sexta-feira, março 20, 2015

ANNIE LENNOX CHEGA AOS 60 ANOS DE IDADE COM UM DISCO SIMPLESMENTE ESPETACULAR


Annie Lennox é uma cantora e tanto.

Quem a viu na Cerimônia de Entrega dos Grammies cantando uma versão poderosíssima de "I Put A Spell On You", clássico de Screamin' Jay Hawkins, ficou de boca aberta.

Primeiro com o vigor de sua releitura, que destoava por completo do clima sempre meio xoxo e cerimonioso da 'Festa".

Segundo, porque ela fez alterações mínimas no arranjo original da canção, que já havia sido gravada por dezenas de artistas dos mais diversos gêneros, e correu atrás de fazer a diferença apenas com sua interpretação -- que foi, sem exagero algum, um esforço artístico espetacular, quase heroico.

Chega a ser um contrassenso que sua gravação de "I Put A Spell On You", com essa pegada fortíssima, faça parte justamente da trilha sonora de "Cinquenta Tons de Cinza", certamente o filme mais frouxo deste ano.


O caso é que desde que deixou o Eurythmics, a escocesa (de nascença, apenas) Annie Lennox vem seguindo uma das carreiras solo mais erráticas de que se tem notícia.

Sua discografia é irregular, e se divide entre os que trazem composições próprias e os que são coleções de covers.

Os de canções próprias diferem bastante do trabalho que ela desenvolvia com Dave Stewart no Eurythmics, pois são projetos aventurescos, repletos de composições bem resolvidas, mas pouco orgânicos em termos musicais, e que revelam uma artista empenhada muito além da medida na busca de algum tipo de autoafirmação, após ter feito parte de uma banda tão bem resolvida em termos artísticos. 

"Diva", seu primeiro disco solo, foi uma vítima fatídica dessa síndrome do estreante ilustre. e praticamente naufragou em uma sucessão de excessos, tanto nos arranjos quanto na produção. Os outros dois -- "Bare" e "Songs Of Mass Destruction" --, um pouco menos.

Já suas coleções de covers são sempre soberbas. 

"Medusa", a primeira e mais bem sucedida delas, tanto em termos artísticos quanto comerciais -- com as canções "No More I Love You's", "A Whiter Shade Of Pale" e "Train In Vain" -- estabeleceu Annie tanto como intérprete quanto como uma artista solo extremamente viável para o público adulto contemporâneo. 


Agora ela está de volta com mais uma coleção de covers, bem diferente das anteriores.

Em "Nostalgia", sua estréia na Blue Note Records, Annie passeia pelo "Great American Songbook" -- mas faz isso de forma pouco ou nada ortodoxa, esbarrando aqui e acolá com canções mais selvagens e desalinhadas que as que saíam dos escritórios das Editoras Musicais do bairro mítico de Tin Pan Alley, em Nova York.

Annie trabalha com o suporte de um combo de jazz (guitarra, piano, baixo e bateria) que dá a ela um apoio mais percussivo que melódico, muitas vezes reduzindo grandes standards a temas quase minimalistas. 

A partir dessa moldura, Annie fica inteiramente à vontade para reinventar canções clássicas -- como acontece com "God Bless The Child" e 'Strange Fruit", ambas de Billie Holiday -- ou então para simplesmente acrescentar seu sotaque personalíssimo a baladas que são escolhas quase óbvias, como "Georgia On My Mind" e "Summertime".

"I Put A Spell On You" abre como uma espécie de carta de intenções, cantando a bola dos elementos que, pouco a pouco, vão nos nocautear ao longo do disco. Piano percussivo e sem floreios. Base rítmica idem. Dramaticidade extrema nas interpretações. Tudo reunido num produto final desconcertante e primoroso.

"Nostalgia" é tudo menos um disco nostálgico. É, na verdade, uma abordagem moderníssima a um repertório de canções clássicas. Um trabalho extremamente bem resolvido em termos artísticos. Gravado com alguma rapidez, mas mixado sem a menor correria. Com todo o carinho que Annie dispensa habitualmente a suas obras.



Annie Lennox nunca foi fácil de lidar. 

É uma mulher rica, trabalha quando quer e, por conta disso, nunca se preocupou em facilitar as coisas para sua gravadora. 

Não faz shows, raramente promove seus discos, e em 23 anos lançou apenas 6 LPs, o que é muito pouco para uma artista de seu quilate.

Mas, como agora Annie faz parte do prestigiadíssimo elenco da Blue Note -- motivo de muito orgulho para ela --, nossa Diva não negou fogo na promoção e na divulgação deste "Nostalgia". 

Que chegou às lojas físicas e virtuais em Novembro do ano passado, foi muito bem de vendagem como presente de fim de ano, e agora ganha uma edição "plus", com um DVD bônus contendo uma performance magnífica gravada em estúdio com o repertório do disco (veja trechos logo abaixo, em AMOSTRAS GRÁTIS).

Se você não ganhou "Nostalgia" de presente no final do ano, vale a pena correr atrás dessa edição "plus". 

Se ganhou, dê o seu exemplar de presente para o primeiro amigo ou a primeira amiga que fizer aniversário, e corra também atrás da edição "plus". 

Annie Lennox está em sua melhor forma aos 60 anos de idade. 

Não hesite em prestar reverência a esta artista admirável. 






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