Cassandra Wilson é a mais criativa cantora de jazz em atividade, ponto.
Sua capacidade de se reinventar ao longo dos últimos 30 anos é admirável e única.
Acusada em seu início de carreira de fazer um pastiche de Abbey Lincoln, Betty Carter e Joni Mitchell, Cassandra Wilson demorou para vingar na sisuda cena jazzística americana. Praticamente perdeu toda a década de 80 tentando se afirmar como artista. Mesmo assim, ninguém deu nada por ela quando surgiu timidamente em uma série de discos do grupo funk M-Base Collective, e menos ainda nas 3 ou 4 aventuras fusion onde tentou, inutilmente, se afirmar como cantora e compositora.
Mas então, em 1993, ela finalmente disse a que veio no magnífico LP "Blues Lights 'Til Dawn", que abriu uma sequência espetacular e absolutamente bem-sucedida de discos para a Blue Note, onde, numa tacada só, conseguiu redefinir o padrão de repertório e o padrão de atitude para os cantores e cantoras de jazz no Século 21.
Ao longo desses últimos 19 anos, Cassandra Wilson poderia simplesmente ter-se rendido a sua fórmula de sucesso, mesclando jazz com pop adulto e delta blues com sua voz aveludada em arranjos sempre suaves e envolventes, ano após ano, disco após disco.
Mas não.
Preferiu correr riscos em projetos ousados e arriscar saídas musicais inusitadas em empreitadas aventurescas como "Traveling Miles", só com temas de Miles Davis com letras compostas por ela, e "Thunderbird", produzido pelo explorador musical T-Bone Burnett.
'Another Country" é a décima nona e mais recente aventura musical de Cassandra Wilson.
É seu primeiro álbum só com composições próprias e seu segundo ao lado do guitarrista e produtor Fabrizio Sotti, que a acompanhou por estúdios em 3 pontos bem diferentes do planeta -- New York, New Orleans e Nápoles -- buscando os climas musicais mais adequados às suas novas canções.
Prevalece em "Another Country" o tom intimista habitual dos discos de Cassandra, mas contrapondo sua voz suave à guitarra de Sotti, que oscila entre o Jazz Manouche, o Flamenco, a Bossa Nova e o Blues num passeio musical tão eclético quanto eloquente.
Suas composições é que, infelizmente, nem sempre são tão impressionante quanto suas interpretações. Mas há números fortes e envolventes como "Red Guitar", "No More Blues", "Another Country" e a fascinante "Olomuroro", capazes de sustentar o disco com dignidade absoluta ao longo de seus 43 minutos de duração.
Além disso, "Another Country" traz dois números instrumentais de Fabrizio Sotti -- "Deep Blue" e "Letting You Go" -- absolutamente primorosos.
Eu confesso que só não consegui ver muito sentido na releitura que os dois fizeram para "O Sole Mio", inserindo um toque bluesy na velha canção napolitana.
Mas aí é questão de gosto pessoal. Vários críticos adoraram. Está disponível para audição nas AMOSTRAS GRÁTIS logo abaixo. Ouça e tire sua própria conclusão.
Enfim, "Another Country" é estranhamente desconjuntado, e estranhamente bem resolvido.
Chuta para vários lados, mas sempre com uma consistência inabalável.
Aqui em "Another Country", mais do que em qualquer outro disco de Cassandra Wilson, não se respeita nenhuma fronteira musical.
Mas todas as culturas musicais abordadas no disco são respeitosamente preservadas, como tem que ser.
Cassandra Wilson não chegou onde está à toa. Sabe bem onde pisa e onde quer chegar, ponto final.
BIO-DISCOGRAFIA
WEBSITE OFICIAL
AMOSTRAS GRÁTIS
Nenhum comentário:
Postar um comentário