quarta-feira, março 04, 2015

O TROVADOR LUNÁTICO ROBYN HITCHCOCK ESTÁ DE VOLTA COM UM DISCO SURPREENDENTE.


Robyn Hitchcock é, sem sombra de dúvidas, a figura mais mambembe e difícil de decifrar do pós-punk britânico dos Anos 1970.

Quando surgiu à frente dos Soft Boys, desafiando a urgência musical da época com um folk-rock psicodélico moderníssimo que seguia na contramão daquilo tudo, ninguém entendeu ao certo onde ele pretendia chegar.

Mas então, no momento em que os Soft Boys começam a ganhar um público mais amplo, ele dissolveu a banda e arrastou quase todos os integrantes para seu projeto Robyn Hitchcock & The Egyptians -- com uma levada mais pop, ainda que com toda a iconoclastia dos Soft Boys preservada -- e, de repente, suas intenções começaram a ficar mais claras.

E o sucesso veio rapidamente, com contratos em gravadoras com base nos Estados Unidos e muita promoção em torno do nome dele.

O sucesso internacional de LPs como "Globe Of Frogs" e "Queen Elvis" deu a Robyn Hitchcock & The Egyptians não só projeção internacional como também um cult-following invejável, que rendeu a ele o apelido "Bob Dylan da Cena Indie".

Paralelamente a sua trajetória com The Egyptians, Robyn deu início a uma carreira solo paralela em discos quase caseiros, completamente inusitados em termos musicais e deliciosamente diletantes.

Com isso, ajudou a criar a Cena Indie, que é hoje tão próspera, e tem evitado seguir modelos impostos por gravadoras e produtores desde então..

E tem sido assim desde então. 

Com mais de 25 discos nas costas, Robyn segue seu caminho, agora com base fixa nos Estados Unidos e sempre presente com discos solo no mínimo curiosos, ou como integrante de projetos como o coletivo all-star Venus 5, que reúne, além dele, Peter Buck (REM), Scott McCaughney (Young Fresh Fellows) e Bill Rieflin (Ministry).



Seu mais novo trabalho, "The Man Upstairs" (um lançamento Yep Roc), é surpreendente. 

Primeiro por não ser um disco conceitual, e suas dez canções -- cinco originais de Robyn Hitchcock e cinco covers -- não estarem interligadas umas às outras.

Segundo, por ser pouco ou quase nada idiossincrático, de fácil digestão até para quem não conhece seu trabalho ou não faz parte de seu cult-following.

E terceiro, por ser produzido pelo amigão Joe Boyd -- responsável por grandes discos de Nick Drake, Fairport Convention, Sandy Denny, Richard Thompson e tantos outros artistas folk crossover --, que conseguiu ancorar a musicalidade de Robyn Hitchcock e dar a ela um porto seguro, algo que ele nem sempre se preocupa em buscar para seus discos.

A produção de Boyd é sutil e suave, entrelaçando de forma muito delicada as cinco canções originais de Robyn com os covers que ele escolheu para o repertório do disco -- entre eles, "I Didn't Mean To Turn You On", do Roxy Music, "The Crystal Ship", dos Doors e "The Ghost In You", dos Psychedelic Furs, todas em versões muito pessoais e deliciosamente excêntricas.

Dizem os amigos mais próximos que Robyn é um intérprete sui generis, pois tem o dom de se expressar plenamente como compositor reinventando drasticamente  as canções dos outros -- o que faria dele não um exatamente como intérprete, mas uma espécie extremamente criativa de usurpador.

Verdade ou não, nenhum dos compositores que cederam canções para Robyn gravar jamais reclamou disso.

Seu público também não. 



Não se engane: Robyn Hitchcock continua, aos 62 anos de idade, o mesmo trovador lunático mezzo Syd Barrett, mezzo Tim Buckley -- ou mezzo Bob Dylan, mezzo Nick Drake, dependendo da estação do ano.

Sua voz continua nasal, ríspida e fora dos padrões certinhos e inofensivos do pop adulto -- o que faz de seu trabalho uma espécie de "veneno" para os programadores das rádios rock pretensamente mais descoladas, que mal conseguem esconder seu conservadorismo.

O desafio de Joe Boyd em "The Man Upstairs"era romper esse bloqueio do mercado e domar a iconoclastia implacável de Robyn -- e aparentemente foi bem sucedido em sua empreitada.

Há muito tempo um disco de Robyn Hitchcock não consegue tanto "airplay" além do circuito habitual das Collage Radios, que sempre dedam suporte à sua carreira.

Mas o mais importante disso tudo é que Robyn Hitchcock tem um público fiel, sempre muito tolerante e muito interessado nos rumos que ele dá a sua carreira.

Esse público fiel -- desnecessário dizer -- abençoou esse "The Man Upstairs" antes mesmo de escutar o disco.









AMOSTRAS GRÁTIS

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