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sexta-feira, agosto 25, 2017

NOSSO ANIVERSARIANTE DESTA SEXTA É O FELIZARDO MARIDÃO DE DIANA KRALL


PARA CELEBRAR O ANIVERSÁRIO DE MR COSTELLO,
RESGATAMOS UM DOCUMENTÁRIO BELÍSSIMO
SOBRE O DISCO QUE ELE E BURT BACHARACH
COMPUSERAM E GRAVARAM JUNTOS EM 1998,
PAINTED FROM MEMORY

ENJOY...













sábado, outubro 03, 2015

2 OU 3 COISAS SOBRE "FAST FORWARD", NOVO LP DO GENIAL JOE JACKSON

por Chico Marques


Desde o final dos anos 70, o público se acostumou a sempre esperar o inesperado de Joe Jackson.

Pianista, cantor e compositor, esse inglês de Burton-upon-Trent, dono de um background musical invejável, começou a veu companheiros de geração como Elvis Costello e Graham Parker se afirmarem na cena post-punk com blends diversos de pop e rock com muita ironia e uma boa contundência meio raivosa, e se perguntou: "Se eles podem, porque não eu?"

Então, preparou um repertório bem no tom daqueles tempos, montou sua Joe Jackson Band com alguns músicos amigos, levou algumas demos com algumas composições para a A&M Records e rapidamente foi contratado pelo selo, onde gravou logo de cara dois LPs muito divertidos sob a supervisão do produtor David Kershenbaum.


Obteve sucesso internacional imediato, que lhe rendeu uma invejável autonomia de trabalho na gravadora. Graças a isso, Joe deu início a sua longa série de aventuras musicais pelo pop classudo ("Night & Day"), pelo cool jazz ("Body & Soul"), pelo latin jazz ("Beat Crazy") e pela world music ("Big World"), com mergulhos cada vez mais profundos nas mais diversas modalidades da música popular americana e até algumas incursões no território da música erudita.

Toda essa diversidade musical, no entanto, fez de Joe Jackson um artista difícil de classificar, e sua sobrevida no mercado só foi possível graças a um público bastante fiel, que sempre aplaude sem restrições qualquer nova aventura musical que ele se disponha a trilhar. Mas é um público que, infelizmente, não se expande há anos.



"Fast Forward" (um lançamento earMusic, sem previsão para o Brasil) é o primeiro disco de Joe Jackson com material próprio desde "Rain", de 2008, e chega sinalizando claramente que, dessa vez, ele decidiu facilitar as coisas para permitir que suas canções atinjam um público maior que o habitual. 

É um trabalho curioso, com 16 novas canções, todas sobre a vida moderna e com temas ligados aos dias de hoje. Quatro delas foram gravadas gravadas em Nova York, com o suporte de músicos de jazz como Bill Frisell e Brian Blade. Outras quatro foram gravadas em New Orleans, com integrantes do grupo Galactic. Outras quatro em Berlin, ao lado de Greg Cohen e Earl Harvin, e mais quatro em Amsterdam, com Stefan Kruger e Stefan Schmid. 

Cada um desses lugares e cada um desses times de músicos forneceu o setting adequado para que Joe Jackson pudesse desfilar sua ironia implacável e seu bom humor contagiante. É como se para ele, neste momento, fosse necessário olhar para o mundo e para a vida moderna a partir de vários pontos diferentes do globo para poder ver com mais clareza os tempos duvidosos em que vivemos. 

Jackson sempre foi bom nessa brincadeira de "outside looking in". A novidade aqui é o tom da brincadeira, um pouco mais incisivo do que suas abordagens anteriores sobre temas semelhantes. Com certeza, tem gente que não vai gostar de "Junkie Diva", um puxão de orelhas em Amy Winehouse um tanto quanto inoportuno, ou do clima de cabaré de algumas faixas gravadas na Alemanha, meio arrastado e desnecessariamente pretensioso em termos musicais.



Mas, no geral, o que temos em "Fast Forward" é o bom e velho Joe Jackson se renovando e buscando uma espécie de rejuvenecimento em canções um pouco mais verborrágicas que o seu habitual, mas ainda assim muito certeiras.

Em "Fast Forward", Jackson faz o que sabe fazer melhor: canções pop classudas. 

De um tipo que só ele sabe fazer. 

Sem se submeter a nenhum grande desafio artístico que possa afastar seu público de seu trabalho.

Parece que Joe Jackson finalmente entendeu que o mundo atual, que ele contempla tão brilhantemente neste "Fast Forward", exige talento e clareza de intenções. 




AMOSTRAS GRÁTIS





quarta-feira, dezembro 03, 2014

T-BONE BURNETT FAZ COM QUE BOB DYLAN TENHA 26 ANOS DE IDADE NOVAMENTE EM 2014


T-Bone Burnett é um cara admirável.

Desde os tempos da Alpha Band nos anos 70, passando por sua carreira solo brilhante a partir dos anos 80, ele sempre gostou de encarar desafios complicados -- fosse como cantor-compositor-arranjador-guitarrista, ou apenas como produtor.

Parceiro musical de Bob Dylan desde os tempos da Rolling Thunder Revue, Burnett recebeu ano passado um desses desafios complicados, e adorou..

Dylan entregou a ele um pacote com cerca de 50 letras escritas -- mas não musicadas -- quando tinha 26 anos de idade, na ocasião de seu retiro na Casa de Woodstock com The Band, que gerou os festejados "Basement Tapes" em 1967.

Missão: montar uma espécie de banda de ocasião com artistas de relevo que topassem pegar aquelas letras escritas 47 anos atrás e não apenas transformá-las em canções, mas envolvê-las num projeto que pudesse soar sereno e grandioso, como uma versão revista e atualizada dos seus 'Basement Tapes".

Burnett gostou da idéia e encampou o projeto, mas não quis se envolver nele como músico -- ao menos, não diretamente.

Assumiu a cadeira de produtor.

Escolheu a dedo vários artistas amigos.

E os convidou para uma aventura musical sem precedentes na história do rock and roll.



O time de compositores convocado por T-Bone Burnett é composto por sua alma gêmea Elvis Costello, mais Jim James (do My Morning Jacket), Marcus Mumford (do Mumford & Sons), Rhiannon Giddens (Carolina Chocolate Drops) e Taylor Goldsmith (The Dawes).

Todos seguiram não para o velho estúdio improvisado no porão da Casa Rosa de Woodstock, onde os "Basement Tapes' originais foram gravados, mas para o Studio One da Capitol em Los Angeles, California -- provavelmente, o melhor estúdio de áudio de todo o Planeta Terra.

Conforme os ensaios e as sessões quase coletivas de composição corriam, todos iam achando o tom certo para suas participações no projeto.

E, sem perceber, começaram a interagir uns com os outros de uma maneira quase fraternal, com um envolvimento bem semelhante ao que rolou entre Bob Dylan e The Band em 1967..

Elvis Costello explica que todos procuraram tratar o parceiro Bob Dylan como um integrante da banda com 26 anos de idade que, por motivo de doença, não estava presente ao estúdio naquele dia.

A partir daí, saíram buscando maneiras de interagir com ele através de seus escritos -- sem reverências de espécie alguma, apenas como um talentoso companheiro de trabalho.

E foi assim que conseguiriam desenvolver um projeto sem ranço nostálgico e sem a preocupação de ter que correr atrás daquele mesmo tom dos "Basement Tapes" originais, preservando a personalidade musical de cada um dos integrantes.

Uma das preocupações principais deles todos foi tentar não compor melodias usando os fraseados musicais que Dylan adota habitualmente nas suas canções.

Não foi muito fácil a princípio.

Mas, depois que acharam o Norte, a coisa toda seguiu às mil maravilhas.



Das 50 canções que Dylan enviou, 20 ganharam melodia e foram finalizadas para este belíssimo "Lost In The River - The New Basement Tapes"

A primeira audição já impressiona, e muito, tanto pela beleza e pela densidade das canções quanto pela grandeza artística do projeto.

É nesses momentos que fica clara a enorme diferença que faz ter alguém como T-Bone Burnett no comando.

Serenamente, ele facilitou para cada um dos integrantes da "banda" achasse mais rapidamente o seu papel no projeto, e permaneceu a maior parte do tempo do outro lado do vidro, acompanhando as coisas da mesa de gravação.

Não se preocupou em imprimir seu toque pessoal acima das contribuições dos participantes, e buscou como produtor aquela mesma organicidade musical que faz do seu trabalho como artista solo algo tão intenso.

É impressionante como "Lost In The River" cresce a cada audição, combinando talentos jamais combinados antes de forma genial.


É sempre bom lembrar que, antes dos "Basement Tapes", Dylan era um compositor solitário, que interagia com suas bandas apenas nos palcos, na hora de tocar.

Nos "Basement Tapes" ele, pela primeira vez, teve a chance de ter parceiros nas suas canções -- vide "This Wheel's On Fire", composta com Rick Danko, e "Tears Of Rage", composta com Richard Manuel, ambos de sua banda na ocasião -- e os resultados foram notáveis.

Há diversas canções em "Lost In The River" em que essa mesma simbiose artística acontece -- e isso, por si só, já revela o quanto essa aventura musical é preciosa.

Essas canções vem encadeadas de forma delicada e envolvente, o que ajuda a fazer de "Lost In The Flood" um sério candidato a maior e mais bem resolvida empreitada musical do ano.

Como eu disse no início do texto, T-Bone Burnett é um cara admirável.

É o único produtor de discos que Bob Dylan nunca conseguiu levar à loucura.

Acreditem: não é pouca coisa..



WEBSITE OFICIAL
http://www.thenewbasementtapes.com/

AMOSTRAS GRÁTIS

quarta-feira, novembro 05, 2014

LUCINDA WILLIAMS DECLARA INDEPENDÊNCIA E COLHE UM BELO TRIUNFO ARTÍSTICO


Lucinda Williams não é -- na verdade, nunca foi -- uma artista fácil.

Talentosa e temperamental, ela sempre foi cobiçada pela Indústria Fonográfica por suas habilidades como compositora, mas sempre foi considerada problemática como artista solo por desafiar produtores e executivos constantemente em nome de um perfeccionismo que muitas vezes soava mais como um capricho pessoal do que propriamente como uma atitude artística fundamentada.

Nascida em 1953 em Lake Charles, Louisiana, ela é filha de Miller Williams, professor de literatura e poeta de prestígio, com vários livros publicados e passagens por Universidades em todos os cantos dos Estados Unidos, além de Santiago, Chile, e Cidade do México.

Lucinda herdou do pai a paixão por country music e blues, e também o espírito aventureiro e o diletantismo artístico que, de certa forma, colaboraram muito para que ela demorasse a achar um foco claro para seu trabalho como cantora e compositora.

Perambulou anos e anos entre New Orleans, Austin, Los Angeles e Nova York como artista folk e só foi conseguir uma chance para gravar um LP através do selo Folkways no final dos anos 1970.

Mesmo assim, o blend de blues, country e folk de seus trabalhos iniciais não serviu para abrir portas em nenhuma dessas cenas musicais bem distintas.

E então ela passou a ser vista como uma artista inclassificável pela Indústria Fonográfica, que, por sua vez, era assumidamente avessa a qualquer coisa que não soasse como “Thriller”, de Michael Jackson, naqueles famigerados primeiros anos da década de 80.


Mas Lucinda insistiu, e conseguiu lançar seu LP seguinte pelo selo inglês Rough Trade, que operava basicamente com bandas independentes, como The Smiths e outras.

Com isso, conseguiu chamar a atenção de quem estava atento às novas manifestações musicais vindas do outro lado do Atlântico.

E então, suas canções começaram a ser descobertas e gravadas por gente como Mary Chapin Carpenter, Linda Ronstadt e, claro, Emmylou Harris.

Tudo isso abriu finalmente as portas de um selo americano, Elektra Records, onde Lucinda gravou o excelente “Sweet Old World” (1993), novamente mesclando diversos gêneros musicais.

Mas, dessa vez, deu a sorte de emplacar um single nas paradas country: a irresistível “Passionate Kisses”.


Foi quando sua carreira finalmente começou a decolar.

Seu trabalho seguinte, “Car Wheels On A Gravel Road”, resultado de um parto complicadíssimo envolvendo confusões com vários produtores – entre eles, Rick Rubin e Roy Bittan – e duas gravadoras em litígio, acabou vendo a luz do dia pela Mercury Records, e finalmente trouxe o reconhecimento do grande público ao trabalho de Lucinda Williams – que passou a ser vista como um Townes Van Zant ou um Steve Earle de saias, ou coisa que o valha.

De lá para cá, a carreira de Lucinda Williams parou de apresentar problemas -- ao menos, por algum tempo.

Apesar de continuar insistindo em desafiar classificações, ela foi muito bem recebida no selo Lost Highway, especializado em artistas country desalinhados do mainstream de Nashville.

Passou a gravar discos de 2 em 2 anos, sempre alternando canções de amor e desespero com números de rock and roll fulminantes, abraçando diversos segmentos de público e tornando-se cada vez mais popular.


Pois agora chegou a hora dela declarar independência e montar seu próprio selo: Highway 20 Records.

“Down Where The Spirit Meets The Bone”, seu mais novo trabalho, é altamente desafiador, e retoma uma veia mais rústica que havia se perdido em discos anteriores, produzidos por craques como Don Was, sempre de olho no mercado.

Trata-se de um álbum duplo com 20 -- ótimas -- canções e 105 minutos de duração que funciona como uma viagem pelo universo temático de Lucinda Williams: as relações imperfeitas e o amor que se confunde com outros sentimentos e se perde.

Temos aqui menos melancolia e mais atitude que o habitual -- uma atitude bluesy, truculenta, bem crua, forjada em guitarras rasgadas, como o próprio título do disco sugere.

Pode-se dizer sem engano que o disco 1 é mais mundano, funcionando do umbigo para fora, enquanto o disco 2 lida com temas mais pessoais, do umbigo para dentro.

Ou seja: tem desde comentários sociais contundentes como "West Memphis" e "East Side Of Town" quanto canções de amor rasgadas como "Everything But The Truth" e "This Old Heartache" -- isso além de um poema de seu pai que ela decidiu musicar, entitulado "Compassion", a abre o disco.

Sua banda de apoio é, basicamente, The Imposters, cedida gentilemente pelo amigo Elvis Costello.

E as participações especiais de guitarristas de naturezas tão diferentes quanto Bill Frisell e Tony Joe White já deixam claro que "Down Where The Spirit Meets The Bone" trafega por diversas vertentes musicais -- nenhuma delas estranha a Lucinda Williams.


Se o disco tem algum defeito, é justamente ser longo demais, e menos conciso que outros grandes discos de Lucinda, como "Car Wheels In A Gravel Road" e Essence" -- mas antes pecar pelo exagero do que pelo racionamento de talento.

O importante é que Lucinda Williams não nega fogo em momento algum em "Down Where The Spirit Meets The Bone", e se afirma como uma artista inconformada com as regras do mercado musical respaldada por de um "cult following" grande o suficiente para aplaudir suas atitudes e dar sinal verde para que ela siga o rumo que achar melhor em sua carreira.

Pois foi isso que ela fez aqui.

"Down Where The Spirit Meets The Bone" não é só um triunfo artístico indiscutível.

É o álbum que a coloca definitivamente no mesmo patamar artístico de seus contemporâneos Bob Dylan, Neil Young, Joni Mitchell e John Hiatt.

Nada mal para uma garota rebelde da Louisiana.



WEBSITE OFICIAL
http://lucindawilliams.com/?fp=true

DISCOGRAFIA
http://www.allmusic.com/artist/lucinda-williams-mn0000837215/discography

AMOSTRAS GRÁTIS
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terça-feira, julho 17, 2012

O NOVO DISCO DE JOE JACKSON REDIMENSIONA O FABULOSO LEGADO DE DUKE ELLINGTON


Nos dias de hoje, quem vê Elvis Costello se desdobrando em diversas frentes musicais -- ora gravando um disco de jazz para a Verve Records, ora gravando música erudita para a Deutsche Grammophon, ou então simplesmente oscilando entre o pop classudo de Burt Bacharach, o rock rasgado de sua banda, The Imposters, e flertes com country music ao lado de T-Bone Burnett -- não imagina que, muito antes dele, e fazendo muito menos barulho que ele, um outro artista de sua geração já havia percorrido todos esses caminhos -- de forma muito mais inusitada.

Esse artista é o cantor, pianista e saxofonista inglês Joe Jackson.

Jackson, para quem não lembra direito, foi uma das forças emergentes mais vitais da cena pós-punk inglesa, ao lado de Costello, Graham Parker, Dave Edmunds, Nick Lowe, The Clash e The Pretenders. À frente de um quarteto rápido e rasteiro, ele brilhou em uma sequência impecável de LPs bem desaforados e até hoje muito divertidos de se ouvir: "Look Sharp", "I´m The Man" e "Beat Crazy"

Mas assim que sentiu que a efervecência do pós-punk estava se dissipando, Joe Jackson deixou sua banda de lado e passou a perseguir um projeto musical pop muito requintado, com raízes no cancioneiro clássico americano e no jazz, mas também com um pé nos conceitos pop de seu amigo Thomas Dolby.

Nessa brincadeira, surgiram "Night & Day" e "Body & Soul", dois discos deliciosos e extremamente bem sucedidos comercialmente, onde Joe Jackson explora todas as vocações musicais que tinha até então, e mais algumas.



Pois bem: quase 30 anos se passaram desde então.

De lá para cá, Jackson seguiu explorando novas vocações musicais, criando trilhas sonoras para filmes, sinfonias jazzísticas e peças um tanto quanto idiossincráticas, sem jamais fazer concessões e seguindo firme num projeto artístico que cada vez mais se distanciava de seu trabalho mais consagrado, cujo valor -- tudo indicava a essa altura do campeonato --só iria ser devidamente reconhecido depois que ele morresse ou se aposentasse.

Mas nada disso foi necessário, felizmente.

Depois do retorno triunfal de seu quarteto original dos anos 70 para gravar um ótimo disco de estúdio e uma tournée que resultou num álbum ao vivo espetacular, Jackson parece estar empenhado em não permitir mais que seus projetos musical falem línguas diferentes das que ele já testou no passado, e menos ainda que sejam esnobados por seus velhos fãs.



"For Duke", seu novo trabalho, é um triunfo artístico assombroso.

Partindo do pressuposto de que Duke Ellington nunca teve uma atitude reverente em relação aos arranjos mais conhecidos de seus números clássicos, e sempre tratou de reinventar esse repertório das mais diversas maneiras possíveis, Joe saiu em busca de uma maneira original e pessoal para abordar o universo ellingtoniano.

E achou, sem dificuldades.

Sua primeira providência foi retirar todos os metais dos arranjos de Ellington e substituí-los por teclados e guitarras, para depois reinventar os andamentos e dar ao repertório um toque bem "lush", com climas musicais oscilando entre o cocktail bar, clubes de jazz e cabarets pós-modernos -- tudo isso sem jamais diluir os originais, ou sufocá-los com arranjos mal dimensionados.

Muitos jazzófilos mais tradicionalistas torceram o nariz para "For Duke".

Acharam o que Jackson fez uma heresia musical, e um desrespeito pára com Ellington.

Mas não é não.

É um trabalho ousado, corajoso, extremamente intrincado, que reúne num mesmo conceito musical músicos de naturezas muito diferentes -- como Iggy Pop e Sharon Jones, o guitarrista Steve Vai, o contrabaixista Christian McBride, a violinista Regina Carter e até a cantora brasileira Lilian Vieira, que faz uma releitura para "Perdido" que é quase um sambinha.

E, cá entre nós, eu que achava a versão que os Neville Brothers fizeram 20 e poucos anos atrás para "Caravan" um achado musical, fiquei completamente boquiaberto com a diversidade de idiomas culturais e musicais que Joe Jackson conseguiu afluir para sua releitura desse clássico ellingtoniano.

"For Duke" é um triunfo que é porque Joe Jackson partiu do presuposto de que Ellington jamais se importaria que a essência de sua música servisse de ponto de partida para investigações pessoais de outros artistas de naturezas diferentes da dele, e mergulhou fundo.

Ouça com carinho e deixe-se envolver, pois vale a pena.

Você provavelmente ficará espantado não só com as possibilidades que o universo ellingtoniano oferece, mas também com o altíssimo gabarito dos arranjos e das investidas musicais regidas por Jackson.

A este bravo príncipe punk que perdeu deliberadamente o caminho de casa e vagou sem rumo muito claro por exílios os mais diversos por tantos anos -- mas jamais irá admitir isso, até porque "angry young men" como ele não costumam ter vocação para filho pródigo --, minhas saudações:

Benvindo de volta, Mr. Jackson, estávamos com saudades.



BIO-DISCOGRAFIA
 http://www.allmusic.com/artist/joe-jackson-mn0000784732

WEBSITE OFICIAL
 http://joejackson.com/

AMOSTRAS GRÁTIS