Basta ver o Queen, que convocou um jovem cantor de uma banda cover do próprio Queen para assumir os vocais da banda nas tournées nostálgicas milionárias que fazem por aí.
O mais impressionante disso tudo é que o público -- que nem se preocupa em esconder seu conservadorismo galopante e seu fetichismo doentio -- prestigia mesmo assim, acha bacana, paga caro, e até sai satisfeito.
Vamos comentar hoje aqui cinco discos de bandas veteranas.
Dessas cinco, três mantém sua dignidade intacta, e estão de volta com LPs relevantes.
Já as outras duas merecem o esquecimento
Vamos a elas:
VANILLA FUDGE
SPIRIT OF 67
(Cleopatra)
O Vanilla Fudge é uma das bandas mais originais da cena americana dos anos 60. Surgida nos arredores da cidade de Nova York, é, certamente, o elo perdido entre a soul music, o pop psicodélico e o hard rock, graças aos grandes covers com arranjos criados a partir de um órgão Hammond B-3 para as canções de sucesso da Motown e da Stax que brilhavam nas paradas de sucesso da época. Sempre sob o comando do baixista Tim Bogert e do baterista Carmine Appice, o Vanilla Fudge conseguiu a proeza de brilhar intensamente tanto em meio ao grande elenco soul da Atlantic Records quanto ao lado de bandas heavy como o Iron Butterfly e o Led Zeppelin, que também eram contratados da ATCO. Encerraram atividades na virada para os Anos 1970 porque acharam que o som da banda havia envelhecido. Mas, depois de participarem de bandas de vida curta como o Cactus e o trio Beck Bogert & Appice, descobriram que estavam enganados, a sonoridade do Vanilla Fudge era mais perene do que aparentava ser a princípio. Daí, o Vanilla Fudge voltou ao batente em meados dos anos 80, quando Carmine Appice foi dispensado da banda de apoio de Rod Stewart, e não parou mais. O que esse recém-lançado "Spirit Of 67" tem de tão especial é que, ao mesmo tempo em que é absurdamente fiel à sonoridade original do Vanilla Fudge, mostra a banda rejuvenecida musicalmente, bem produzida e demonstrando um vigor musical delicioso nessas releituras de clássicos que brilharam nas paradas de 1967. Acredite: esses velhinhos ainda dão no couro.
CLIMAX BLUES
BROKE HEART BLUES
(Angel Air Music)
Quando o cantor e saxofonista Colin Cooper morreu em 2008, aos 68 anos de idade, Pete Haycock, seu velho parceiro e guitarrista na Climax Blues Band, declarou que a banda havia acabado. Desde então, Pete vem mantendo uma carreira solo modesta com discos eventuais e tournées constantes pela Europa e Japão, onde se concentra o grosso do público da Climax. Dois anos atrás, no entanto, ele se reuniu ao guitarrista Robin George e ao saxofonista Mel Collins, e juntos deram início a um projeto que, acidentalmente, remetia à sonoridade original da Climax Blues Band. Daí os executivos da Angel Air Music propuseram a Pete que resgatasse o nome da velha banda, sugerindo uma nova formação. Pete não gostou da ideia a princípio, mas acabou permitindo o uso de Climax Blues, sem o Band no final. Fez bem em fazer isso. "Broke Heart Blues" faz juz à levada soul-blues-pop da banda, e o uso do nome deve despertar o interesse dos velhos fãs em seu trabalho solo atual. É um disco delicado, suingado, envolvente e extremamente agradável. Um belo projeto, que, com um pouco de sorte, talvez tenha uma sequência em breve.
UFO
A CONSPIRACY OF STARS
(Steamhammer Music)
Caso raríssimo de dignidade a toda prova na cena do hard-rock, os ingleses do UFO permanecem em cena há 45 anos tentando se reinventar de tempos em tempos, sem jamais perder sua identidade original, e não querem saber de virar um "item de nostalgia", como acontece com tantas outras bandas contemporâneas deles. "A Conspiracy Of Stars", 21° LP do UFO, traz dez bons números que talvez não acrescentem muita coisa ao que a banda já realizou antes, mas servem para marcar território e mostrar que eles estão muito acima da oportunismo safado que assola o gênero. A banda mantém em seu elenco os membros veteranos Phil Mogg, Paul Raymond e Andy Parker, e convocou os reforços do virtuoso guitarrista Vinnie Moore e do baixista Rob De Luca. A intenção dos integrantes do UFO é seguir em frente, sempre renovados, tentando, na medida do possível, manter-se relevantes com um trabalho honesto e bem realizado. Sabem o que fazem. Parabéns!
TEN YEARS AFTER
THE NAME REMAINS THE SAME
(Nova Music)
Impressionante como no "pega pra capar" do universo do hard-rock, dignidade vem sempre em último lugar: o importante é faturar em cima do passado glorioso de uma banda e o resto que se dane. Alvin Lee ainda nem tinha esfriado no túmulo e seus inexpressivos e nada suingados ex-companheiros de banda Ric Lee e Chick Churchill, agora donos do nome Ten Years After, caíram na estrada com um jovem guitarrista e cantor chamado Marcus Bonfanti, que topou vender sua alma para embarcar numa das empreitadas mercantilistas mais escrotas da história do rock and roll. O resultado é esse constrangedor "The Name Remains The Same", um LP ao vivo que tenta emular as performances clássicas da banda na primeira metade dos anos 1970. Bonfanti é um artista talentoso, com três discos solo muito bons em seu curriculum. Errou feio ao se envolver nesse projeto 171 que em nada enobrece sua biografia. Engodo pesado.
URIAH HEEP
LIVE AT KOKO, LONDON 2014
(Frontiers Music)
É um alívio constatar que, 43 anos depois de "Bronze Records Presents Uriah Heep Live!", esta velha banda finalmente aprendeu a tocar direito. Claro que para que isso fosse possível, foi necessário trocar praticamente toda a incompetentíssima formação original -- da qual resta apenas Mick Box, um dos piores e mais escandalosos guitarristas da história do rock. Mas isso infelizmente não resolve a questão existencial básica do Uriah Heep, que é: como justificar a estranha longevidade de um grupo tão desqualificado em termos artísticos? "Live At Koko London 2014" é um CD-DVD que promove uma longa retrospectiva na carreira da banda, mesclando o repertório clássico da primeira metade dos anos 1970 com obscuridades cometidas de lá para cá, e é constrangedor da primeira à última faixa. Para os que ainda tem estômago para os arranjos de péssimo gosto da banda e tímpanos para suportar os gritinhos socados do horrendo cantor Bernie Shaw, "Live At Koko London 2014" pode até ser uma diversão descompromissada. Já para o resto da humanidade, é só aborrecimento.
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