quarta-feira, agosto 27, 2014

THE LEGAL MATTERS: POWER POP DE PRIMEIRA GRANDEZA, DIRETO DO CORAÇÃO DA AMÉRICA.


O Coração da América esconde manifestações que às vezes a própria América duvida.

Que o diga The Pernice Brothers, grande banda Power Pop do interior de Massachussets, que há quase 20 anos briga por um lugar ao sol na cena mainstream, e que, mesmo com uma legião de fiéis seguidores, consegue ser mais conhecida em Londres e em Berlin do que em Nova York.

Que o diga também The Felice Brothers, grande banda do Brooklyn, NY, que mergulha com destreza e irreverência nas raízes musicais americanas, e que, mesmo já tendo gravado uma dezena de discos, e mesmo sendo considerada o equivalente atual ao clássico quinteto The Band, continua completamente desconhecida para a imensa maioria dos americanos adultos.

Tudo bem, todos sabemos que não é fácil ser independente em lugar algum.

Quem opta por esse caminho já sabe de antemão que vai enfrentar sérias dificuldades para alcançar um reconhecimento mais amplo -- e esse reconhecimento, se vier, será a longo prazo.



Pois bem: The Legal Matters é um trio de Bay City, Michigan, muito pouco conhecido fora das fronteiras de seu Estado, mas que está na chuva para se molhar.

É uma banda Power Pop clássica e classuda, com uma atitude bem menos roqueira que a de grupos como os Posies e o Superdrag, que tentam compatibilizar harmonias musicais com guitarras distorcidas.

Muito influenciados tanto pelo Teenage Fanclub quanto pelos Pernice Brothers, a musicalidade deles é deliciosamente atemporal: poderia ter sido produzida tanto em 1972 quanto em 2014, e não faria a menor diferença.

Lembram às vezes o America, outras vezes o Stealers Wheel, -- e, claro, lembram também The Pernice Brothers, uma referência quase inevitável para bandas pop americanas hoje em dia.



The Legal Matters é quase uma superbanda Power Pop, na medida em que todos os seus integrantes vem de bandas bem conhecidas na cena de Michigan.

O guitarrista Chris Richards vem do Chris Richards and the Subtractions.

O baixista Andy Reed, do grupo An American Underdog.

E o segundo guitarrista Keith Klingensmith vem dos Phenomenal Cats.

Trabalham sempre com bateristas convidados, e se autoproduzem com um senso de objetividade bastante incomum.

Ecos dos Eagles, do Poco e dos Beach Boys passeiam pelas 10 faixas desse agradável disco de estréia, e revelam uma banda madura, consistente, com uma apego pelo pop clássico que parece ter-se perdido entre as bandas Power-Pop mais novas.

A média de idade dos integrantes do The Legal Matters é 45 anos, e um deles, Keith Klingensmith, é um dos pesquisadores pop mais respeitados da América -- é dono do selo Futureman Records, especializado em relançamentos de LPs pop clássicos e, claro, selo desse disco de estréia.

Todas as canções são delicadas e envolventes, e tudo soa tranquilo e extremamente bem resolvido nas composições e nas performances da banda.


Não tenho a menor dúvida de que esse álbum de estréia do The Real Matters vai, se muito, fazer alguns bons amigos e admiradores.

Mas é assim mesmo. O próximo vai fazer mais amigos. E o seguinte, mais ainda.

Anotem bem esse nome: The Legal Matters.

Não os percam de vista.

E lembrem-se: vocês ouviram aqui primeiro.





WEBSITE OFICIAL
http://www.thelegalmattersband.com/

DISCOGRAFIA
http://www.allmusic.com/artist/the-legal-matters-mn0003263088/discography

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terça-feira, agosto 26, 2014

AS PÉROLAS DO SUPERDRAG, RESGATADAS POR SEU INCANSÁVEL COMANDANTE JOHN DAVIS.


Power Pop, para quem desconhece o termo, é basicamente "pop melódico com harmonias vocais, tocado com instrumentação de rock and roll: guitarras, baixo e bateria".

Nenhuma grande novidade, como vocês podem perceber.

The Beatles foi, de certa forma, a primeira banda Power Pop.

O "de certa forma" fica por conta do termo ter sido calcado um ou dois anos depois do fim dos Beatles para classificar grupos musicalmente derivados deles -- como o inglês Badfinger e os americanos Raspberries e Big Star.

Essas três bandas, juntamente com Dwight Twilley e Phil Seymour, acabaram virando os maiores expoentes desse movimento nos anos 70, e se tornaram ícones muito respeitados até hoje.
O número de bandas Power Pop surgidas dos anos 80 para cá é gigantesco.

Nenhuma delas sonha em ser os novos Beatles.

Mas todas sonham em ser tão boas quanto o Big Star.

E, com isso, conseguem mantém vivo um conceito musical que se acomoda bem a qualquer novo contexto de mercado, sem sofrer restrições da maioria dos segmentos rock e pop.

É sempre bom lembrar que quando os dois LPs clássicos do grupo Big Star surgiram no início dos anos 70 lançados pelo selo independente Ardent, quase ninguém fora de Memphis percebeu a existência deles.

O tempo passou, a banda acabou, e só então se deram conta de que aquela pequena banda de Memphis não só era grande como poderia ter ido longe se ao menos tivesse tido uma chance melhor do que teve.

Exemplos como o do Big Star viraram pesadelos para o departamentos de A&R de grandes gravadoras, que ignoraram e continuam ignorando artistas desse gabarito -- seja por descuido, ou por falta de visão mesmo.



Então, 20 anos mais tarde, quando os executivos da Elektra Records viram um EP com 8 músicas de uma banda de rock do Tennessee, entitulado 'The Fabulous 8-Track Sound Of Superdrag", eles com certeza lembraram do Caso Big Star e não pensaram duas vezes: contrataram na hora o quarteto dos guitarristas e compositores John Davis e Brandon Fisher, para depois decidir o que fazer com eles.

E o Superdrag emplacou logo de cara um disco bem urgente e repleto de números bem grudentos, "Regretfully Yours", que fez uma boa carreira pelo mundo afora em 1996.

Dois anos mais tarde, o Superdrag voltou com um trabalho intrincado, conceitual, extremamente melódico e psicodélico entitulado "Head Trip In Every Key", que foi um sucesso absoluto de crítica e um fiasco de vendagens para a Elektra, pois consumiu muitas horas de estúdio para ser produzido e custou muito caro.

Em consequência disso, executivos da Elektra decidiram que o próximo disco da banda teria que ser realizado com menos de um terço do tempo e do dinheiro gastos no disco anterior, e eles não concordaram. Resultado: acabaram desligados da gravadora.

De 2000 para cá, já independentes, gravaram 4 discos de primeira grandeza e mantiveram o nome Superdrag como herdeiro musical legítimo tanto do legado musical do Big Star quanto do de outras bandas dos Anos 90, como os Posies de Ken Stringfellow e os Replacements de Paul Westerberg..



O Superdrag está inativo desde 2010, mas John Davis não.

E já que o baú do Superdrag está repleto de surpresas, os lançamentos não param de chegar às lojas.

Ano passado, os dois  primeiros CDs da banda foram relançados no formato LP -- como a banda sempre quis, mas a Elektra nunca permitiu.

E agora, o Superdrag acaba de lançar dois LPs impecáveis com demos e faixas gravadas em 1997 nos Estúdios Trident, que permaneciam inéditas até agora.

"Jokers W/ Tracers" é surpreendente, e mostra claramente como a formação original do Superdrag tinha gabarito para produzir tanto números urgentes quanto vôos musicais impressionantes.

Boa parte do repertório desses dois LPs é conhecido dos discos que a banda gravou de 1998 em diante, mas não com o pegada truculenta dessas gravações.

"Jokers W/ Tracers" revela o que muita gente já sabia: as demos do Superdrag são intensas e implacáveis, e muitas vezes superiores ao produto final de seus melhores discos -- o que faz desse lançamento um ítem obrigatório na discoteca de qualquer admirador da banda.

Diz o temperamental líder John Davis que espera com esses lançamentos sensibilizar seus velhos bandmates para que desconsiderem todas as picuinhas do passado e se animem a cair na estrada novamente e, quem sabe, voltem a gravar juntos de novo como Superdrag.

A julgar pela boa receptividade que o disco está tendo, é bem provável que Davis consiga seu intuito e o Superdrag ressurja das cinzas em breve.

"Jokers W/ Tracers" revela uma banda viva demais para se dar ao luxo de permanecer inativa. 

E esse é um dilema que o Superdrag vai ter que, de alguma maneira, resolver.


WEBSITE
http://arenarock.com/bands/superdrag/

DISCOGRAFIA
http://www.allmusic.com/artist/superdrag-mn0000751256/discography

AMOSTRAS GRÁTIS

quarta-feira, agosto 20, 2014

ME FIRST AND THE GIMME GIMMES SE SUPERA E VOLTA MAIS ENGRAÇADO DO QUE NUNCA


É admirável a maneira como o grupos punk hardcore administram suas carreiras.

Antes mesmo das gravadoras entrarem em colapso com o surgimento do Napster e da pirataria de CDs, nenhuma banda do gênero esperava sentada por um contrato de gravação e de distribuição.

Peferia gravar um CD por conta própria e saír em tournée abrindo shows para qualquer banda já mais ou menos estabelecida -- para fixar o nome, ganhar público e vender o disco na porta dos teatros.

As tournées dessas bandas podiam não ser lá muito rentáveis, mas eram recompensadoras, já que, dependendo da receptividade do público, e com um pouco de sorte, aquela mesma banda que hoje abria para outra mais conhecia poderia, quem sabe, estar de volta àquele mesmo palco no ano seguinte como atração principal.

Não se iludam: todas as bandas de punk hardcore começaram bem por baixo -- desde o Offspring e o Bad Religion até bandas mais novas, como The Bronx e Fucked Up.

Não há jamais o menor sinal de estrelismo em suas atitudes.

São quase operários do rock and roll, muito sérios e muito orgulhosos de seu trabalho.

São o oposto da imensa maioria das bandas clássicas de rock and roll, quase sempre perdulárias, caóticas e autodestrutivas.


Me First & The Gimme Gimmes surgiu quase 20 anos atrás para provar por A + B que punk hardcore pode ser bem humorado.

No começo, a banda era apenas uma brincadeira de férias de integrantes do NOFX, do Lagwagon e da Band With No Name, que de tempos em tempos se reuniam para tocar canções pop clássicas em tempo acelerado.

Mas então, alguém teve a ideia de gravar um disco.

E surgiu 'Have A Ball With Me First & The Gimme Gimmes", disco de estréia extremamente bem recebido tanto pela crítica quanto pelo público.

O suceso do disco de estréoia gerou mais um disco.

E mais um.

E então, aconteceu o que ninguém esperava:

Me First and The Gimme Gimmes, que em princípio seria uma piada de um disco só, virou mania.

E ganhou um público amplo, que ia muito além das platéias punk hardcore às quais seus integrantes estavam habituados.


Já fizeram de tudo desde então.

Gravaram um CD com canções judaicas para bar-mitzvahs.

Gravaram um EP cantando em japonês.

E agora decidiram homenagear o grupo DEVO e as Divas da VH1, tudo ao mesmo tempo, nesse sensacional "Are We Not Men? We Are Diva", onde desfilam -- com o habitual pé no acelerador -- "clássicos" de Celine Dion, Barbra Streisand, Whitney Houston, Cher e até Boy George.

O resultado é engraçadíssimo, e de uma competência artística e musical a toda prova.

Difícil acreditar que, quase 20 anos depois da estréia do me First & the Gimme Gimmes, continuamos rindo da mesma piada.

Mas o caso é que quando a piada é boa, e bem contada, vai longe.

Vida longa ao Me First & The Gimme Gimmes!



WEBSITE OFICIAL
http://www.fatwreck.com/band/index/16

DISCOGRAFIA
http://www.allmusic.com/artist/me-first-and-the-gimme-gimmes-mn0000404734/discography

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THE NEW PORNOGRAPHERS: ENFIM UMA SUPERBANDA FEITA PARA DURAR.


Superbandas sempre existiram e sempre irão existir na cena pop.

As primeiras delas apareceram no final dos anos 60, como um prenúncio da chamada "década dos egos" que viria a seguir:

Em 1969, Eric Clapton e Ginger Baker, do Cream, mais Stevie Winwood, do Traffic, formaram o Blind Faith.


Três anos mais tarde, Jeff Beck uniria forças a Tim Bogert e Carmine Appice, ex-integrantes do Vanilla Fudge e do Cactus, para criar o Beck Bogert & Appice.


Ao mesmo tempo, Leslie West e Corky Laing, ex-integrantes do Mountain, montaram ao lado do ex-baixista do Cream, Jack Bruce, o West Bruce & Laing.


São 3 exemplos de superbandas que nasceram com um potencial impressionante e um futuro brilhante pela frente, mas que, estranhamente, decepcionaram em todos os sentidos: não produziram discos de primeira grandeza, seus membros não se integraram como era esperado, e entraram em colapso antes mesmo de completar um ano.

Desde então, muitas outras superbandas surgiram.

Infelizmente, nenhuma conseguiu se afirmar como uma exceção a essa regra.

Todas falharam nos quesitos relevância e longevidade.

Pois bem: The New Pornographers surgiu bem no final do Século Passado, reunindo os talentos de vários artistas que faziam parte da cena pop de Vancouver, no Canadá.

Seus 3 primeiros discos traziam um mix de power-pop e folk-rock tão bom e tão bem aceito pelo público que acabou trazendo visibilidade internacional tanto às bandas quanto às carreiras solo de seus membros principais -- em particular, a cantora e compositora Neko Case e o líder dos Destroyers, Dan Bejar.

Quando os "projetos principais" de seus integrantes começaram a ter mais ou menos a mesma estatura dos discos da banda, logo se imaginou que The New Pornographers estaria com os dias contados.

Mas não: o grupo segue em frente, com uma sonoridade cada vez mais coesa e seus integrantes estelares cada vez mais comprometidos com a proposta original da banda.


O novo trabalho dos New Pornographers, "Brill Bruisers" é um pouco mais pop, e talvez não seja tão marcante e tão vital quando seus três primeiros discos, mas a excelência das composições e das performances permanece a mesma.

Além do mais, que outra banda da atualidade pode contar com quatro vozes tão distintas e tão marcantes quanto as de Case, Bejar, Carl Newman e Kathryn Calder?

Ao contrário do que acontece em outras superbandas, os integrantes dos New Pornographers parecem desinflar seus egos sempre antes de reunirem a banda, e com isso conseguem reverter a maldição que sempre cercou as superbandas nesses últimos 45 anos.

Depois fazem piada com os canadenses.

Deviam, isso sim, seguir o exemplo deles.



WEBSITE OFICIAL
http://www.thenewpornographers.com/

DISCOGRAFIA
http://www.allmusic.com/artist/the-new-pornographers-mn0000477787/discography

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terça-feira, agosto 12, 2014

TOM PETTY AND THE HEARTBREAKERS RETOMAM SEU IMAGINÁRIO PSICODÉLICO EM PLENO 2014.



Taí uma banda que sempre enganou todo mundo com uma atitude aparentemente despretensiosa e um sorriso nos lábios indicando que só queriam mesmo é fazer "good time music".

Tudo conversa mole.

Logo no terceiro disco, "Damn The Torpedos" (1979), já não havia mais a menor dúvida de que Petty era um cantor com um timbre único e um compositor de primeira grandeza, e ao menos dois de seus escudeiros nos Heartbreakers -- o guitarrista Mike Campbell e o tecladista Benmont Tench -- eram músicos extremamente criativos que, bem aproveitados, levariam a banda muito longe.


Pois foi o que aconteceu.

A carreira espetacular de Tom Petty & The Heartbreakers fala por si própria.

Agora, 38 anos depois de estrearem na lendária Shelter Records de Leon Russell com um disco repleto de sonoridades psicodélicas envolventes, ainda que meio fora de época, eis que nossos bravos rapazes retornam mais uma vez com uma nova coleção de canções naquele mesmo tom de seu distante LP de estréia.


"Hypnotic Eye" é um álbum denso, envolvente, com melodias inusitadas e saídas musicais extremamente criativas que se por um lado remetem ao passado da banda, por outro demonstram uma atitude musical madura e atual.

É menos bluesy e menos truculento que o anterior "Mojo", mas é tão vigoroso quanto.

Canções como "American Dream Plan B", que abre o disco de forma inusitada, e "All You Can Carry" e "Shadow People" estão entre os números mais marcantes de toda a carreira do grupo.

E é tão bem tocado que engana mais uma vez o ouvinte desavisado que não conseguir perceber a sintonia fina dos músicos enquanto alinhavam o formato derradeiro dessas novas canções.


Quando dizem que Tom Petty & The Heartbreakers vem na mesma tradição musical de The Band, acreditem: não há exagero.

Apenas a constatação de que a soma dos fatores às vezes multiplica o produto final.

Com certeza foi isso que Bob Dylan viu neles quando os convidou para ser sua banda de estrada nos Anos 80.

E com certeza é isso que -- curiosamente -- faz desses velhos rapazes da Florida a melhor banda californiana dos últimos... vai, 38 anos!


Moral da história: não se deixe enganar pelo "low profile" do Tom Petty & The Heartbreakers.

Eles sempre produziram música de primeira. Música intrincada, rock and roll extremamente vertebrado.

E continuam produzindo. Em grande estilo.

Só que sem dar bandeira.






WEBSITE OFICIAL
http://www.tompetty.com/?frontpage=true

DISCOGRAFIA
http://www.allmusic.com/artist/tom-petty-the-heartbreakers-mn0000614137/discography

AMOSTRAS GRÁTIS

JOHN HIATT VOLTA MAIS DESPOJADO DO QUE NUNCA EM "TERMS OF MY SURRENDER"


O público de classic rock dos anos 70 costuma abusar do direito de ser conservador.

Quem já trabalhou com emissoras de rádio dedicadas a esse segmento de público sabe bem o quanto é difícil apresentar a eles qualquer coisa que não seja o PF nostálgico que sempre os remete de volta aos "bons e velhos tempos".

Felizmente, vários artistas que podem ser enquadrados nessa categoria, e que permanecem na ativa até hoje, adoram remar contra a maré do "saudosismo confortável". E trazem de tempos em tempos discos repletos de novidades, onde deixam claro que não querem ser prisioneiros dos seus passados gloriosos.


John Hiatt é um que viveu grandes momentos e chegou a flertar com o estrelato nos anos 80.

Hoje ele é um sobrevivente de alma.

Jamais encostou o boi na sombra.

Continua produtivo aos sessenta anos com a mesma verve que tinham aos trinta, somada à sabedoria de estrada que acumulou com o passar dos anos.


Quando estreou em 1974 com "Hangin' Around The Observatory", ele era apenas mais um candidato ao cargo de "novo Bob Dylan" -- que estava em aberto desde que Dylan subiu as montanhas e sumiu da vista de todos no final dos anos 60.

Hiatt tentou de tudo, quebrou a cara em 7 discos que, apesar de bons, não deram em nada, e só foi dar certo como artista solo em 1987, quando aparou as arestas e reduziu suas idéias musicais a um mínimo no disco "Bring The Family", onde contracenou com Ry Cooder, Nick Lowe e Jim Keltner.

Desde então, desistiu de apostar no "aim high, hit big" e vem mantendo seu "low profile" desfilando seus rocks, seus blues e suas baladas em discos às vezes elétricos, outras vezes acústicos, às vezes urgentes, outras vezes perenes.


Como é o caso deste seu novo trabalho, "Terms Of My Surrender", predominantemente acústico, gravado com sua banda de estrada e produzido pelo seu guitarrista Doug Lancio.

Se você é daqueles que reclamaram que o padrão de produção de Kevin Shirley havia afogado os discos anteriores de Hiatt num padrão sonoro roqueiro demais, sorria: esse disco é para você.

Aqui, Hiatt brinca à vontade com sua voz e com sua banda numa sequência deliciosa de números totalmente "laid back".

Talvez falte um single, alguém vai dizer.

Talvez, mas será que isso faz alguma diferença em 2014?

Gostaria de destacar duas canções: a magnífica balada dylaniana "Long Time Comin'", que abre o disco e já nasce clássica, e a adorável faixa título, "Terms Of My Surrender", que lembra aquelas velhas baladas de Hoagy Carmichael dos anos 30 e 40.


Há 40 anos, John Hiatt conquistou um público fiel, sempre ansioso por conhecer as novas canções que ele compôs ao longo do ano.

Mesmo assim, isso não foi o suficiente para a Indústria Fonográfica, que, no início dos Anos 90, rebaixou John Hiatt do mainstream para a cena alternativa, já que a vendagem de seus discos permanecia estática ao longo dos anos. Hoje, depois da crise da Indústria, esse público fiel e essas vendagens estáticas de John Hiatt passaram a valer ouro. Na verdade, sempre valeram, a Indústria é que não se dava conta disso.

A cada dois anos, John Hiatt sempre nos brinda com um disco muito especial.

Mas dessa vez ele caprichou pra valer.




WEBSITE OFICIAL
http://www.johnhiatt.com/

DISCOGRAFIA 
http://www.allmusic.com/artist/john-hiatt-mn0000812046/discography

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