibilidades que o universo ellingtoniano oferece, mas também com o altíssimo gabarito dos arranjos e das investidas musicais regidas por Jackson.

A este bravo príncipe punk que perdeu deliberadamente o caminho de casa e vagou sem rumo muito claro por exílios os mais diversos por tantos anos -- mas jamais irá admitir isso, até porque "angry young men" como ele não costumam ter vocação para filho pródigo --, minhas saudações:

Benvindo de volta, Mr. Jackson, estávamos com saudades.



BIO-DISCOGRAFIA
 http://www.allmusic.com/artist/joe-jackson-mn0000784732

WEBSITE OFICIAL
 http://joejackson.com/

AMOSTRAS GRÁTIS